Crónicas de um Bravo do Pelotão por Terras Helvéticas

AFP70

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Olá Abel,

Realmente a floresta que atravessei era qualquer coisa conforme poderão constatar pelas fotos.

Espero que o bacalhau no Luís após os bifes não tenha sido muito indigesto, eheheh…

Um abraço “stay well my friend”,
Alexandre Pereira
 

AFP70

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Fui ao “Chasseron” para poder tocar “La Pierre de la Paix”…

A minha relação com “Yverdon-les-Bains” iniciou quando comecei a frequentar desde há 6 meses uma formação em gestão de projetos (termina em 30.11). Essa formação foi “patrocinada” pelo Centro de Desemprego e com mérito consegui um diploma válido por 5 anos em qualquer parte do mundo, que diga-se de passagem e como tinha previsto ainda não abriu qualquer porta.

“Yverdon-les-Bains” (430 mts) fica numa das extremidades do 3º maior lago da Suiça (Lac de Neuchâtel) e todos os dias quando chego, a minha primeira visão do dia recai sobre a montanha mais alta “Le Chasseron” (1.607 mts). Desde a minha primeira visita que senti logo uma necessidade de ir lá acima. O tempo foi passando (outras voltas, outras crónicas) e agora já próximo do fim da minha formação e com o aproximar das primeiras quedas de neve, essa necessidade bateu ainda mais forte. Acho que não ia conseguir aguentar aguardar 4 meses para poder ir lá acima.

Esta volta já esteve programada para ser realizada 15 dias antes da minha última ida a Portugal (II Maratona do Gerês), mas as condições atmosféricas (chuva durante quase 3 semanas) impediram a sua concretização, pelo que no meu regresso, meti na cabeça que tinha de a realizar “custasse o que custasse” e ainda bem que assim foi, pois as fotos das cores do Outono, são qualquer coisa.

O trilho desenhado levar-me-ia de comboio desde “Yverdon-les-Bains” a “Baulmes” (634 mts) e daí iniciaria o trilho propriamente dito (BTT) até alcançar “Le Chasseron” a 1.607 mts. O regresso como sempre far-se-ia por um caminho alternativo e a ideia era apanhar novamente o comboio em “Sainte-Croix” com destino a “Yverdon-les-Bains”, o que não se veio a verificar por uma questão de 3 minutos.

Nos inícios da era glaciar enquanto toda a Suiça estava coberta de gelo (glaciares), “Baulmes” foi o primeiro local a ser habitado do cantão de “Vaud”. Os nossos amigos pré-históricos, caçadores por natureza instalaram-se numa gruta “Grotte à Barbareau” e daí em diante foi sempre a descer até à localização atual. As encostas de “Baulmes” ofereciam a proteção necessária nesses tempos (época da pedra lascada) e é um caso único na história da Suíça, uma vez que se trata da única povoação com a maior longevidade habitacional (desde 10.000 a 12.000 anos a.C.).

Quando cheguei a “Yverdon-les-Bains” e embora as previsões meteorológicas indicassem sol, o certo é que encontrei a cidade coberta de um manto de nevoeiro e nuvens escuras, sendo impossível visualizar “Le Chasseron”. Pensei para com os meus botões que a volta estava perdida porque para mim uma volta sem fotos dignas de registo não é uma volta (habituei-me ao longo da minha estadia por Terras Helvéticas a este conceito, há quem defenda outros, mas como “repórter desencartado, eheheh…” julgo ser esta a minha missão). Fiz contas à vida (monetárias e psicológicas) e o meu otimismo acabou por levar a melhor sobre o meu racional, o que se veio como sempre a verificar como tendo sido uma boa decisão.

Para atingir “Le Chasseron” atravessei uma extensa e densa floresta onde o Outono revelou toda a sua magnitude nas cores empregues. Essa floresta embora seja atravessada por um trilho pedonal deu para ser efetuada na sua quase totalidade em cima da minha fiel amiga. Esse trilho conduziu-me às “Gorges de Covatannaz” a +/- 900 mts. Enquanto deambulava pela floresta, nenhum sinal do nevoeiro, mas quando sai da mesma este mostrou que estava bem presente para me estragar o dia. Como não conseguia ver a mais de 50 mts e por medida de segurança, apliquei pela primeira vez as luzes quando entrei no asfalto. Efetuei cerca de 1 km em alcatrão e mal entrei no mato, aí a situação piorou já que a visibilidade reduziu para cerca de 30 mts (fotos falam por si).

Nestes momentos o nosso desassossego é tal que o único pensamento que nos vem à cabeça é desistir ou pensar que fica para uma próxima oportunidade, mas quem me segue sabe que quantas mais vicissitudes encontro, mais vontade tenho de as contornar e vai daí “up is the way”.
Chegado à aldeia de “Bullet” (1.200 mts) por volta das 13h00, eis que ocorre o tão desejado milagre, o nevoeiro começou a dissipar-se. Calculei que a operação levasse cerca de 30 minutos pelo que aproveitei para meter alguma coisa no bucho e admirar aquele mar de algodão que se prolongava até perder de vista (mais de 100 kms, até às montanhas de Aletsch onde se situa o maior glaciar da Suíça, ver crónica 031).

Um dos meus objetivos da viagem era poder ver e tocar a famosa “Pierre de la Paix” que fica muito próximo do “Chasseron”. Diz quem a tocou que a mesma liberta a chamada “Energia Telúrica” causadora de uma sensação de bem-estar e reposição de energias. Não sei se é verdade, pois sou fiel seguidor de São Tomé e não me perguntem se cura reumatismo e outros males.

Quando cheguei ao local e para meu espanto (não é que não estivesse à espera) encontro 3 hippies ou seja lá o que lhe quiserem chamar, dois dos quais “alapados” ao comprido a retemperarem forças. A tal energia devia estar a fazer efeito, a penetrar por locais que não vou mencionar agora, eheheh…, pois os rostos transpareciam uma grande “joy”. Dei um compasso de espera e nada, os tipos não desgrudavam, estavam mesmo a “ca..r” para a minha cena, parecia que estavam a curtir uma “trip”.

Posto isto, resolvi continuar viagem até “Le Crêt des Gouilles” (1.525 mts) no outro extremo enquanto admirava as cercanias. Como já se fazia tarde (dias mais curtos) notei que o nevoeiro começava a subir, engolindo tudo na sua passagem pelo que estava na hora de regressar a “Sainte-Croix” com vista a apanhar o comboio que me levaria a “Yverdon-les-Bains”.

Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº035).

“Yverdon-les-Bains”, (430 mts) a 200 mts da margem. Do lado direito um dos canais que atravessa a cidade e do lado esquerdo o lago que se prolonga até Neuchâtel (afinal é o 3º maior lago da Suiça). O dia estava sombrio, completamente coberto de nuvens.
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Um tag muito motivador, mas não foi esta a carruagem que me levou até ao meu ponto de partida “Baulmes”.
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Capela em “Baulmes” (634 mts). Na era glaciar, esta foi a primeira aldeia habitada do cantão de “Vaud”, tendo os primeiros habitantes morado numa gruta “Grotte à Barbareau” numa destas encostas, isto enquanto toda a zona estava coberta de gelo (glaciares). Achei que o dia estava perdido no que toca a fotos, mas mais tarde deu-se o “milagre”.
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Realmente esta zona era rica em cores. O Outono no seu apogeu e o melhor ainda estava para vir.
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Entrada da floresta que me permite aceder às “Gorges de Covatannaz”.
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A caminho das “Gorges de Covatannaz”, sempre a subir (o costume). Reparem nos tons de amarelo. Este caminho conduz-nos desde “Vuiteboeuf” até “Sainte-Croix”.
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Vou passar junto aquela escarpa.
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Desculpem mas tive de repetir esta foto. Em minha opinião a melhor foto desta floresta.
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Aqui o Outono foi seletivo, isto é, agrupou as árvores por tons. Neste caso atravessamos a zona dos castanhos, avermelhados, alaranjados.
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Acredito que dê para fazer canyoning.
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Pequena queda de água. Esta floresta tinha de tudo para todos os gostos.
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Uma das zonas mais delicadas do trajeto mas com alguma proteção. Nesta garganta nasce o rio que vimos em fotos anteriores.
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As “Gorges de Cavatannaz” propriamente ditas a +/- 900 mts.
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A floresta parecia não ter fim.
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E ainda bem porque enchi as “bistas”, daí a partilha. Embora este trilho seja para caminheiros é ciclável em quase toda a sua extensão.
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Se bem se recordam em “Yverdon-les-Bains” estava nevoeiro e enquanto atravessava a floresta e não tendo pontos de referência julguei que esta situação estava resolvida. Puro engano meu e aqui tive mesmo de colocar as luzinhas tanto à frente como atrás (fazem parte do meu kit de saída, ver post 239). O nevoeiro era denso mas ainda se conseguia ver a mais de 50 mts e tinha de fazer cerca de 1 km de estrada (não fosse o Diabo tecê-las ou mesmo surgirem os “chuis” e estes aqui não perdoam).
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Se antes já não via grande coisa então a partir do momento que entrei no caminho de terra aí a coisa piorou (menos de 30 mts de visibilidade). Como era monte e para poupar nas pilhas, retirei os artefactos luminosos uma vez que o risco de ser atropelado era nulo.
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Aqui encontro-me na aldeia de “Bullet” a 1.200 mts. O nevoeiro já era, estava feliz pois sempre iria conseguir atingir o meu objetivo e tirar bons “shots”. Agora entendem o porquê do chocolate “Milka” ser tão bom, eheheh…
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O nevoeiro assemelhava-se a um mar de algodão. Este fenómeno é comum na Suíça inteira, pois constatei o mesmo quando morei na parte alemã, ou seja, tudo o que fica abaixo dos 1.000 mts fica coberto por esta nevoeirada.
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Mas infelizmente ainda tinha muito que dar ao pedal. “Le Chasseron” a 1.607 mts esperava por mim.
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Tinha apenas de atravessar esta floresta.
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Chegada ao parque de campismo de “Les Cluds”. Aqui as caravanas ficam durante todo o inverno, daí as coberturas e aquelas pedras que se vêem por baixo servem para proteger dos animais assim como das rajadas de vento.
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Ao longo da travessia da floresta (4 kms) apanhei todo o tipo de piso.
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Mais do mesmo mas diferente.
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Aqui aconteceu uma situação caricata. Esqueci-me do significado daquelas manchas castanhas na pastagem. Quem desejar entender o sucedido terá de ver o comentário a uma das fotos do post 183 da página 19 deste tópico.
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Vim d’além.
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Mas ainda tinha muito que “climbar”.
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Aos 1.500 mts. Aquelas montanhas ao fundo encontram-se a cerca de 125 kms (linha reta) e já fazem parte da cadeia de montanhas visitadas aquando da caminhada no glaciar de Aletsch (post 214, pág.22).
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“Le Chasseron” e o seu restaurante a 1.607 mts. Embora não pareça consegue-se pedalar em boa parte do trilho.
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Por vezes temos de olhar para trás para nos darmos conta do caminho percorrido.
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Outros caminhos possíveis, como sempre não faltam alternativas. Isto é a zona do “Jura”, muito mais soft que a zona do “Valais” que tanto adoro (mais agreste, rude).
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No “Jura” as montanhas andam todas abaixo dos 1.800 mts e “Le Chasseron” é a 9ª montanha mais alta desta cadeia. As 4 mais altas encontram-se do lado francês. Estamos a 6 km (linha reta) da fronteira. Até chegar aqueles vultos ainda tenho de vencer quase 60 mts de desnível.
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O meu périplo levar-me-á junto daquela antena ao fundo “Le Crêt des Gouilles” (1.525 mts).
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Onde começa o céu?
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Bom “spot” para os amantes de “BASE jumping”.
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Aqui pretendia ver e sentir a famosa rocha “Pierre de la Paix”. Diz-se que quem a toca, sente uma energia forte e retempera forças para o resto do dia (mais infos em http://www.chasseron.ch/pierre-de-la-paix.html). Neste caso não foi possível porque 3 hippies não desgrudavam do local.
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Como previa, ao longo de todo o dia o nevoeiro não deu tréguas. É por isso que gosto tanto de subir.
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A caminho do “Crêt des Gouilles” (1.525 mts).
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“Le Chasseron” visto a partir do “Crêt des Gouilles”. Em linha reta são cerca de 1,5 km.
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O nevoeiro lentamente estava a subir, engolindo tudo na sua passagem. Como os dias agora são mais curtos, resolvi que já estava na hora de regressar a “Sainte-Croix” e apanhar aí o comboio de regresso a Yverdon-les-Bains (acabei por falhar o “train” por uns míseros 3 minutos).
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Na descida para “Sainte-Croix” o trilho apresentava-se bastante irregular pelo que tive de desmontar algumas vezes, daí começar a acumular um atraso em relação à hora de partida do comboio. Mesmo assim dei ao pedal e acreditem que cheguei uns míseros 3 minutos atrasado. Como o tempo de espera pelo próximo comboio iria ser longo, resolvi fazer uma competição contra mim mesmo, acabando a volta numa sessão de “spinning”. Toca a embelezar a bicla com os apetrechos luminosos (sim porque continuava o tal nevoeiro cerrado e aqui era uma estrada nacional, logo imenso trânsito nos dois sentidos). Resolvi que iria chegar a “Yverdon-les-Bains” ainda antes do comboio. Foram cerca de 17 kms na sua quase totalidade a descer (My God, que descidas!) e em que o frio mostrou as suas garras (o frio era tanto que o meu rosto ficou paralisado momentaneamente e qualquer tentativa de deitar fora a expetoração era um verdadeiro “echéc”, só faltando a mesma transformar-se em estalactites). Aposta ganha, cheguei a “Yverdon” com quase 10 minutos de antecedência.

Esta volta traduziu-se em 47 kms efetuados e +/- 1.200 mts de acumulado de subida. Foi mais uma aposta ganha uma vez que consegui realizá-la antes das primeiras quedas de neve (menos uma preocupação a azucrinar-me a moina, eheheh…). As paisagens e cores foram fantásticas, parecia que um qualquer pintor se tinha dedicado de alma e coração à sua arte.

Neste momento tenho outras preocupações pois o meu “dead line” para encontrar um novo patrocinador caminha a passos largos e sinceramente não vejo a luz ao fundo do túnel pelo que a moral anda um pouco em baixo (este Bravo também tem os seus momentos). Fiz e tenho feito tudo o que está ao meu alcance para encontrar o dito cujo, mas a sorte neste caso teima em ser madrasta.

Parafraseando o Professor Alexandrino (lembram-se dos programas do Herman), tenho de continuar a manter-me “firme e hirto como uma barra de ferro” à espera de uma morte anunciada. A ver vamos, isto porque até os doentes cancerosos em fase terminal agarram-se à ideia da cura e é isso que nos faz “keep going on”.

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

AFP70

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Bom dia Companheiros,

BikeTrepaTudo
Pelo comentário esta crónica não desiludiu, eheheh…

huppy
A ideia é mesmo essa, criar o desejo de querer, daí que por vezes me torne talvez um pouco “maçudo” (não confundir com massudo) com tanto pormenor descritivo.

fox77
Obrigado por seguir e achar interessante.
A minha realidade tem sido um pouco complicada, pois tenho tido realmente muita sorte nos locais selecionados para as crónicas, mas azar no que toca ao suprimento de um novo patrocinador.
A minha permanência assim como a continuação deste tópico estará dependente do sucesso das minhas pesquisas até final de 2012.

Cumprimentos and “keep following”,
Alexandre Pereira
 

Jocas22

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pedalar assim até deve dar outro gozo, comboios que colaboram, paisagens idilicas, tudo limpinho e "arrumado", sem predreiras, cercas, vedações

mais um voto pra que continuem... e videos :)
 

AFP70

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Bom dia Jocas22,

Sendo a Suíça um país virado para o turismo (16 milhões de turistas em 2011) é natural que tudo esteja operacional e “clean”. Aqui ao contrário de Portugal, o contribuinte paga, mas o resultado vê-se.

A decisão de continuidade não depende só de mim…

Adquirir uma GOPRO é uma opção que mantenho sempre em aberto…

Um abraço,
Alexandre Pereira
 

ex-bravo

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O prazer não tem preço, como todos sabemos. Proporcioná-lo é que normalmente tem.

Caro amigo Alex, à quantidade de prazer que tens vindo a proporcionar aos seguidores deste fórum e da página dos Bravos (registados e anónimos) já merecias mais que o reconhecimento escrito que tens recolhido semana após semana.
Sei que a vida não anda fácil e que um gajo normal não manteria um décimo da tua disposição. Mas, no que toca às reportagens turísticas/ciclísticas/desportivas/ambientais/culturais terás muito poucos à tua altura, especialmente considerando os recursos de que dispões (essencialmente força nas canelas, sentido de orientação e vontade de ferro).
Agora está na moda o "crowd funding". Porque não inicias um projeto? Sempre daria para a manutenção da bike e para os bilhetes de comboio. E se querem vídeo, é preciso uma câmara...
 

AFP70

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Boas amigo ex-bravo,

Sábias palavras estas “proferidas” no teu post. Afinal nunca deixaste de acompanhar aquilo que fui realizando aqui pelas Terras Helvéticas. Obrigado, sabes como prezo a amizade.
Conhecemo-nos há um bom par de anos e nunca me viste baixar os braços, tudo o que fiz até hoje em termos de BTT e outras atividades, fi-lo sempre por amor à arte e sempre sem qualquer tipo de interesse, está-me no sangue.

Agradeço a dica sobre o “crowdfunding”, mas neste momento tenho falta de temp$ para me lançar em projetos, digamos que tenho urgências mais prementes.

Aquele abraço,
Alexandre
 

AFP70

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Boas Companheiros (as),

Tal como na vida, tudo tem um princípio meio e fim, pelo que no próximo fim-de-semana postarei eventualmente a minha última crónica por Terras Helvéticas.

Até ao momento as minhas tentativas para encontrar um novo “sponsor” têm se mostrado infrutíferas, pelo que pacientemente irei aguardar pelo desfecho.

Parafraseando The Doors “This is the end”, mas como sempre, não podia deixar de vos privar da minha última volta efetuada a pé (abaixo dos 1.500 mts). Neste momento e devido à queda de neve, acabaram-se as voltas de bicla em alta montanha.

Eis duas chapas para alimentar o espírito até lá.

Como sempre, a crónica será postada a seu tempo, nos locais do costume (Site BDP, Facebook, Fóruns de BTT).

Cumprimentos,
Alexandre Pereira

Aquela montanha não me é estranha. Lembram-se da crónica respetiva, agora com neve a sério.
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Um dos meus destinos. Venci 250 mts de desnível em cerca de 300 mts…
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AFP70

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“Gorges du Dailley” e “Gorges de Trient” ou o dois em um…

Carlos Drummond de Andrade disse certa vez que “Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes”. Foi exatamente com esta ideia em mente que tentei definir a minha próxima missão.

Nas minhas anteriores crónicas atravessei lagos, subi montanhas, caminhei ao lado de glaciares, desci encostas abruptas, visitei castelos, atravessei florestas, andei em trilhos vertiginosos; pelo que desta vez decidi mais uma vez surpreender (nas Terras Helvéticas há sempre “pano para mangas” é só uma questão de tempo e vontade).

Como até à data nunca tinha visitado uma garganta (passagem estreita e íngreme entre duas montanhas) resolvi que estava na hora de tal como cantava Ray Charles “Hit the road Jack”.

Após aprofundadas pesquisas, a minha escolha recaiu sobre as “Gorges du Dailley” (1.280 mts) e as “Gorges de Trient” (460 mts). Uma vez que as duas gargantas não ficavam muito distantes uma da outra (como sempre, tento rentabilizar o investimento em tempo e “money”), pareceu-me boa ideia realizar um dois em um.

As gargantas resultam na sua grande maioria da erosão (cerca de 1 cm por ano) provocada ao longo de milhares de anos pela água resultante do degelo dos glaciares.

A imagem de marca das “Gorges du Dailley” são os seus 700 degraus em madeira colocados sinuosamente nas encostas da garganta em paredes que a olho nu parecem intransponíveis (o engenho humano é qualquer coisa). Foram abertas pela 1ª vez ao público em 1895, mas com o passar do tempo foram-se degradando e agora passado 20 anos de obras caritativas voltaram a ganhar o esplendor do passado. É um local não aconselhável a quem sofra de vertigens e ao longo do percurso vencemos cerca de 250 mts de desnível em 300 mts de caminhada.

O que nos marca nas “Gorges de Trient” é a sensação de profundidade, isto é, entramos 800 mts nas entranhas da montanha (horizontalmente falando) e estamos quase a 200 mts de profundidade (verticalmente falando). Abertas em 1860 ao público, por aqui passaram Jean-Jacques Rousseau e Goethe entre outros. Sabia de antemão que talvez fosse encontrar este local encerrado (fecham a 30 de Setembro e abrem a 01 de Maio) por motivos de segurança (queda de gelo). Como diz o povo “quem não arrisca não petisca” e neste caso valeu a pena a minha insistência ou como diz Fernando Pessoa “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº036).

Chegada à estação de “Salvan” (940 mts), ponto de partida desta aventura. Este é o famoso comboio “Mont-Blanc Express” que nos conduz desde a estação de “Martigny” (460 mts) até “Saint-Gervais” já no interior da França. A passagem da fronteira faz-se no “Châtelard” (1.130 mts). Foi em “Salvan” que em 1895 Marconi efetuou a 1ª ligação telegráfica sem fio de +/- 1,5 kms até “Les Marécottes” (importante estância de ski).
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O interior do comboio mais parece o cenário de uma nave espacial, sendo este composto por inúmeras janelas panorâmicas. Ainda não tive oportunidade de viajar aqui na Suíça em comboios cujos tetos são compostos também de janelas panorâmicas, é como se viajássemos numa caixa de vidro.
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O trilho do dia assinalado a azul. Inicia em “Salvan” (940 mts), passa pelas “Gorges du Dailley” (1.280 mts) e “Gorges de Trient” (460 mts) e finaliza em “Vernayaz” (360 mts). São cerca de 15 kms de caminhada.
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A caminho das “Marmites Glacières” (1.040 mts).
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A montanha que se vê do lado direito da foto é a “Tête du Portail” (2.335 mts) e faz parte da cadeia montanhosa “Les Dents de Morcles”, já visitada em anteriores crónicas.
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Bonita panorâmica. Aposto que reconhecem aquela montanha coberta de neve ao fundo do lado esquerdo da foto.
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Atravessei florestas repletas de folhas caídas mas sempre com o trilho perfeitamente marcado com as famosas placas amarelas ou mesmo com setas pintadas de amarelo nos troncos das árvores.
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Nesta parte da montanha o tempo prometia, mas à medida que caminhava para as “Gorges du Dailley” era notório o abaixamento da temperatura.
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Encontro-me a cerca de 2 kms das “Gorges du Dailley”. Assinalado a vermelho a ponte feita por um penedo encravado no meio da garganta que deverei atravessar.
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Foto de pormenor do trilho que atravessa as “Gorges de Dailley”. Desde a sua base (ponte em madeira, ver próximas fotos) até ao topo, temos de vencer mais de 700 degraus (escadório visível na foto). Este caminho foi aberto pela 1ª vez ao público em 1895, mas com o decorrer do tempo e as intempéries, as estruturas deterioraram-se pelo que após 20 anos de trabalhos caritativos chegamos a este resultado. Mais informações em http://www.gorgesdudailley.ch .
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Vista de “Vernayaz” em 1º plano e ao fundo “Martigny” onde apanhei o “Mont-Blanc Express”. Aquela montanha ao fundo do lado direito da foto é “Le Catogne” (2.598 mts). Aqui encontro-me nas “Marmites Glacières” (1.040 mts), local onde podemos encontrar imensas variedades de salamandras e tritões.
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Copiem esta foto para o vosso ambiente de trabalho e invertam a mesma (pernas para baixo, neste caso troncos). Sim, é isso mesmo e ainda dizem que a natureza não faz bem as coisas, eheheh…
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Depois de atravessar esta ponte inicia a famosa subida dos 700 degraus. Aviso desde já que esta zona não é aconselhável a quem sofra de vertigens.
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Para a posteridade. Quase ficava sem dedos e orelhas.
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“Up is the way” 1,2,3, já só faltam 697.
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A maioria das estruturas de madeira são suspensas e estão fixas por cabos de aço.
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Ao fundo a ponte onde “grisei”.
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Se até agora tinha sido interessante, de ora em diante vai ser ainda melhor.
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Vou caminhar lá em cima. Em muitas zonas quem tiver a cintura muito larga não passa, uma vez que por vezes só mesmo de lado é que se conseguia progredir tal era estreito o trilho.
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O famoso penedo (1.250 mts) engavetado no meio da garganta que permite atravessar para a outra margem.
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Parece frágil, mas é seguro, embora se sinta a oscilação da estrutura à medida que se caminha.
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“Un petit aperçu” da profundidade da zona.
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Acredito que agora toda a zona esteja coberta de neve, daí a existência dos cabos de aço laterais para fixação dos arneses. Este trilho está aberto todo o ano.
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Para além do perigo de queda existe sempre o “danger” de queda de rochas ou outros objetos.
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“Martigny” ao fundo e assinalado a vermelho as “Marmites Glacières”.
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E dizer que este é o ribeiro que alimenta a cascata. Esta água chega-nos do “Lac de Salanfe” (1.925 mts).
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Em “Van d’en Bas” (1.300 mts). Acima dos 1.500 mts estava tudo coberto de neve. O trilho passa por atravessar parte da floresta do lado esquerdo da foto até aos 1.385 mts.
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Chalés em “Van d’en Bas”.
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No regresso a “Salvan” pareceu-me reconhecer aquela montanha e afinal não é que na crónica Nº034 (Mordi “Les Dents de Morcles” e soube-me pela vida…), passei no ponto A [“La Rionda” a 2.198 mts (Curral para ovelhas)] e no ponto B [“L’Au d’Arbignon” a 1.650 mts (criador de porcos)].
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Centro de “Salvan” (929 mts). Aqui parei para retemperar forças e enquanto meditava para encontrar uma alternativa que não fosse a estrada nacional para atingir as “Gorges de Trient” (460 mts); eis que em conversa com um nativo descubro que foi recuperado recentemente um caminho “Chemin des Diligences” e que via monte me permitia atingir o meu próximo destino. Tal como na vida, por vezes temos de parar e meditar um pouco e por vezes somos recompensados com pequenas surpresas.
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Este é o “Chemin des Diligences”, um conjunto de curvas e contra curvas (43) numa extensão de 3,5 kms. Este caminho era o único acesso no passado a “Salvan” e era por aqui que as “diligences”, em português diligências, traziam pessoas e víveres. A construção deste caminho iniciou em 1855 e durou 12 anos. Com o surgimento da linha de comboio “Mont-Blanc Express” em 1906, este caminho perdeu grande parte da sua importância. Por momentos pareceu-me ouvir o chiar das diligências e relinchar dos cavalos.
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O “Chemin des Diligences” passa por cima da linha “Mont-Blanc Express”.
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A linha de comboio atravessa as entranhas da montanha. Ao fundo do vale na parte sombria da foto (lado direito) temos a aldeia de “Collonges” (ver crónica Nº034)
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Entrada das “Gorges de Trient” (460 mts). Via telefone fui informado que estas fecham a partir do dia 30 de Setembro. Mesmo assim e porque “quem não arrisca não petisca” resolvi lá passar. Sorte a minha, uma vez que abriram as mesmas nesse dia para um conjunto de turistas que tinha passado lá durante a manhã. Mais informações em http://www.vernayaz.ch/index.cfm?page=gorges_du_trient.cfm
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A caminho das entranhas da terra (800 mts). As “Gorges du Trient” foram abertas ao público em 1860. A visita custava nessa altura 1 CHF e hoje custa 7 CHF. Jean-Jacques Rousseau e Goethe entre outros visitaram este local. A rede que se vê ao longo do passadiço serve de proteção para as quedas de gelo e rochas que se verificam a partir desta época do ano, daí o encerramento a partir de Outubro e até Abril de cada ano.
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Não sei porquê mas recorda-me um qualquer país asiático. Em fotos de 1910 o caudal do rio “Trient” era muito mais imponente e assustador, mas com o aproveitamento hidroelétrico este agora parece mais um riachozito embora até chegar aqui tenha percorrido cerca de 17 kms.
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A profundidade das “Gorges de Trient” é de + de 200 mts e resultam da erosão provocada ao longo de mais de 40.000 anos.
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Nesta zona era costume no passado os guias dispararem um tiro de pistola que ecoava como um trovão.
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No séc.XVIII os lenhadores que trabalhavam no topo das “Gorges du Trient”, costumavam atirar os troncos pela garganta abaixo e no final estes eram recolhidos para alimentarem uma fábrica da indústria vidreira.
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As “Gorges de Trient” são atravessadas por uma ponte “Pont du Geuroz” a 187 mts de altura. Esta ponte é a terceira mais alta da Europa, sendo a 1ª o “Viaduc de Milau” (França, 343 mts) e a 2ª a “Europabrücke” (Austria, 190 mts).
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Embora tenha rapado bastante frio devido à localização das gargantas, esta volta traduziu-se à semelhança de outras num “moment d’émerveillement et vrai bonheur”.

A volta saldou-se em cerca de 15 kms de caminhada.

Termino esta crónica com uma afirmação de Goethe com a qual me identifico “A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas”.

Cumprimentos betetistas e até qualquer dia…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

commendatore

New Member
Fantástico. Tenho a minha namorada a viver em Vallai em Crans-Montana e as paisagens que vejo por lá...são de ficar maluco. Obrigado por partilhares estas tuas crónicas. Se não podemos ir podemos ficar com um pouco do que é!
Brutal
 

salgado52

Active Member
Parabéns amigo,mais uma enorme aventura,desta vez a penantes,mas que não deixa de ser brutal,esse local de “Gorges de Trient” é das coisas mais belas que tenho visto das tuas fenomenais crónicas,que maravilha,boa sorte na procura de "sponsor".

Abraço

JAndrade
 

AFP70

Active Member
Boa noite Companheiros,

commendatore,
Não tem que agradecer é sempre um prazer sensibilizar novos seguidores e comentadores, eheheh…
A ideia foi sempre essa, isto é dar a conhecer como se estivesse lá.

BikeTrepaTudo,
A contar de amanhã tenho ainda 21 dias para tentar depois logo se verá.

salgado52,
Pelos comentários esta crónica não o desiludiu e ainda bem. Eventuais crónicas estarão dependentes do que o futuro me reserva. Palabra da salbação, eheheh…

Cumprimentos,
Alexandre Pereira
 

jomendes

New Member
mais uma vez parabéns pelas excelentes crónicas com que nos tem habituado, espero que não seja mesmo a última...

de qualquer forma mais uma vez agradeço a partilha destas paisagens " DANTESCAS "

Cumps,

Continuação de Boas Pedaladas
:)
 

cabaço

New Member
Muitos parabéns pelas crónicas, fotos e textos fantásticos.
A inveja é muito feia mas é o que sinto neste momento eheheheheheheh:eek::eek::eek::eek::eek::eek:

FANTÁSTICO

Luis Cabaço
 
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