Caros bttistas
Resolvi participar no fórum apenas porque fiquei muito magoado com alguns comentários que aqui li aqui relativos às anteriores organizações desta maratona.
Em primeiro lugar gostaria de me identificar. Chamo-me Pedro Silva, sou professor de Educação Física, dei aulas em Elvas na Escola Secundária e vou aproveitar esta ocasião para contar a todos como surgiu esta maratona.
Na escola existe um curso tecnológico de desporto cujo objectivo é formar alunos que possam desempenhar funções em eventos ou organizações de âmbito desportivo. Eu leccionava uma dessas turmas e o programa de uma das disciplinas dizia que os professores deviam envolver os alunos na organização de actividades desportivas. Sendo eu praticante de btt e de downhill (mais de downhill até), nutro uma grande paixão pela prática deste desporto que verifiquei, no ano de 2006, não ter grande desenvolvimento em Elvas. Constatei que havia maratonas em quase todos os concelhos do Alentejo, à excepção de Elvas. Lancei então o repto aos alunos - vamos organizar uma meia-maratona de BTT cá no concelho. E foi assim que tudo começou.
O percurso escolhido na altura foi-me ensinado pelo Sargento Gambutas que amavelmente se disponibilizou para me mostrar alguns trilhos de BTT que ususalmente faziam em Elvas, uma vez que eu sou do Porto e não conhecia nada na região. Havia ainda um aluno que era escuteiro e que ajudou a construir esse percurso. Quanto ao resto, os cartazes, o site, etc., foi tudo desenvolvido na escola com os alunos e foram eles próprios que afixaram toda a publicidade alusiva ao evento. Os apoios foram muito poucos, mas o valor das inscrições deu para pagar todas as despesas e o objectivo era mesmo não dar prejuízo e pôr os miúdos a trabalhar e a ganhar “calo”, como se costuma dizer.
Com a brincadeira tivemos 70 inscrições, um número de que não estávamos nada à espera. Recordo que no dia do evento éramos apenas 11 alunos e dois professores.
As marcações foram feitas pelos alunos, um com uma mota, os outros a pé e alguns de bicicleta e foi assim que foram marcados os 40Km. Terminámos as marcações às 22h00 da noite da véspera de realização da meia-maratona, precisamente no dia do jantar a 1€ oferecido pela CM de Elvas. Quando chegámos à escola tínhamos os pais de um ou outro aluno à espera e até preocupados, por falta de notícias dos seus filhos.
Como é óbvio, quando se entrega a responsabilidade de um evento numa organização tão jovem e inexperiente, é natural que surjam algumas falhas, que se verificaram principalmente ao nível da sinalização do percurso.
Mesmo assim, a meia-maratona realizou-se e a partir desse dia, bem ou mal, colocámos Elvas na rota do BTT.
No ano seguinte, e face aos incentivos obtidos junto de alguns participantes, alguns deles membros do ciclo clube de BTT de Elvas que estava na altura a iniciar-se, decidimos voltar a organizar o evento, desta vez meia-maratona e maratona (80 km), desta vez com os alunos de 10.º e 11.º ano (37 alunos) e todos os professores de educação física mais alguns de outras disciplinas que se voluntariaram para ajudar.
Comprometemo-nos a fazer melhor e conseguimos. Tivemos o dobro de participantes (150) e conseguimos organizar um evento de melhor qualidade. Os apoios foram os mesmos (diminutos) e o valor das inscrições deram apenas para pagar as despesas. Mais uma vez os alunos, com a ajuda dos professores, fizeram grande parte do trabalho - marcaram o percurso, afixaram os cartazes, organizaram o secretariado no dia da prova, ajudaram nos abastecimentos… Houve menos falhas e o evento cresceu.
Nesse ano, o meu amigo Miguel Mendes, presidente do ciclo clube de BTT de Elvas e participante da II edição, demonstrou o interesse desta associação em colaborar com a escola na organização de uma III maratona. Nessa III maratona já não participei a título organizativo, pois entretanto vim leccionar para o Porto, mas juntamente com os meus colegas considerámos de bom grado essa parceria, até porque a experiência dos elementos do ciclo clube aliado ao excelente trabalho logístico que se faz na escola, só poderia resultar numa grande maratona. Para além disso, o maior envolvimento de pessoas da terra como alguns colegas meus de Elvas e dos próprios elementos do Cicloclube de BTT que sabem perfeitamente a que portas bater para obter mais apoios, só poderia trazer mais qualidade ao evento. E foi o que aconteceu.
Este ano, desta vez como participante, fiquei muito surpreendido com o evento. Posso até dizer que foi dos melhores eventos desportivos em que participei. Por isso penso que a simbiose escola/clube foi perfeita e deve ser para continuar.
Mas não posso ficar indiferente às críticas que foram feitas aos alunos e à escola nas duas organizações anteriores. Não se esqueçam que isto começou do zero com eles. Por isso considero que os senhores que teceram todas essas críticas negativas primeiro devem ter em conta a forma como tudo isto começou, e depois reconsiderar os seus comentários. Se não o fizerem é porque provavelmente são o mesmo tipo de pessoas, ou até, quem sabe, as mesmas pessoas que nas edições anteriores da maratona insultaram miúdos de 16 anos por estes se atrasarem a picar o controlo ou por cometerem algum erro. Estamos a falar de jovens que não sabiam nada de BTT e que estavam ali num sábado a fazer o seu melhor em prol deste desporto e da sua cidade.
Também quero expressar a minha desilusão por ver que o seu envolvimento nesta III Maratona foi reduzida. Quase não vi alunos e aqueles que vi pareceram-me desempenhar um papel muito redutor na organização. Convém não esquecer que o primeiro grande objectivo desta actividade eram os alunos (pelo menos nas edições anteriores). E não me parece que o evento venha a decrescer de qualidade se eles entrarem, desde que sejam orientados por pessoas que saibam. O futuro deste evento, e estou a falar numa perspectiva a longo prazo, não passa pelos que organizam hoje, mas sim pelos que no futuro irão organizar. São os mais novos que vão dar continuidade aos nossos projectos.
Também não posso aceitar que a imagem da escola seja distorcida neste fórum. Convém lembrar que tudo nasceu na escola e que grande parte do trabalho realizado foi feito na escola pelos meus colegas. No entanto só li nestes comentários elogios ao Cicloclube como se tivesse sido apenas esta associação a trabalhar sozinha neste evento. Pois não é verdade. O site do evento, por exemplo, foi construído na escola por um colega de informática, e isto é só um exemplo.
Houve de facto muito trabalho de ambas as partes, e desta forma acho que ambos a escola e o clube devem ser reconhecidos e felicitados. Porém, só tenho lido aqui ataques às organizações anteriores e elogios ao Cicloclube BTT. E ainda não vi da parte de nenhum elemento do clube nenhum comentário a defender a escola. E por isso, caro amigo Miguel, quando estiver contigo vais levar um puxão de orelhas.
Uma organização de um evento é apenas uma organização. Não podem ser duas organizações. E neste sentido o clube deve defender a escola, assim como a escola deve sair em defesa do clube se isso for necessário.
Peço apenas que não sejam injustos com os alunos e com os professores. Tenham sempre presente que começou tudo com eles e que, mesmo sem nenhuma experiência em BTT e quase “zero” apoios, eles foram para a frente com esta iniciativa. E grande parte dos aspectos que se melhoraram nesta III.ª edição foi com base na experiência das duas anteriores. Nunca deram má imagem a Elvas nem aos Elvenses. Pelo contrário!
Quando fui colocado a dar aulas no Alentejo toda a gente cá em cima me dizia que ia para a terra do “não se faz nada”! Quando cheguei a Elvas rapidamente me apercebi de que essa é uma imagem errada do Alentejo, e agora, novamente no Porto, chamo ignorantes àqueles que tentam passar essa ideia do Alentejo. Elvas é uma cidade fantástica e aí conheci pessoas brilhantes. Fiz amigos e, doravante, até ao fim dos meus dias, pelo menos uma vez por ano irei a Elvas. Nem que seja só para a maratona.
Agora em relação à maratona propriamente dita, apenas uma palavra – Fantástica!
Sugiro no entanto o seguinte para edições ulteriores: (1) se estiver muito calor, entre os dois abastecimentos colocar um só de líquidos (fiquei sem água a meio dos dois pontos - aproveitem os alunos); (2) encurtar a meia-maratona (58 km para um empenado como eu e como outros tantos que vi por lá, num dia de tanto calor e depois de uma noite nas barraquinhas é dose) e (3) nos abastecimentos colocar a indicação da distância até ao próximo abastecimento, pois ninguém da organização me soube dizer a quantos km ficava e fiquei sem saber a quantidade de água que devia encher (para os empenados como eu, 1kg de água a mais parece uma tonelada).
De resto: Creditação, Percurso, Sinalização, Abastecimentos, Partida e chegada, Segurança, Almoço – 5 estrelas.
Mais uma coisa – tentei levar amigos Bttistas cá do norte mas os custos da viagem associados ao custo da maratona tornaram inviável a sua vinda. Assim, e por forma a atrair bttistas de outras zonas, sugiro que tentem baixar o preço do evento, eventualmente através do suprimento da t-shirt, ou tornando a t-shirt opcional. É que há malta que já tem uma gaveta cheia de t-shirts de participação em maratonas e nem fazem uso delas. Assim só compra quem quer… ou quem pode :s!
Até para o ano.
Pedro Silva
P.S. - Já agora, pensem num Downtown. Elvas é uma cidade com excelentes configurações para esse tipo de provas.