De “Cabeceiras de Basto” dei um salto a “Salto”…
"Eu gostaria de ser lembrado como um homem que teve um tempo maravilhoso a viver a vida, um homem que teve bons amigos, uma boa família e penso que não poderia pedir mais do que isso, afinal."
Esta deixa não é minha, mas de Frank Sinatra, mas poderia ser de quaisquer um de vós que tal como eu está de bem com a vida apesar das vicissitudes com que somos confrontados no dia-a-dia.
Cada vez mais me convenço que sou um “junkee” do BTT, necessito tanto dessa droga como do ar que respiro, é algo que me ultrapassa e para o qual até ao momento ainda não encontrei explicação plausível.
Tendo por motivos que não vale a pena aqui explanar, dado um salto à Terra da Maria e uma vez que tinha necessidade de procurar novas paragens, incumbi o meu grande amigo Pereira (“junkee” de BTT tal como eu) de delinear uma volta que me enchesse as medidas e me fizesse esquecer o desaire da última crónica.
O Pereira quando é para surpreender, não deixa a “coisa” pelo meio, aliás é sempre agradável ouvi-lo dizer “perde-se o mesmo tempo a fazer-se algo de bom como algo de mau, então para quê desperdiçar tempo”.
Uma semana antes da minha chegada às Terras Lusas já o Pereira me tinha remetido o “track” para análise. Sabia de antemão que a volta iniciaria em “Cabeceiras de Basto” a 271 mts e que daí seguiríamos para “Salto” onde iriamos “cassar a croute”. Tratando-se de uma volta circular o regresso far-se-ia por um caminho alternativo sem que antes não tivéssemos alcançado os 1.075 mts.”
Se porventura alguém repetir esta volta, aproveito para informar que devem visitar o café- restaurante “O Ribeiro”, mesmo à face da estrada na vila de “Salto”. Não há como enganar, possui uns painéis solares por cima do telhado e é frequentado por todo o tipo de tribos (betetistas, caminheiros, motoqueiros, trialeiros, 4x4 eiros, caçadores, etc…). Foi lá que me apaixonei pela mostarda Lusa “Dona Sarah”, que depressa me fez esquecer a minha anterior amante francesa de “Dijon”.
Este condimento fez-me regressar ao passado, aos tempos do S.M.O (serviço militar obrigatório) e já lá vão mais de 20 anos. É curioso como um simples gesto, cheiro, nos pode fazer retroceder e reviver “coisas” boas, ou sou eu que estou a ficar “velho”.
Uma vez que o nosso quintal “Gerês” e “Serra da Cabreira” está se tornando cada vez mais pequeno, o Pereira desta vez resolveu inovar e indagou sobre o que poderia eventualmente se encontrar depois desta.
Afinal a conclusão a que chegou foi que após a “Cabreira”, temos mais “Cabreira”, eheheh…
Fora de brincadeiras, sabíamos que para os lados de “Cabeceiras de Basto” haveria pano para mangas, não tivéssemos nós acompanhado ao longo dos tempos os diferentes rescaldos de provas que por lá se realizaram. Aproveito para mandar cumprimentos aos diferentes grupos que por essas paragens continuam a fazer um trabalho memorável. Um grande bem-haja.
O dia não podia estar melhor conforme poderão ver pelas chapas, estava calor (+/- 25ºC) mas corria um ventinho forte Q.B. o que fez com que no final da volta as zonas abaixo da coxa estivessem queimadas e hoje sou detentor do famoso bronze à la “maçon” nas pernas.
Embora tenhamos arrancado nos 271 mts, atingimos e rolamos por diversas vezes acima dos 1.000 mts. Ficamos admirados com as subidas porque embora não fossem tão abruptas como as que conhecemos no “Gerês” e nas zonas de “Vieira do Minho”, aqui eram mais “softs” (como se isso fosse possível nestas zonas, eheheh…).
Aqui as subidas são muito mais longas, são kms e kms, mas aí é que reside a beleza desta zona, isto é, enquanto pedalamos (processo mecânico), podemos ir ocupando a mente com outros assuntos e é precisamente nestes momentos que gosto de me autoanalisar, de fazer introspeção, de ver tudo aquilo que já fiz e tudo aquilo que ainda tenho para fazer. É precisamente nestes momentos que me dou conta da sorte que tenho em estar vivo, de boa saúde, dos bons amigos que tenho e sobretudo da motivação e energia que meto em tudo aquilo que faço.
Não sei se foi dos líquidos ingeridos (loirinhas neste caso) ou das paisagens, mas ninguém a meu ver consegue “stay the same” ao percorrer estas montanhas e estes planaltos, não sei, talvez seja da simplicidade das suas gentes, do bucolismo das paisagens, das casas, dos campos, dos animais, dos aromas, do próprio serpentear dos trilhos. Há algo aqui que nos muda e nos obriga a repensar a nossa existência.
Aqui perante a vastidão da Serra, sentimo-nos tão pequenos. Não quero com isto dizer que não o tenha já sentido nas Terras Helvéticas, mas aqui é diferente, aqui é o meu Portugal car…o.
À semelhança dos marinheiros de água doce que sofrem do “mal de mer” sempre que andam em alto mar, eu como deslocalizado por obrigação padeço do mesmo, sempre que rolo nas Terras Lusas, é como diz o poeta (Camões neste caso) “…amor é fogo que arde sem se ver…”.
Mas chega de “ejecs” e vamos ao que nos trouxe cá.
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página
Bravos do Pelotão, ver crónica
Nº043).
Monumento bem representativo destas gentes existente no Largo Barjona de Freitas bem no centro de Cabeceiras de Basto, onde inicia e termina esta volta.
Em muitas zonas do “track” encontramos muitas fitas (talvez deixadas propositadamente) para quem quer descobrir esta zona. Não sou dos que defende que após uma prova as fitas devam ser imperativamente retiradas nos dias ou semanas subsequentes. À falta de melhor meio indicador, estas cumprem a sua função de segurança orientadora, isto para quem pela primeira vez se dirige para estas paragens. Obrigado aos mentores da ideia, pois em muitas ocasiões, estas fitas foram uma preciosa ajuda.
Ao longo da volta atravessamos (n) cursos de água, uns mais representativos que outros.
A beleza desta volta reside no facto que subir é uma constante, mas gradualmente, pelo que nem nos apercebemos.
Cruzamo-nos imensas vezes com “amigas” de 4 patas, ocupadas nos seus afazeres diários.
Junto ao Parque de Merendas da Veiga.
O nosso trilho passa acolá em cima (final dos sss).
Daqui (860 mts) até ao Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, são apenas uns 31 kms em linha reta.
Chapa interessante pois conseguem entender o grau de inclinação a vencer. O trilho encontra-se por cima da copa da árvore central da foto.
À semelhança de outras zonas da Serra da Cabreira por nós visitadas, aqui não faltam trilhos para todos os gostos.
Esta chapa em profundidade representa bem as distâncias que fomos vencendo ao longo da volta assim como as paisagens belíssimas com que fomos brindados. O tempo nem se fala, céu limpinho. Que mais pode um homem desejar…
Viemos d’além ao fundo e sempre rodeados da Serra da Cabreira. Não esquecer que esta faz fronteira com 3 concelhos (Vieira do Minho, Montalegre e Cabeceiras de Basto).
Mais uma subidita para animar a malta. Desculpem-nos os “downhilistas”, mas é disto que a malta gosta. Cada um é como cada qual.
“Coucou” conseguem ver-me?
A partir de agora o tão almejado planalto com vistas a perder de vista.
Poderíamos ter optado por aquele trilho, mas não era a mesma coisa, eheheh… A partir de agora é que a serra se vai encher de cor.
Reconheci imediatamente esta zona, pois serviu de pano de fundo à crónica Nº022. Recordar é viver e acreditem que quem por aqui passa, não fica indiferente. “Cabreira at her best”.
Ainda não foi desta que perto desta ponte encontramos a famosa cara esculpida na rocha e já lá vão duas, mas como diz o povo, não há duas sem três, a ver vamos. Acredito que no verão deva ser um “great spot” para tomar banho. Vejam só a limpidez destas águas.
Mais uma chapa que não nos deixa indiferentes.
Encaixada entre as Serras da Cabreira e do Barroso, eis ao fundo a Vila de Salto (concelho de Montalegre), onde iriamos “cassar a croute”. Nem de propósito, d’aqui lá é um salto, eheheh…
Parque de lazer de Salto onde podem ser apreciadas algumas Antas Megalíticas.
Sempre que passo por Salto, o café restaurante “O Ribeiro” é uma paragem obrigatória. É frequentado por todo o tipo de tribos (betetistas, caminheiros, motoqueiros, trialeiros, 4x4 eiros, caçadores, etc…). Provavelmente a melhor mostarda que alguma vez comi (Dona Sarah) e as “loirinhas” são sempre geladinhas. Como tudo na vida, o que é bom tem um fim pelo que toca a “abalar”.
Sempre por trilhos magníficos.
Rolar na Serra da Cabreira e não ir ao Talefe é como ir a Roma e não ver o Papa. É mesmo já ali (7 kms em linha reta).
As Minas da Borralha aqui tão perto e em pano de fundo o nosso Gerês.
A caminho de uma frondosa floresta.
Desta vez optamos pelo trilo do meio da foto.
Lindos exemplares de gado barrosão também conhecido por “cachena” (raça autóctone).
Devido à morfologia do terreno, aqui os agricultores possuem pequenas parcelas, todas elas delimitadas por pequenos blocos de granito empilhados (o que melhor aguenta as intempéries a que esta zona está sujeita), contribuindo desta forma para uma infindável rede de caminhos de uma beleza ímpar. A caminho da aldeia de Torrinheiras.
Aquele trilho já está em agenda para a próxima repetição desta volta.
Todos nós em princípio temos uma (alma). Neste caso as Alminhas de Torrinheiras. Este local convida mesmo à meditação.
Agora, parem um pouco e tentem imaginar as árvores cobertas de folhagem. Lindo não é!
Miradouro de Porto d’Olho.
Aldeia de Travassô e a cerca de 20 kms (linha reta) o Santuário de Nossa Senhora da Graça. D’aqueles locais a visitar pelo menos uma vez na vida.
Início de um “single” muito, mas mesmo muito técnico e que se prolongou por 2 kms. Uma “aubaine”, verdadeiro achado. Segundo uma placa informativa encontrada, este trilho na sua totalidade mede 9 kms (De Moinhos de Rei até Além do Rio).
A caminho da aldeia de Abadim, passamos nos famosos “Moinhos de Rei”. Como podem constatar não foram só os Astecas, Maias ou Incas que dominaram as técnicas do “encarreiramento” da água. São mais de 3 kms de canalização a céu aberto até esta água desaguar na Barragem do Oural.
Barragem do Oural (770 mts) e respetiva zona de lazer junto ao aeródromo de Cabeceiras de Basto.
Início de outro “single” fantástico, muito equilibrado, uma pérola no meio destes campos todos.
Mais um rio atravessado já muito próximo de Cabeceiras de Basto.
Mesmo a finalizar a volta um último “single”.
Após quase 60 kms de volta e 1.625 mts de acumulado de subida, posso apenas agradecer ao amigo Pereira pela escolha do trilho.
Esta volta pelos locais por onde passamos, pela variedade dos trilhos, pelos “singles” efetuados, pela quantidade de animais com que cruzamos, faz parte do nosso TOP 10 de voltas e oportunamente será catalogada no nosso cardápio de voltas online.
Esta zona promete, pelo que de hoje em diante e se outros convites não houver, irei à semelhança de um explorador, investigar a zona como quem descasca uma cebola ou se preferirem numa linguagem “stripteasada”, descascá-la-ei peça a peça.
“En guise de ending” e perante a felicidade que foi para mim rolar na companhia do amigo Pereira", termino com algo que li em tempos de Jean Guéhenno “A recordação do esforço é sempre uma boa recordação, enquanto as misérias antigas que ultrapassámos nos fazem sorrir."
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…