É o caso, inclusive, de Pelé. Você acredita que o rei do futebol, mesmo sem saber, pode ter jogado dopado? Não é uma denúncia minha, tampouco uma acusação leviana. Encontrei nos meus arquivos da Placar – revista da qual tive a honra e o privilégio de ser colaborador na década de 80 – um exemplar de março de 1970 com um longo desabafo do técnico João Saldanha, demitido e substituído por Zagallo meses antes da Copa do México, por ordem do governo militar. Saldanha destila todo seu ódio contra Lídio Toledo e relata episódios desabonadores do então médico da seleção que poderiam arruinar a carreira de craques como Pelé e Garrincha. Leiam o trecho a seguir:
DERAM BOMBA AO REI - Quando descobri que Pelé tinha um pequeno defeito visual – não é nada grave, absolutamente -, apenas repeti o que os médicos me disseram. Não sou oftalmologista, mas jamais falei isso pra ninguém. Lamento que o Dr. Lídio Toledo, informante de um jornal, tenha feito a revelação de público e provocado esse escândalo no Brasil. O Dr. Lídio é um mau-caráter, como vão comprovar os fatos que contarei. Pelé estava com 38 graus de febre num dia, e no dia seguinte apareceu bem. O Dr. Lídio Toledo me explicou: “Apliquei nele aquele remédio. É por isso que ele está bem”. O remédio é Penbritin, um antibiótico que os astronautas que foram à Lua tomaram. Fiquei surpreso: no dia seguinte Pelé estava inteiro, com tanta saúde quanto o meu filho Joãozinho, de dez anos. Na hora da escalação de Pelé para o jogo seguinte, aquele treino contra o Bangu, perguntei ao Dr. Lídio como estava a situação. Ele disse: “Vai, João. Com aquela bomba ele está zero quilômetro”. Agora pergunto eu: como Pelé estará no quilômetro 70, tão envenenado ele já foi? Já fiz referência aos problemas de 1963, ao círculo vicioso que envolve Pelé. Se ele não jogar, o Santos não joga. Se o Santos não jogar, não ganha dinheiro. Se não jogar, Pelé também não ganha dinheiro. Por isso ele tem de jogar sempre. Entrei na seleção com o firme propósito de defender os jogadores. Lamento a pusilanimidade e a insinceridade do Dr. Lídio Toledo. Ele que me processe, se for capaz. Vai ser mais um processo na minha vida. Eu queria os jogadores porque os conhecia. Tenho o testemunho do jornalista Sandro Moreira e do radialista Clóvis Filho. Sandro Moreira segurava os braços de Garrincha, e Clóvis Filho lhe colocava toalha na boca para o Dr. Lídio aplicar uma injeção no joelho de Mané, a fim de garantir a presença dele na partida do Botafogo contra o Peñarol. Garrincha também pode confirmar isso. Se Garrincha não entrasse o Botafogo não jogaria.