Crónicas de um Bravo do Pelotão por Terras Helvéticas

AFP70

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Olá Jmra37,

Realmente fantástico é pouco para transcrever a imensa alegria que me dá rolar por estas paragens e poder partilhar.

Cumprimentos e até à próxima crónica,
Alexandre Pereira
 

AFP70

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Olá René,

Nem de propósito, ainda ontem encontrei um companheiro do pedal Suíço com 63 anos com quem fiz cerca de 15 kms e que me mencionou ir participar na mesma prova mas para os HEREMENCE-GRIMENTZ 68 KM - Dénivelé 2'996 m.

A prova será no dia 18.08.2012 Sábado, pelo que é tudo uma questão de combinarmos encontrarmo-nos em Martigny ou noutro lugar, para rolar ou beber um copo e dar 2 de treta (envia-me uma PM sobre a tua disponibilidade para conciliar com a minha formação).

É como dizes, se nunca por aqui rolaste, nada a partir daí será como dantes e até talvez venhas a sofrer do “síndrome de rolar abaixo dos 1.000 mts”, eheheh….

Desejo-te boa sorte para a prova.

Um abraço e diz qualquer coisa,
Alexandre Pereira
 

AFP70

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“Les Portes du Soleil” ou lorsqu’un homme rentre au Paradis…

Na anterior crónica tinha mencionado uma ida ao Paraíso, pelos vistos até nem fica assim tão longe, isto é a +/- 1h40 de comboio.

Pois é “caros followers”, este pequeno paraíso chama-se “Les Portes du Soleil” (nem de propósito o nome). Trata-se de uma das maiores estâncias de ski do mundo com cerca de 650 kms de trilhos assim como 197 unidades mecânicas para vencer os diferentes desníveis. A área em si é comum à França (desde Morzine) e Suiça (Le Chablais). Mais informações para quem desejar planear uma estadia para praticar BTT ou eventualmente Ski em http://www.portesdusoleil.com/tour-vtt-portes-du-soleil.html.

Eram 09h30 quando cheguei a Champéry 1.035 mts (início do meu périplo), aí tinha um teleférico à espera para me levar de imediato aos 1.935 mts (Croix de Culet), mas aqui o “Je” preferiu contornar e começar a dar ao pedal (afinal foi para isso que vim cá, eheheh…).

Enquanto ganhava ânimo para o que me aguardava, vi chegarem “n” riders (downhilistas), todos equipados a rigor, com as suas bikes todas artilhadas, parecia que tinha entrado num qualquer filme do “Mad Max” (impressionante mesmo). Eis que enquanto admirava a “cena”, vejo um betetista vir ter comigo e que começa a falar-me como se nos conhecêssemos há tempos. Enquanto fluía a conversa vim a saber que me tinha confundido com um colega encontrado na net e com quem tinha marcado uma volta a arrancar de Champéry. Nisso aparece o colega e trocamos emails para próximas voltas, a ver vamos. Durante a conversa falei-lhes da minha volta, sendo que ao ouvirem os locais por onde pretendia passar, olharam-me com aquele sorriso, sim o tal que diz tudo (Um bom prenúncio, pensei eu). Como quem ri por último, ri melhor, vou-lhes enviar a crónica (afinal um deles fala espanhol) e afinal o país pode estar “uma me…”, mas em termos de BTT ainda vamos dando umas cartadas, eheheh…

Nesta zona realmente quando sobe, sobe mesmo, mas a contemplação das paisagens (as fotos falam por si), rapidamente faz esquecer o sacrifício da subida.

Enquanto subia, cruzei muitos caminheiros, assim como betetistas, downhilistas, todos como devem calcular a descer (por que será? Acredito que não será do Guaraná, eheheh…).

A volta com mais ou menos esforço lá ia fluindo até que a certa altura e porque marcar trilhos via Google Earth tem destas coisas, acabei por penetrar numa pista de downhill.
Realmente tinha achado o trilho um pouco estranho, mas como não tinha alternativas acabei por embarcar na aventura, de curta duração, pois mal tinha começado a descer eis que ouço uns ruídos de metal atrás de mim; viro-me e não é que por pouco não era atropelado por 4 riders todos em fila indiana. “Oh malta, não habia nexexidade, sei que sou lento, mas não sou nenhum caracol e no monte cabem todos, não…”. Uns kms à frente voltei a engrenar no trilho.

Até chegar a Morgins 1.315 mts foi sempre a descer, sempre a abrir através de longos e sinuosos singles. Aí e como o cansaço já era notório (descansem, não tive caibras) e ainda faltavam cerca de 20 kms, dos quais 5 ainda me levariam novamente aos 1.530 mts, colocou-se a questão de continuar via estrada (desistir do trilho inicialmente desenhado) ou voltar a subir. O “bom senso” (dor da desistência superior à prossecução) levou-me a continuar a ascensão. Claro que à medida que avançava amaldiçoei a decisão.

A cereja no “top of the cake” deu-se com cerca de 14 kms sempre a descer até Monthey 408 mts (fim da minha aventura).

No final da volta ainda encontrei um “gentleman” que queria trocar o seu cavalo pela minha fiel amiga (vide foto). No way, Jose…

Eis parte dos registos do dia… ( restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº028 ).

Como podem constatar, ainda há pano para mangas nos arredores, eheheh…
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Até ao momento e segundo a minha fiel amiga, um dos mais confortáveis (com direito a tapete), pena a viagem ser tão longa. Contar com 1h40 de viagem e uma mudança de comboio em Aigle.
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À chegada a Champéry 1.035 mts (início do meu périplo). Comboio decorado a preceito, dum lado das portas os destinos possíveis em França e do outro lado os destinos possíveis na Suíça. “Les Portes du Soleil” possuem cerca de 650 kms de trilhos, assim como 197 unidades de subida (téléskis, teleféricos, cadeirinhas, etc…). É uma das maiores estâncias de ski do mundo. Mais informações em http://www.portesdusoleil.com/tour-vtt-portes-du-soleil.html.
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Parte do meu trajeto assinalado a verde. Mesmo assim ainda deu para subir até aos 1.890 mts.
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Com 197 unidades para vencer desníveis, aqui o “Je” prescindiu dessas mordomias. Há “gajos” assim “pain lover”.
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Início das hostilidades.
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“Up is the way”. Vou passar junto aquela casa lá em cima no meio da foto.
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Aqui, quando sobe, sobe mesmo.
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Vim de lá de baixo (ao fundo da floresta).
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“As saudades que eu sentia da minha rica casinha”. Conseguem vê-la do lado esquerdo da foto no topo?
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Aqui o trilho mudou de aspeto, deixou de ser em gravilha prensada para passar a ser de pedra. Com um pouco de paciência, se bem que penosamente, lá se ia avançando.
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Les “Dents Blanches” a 2.734 mts.
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Vim de longe, de muito longe.
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La “Tour Sallière” a 3.200 mts.
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Em pano de fundo Les “Dents du Midi” a 3.257 mts. Para variar é sempre a subir.
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Mais do mesmo.
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Para os amantes de downhill, há pistas para todos os gostos. Os preços para utilização das cadeirinhas (vencer desníveis) variam dos 18 EUR (1/2 dia) aos 225 EUR (13 dias). Na foto em baixo à esquerda é visível um downhilista.
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Les Crosets a 1.673 mts. O meu trilho segue por cima da floresta do lado direito da foto.
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Outros trilhos possíveis.
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Por momentos julguei estar na América do Sul quando vi estes Lamas (Lama glama). Sabiam que o Lama foi considerado o 8º animal mais irritável do mundo. Convém passar “de mansinho” porque caso contrário, arriscamo-nos a ser presenteados com mucosa a alguma velocidade, mais conhecida por “esca..o”.
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Ao longe, muito ao longe, “my final destiny”.
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Monthey fica a 408 mts naquele vale.
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Depois de muito subir, eis algumas descidas (longas Q.B.).
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Les “Dents de Morcles” a 2.725 mts. Tenho já algo agendado para esses lados.
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Quando estiverem no meio do monte e desejarem saber se no dia seguinte vai chover, basta olhar a cor da erva (na foto, castanha). O cocó das “bacas” não engana e os “labradores” sabem disso melhor que ninguém, eheheh…
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Lago de Morgins a 1.373 mts. Não vai ser desta que o vou visitar (passei ao lado).
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Como constatam, apenas percorri uma pequena parte des “Portes du Soleil”.
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Vim a descobrir “in loco” que o track desenhado via Google Earth passava por uma pista de downhill. Foi por pouco que não fui atropelado por um grupo de 4 riders. Admiro a loucura deste pessoal. Mesmo assim e porque não tinha alternativas, efetuei com muita precaução os restantes 1, 5 kms desta pista (à la mano).
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O trilho passa junto aquela cascata ao fundo.
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Lembram-se da cascata, pois aqui era sempre a abrir.
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No início pensei tratarem-se de touros, mas as tetas não enganam.
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A 20 kms do fim da volta, encontro esta represa e onde inicia um single junto ao rio (cerca de 3 kms), mais conhecido por “Chemin des Ponts” tal era a quantidade de pontes e que me conduziria até Morgins a 1.315 mts.
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Perdi a conta à quantidade de pontes atravessadas.
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Mais do mesmo.
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Chegado a Morgins e como cansaço já era tanto, colocou-se a questão de continuar via estrada (desistir do trilho inicialmente desenhado) ou voltar a subir. O “bom senso” (dor da desistência superior à prossecução) levou-me a continuar e subir até aos 1.530 mts. Claro que à medida que avançava amaldiçoei a decisão.
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Aleluia, Monthey à vista (408 mts).
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Deste ponto e até ao final são cerca de 14 kms a descer, yupie, yupie…
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Monthey propriamente dita e o rio Rhône. No canto do lado direito “Les dents de Morcle” a 2.725 mts.
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Château de Monthey (8º da coleção), construído em 1445. Não têm a imponência dos anteriores mas aqui fica o registo.
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Ex-libris junto ao castelo. O “manga” queria trocar o cavalo pela minha fiel amiga. Querias não querias…
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Acabei por realizar 55 kms, sendo a altitude mínima de 408 mts e a máxima de 1.890 mts. O acumulado de subida foi de 1.550 mts e o de descida de 2.179 mts, ou seja uma volta “mui” interessante.

Por volta das 18h00 cheguei à estação de comboios de Monthey. Entrei no comboio e aguardei a partida, mas eis que passados 10 minutos ouço a estação a informar que devido a uma avaria na linha em Montreux, só haveria ligação até Aigle e que daí e até Villeneuve o transporte se faria via autocarro (estão a imaginar a situação com cerca de 400 passageiros a transbordar). Passados 30 minutos depois do aviso ainda não tínhamos arrancado e durante esse tempo vim a descobrir que afinal a tal avaria se deveu a um suicídio na linha nessa zona (essa malta não poderia ter escolhido outro dia ou mesmo ter aguardado umas horas mais…)

Para mal dos meus pecados a aventura não termina aí, isto é, após uma eternidade o comboio sempre arrancou com destino a Aigle. Toca a descer e aguardar pelo autocarro, afinal em momentos de crise a administração Suíça pouco difere da Portuguesa, pois apenas colocaram um autocarro para efetuar o transbordo das pessoas. Pelas minhas contas o processo (ida e volta do autocarro) demoraria cerca de 2h00. Foi nessa altura que meti conversa com um betetista na mesma situação e propus-lhe que fizéssemos de bicla o trajeto até Villeneuve. Como também tinha chegado à mesma conclusão, anuiu à minha proposta. Chegados a Villeneuve indagamos se havia comboio a sair e a resposta foi negativa. Como já estávamos por tudo (+ km – km), toca a seguir viagem até Montreux. Enquanto pedalávamos vim a descobrir que tinha 63 anos e que também andou para os meus lados (já tinha 88 kms no pêlo).

Com os agradecimentos da CFF (Companhia de Caminhos de Ferro Suíça) acabamos por fazer mais 18 kms, mas como sempre temos de ver o lado positivo da “coisa”, isto é, acabei por conhecer mais um betetista para próximas voltas e este não “brinca em serviço”.

Eram 21h00 quando entrei em casa, mas acreditem que se tratou de um dia muito bem passado.

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

salgado52

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Viva Alexandre,há muito tempo que leio as tuas crónicas e visualizo as magníficas fotos e enquanto por aqui andar sempre o farei,mesmo que por vezes não faça qualquer comentário,pois começam a faltar adjectivos para sempre que aqui postas as ditas eu manifeste a minha inteira satisfação,continua amigo.

Abraço

JA
 

AFP70

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Olá JAndrade,

Dentro de uns meses fará quase dois anos que dentro da medida do possível partilho as minhas experiências betetisticas. Sei que o amigo me acompanha desde os primórdios deste tópico e ao longo dos tempos também eu o fui aprendendo a conhecer melhor quer através das PMs que fomos trocando, quer através dos posts que coloca neste Fórum.

“Aquele que escolhe viver humildemente será sempre guiado pelo seu coração”, uma frase simples na sua construção mas cheia de significado e pela qual oriento a minha permanência aqui pelas Terras Helvéticas.

Quando somos “obrigados” a sair do país, aprendemos muito (internamente e externamente) na nossa tentativa de adaptação ao novo ambiente de inserção, pelo que o facto de escrever e partilhar estas experiências paisagísticas, ajuda-me a dar um significado ao distanciamento a que fui votado.

Parafraseando o JAndrade “Enquanto por aqui andar” continuarei a postar, pois é esta a missão pessoal a que me propus.

“A falta” de algum feedback por parte dos users do Fórum, não foi, não é, nem será alguma vez motivo para a descontinuidade deste tópico, faz parte do “game”, mas como diz o povo “o que conta é a intenção”, neste caso a visita; aliás o número de visitas a cada nova crónica postada fala por si (entre 500 e 1000).

Tal como a si lhe faltam “adjetivos” para manifestar o seu apreço quanto ao teor das fotos e respetivas crónicas, também eu por vezes sinto necessidade de variar a temática sob pena de me tornar um “déjà vu”.

Obrigado por continuar a seguir este tópico (extensivo a todos os users do Fórum) e quiçá qualquer dia não nos encontramos num qualquer passeio por Terras Lusitanas.

Um grande abraço ;),
Alexandre Pereira

P.S: Enquanto tiver disponibilidade de tempo (o raio do patrocinador, teima em não querer aparecer, eheheh…), continuarei a manter a cadência e sobretudo a divertir-me, tirando o máximo proveito da minha estadia por Terras Helvéticas.
 

super.byke

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Alexandre, só posso dizer que as fotos me deixam sem respiração!!! és um privilegiado em poder fazer esses trilhos!!!
força nas canetas :D
 

AFP70

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Boas super.bike,

Acredite que não é essa a minha intenção (ficar sem respiração), ainda sou acusado de assédio “bisual”, eheheh…

Realmente é um privilégio rolar por estas “bandas”, pena ser quase sempre em solitário, mas a beleza das paisagens compensa de longe a solidão ressentida.

Um abraço,
Alexandre Pereira
 

AFP70

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Boa tarde Companheiros (as),

Ontem realizei mais uma aventura que postarei na próxima semana (manque de temps).

Eis um pequeno preview do que vos aguarda, “be ready”.

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Cumprimentos e “hold your horses”, :D

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

AFP70

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Boas BikeTrepaTudo,

Chato, chato é mesmo se coisa corre mal e se isso realmente acontecer um dia (I hope not), acredito que não estarei cá para efetuar o report, eheheh…

Um abraço,
Alexandre
 

salgado52

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Eh lá,esse sítio causa-me alguns arrepios na "espinha" eh!eh!eh! convém mesmo o cavalo ter as rédeas bem curtas,fónix!!!!!!!!

Abraço
 

AFP70

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Boas JAndrade,

Realmente esta volta não é aconselhável para quem sofre de vertigens ou mesmo gosta de “picoler un peu”.

Nesta volta e porque o trilho não permitia, a minha fiel amiga ficou em casa, aliás por vezes torna-se mesmo necessário caminhar para podermos chegar a lugares mais recônditos.

Um abraço e deixe o cavalo respirar, ;)
Alexandre Pereira
 

AFP70

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“La Bisse du Ro” ou a afirmação do engenho humano…

Por vezes sou obrigado a deixar em casa a minha fiel companheira para poder aceder em segurança (sempre aparente e subjetiva) a lugares que de outra forma se tornariam inacessíveis.

Desta vez e porque em pesquisas na net descobri uma palavra que me deixou intrigado de nome “Bisse”. Ao satisfazer a minha curiosidade descobri tratar-se de um tipo de construção criada no séc.XIV (Idade Média) e que servia para o transporte de água da alta montanha para as planícies. Nesta zona (Valais) existem cerca de 34 bisses construídas entre os 700 mts e os 2.500 mts. Após analisar as diferentes propostas optei por visitar aquela que me pareceu a mais espetacular em termos de dificuldade quanto à suplantação dos obstáculos encontrados aquando da sua construção.

As fotos falarão por si e desde já informo que esta volta não é aconselhável a cardíacos ou a quem sofra de vertigens. Em muitas zonas do trilho a adrenalina esteve ao rubro tal era a sensação de perigo. Aproveito a ocasião para sossegar os familiares que vierem a ler esta crónica de que independentemente da beleza paisagística de uma volta, esta só será na minha opinião uma “boa volta” se chegar a casa são e salvo, portanto “no worries”.

À medida que ia avançando ao longo do trilho fiquei com uma sensação de admiração por estas gentes que com engenho e sem dinamite, conseguiram ultrapassar obstáculos que à partida pareciam intransponíveis.

Devido aos elevados custos de manutenção e fugas de água, o transporte do precioso líquido a céu aberto acabou por ser efetuado através de um túnel escavado no Mont-Lachaux em 1947, tendo ficado o trilho para deleite dos nossos sentidos.

A bisse mais comprida “Grand Bisse de Lens” tem 13 kms e a mais alta “Bisse de Audannes” inicia aos 2.540 mts. A mais antiga é a “Bisse du Sillonin” construída em 1367 e que hoje em dia ainda irriga os vinhedos de “Saint-Léonard”.

Como antigamente (Idade Média) as pessoas não sabiam ler nem escrever (hoje em dia sofremos de um outro tipo de analfabetismo), o sistema encontrado para informar as famílias de que parte do dia (manhã/tarde) lhes pertencia para a rega foi colocar suspenso na casa do regedor da aldeia (L’Évouen) um grosso pau com marcas das respetivas famílias. Conforme a localização da marca (acima ou abaixo de uma linha) estas ficavam a saber o horário.

Sendo a construção das “Bisses” um trabalho muito perigoso e na ausência de máquinas, dinamite ou ferramentas, os operários protegiam-se com a fé em Deus e com o seguinte credo “Deus abençoa o trabalho e protege todos aqueles que o amam”.

Eis parte dos registos do dia… (restantes (+ de 150 fotos) encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº029).

“Lac de Tseuzier” a 1.777 mts. O acesso ao lago faz-se através do autocarro da Post (autocarros amarelos) a partir de Sion e viagem demora cerca de uma hora. No interior do autocarro havia “Wifi”, o que deu bastante jeito para consultar emails e ir à net. O início da volta passa por dar a volta ao lago.
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Mais do mesmo. Irei passar junto àquela cascata (lado esquerdo da foto).
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Senti-me quase o Indiana Jones ao atravessar esta ponte suspensa. É uma sensação estranha uma vez que à medida que se caminha, ressentimos os movimentos “up and down” da ponte. Estava só ao atravessar pelo que com mais pessoas em cima dela, deve ser mesmo esquisito.
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A caminho da ponta do lago com o Wetzsteinhorn a olhar-me dos seus 2.793 mts.
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Para transporte da água, as gentes destes locais construíam estruturas em madeira.
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Lago e barragem vistos da outra extremidade. As montanhas ao fundo têm todas mais de 4.000 mts.
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A ponte passava por cima daquele curso de água na montanha.
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Do lado direito da foto é visível o trilho que nos conduz ao topo do Wetzsteinhorn, mas para isso é necessário vencer um desnível de mais de 1.000 mts.
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Um último adeus ao lago e início das “coisas sérias” da volta.
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O propósito desta volta era visitar uma “Bisse”. Para quem desconhece, uma “Bisse” é um canal construído pelo homem utilizado para transportar a água desde a alta montanha até às planícies. Nesta zona do Valais existem cerca de 34 bisses pelo que optei por visitar a mais espetacular em termos de obstáculos encontrados aquando da sua construção. Nesta foto é possível ver do lado direito da foto (descampado) a zona por onde passa a “Grand Bisse de Lens” com os seus 13 kms (a maior). As bisses foram construídas entre os 2.500 mts e os 700 mts.
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Aqui é bem visível o meu afastamento da barragem de Tseuzier.
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Aquela é a estrada de montanha que nos conduz à barragem. Tivemos de atravessar 2 tuneis (em rústico) tão estreitos que acreditem ou não o autocarro tinha apenas 10 cm de folga ao seu redor. O espaço é tão milimétrico que ao entrar no 1º túnel, o “olhómetro” do motorista calculou mal e o espelho foi “desta para melhor”.
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À medida que me afastava da barragem conseguia ver melhor os seus contornos. Esta foi construída entre 1953 e 1958 e a sua altura é de 156 mts. Na base a sua largura é de 26 mts e no topo de 7 mts.
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Ao fundo a Barragem de Proz-Riond com os seus 20 mts de altura e do lado direito “Anzère” por onde passa a Bisse de Sion.
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Os verdes nesta zona eram de uma beleza ímpar. No cimo da montanha junto aquelas torres encontramos “Bella Lui” a 2.540 mts e daí temos acesso à “Bisse du Tsittorret” com os seus 7 kms (acima dos 2.000 mts).
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A minha missão do dia. As bisses mencionadas começaram a ser construídas na Idade Média, daí a minha admiração por estas gentes ao vencerem tamanhos obstáculos com as ferramentas existentes (não tinham recurso a dinamite).
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Uma casa na pradaria, “arrecordam-se”, eheheh…
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A partir de agora é preciso estar atento e muito concentrado. Como irão constatar não há margem para erro. (neste caso falta uma das margens, eheheh…)
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Este xisto, cascalho é um autêntico perigo pois em caso de deslize não temos onde nos fixarmos.
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Vim de longe e sempre do lado direito (como dizia a minha avó, vim pela sombrinha).
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Esta foto foi tirada em 1930 e vemos a “Bisse” coberta de neve (vejam só o à-vontade destes senhores). A gestão da água (direito à rega) era efetuada por um responsável (L’Évouan) que utilizava um pau colocada à entrada da sua casa, com marcas que indicavam qual a família que poderia utilizar a água e em que período (manhã/tarde). A utilização desse sistema (pau com marcas) deve-se ao facto da maioria das pessoas nessa altura não saberem ler nem escrever.
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Conseguem ver a barragem?
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Aquelas tábuas que se vêm não estão do lado de fora, mas sim encostadas à parede, tal como no canto inferior direito da foto (o importante era proteger a água e não as pessoas).
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Esta volta não é aconselhável a quem sofra de vertigens.
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Por vezes temos de nos agarrar à vida com as mãos, eheheh...
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Vim d’acolá e tive de assinalar a vermelho uma pessoa que ia a passar.
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Foto de pormenor com 4 pessoas. Em toda a extensão dessa zona não há cabos de suporte à vida, daí que o mínimo erro é fatal.
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É de louvar os obstáculos vencidos por esta malta para o transporte da água.
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Impressionante… Antigamente transportava água em canais feitos de madeira, agora e porque os custos de manutenção tornaram-se muito altos, construíram um túnel para vencer este e outros obstáculos ao longo do trajeto. Ainda bem que assim é caso contrário não havia mote para esta crónica.
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Mais do mesmo.
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Aqui é visível o local onde alguém “deixou a vida” (junto à árvore em caso de erro temos um mergulho ou voo garantido…). Ao longo do trajeto encontramos cerca de 5 cruzes (estas são as visíveis, mas com certeza que houve mais perdas de vida), é sempre bom relembrarem-nos que existe uma linha que separa a alegria da tristeza.
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A volta não é aconselhável a quem gosta de beber uns copos ou mesmo quem sofra de “bisões” provocadas por aqueles produtos que todos nós conhecemos.
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O bem da adrenalina quando está em carga máxima é que não nos deixa pensar em mais nada.
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A espessura da madeira é Q.B. mas convém não abusar.
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Chegada a Crans-Montana, importante estância de ski do Jet-set Suiço e não só. Jackie Kennedy veio para cá durante muitos invernos. Encontramos (n) lojas com as “grande griffes”
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Junto ao Kona Bike Park encontrei vários “ Dirt Monster” para alugar. Em conversa com o proprietário da loja, este informou-me que são sobretudo utilizados nas pistas para derrapar como uma vulgar moto 4x4 (travão de disco frente e trás, suspensão frontal e pneus cheios a 50%). Gran-Montana possui cerca de 177 kms de pistas BTT (sobretudo downhill). Mais informações em http://www.crans-montana.ch/ete/fr/activites/vtt .
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“Lac Grenon” de Crans-Montana e ao fundo o Fletschhorn a quase 4.000 mts (perto da zona de Zermatt).
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Outro dos 5 lagos existentes em Crans-Montana (sem nome).
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O meu transporte desde Crans-Montana até Sierre. Ao longo de 13 min vencemos um desnível de quase 1.000 mts.
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Sierre a 535 mts no vale e ao centro o Illhorn com os seus 2.716 mts.
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Desde Lausanne até à barragem de Tseuzier devemos contar com cerca de 2h10 (entre comboio e autocarro). Acabei por realizar 18,5 kms em +/- 5h00 de caminhada, sendo a altitude máxima 1.906 mts e a mínima de 1.478 mts.

É meu desejo que ao lerem esta crónica tenham vivenciado um pouco das sensações de que fui acometido enquanto percorria este trilho.

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

Jocas22

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fenomenal mas isso de bike é que era :D (TOU NO GOZO AH!)

espectacular como foi aproveitado pro turismo. Os suicos nao brincam
 

salgado52

Active Member
Viva Alexandre,deixa-me dizer-te,tu és um ganda malucão(no bom sentido entenda-se)parabéns pela aventura,mas esta nem que me pagasses,claro que já sabes o motivo,mas que é brutal,lá isso é!

Abraço
 

AFP70

Active Member
Bom dia Jocas22,

Como disse um user recentemente, é uma chatice andar/rolar na Suiça pois é tanta a variedade que por vezes complica a escolha.

Aqui há de tudo para todos os gostos e sobretudo “para todas as carteiras”.

Para que tenha uma ideia, a população da Suíça no final de 2011 andava perto dos 8 milhões dos quais quase ½ milhão são portugueses e o balanço de turistas ao longo desse ano foi de 16 milhões; daí se pode concluir que a Suíça é acima de tudo um país virado para o turismo, logo a necessidade de criar estruturas que criem desejo de visita.

Um abraço,
Alexandre Pereira
 

AFP70

Active Member
Boas Salgado52,

Montaigne disse certa vez "A mais subtil loucura é feita da mais subtil sensatez."

Ainda bem que a crónica não o desiludiu e acredite que quando estamos lá somos como que anestesiados pela beleza de tudo o que nos rodeia que o resto deixa de contar.

Aquele abraço,
Alexandre
 

AFP70

Active Member
Boas BikeTrepaTudo,

Mesmo que se mictasse todo, antes do “micto” chegar cá abaixo, já se tinha evaporado, eheheh…

Um abraço e não se micte todo a rir, ;)
Alexandre Pereira
 

BikeTrepaTudo

New Member
Não havia essa questão. O líquido seria embebido pelo tecido das roupas, pois, de tanto tremor, talvez não fosse a tempo de tirar o "utensílio" para fora.:fpalm:
 
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