ENSAIO - Sintra, 13 Maio 2007
Numa palavra apenas escolheria o adjectivo "Fenomenal"!!!
Mas é injusto gastar apenas uma palavra a classificar o desempenho e as sensações proporcionadas por esta bicicleta...
Antes de prosseguir tenho que fazer uma nota prévia: sou "bicho" do cross-country, com >10 anos de BTT, bastante experiência e um gosto particular por subidas e longas distâncias! Nunca tive ou explorei uma bicla de freeride/dh.
Dito isto, aqui ficam algumas conclusões resumidas sobre esta bicicleta, straight out of the box e directamente para os shores de Sintra.
Aspecto
- Eu diria excelente, pois não se destaca no meio de um grupo de bicicletas mas cativa qualquer um. O desenho do quadro transmite um ar elegante, sofisticado e robusto (se repararmos nos reforços distribuídos pelo quadro, biela, tirantes, e tubo de direcção, etc.). É inequívoca a semelhança com a Nomad da Santa Cruz, fazendo uso da tecnologia fluid-form no tubo superior, e isso diz quase tudo sobre as ambições depositadas nesta bicicleta.
- As suspensões chamam à atenção pela dimensão e robustez, mas quando se pega da bicicleta o peso não corresponde às expectativas criadas visualmente: são apenas 13,7Kg de bicicleta, à saída da caixa e com pedais!
- Todos os componentes respeitam o esquema de cores da bicicleta, o que nem sempre acontece! Há por aí bicicletas muito feias!!
- É uma bicicleta discreta a andar (e que passa muito depressa pelas outras), que agrada à vista de qualquer comprador, embora alguns prefiram o castanho anodizado mais radical ou o preto anodizado clássico, tipo Nomad. Eu prefiro o cinza.
Equipamento
- A suspensão dianteira e traseira suscitam dúvidas: são novidade, são sistemas proprietários da Specialized, ainda não testados no mercado. Quem compra confia na garantia para corrigir eventuais avarias inesperadas, mas permanece a dúvida quanto ao comportamento dos "suspensórios"! Após uma rodagem intensa, as dúvidas que possam existir desvanecem-se muito rápidamente... já chego a esse assunto! A flexão da suspensão dianteira é nula graças ao eixo oversized solidário com as baínhas da suspensão cujo diâmetro é suficiente para em conjunto com a dupla coroa não permitir qualquer desvio da trajectória que escolhemos.
- A transmissão é honesta... gosto de usar este adjectivo quando encontro uma bicicleta que não apresenta nenhuma falha. A pedaleira Truvativ é boa, o desviador SRAM X9 também, os shifters SRAM são impecáveis. Tudo funciona na perfeição, e mais tarde a cassete deve ser trocada por uma mais leve.
- Na travagem estamos muito bem servidos os Juicy 5 180mm, isto é, características e versões (7, 8, 9, Ultimate, Code, blá, blá, blá) à parte, após algumas descidas sempre a travar o resultado foi uma travagem muito potente, progressiva q.b., imune ao aquecimento. No final da volta de hoje a opinião de muitos companheiros era de que estava a travar demais! Mas quando se vai a +60Km/h nunca se ouve falar de capacidade travagem em excesso!
- As rodas são boas. Não sei se são leves, duvido, mas as rodas são boas, a montagem impecável (sem ruídos ou raios com menos tensão), e o aspecto está ao nível do resto da bicicleta. Inclusivamente o cubo dianteira específico Specialized é bastante bonito, faz lembrar os Sun Ringlé em tons anodizados (década de 90!). Nas rodas há sempre espaço para upgrade, mas sem pressa porque não há nada a apontar ao nível das rodas.
- Quando aos pneus Adrenaline, aqui é necessário intervir: um pneu com relevo longitudinal nunca pode ter boa tracção. Portanto atrás precisa-se pneu melhor, ou então um sistema de controlo de tracção... que ainda não existe para biclas! À frente, o mesmo raciocínio pode ser feito, e considerar que a travagem fica comprometida com estes pneus, no entanto, não senti problemas a esse nível e como tal acho que os dois pneus de origem se podem guardar para usar à frente. Os pneus estão à vontade em pisos mistos, mas em estradões de terra batida nem por isso (vale a geometria estável da bicicleta para conter reacções bruscas).
- O cockpit é excelente, pelo menos para mim. Quem quiser alterar a dimensão do avanço vai ter que esperar ou jogar com o recuo do selim. O guiador é óptimo, com a largura ideal e elevação compatível com a elevação do avanço integrado na coroa da suspensão.
- Resta falar do selim, que é péssimo. É demasiado duro, e não me interessa nada se resiste bem a quedas ou não. É menos confortável que o selim da minha "cabra", uma bicicleta rígida em alumínio com selim selle italia flite!
Comportamento
- Começo pelas subidas... a parte que quase ninguém gosta! Não vale a pena lutar... e não vale a pena levar esta bicicleta para uma maratona, não inventem! Esta é uma bicicleta que nos permite subir, mas ao ritmo do caracol. Mesmo contando com os vários e eficazes ajustes das suspensões (dianteira e traseira), é essencial seguir sentado, numa pedalada ritmada e pouco ambiciosa, isto é, sem pressa. É garantido que chegaremos lá acima praticamente sem perdas de tracção e com máximo conforto (... ajudará trocar o pneu traseiro!). Mas não se metam em corridas com ninguém pois vão perder essa batalha, não é grave porque não se dá hipóteses na descida. A flexão lateral do quadro é ZERO, dá para esmagar os pedais em pé, sem qualquer problema a esse nível, mas não dá para evitar o bombear da suspensão... a não ser que aumente significativamente a pressão do ar no amortecedor traseiro - pouco prático em andamento, não acham?
- A descer é mais fácil de explicar, e posso deixar um pequeno manual de utilizador: 1. colocar no máximo do curso da suspensão 2. reduzir a compressão para o mínimo 3. colocar o ajuste de sensibilidade do amortecedor no mínimo (soft) 4. largar os travões e olhar bem para a frente... não para ver onde há pedras (porque isso não interessa nada) mas sim para ver onde está o gaijo que te passou na subida e ir atrás dele. A bicicleta "digere" tudo o que podes encontrar num trilho ciclável, e a única preocupação a ter é o excesso de velocidade à entrada da curva... que pode dar mau resultado!
- O equilíbrio das suspensões em cada eixo é extraordinário e isso reflecte-se numa posição de condução que inspira confiança a alta velocidade, permite puxar a frente e comprimir a traseira q.b. para enfrentar qualquer drop, tem agilidade suficiente (tamanho M) para contornar qualquer gancho, tem uma altura de pedaleiro bastante generosa, o quadro concede muito espaço para movimentar o corpo sobre a bicicleta.
Conclusões
- A bicicleta não desilude como se percebe pelos comentários... mas talvez não tenha ficado claro que esta bicicleta convida a ter uma relação extra-conjugal, explorá-la um bocadinho de cada vez, ter uma vontade maior de sair para o trilho. Não apenas porque o pessoal vai olhar e fazer perguntas mas sim porque é necessário aprender a lidar com esta máquina. Faz-me lembrar um Porsche... tem que ser passo-a-passo o relacionamento com uma máquina de elevado potencial dinâmico para evitar despesas de reparação elevadas ou um forte acidente!
- Na relação preço qualidade creio que é uma das melhores opções no mercado, a etiqueta Specialized que é uma garantia de retoma elevada, uns acabamentos bastante acima da média, um equipamento bom e acima de tudo fiável, uma base em alumínio M5 (das Sworks... isso mesmo) que justifica qualquer investimento em peças sobre este quadro.
- E uma palavra final sobre a questão mais importante... para que serve uma bicicleta?
Para treinar, para comparar, para lavar, para afinar, para melhorar com upgrades, para andar em cima do carro, para partir?... Uma bicicleta serve para tudo isso, mas esta bicicleta em particular serve para nos divertir!
Passei um dia inteiro a sorrir, às mesmo para mim próprio outras vezes à gargalhada com os amigos. As quedas, as manobras, a velocidade, o controlo... tudo isso nos faz sorrir! Este tipo de bicicleta oferece mais diversão do que qualquer outra.
Esta bicicleta dá tempo para ir à conversa com os amigos nas subidas, esta bicicleta permite-nos fazer coisas impossíveis com uma bicla de cross-country, esta bicicleta ensina-nos e incentiva a melhorar a técnica, esta bicicleta permite-nos gozar velocidades incríveis com bastante segurança, esta bicicleta agora é a minha bicicleta! A de cross-country fica na garagem!
Gosto muito de peregrinações de dezenas de Kms, onde é o homem que conta e não a máquina, ou seja, vai ganhar ou chegar primeiro lá acima o homem mais forte. As maratonas promovem uma competição (em geral saudável) entre o grupo de amigos, cria-se uma hierarquia entre os elementos da alcateia e desenvolve-se respeito pelo elemento mais forte... mas ao fim de um dia de esforço e algum sofrimento a fazer Kms e Kms, seja em Portalegre ou em Mafra, a competir quantas vezes sorrimos? Já alguém contou o nº de vezes que sorriu numa prova de longa distância com a bicicleta xpto de 10Kg?
Classificação
:#1:
Foto
Gugu
Numa palavra apenas escolheria o adjectivo "Fenomenal"!!!
Mas é injusto gastar apenas uma palavra a classificar o desempenho e as sensações proporcionadas por esta bicicleta...
Antes de prosseguir tenho que fazer uma nota prévia: sou "bicho" do cross-country, com >10 anos de BTT, bastante experiência e um gosto particular por subidas e longas distâncias! Nunca tive ou explorei uma bicla de freeride/dh.
Dito isto, aqui ficam algumas conclusões resumidas sobre esta bicicleta, straight out of the box e directamente para os shores de Sintra.
Aspecto
- Eu diria excelente, pois não se destaca no meio de um grupo de bicicletas mas cativa qualquer um. O desenho do quadro transmite um ar elegante, sofisticado e robusto (se repararmos nos reforços distribuídos pelo quadro, biela, tirantes, e tubo de direcção, etc.). É inequívoca a semelhança com a Nomad da Santa Cruz, fazendo uso da tecnologia fluid-form no tubo superior, e isso diz quase tudo sobre as ambições depositadas nesta bicicleta.
- As suspensões chamam à atenção pela dimensão e robustez, mas quando se pega da bicicleta o peso não corresponde às expectativas criadas visualmente: são apenas 13,7Kg de bicicleta, à saída da caixa e com pedais!
- Todos os componentes respeitam o esquema de cores da bicicleta, o que nem sempre acontece! Há por aí bicicletas muito feias!!
- É uma bicicleta discreta a andar (e que passa muito depressa pelas outras), que agrada à vista de qualquer comprador, embora alguns prefiram o castanho anodizado mais radical ou o preto anodizado clássico, tipo Nomad. Eu prefiro o cinza.
Equipamento
- A suspensão dianteira e traseira suscitam dúvidas: são novidade, são sistemas proprietários da Specialized, ainda não testados no mercado. Quem compra confia na garantia para corrigir eventuais avarias inesperadas, mas permanece a dúvida quanto ao comportamento dos "suspensórios"! Após uma rodagem intensa, as dúvidas que possam existir desvanecem-se muito rápidamente... já chego a esse assunto! A flexão da suspensão dianteira é nula graças ao eixo oversized solidário com as baínhas da suspensão cujo diâmetro é suficiente para em conjunto com a dupla coroa não permitir qualquer desvio da trajectória que escolhemos.
- A transmissão é honesta... gosto de usar este adjectivo quando encontro uma bicicleta que não apresenta nenhuma falha. A pedaleira Truvativ é boa, o desviador SRAM X9 também, os shifters SRAM são impecáveis. Tudo funciona na perfeição, e mais tarde a cassete deve ser trocada por uma mais leve.
- Na travagem estamos muito bem servidos os Juicy 5 180mm, isto é, características e versões (7, 8, 9, Ultimate, Code, blá, blá, blá) à parte, após algumas descidas sempre a travar o resultado foi uma travagem muito potente, progressiva q.b., imune ao aquecimento. No final da volta de hoje a opinião de muitos companheiros era de que estava a travar demais! Mas quando se vai a +60Km/h nunca se ouve falar de capacidade travagem em excesso!
- As rodas são boas. Não sei se são leves, duvido, mas as rodas são boas, a montagem impecável (sem ruídos ou raios com menos tensão), e o aspecto está ao nível do resto da bicicleta. Inclusivamente o cubo dianteira específico Specialized é bastante bonito, faz lembrar os Sun Ringlé em tons anodizados (década de 90!). Nas rodas há sempre espaço para upgrade, mas sem pressa porque não há nada a apontar ao nível das rodas.
- Quando aos pneus Adrenaline, aqui é necessário intervir: um pneu com relevo longitudinal nunca pode ter boa tracção. Portanto atrás precisa-se pneu melhor, ou então um sistema de controlo de tracção... que ainda não existe para biclas! À frente, o mesmo raciocínio pode ser feito, e considerar que a travagem fica comprometida com estes pneus, no entanto, não senti problemas a esse nível e como tal acho que os dois pneus de origem se podem guardar para usar à frente. Os pneus estão à vontade em pisos mistos, mas em estradões de terra batida nem por isso (vale a geometria estável da bicicleta para conter reacções bruscas).
- O cockpit é excelente, pelo menos para mim. Quem quiser alterar a dimensão do avanço vai ter que esperar ou jogar com o recuo do selim. O guiador é óptimo, com a largura ideal e elevação compatível com a elevação do avanço integrado na coroa da suspensão.
- Resta falar do selim, que é péssimo. É demasiado duro, e não me interessa nada se resiste bem a quedas ou não. É menos confortável que o selim da minha "cabra", uma bicicleta rígida em alumínio com selim selle italia flite!
Comportamento
- Começo pelas subidas... a parte que quase ninguém gosta! Não vale a pena lutar... e não vale a pena levar esta bicicleta para uma maratona, não inventem! Esta é uma bicicleta que nos permite subir, mas ao ritmo do caracol. Mesmo contando com os vários e eficazes ajustes das suspensões (dianteira e traseira), é essencial seguir sentado, numa pedalada ritmada e pouco ambiciosa, isto é, sem pressa. É garantido que chegaremos lá acima praticamente sem perdas de tracção e com máximo conforto (... ajudará trocar o pneu traseiro!). Mas não se metam em corridas com ninguém pois vão perder essa batalha, não é grave porque não se dá hipóteses na descida. A flexão lateral do quadro é ZERO, dá para esmagar os pedais em pé, sem qualquer problema a esse nível, mas não dá para evitar o bombear da suspensão... a não ser que aumente significativamente a pressão do ar no amortecedor traseiro - pouco prático em andamento, não acham?
- A descer é mais fácil de explicar, e posso deixar um pequeno manual de utilizador: 1. colocar no máximo do curso da suspensão 2. reduzir a compressão para o mínimo 3. colocar o ajuste de sensibilidade do amortecedor no mínimo (soft) 4. largar os travões e olhar bem para a frente... não para ver onde há pedras (porque isso não interessa nada) mas sim para ver onde está o gaijo que te passou na subida e ir atrás dele. A bicicleta "digere" tudo o que podes encontrar num trilho ciclável, e a única preocupação a ter é o excesso de velocidade à entrada da curva... que pode dar mau resultado!
- O equilíbrio das suspensões em cada eixo é extraordinário e isso reflecte-se numa posição de condução que inspira confiança a alta velocidade, permite puxar a frente e comprimir a traseira q.b. para enfrentar qualquer drop, tem agilidade suficiente (tamanho M) para contornar qualquer gancho, tem uma altura de pedaleiro bastante generosa, o quadro concede muito espaço para movimentar o corpo sobre a bicicleta.
Conclusões
- A bicicleta não desilude como se percebe pelos comentários... mas talvez não tenha ficado claro que esta bicicleta convida a ter uma relação extra-conjugal, explorá-la um bocadinho de cada vez, ter uma vontade maior de sair para o trilho. Não apenas porque o pessoal vai olhar e fazer perguntas mas sim porque é necessário aprender a lidar com esta máquina. Faz-me lembrar um Porsche... tem que ser passo-a-passo o relacionamento com uma máquina de elevado potencial dinâmico para evitar despesas de reparação elevadas ou um forte acidente!
- Na relação preço qualidade creio que é uma das melhores opções no mercado, a etiqueta Specialized que é uma garantia de retoma elevada, uns acabamentos bastante acima da média, um equipamento bom e acima de tudo fiável, uma base em alumínio M5 (das Sworks... isso mesmo) que justifica qualquer investimento em peças sobre este quadro.
- E uma palavra final sobre a questão mais importante... para que serve uma bicicleta?
Para treinar, para comparar, para lavar, para afinar, para melhorar com upgrades, para andar em cima do carro, para partir?... Uma bicicleta serve para tudo isso, mas esta bicicleta em particular serve para nos divertir!
Passei um dia inteiro a sorrir, às mesmo para mim próprio outras vezes à gargalhada com os amigos. As quedas, as manobras, a velocidade, o controlo... tudo isso nos faz sorrir! Este tipo de bicicleta oferece mais diversão do que qualquer outra.
Esta bicicleta dá tempo para ir à conversa com os amigos nas subidas, esta bicicleta permite-nos fazer coisas impossíveis com uma bicla de cross-country, esta bicicleta ensina-nos e incentiva a melhorar a técnica, esta bicicleta permite-nos gozar velocidades incríveis com bastante segurança, esta bicicleta agora é a minha bicicleta! A de cross-country fica na garagem!
Gosto muito de peregrinações de dezenas de Kms, onde é o homem que conta e não a máquina, ou seja, vai ganhar ou chegar primeiro lá acima o homem mais forte. As maratonas promovem uma competição (em geral saudável) entre o grupo de amigos, cria-se uma hierarquia entre os elementos da alcateia e desenvolve-se respeito pelo elemento mais forte... mas ao fim de um dia de esforço e algum sofrimento a fazer Kms e Kms, seja em Portalegre ou em Mafra, a competir quantas vezes sorrimos? Já alguém contou o nº de vezes que sorriu numa prova de longa distância com a bicicleta xpto de 10Kg?
Classificação
:#1:
Foto
Gugu