Há algo que também se passa em Portugal, e não só no Btt, que por vezes afasta a pessoas e que é uma espécie de elitismo ou snobismo. Eu próprio já ouvi mais que uma vez comentários algo desagradáveis em boa parte das lojas onde fui quando procurava componentes para a minha bicicleta, apenas por ter um quadro que remota a 1996 e mesmo apesar de a bicicleta no seu todo em pouco se distinguir daquilo que havia nas lojas de uma forma geral. Apenas o facto de ser de Cromoly e ter v-brakes a distinguia mais.
Por exemplo, aqui no fórum se alguém surge aqui com uma bicicleta da Berg ou de uma marca menos conhecida e quer fazer upgrades, uma grande parte das vezes há logo quem comece a criticar a marca do quadro sem qualquer fundamento dizendo que não vale a pena evoluir o quadro e por aí fora, ignorando complemente que também este pode ser evoluído no futuro. E se algumas vezes têm completa razão, não tanto pela marca mas pela gamas envolvidas relativamente ao uso a que destina, outras vezes há comentários que são despropositados, desnecessários e simplesmente errados.
Ora, sendo nós um país onde para a maior parte das pessoas a Berg e a B'twin são a escolha certa e possível, algumas atitudes podem magoar ou ofender novos participantes que se sentem inferiorizados por não terem uma bicicleta de milhares de euros e deixam de aqui vir. E se há coisa que não falta ver por aí são bicicletas da Berg e da Decathlon por onde quer que ande. Onde está esse pessoal?
Ainda em relação à Espanha, posso acrescentar que esta diferença para Portugal não é nova. Por exemplo, ainda antes da Internet e dos fóruns e enquanto por cá a Bike Magazine era publicada a cada dois meses e só bem mais tarde tornando-se mensal, já a Espanha tinha várias revistas mensais de Btt com mais do dobro das páginas cada uma. E nestas a diferença de conteúdo era indescritível.
A nossa Bike Magazine fazia testes aprofundados de quatro páginas e a Bike Magazine espanhola de 10 ou 15 onde tudo era esmiuçado ao detalhe com enorme conhecimento de causa. A quantidade de marcas testadas era muito superior, muitas delas não existindo por cá. Tinham jornalistas a viajar até aos locais míticos do Btt e a fazer relatos dos trilhos e do ambiente inspiradores e com enorme qualidade na escrita, e por aí fora.
A nossa dimensão enquanto mercado de ciclismo tornou-se patente quando a Bike Magazine deixou de fazer testes e passou a fazer resumos dos testes da Bike Espanhola! Como a espanhola chegava cá dois meses depois de ser editada lá, o mesmo teste coincidia com o mês em que a nossa Bike publicava o resumo desses testes. Ou seja eu lia o teste de 10 ou 15 páginas da espanhola e depois passava à frente do resumo de quatro páginas da nossa... Acabei por deixar de comprar a nossa revista e passar a ler apenas as espanholas.
Ora, como pouco deve de ter mudado do que se passava nas revistas para o mundo digital, no que diz respeito à escala do investimento por parte das marcas e importadores para captar novos adeptos, bem com à divulgação da modalidade e mobilização dos ciclistas, é natural que por cá as coisas sejam muito mais paradas.