Biculas,
Já conhecia esse texto, que embora esteja muito bem escrito considero algo incompleto. Nomeadamente falta informação sobre fadiga dos materiais.
Penso que te estás a referir à parte em que ele mostra como sendo falsa a seguinte frase:
Aluminum frames have a harsh ride? (Quadros de alumínio são duros/rígidos, numa tradução liberal)
As características dinâmicas do quadro são apenas dadas pela flexão relativa dos pontos de interface do quadro, ou seja dropouts, pedaleiro, espigão de selim e caixa de direcção.Tendo em conta o módulo de rigidez do material, basta alterar diâmetros e espessura de tubos para proporcionar rigidez à flexão pretendida. É possível fazer um quadro de alumínio ultra-suve, assim como um ultra-rígido.
Falando de rigidez à flexão, para decidir os níveis de flexão é necessário pensar na utilização de uma peça. Um quadro de estrada ou pista deverá ter um triângulo traseiro muito rígido para aguentar sprints de um motor humano com bem mais de 1 kW. Um quadro de suspensão total também deve ser rígido para evitar folgas nas suspensões. Um quadro Hardtail deve ter um pouco mais de flexão no triângulo traseiro. Uma forqueta rígida deve ter alguma capacidade de absorver vibrações, logo alguma flexibilidade.
Agora então devemos fazer considerações de vida útil. Como já disse no post anterior o alumínio é afectado por fadiga do material e o grande Sheldon Brown esqueceu-se de introduzir uma pequena nota sobre isso.
Basicamente a teoria é esta: -Qualquer peça de alumínio tem dentro de si micro-descontinuidades, fendas de tamanho nanométrico. De cada vez que o material for flectido, traccionado ou torcido essas fendas aumentam de dimensão. Quanto maior for o nível de esforço mais crescem essas micro-fendas. É também importante referir que qualquer flexão, a qualquer nível de esforço, por mais pequena que seja, produz crescimento dessas fendas. Ao longo da vida da peça, as fendas vão crescendo e crescendo até que afloram à superfície e finalmente a peça cede.
(Este fenómeno foi muito obscuro até aos anos 50, altura em que uma série de misteriosos acidentes com deHavilland Comet revelou que o projecto de estruturas em alumínio não era tão simples como se pensava anteriormente.)
É então necessário tomar medidas durante o projecto para evitar cair nessa situação muito cedo na vida do componente. A solução óbvia é restringir as flexões e torções da peça. Ao usar tubos de secção com grande diâmetro temos momentos de inércia elevados que bloqueiam as flexões. Se as peças não flectem, não sofrem fadiga. Transferindo esta conclusão para uma forqueta, vamos acabar por ter uma forqueta que é mais rígida e que transmite mais os choques e impactos que forquetas de aço comparáveis, embora seja mais leve.
E perfeitamente possível e seguro ter uma forqueta de alumínio a funcionar numa bike e aposto que essa Mosso te vai ser servir perfeitamente para os propósitos pretendidos. Deve-se ter no entanto a noção que as características dinâmicas não podem ser as mesmas caso contrário a durabilidade sai muito penalizada.
Agora falando estritamente de opiniões pessoais, quando gasto dinheiro na bike valorizo mais material que me dê vida ilimitada, especialmente em peças críticas como a forqueta avanço e guiador. Uma falha nestes componentes significa quase sempre queda grave.
Um abraço, :wink: