PRÓLOGO
À noite, em frente à lareira, com a chuva a cair lá fora, perscrutava cartas militares e deslizava sobre o Google Earth. Ponto a ponto um track de GPS ia surgindo no monitor do portátil enquanto na minha imaginação se materializavam os trilhos.
-”Huuummm... 80km neste relevo? Este fica para a Primavera...” - e passava para outra carta, outra região.
Várias tentativas depois, ali estava ele: apenas 40km, sem aparentes dificuldades extremas, ideais para estes dias pequenos e para alguém em evidente baixa de forma. Algumas fotos encontradas no Panoramio prometiam caminhos pintados com as cores do Outono e densos bosques de coníferas. Estava ansioso pelas cores do Outono!
O DIA
Às 9:00 em ponto o velho Uno do Plus, connosco lá dentro, contornava o perímetro urbano de Vila Pouca de Aguiar quando o meu telemóvel toca. O Major já tinha chegado. Mesmo com aquele cinzento do céu a não augurar nada de bom, é bom saber que há pessoas em quem podemos confiar. Apenas tinha havido uma fugaz troca de e-mails a meio da semana para combinar a hora do encontro, sem mais confirmações, e ali estava ele à nossa espera. Não foi difícil encontra-lo, bastou seguir as indicações para o Lar de Idosos.
Começámos a pedalar. Os primeiros kms de aquecimento iam ser efectuados naquilo havia escutado algures ser agora uma ciclovia, pois na carta militar ainda estava assinalada como linha de caminho de ferro. Nem à dita ciclovia tínhamos chegado já o Plus encostava à berma e sacava da chave 14/15. Parece que o Alfine que decidira vir utilizar neste percurso “sem dificuldades de maior” não estava a querer colaborar. Escusado será dizer que o nosso Major, um conservador da velha guarda, assistia ao acontecimento com uma aristocrática sobrancelha erguida.
Não que considere que possua esqueletos no armário mas, pelo sim pelo não, convirá tomar uma nota mental para ter atenção acrescida ao comportamento em locais remotos onde, supostamente, a nossa identidade seria ignorada. Mais uma vez, estando nós ali parados na beira da estrada, distantes de casa, alguém meteu conversa connosco e nos reconheceu. Bom, na verdade também reconhecemos um deles: tratava-se do Vitor, acompanhado de mais dois dos seus amigos de Tourencinho. Apesar de nunca nos termos encontrado pessoalmente, guardo boas recordações de alguns trilhos da sua co-autoria.
Como não tinham planos definidos para a sua volta matinal de Domingo resolveram acompanhar-nos. A entrada nos trilhos coincidiu com as primeiras dificuldades ascendentes. Nada que levasse ao desespero, nem lá perto. Tirando umas centenas de metros iniciais mais duras, a restante subida foi-se desenrolando com relativa facilidade, proporcionando-nos a possibilidade de apreciar a beleza do vale à nossa esquerda.
Atingido o planalto de Tinhela fomos percorrendo trilhos variados. As cores do Outono, patrocinadas por castanheiros e outras árvores que não sei identificar, eram companhia constante.
Depois de Vilarelho a primeira dúvida no track. Afinal o caminho, discreto, estava lá. Um ligeiro rebuçado técnico descendo para um pequeno vale cuja travessia provocou, durante alguns metros, o primeiro carregar das bicicletas às costas. A saída do vale deu-se por um simpático carreiro pelo meio do pinhal.
Sendo esta, desde os tempos antigos, uma região de minas de ouro e prata, o Major tinha publicitado o desejo de encontrar uma pepita que lhe proporcionasse a merecida reforma. Com os olhos injectados de cobiça dirigimo-nos então ao local donde os Romanos extraiam o precioso minério. Três gigantescas crateras a céu aberto era o que restava. Do vil metal, nem vestígios. Uma placa proporcionava-nos algumas informações históricas. Ficámos a saber que tudo o que era extraído daquelas minas servia para pagar os impostos devidos ao Império Romano. Aqui nada de novo, ontem como hoje o fisco acaba por levar tudo.
Metade do dia já estava quase cumprida e assim despedimo-nos dos nossos anfitriões de ocasião, que encetaram o regresso ao aconchego do lar. Nós continuámos a nossa jornada e a próxima aldeia que encontrámos foi Tresmina (Tresmina... Três Minas, perceberam? - private joke). Perante um olhar curioso duma habitante, que quis saber a nossa proveniência, sentamo-nos num banco de pedra no centro da localidade, frente a um cruzeiro cujo terreno para a implantação a junta de freguesia agradecia publicamente a um qualquer benemérito, onde desfrutámos do parco merendeiro que transportávamos na mochila.
Não querendo melindrar o autor do percurso, o Major usou de toda a sua gentileza, apurada em anos de educação cuidada, para nos dar a entender que trazia com ele mais alguns kms de trajecto extra, cuja proveniência já não recordava, e que, se assim concordássemos e porque a hora ainda não era tardia, podiam ser realizados, voltando a apanhar o percurso original mais à frente. E porque não? Vamos lá!
Pouco depois descíamos um inclinado caminho, recentemente empedrado, que nos levava a grande velocidade para as entranhas dum vale ladeado por escarpadas encostas de aspecto imponente. Numa paragem a meio da descida para apreciar a paisagem, observa o Plus: "E se isto não tem saída? Empalamos o Major antes de iniciar a subida de volta!"
Chegámos ao fundo, onde vivia um ribeiro de caudal vivo (Rio de Curros). O caminho terminava junto a uma construção aparentemente utilizada para a produção de energia eléctrica... ou outra qualquer função. O Major olhava indeciso, alternadamente, para o GPS e para o terreno à sua volta. supostamente deveríamos continuar em frente mas não havia caminho, pelo menos naquela margem do rio. Na outra... talvez, mas a vegetação alta não nos dava certezas. Descobrimos uns metros a montante umas fitas que pareciam marcar o local duma travessia a vau. Depois de alguma discussão sobre os benefícios de mergulhar os pés naquela água gelada, lá nos decidimos a descalçar e tomar a primeira inoculação contra o virus da gripe A. A verdade é que, no contacto inicial, atendendo à temperatura que se fazia sentir cá fora, o contacto com a água nem causou assim grande choque.
Ao longo da outra margem lá encontrámos algo que se assemelhava a um carreiro, basicamente ervas um pouco mais pisadas do que as que as rodeavam. Mas, como é sabido, a vacina da referida gripe precisa de duas inoculações e assim, umas centenas de metros à frente, lá tivemos de regressar de novo à margem original.
Depois de tanto nos enterrarmos era previsível que iríamos penar para regressar de novo lá acima. E não nos enganámos. Mas quem mais penou foi o Plus. É que puxar o Alfine por aquelas encostas acima...
Com o Major a tentar distrair-nos, explicando-nos a forma mais eficaz de extrair o timo a um rato, lá atingimos de novo o planalto. Os chuviscos desde manhã que nos visitavam com frequência. A Norte, para onde nos dirigíamos, nuvens negras auguravam um agravamento das condições.
Seguíamos de novo o percurso original e estávamos agora na região de Jales, conhecida pelas suas minas que estiveram em exploração até aos anos 90. Os trilhos continuavam a ser de grande beleza.
Algumas centenas de metros de trilho pantanoso ajudaram o Alfine, mais uma vez, a delapidar as energias do Plus. Até o Bobby demonstrou compaixão por ele.
Já afastados da última aldeia que havíamos cruzado, descendo a boa velocidade em direcção a um vale eis que somos surpreendidos, no meio do nada, com a visão insólita... dum parque infantil??!! Consideramos que o criador (ou a junta de freguesia, com o patrocínio dum qualquer organismo europeu...) não coloca as coisas no nosso caminho por acaso. Há que desfrutar!
Uma derradeira elevação de aspecto imponente separava-nos agora do regresso ao ponto de partida. Havia que ascender durante uns kms para depois a contornar pela vertente este. Ao longe ouvimos uivar. Perguntei ao Plus se havia lobos por aquela zona. Munido da segurança transmitida pela chave 14/15, não pareceu muito preocupado. Na verdade considerava mais perigoso o outro Lobo que pedalava uns metros à nossa frente.
Atingido o apogeu da escalada havia que descer durante algumas centenas de metros através dum trilho traiçoeiro. Vencida essa dificuldade, afiançava eu, iludido pela segurança que me transmitiam as cartas e o Google que a partir dali devíamos encontrar alguns kms de trilho essencialmente rolante a meia-encosta. Afinal o trilho real não estava tão limpo como aparentava no mundo digital...
...e algumas centenas de metros mais à frente ficou completamente fechado. Tentámos avançar pelo meio da vegetação que invadira o trilho mas às tantas já nem os pés conseguíamos assentar no solo firme.
A situação era preocupante. Com o céu carregado em breve deixaria de haver luz. Sabíamos por experiência própria que avançar 200m que fosse, carregados com bicicletas, pelo meio daquele tipo de vegetação poderia demorar muito, muito tempo... e não sabíamos o que nos esperava. Conferenciámos. Fosse o que fosse que decidíssemos, havia que o decidir depressa. E assim foi. Felizmente que optámos, com inteligência (confirmámo-lo depois), pelo caminho mais longo (voltar para trás) mas também mais seguro, contornando o monte pela vertente oposta.
O dia aproximava-se do fim, a chuva caía com mais intensidade, a temperatura baixara ainda mais. Por momentos pensei que poderia começar a nevar a qualquer momento. Decidimos assim procurar a N212 e regressar directo para Vila Pouca. Por nós passavam carros com os vidros fechados e, lá dentro, pessoas de gola levantada e gorro na cabeça. Cheguei a sentir-me deslocado no meu calção de lycra...
Durante a descida, ao atravessar o denso bosque que povoa a encosta, senti um amargo de boca por estar a descer aquilo tudo por estrada em vez de o fazer pelo trilho que estava planeado. Enfim, outras oportunidades surgirão.
Esfomeados (pelo menos eu não tinha levado mantimentos a contar com os kms extra) e gelados encontrámos finalmente o conforto dos carros.
No regresso concordava com o Plus que, apesar de simples, este terá sido talvez o passeio que mais nos "encheu a alma" este ano.
Pela parte que me toca, foi apenas ontem mas já estou com saudades.
À noite, em frente à lareira, com a chuva a cair lá fora, perscrutava cartas militares e deslizava sobre o Google Earth. Ponto a ponto um track de GPS ia surgindo no monitor do portátil enquanto na minha imaginação se materializavam os trilhos.
-”Huuummm... 80km neste relevo? Este fica para a Primavera...” - e passava para outra carta, outra região.
Várias tentativas depois, ali estava ele: apenas 40km, sem aparentes dificuldades extremas, ideais para estes dias pequenos e para alguém em evidente baixa de forma. Algumas fotos encontradas no Panoramio prometiam caminhos pintados com as cores do Outono e densos bosques de coníferas. Estava ansioso pelas cores do Outono!
O DIA
Às 9:00 em ponto o velho Uno do Plus, connosco lá dentro, contornava o perímetro urbano de Vila Pouca de Aguiar quando o meu telemóvel toca. O Major já tinha chegado. Mesmo com aquele cinzento do céu a não augurar nada de bom, é bom saber que há pessoas em quem podemos confiar. Apenas tinha havido uma fugaz troca de e-mails a meio da semana para combinar a hora do encontro, sem mais confirmações, e ali estava ele à nossa espera. Não foi difícil encontra-lo, bastou seguir as indicações para o Lar de Idosos.
Começámos a pedalar. Os primeiros kms de aquecimento iam ser efectuados naquilo havia escutado algures ser agora uma ciclovia, pois na carta militar ainda estava assinalada como linha de caminho de ferro. Nem à dita ciclovia tínhamos chegado já o Plus encostava à berma e sacava da chave 14/15. Parece que o Alfine que decidira vir utilizar neste percurso “sem dificuldades de maior” não estava a querer colaborar. Escusado será dizer que o nosso Major, um conservador da velha guarda, assistia ao acontecimento com uma aristocrática sobrancelha erguida.
Não que considere que possua esqueletos no armário mas, pelo sim pelo não, convirá tomar uma nota mental para ter atenção acrescida ao comportamento em locais remotos onde, supostamente, a nossa identidade seria ignorada. Mais uma vez, estando nós ali parados na beira da estrada, distantes de casa, alguém meteu conversa connosco e nos reconheceu. Bom, na verdade também reconhecemos um deles: tratava-se do Vitor, acompanhado de mais dois dos seus amigos de Tourencinho. Apesar de nunca nos termos encontrado pessoalmente, guardo boas recordações de alguns trilhos da sua co-autoria.
Como não tinham planos definidos para a sua volta matinal de Domingo resolveram acompanhar-nos. A entrada nos trilhos coincidiu com as primeiras dificuldades ascendentes. Nada que levasse ao desespero, nem lá perto. Tirando umas centenas de metros iniciais mais duras, a restante subida foi-se desenrolando com relativa facilidade, proporcionando-nos a possibilidade de apreciar a beleza do vale à nossa esquerda.
Atingido o planalto de Tinhela fomos percorrendo trilhos variados. As cores do Outono, patrocinadas por castanheiros e outras árvores que não sei identificar, eram companhia constante.
Depois de Vilarelho a primeira dúvida no track. Afinal o caminho, discreto, estava lá. Um ligeiro rebuçado técnico descendo para um pequeno vale cuja travessia provocou, durante alguns metros, o primeiro carregar das bicicletas às costas. A saída do vale deu-se por um simpático carreiro pelo meio do pinhal.
Sendo esta, desde os tempos antigos, uma região de minas de ouro e prata, o Major tinha publicitado o desejo de encontrar uma pepita que lhe proporcionasse a merecida reforma. Com os olhos injectados de cobiça dirigimo-nos então ao local donde os Romanos extraiam o precioso minério. Três gigantescas crateras a céu aberto era o que restava. Do vil metal, nem vestígios. Uma placa proporcionava-nos algumas informações históricas. Ficámos a saber que tudo o que era extraído daquelas minas servia para pagar os impostos devidos ao Império Romano. Aqui nada de novo, ontem como hoje o fisco acaba por levar tudo.
Metade do dia já estava quase cumprida e assim despedimo-nos dos nossos anfitriões de ocasião, que encetaram o regresso ao aconchego do lar. Nós continuámos a nossa jornada e a próxima aldeia que encontrámos foi Tresmina (Tresmina... Três Minas, perceberam? - private joke). Perante um olhar curioso duma habitante, que quis saber a nossa proveniência, sentamo-nos num banco de pedra no centro da localidade, frente a um cruzeiro cujo terreno para a implantação a junta de freguesia agradecia publicamente a um qualquer benemérito, onde desfrutámos do parco merendeiro que transportávamos na mochila.
Não querendo melindrar o autor do percurso, o Major usou de toda a sua gentileza, apurada em anos de educação cuidada, para nos dar a entender que trazia com ele mais alguns kms de trajecto extra, cuja proveniência já não recordava, e que, se assim concordássemos e porque a hora ainda não era tardia, podiam ser realizados, voltando a apanhar o percurso original mais à frente. E porque não? Vamos lá!
Pouco depois descíamos um inclinado caminho, recentemente empedrado, que nos levava a grande velocidade para as entranhas dum vale ladeado por escarpadas encostas de aspecto imponente. Numa paragem a meio da descida para apreciar a paisagem, observa o Plus: "E se isto não tem saída? Empalamos o Major antes de iniciar a subida de volta!"
Chegámos ao fundo, onde vivia um ribeiro de caudal vivo (Rio de Curros). O caminho terminava junto a uma construção aparentemente utilizada para a produção de energia eléctrica... ou outra qualquer função. O Major olhava indeciso, alternadamente, para o GPS e para o terreno à sua volta. supostamente deveríamos continuar em frente mas não havia caminho, pelo menos naquela margem do rio. Na outra... talvez, mas a vegetação alta não nos dava certezas. Descobrimos uns metros a montante umas fitas que pareciam marcar o local duma travessia a vau. Depois de alguma discussão sobre os benefícios de mergulhar os pés naquela água gelada, lá nos decidimos a descalçar e tomar a primeira inoculação contra o virus da gripe A. A verdade é que, no contacto inicial, atendendo à temperatura que se fazia sentir cá fora, o contacto com a água nem causou assim grande choque.
Ao longo da outra margem lá encontrámos algo que se assemelhava a um carreiro, basicamente ervas um pouco mais pisadas do que as que as rodeavam. Mas, como é sabido, a vacina da referida gripe precisa de duas inoculações e assim, umas centenas de metros à frente, lá tivemos de regressar de novo à margem original.
Depois de tanto nos enterrarmos era previsível que iríamos penar para regressar de novo lá acima. E não nos enganámos. Mas quem mais penou foi o Plus. É que puxar o Alfine por aquelas encostas acima...
Com o Major a tentar distrair-nos, explicando-nos a forma mais eficaz de extrair o timo a um rato, lá atingimos de novo o planalto. Os chuviscos desde manhã que nos visitavam com frequência. A Norte, para onde nos dirigíamos, nuvens negras auguravam um agravamento das condições.
Seguíamos de novo o percurso original e estávamos agora na região de Jales, conhecida pelas suas minas que estiveram em exploração até aos anos 90. Os trilhos continuavam a ser de grande beleza.
Algumas centenas de metros de trilho pantanoso ajudaram o Alfine, mais uma vez, a delapidar as energias do Plus. Até o Bobby demonstrou compaixão por ele.
Já afastados da última aldeia que havíamos cruzado, descendo a boa velocidade em direcção a um vale eis que somos surpreendidos, no meio do nada, com a visão insólita... dum parque infantil??!! Consideramos que o criador (ou a junta de freguesia, com o patrocínio dum qualquer organismo europeu...) não coloca as coisas no nosso caminho por acaso. Há que desfrutar!
Uma derradeira elevação de aspecto imponente separava-nos agora do regresso ao ponto de partida. Havia que ascender durante uns kms para depois a contornar pela vertente este. Ao longe ouvimos uivar. Perguntei ao Plus se havia lobos por aquela zona. Munido da segurança transmitida pela chave 14/15, não pareceu muito preocupado. Na verdade considerava mais perigoso o outro Lobo que pedalava uns metros à nossa frente.
Atingido o apogeu da escalada havia que descer durante algumas centenas de metros através dum trilho traiçoeiro. Vencida essa dificuldade, afiançava eu, iludido pela segurança que me transmitiam as cartas e o Google que a partir dali devíamos encontrar alguns kms de trilho essencialmente rolante a meia-encosta. Afinal o trilho real não estava tão limpo como aparentava no mundo digital...
...e algumas centenas de metros mais à frente ficou completamente fechado. Tentámos avançar pelo meio da vegetação que invadira o trilho mas às tantas já nem os pés conseguíamos assentar no solo firme.
A situação era preocupante. Com o céu carregado em breve deixaria de haver luz. Sabíamos por experiência própria que avançar 200m que fosse, carregados com bicicletas, pelo meio daquele tipo de vegetação poderia demorar muito, muito tempo... e não sabíamos o que nos esperava. Conferenciámos. Fosse o que fosse que decidíssemos, havia que o decidir depressa. E assim foi. Felizmente que optámos, com inteligência (confirmámo-lo depois), pelo caminho mais longo (voltar para trás) mas também mais seguro, contornando o monte pela vertente oposta.
O dia aproximava-se do fim, a chuva caía com mais intensidade, a temperatura baixara ainda mais. Por momentos pensei que poderia começar a nevar a qualquer momento. Decidimos assim procurar a N212 e regressar directo para Vila Pouca. Por nós passavam carros com os vidros fechados e, lá dentro, pessoas de gola levantada e gorro na cabeça. Cheguei a sentir-me deslocado no meu calção de lycra...
Durante a descida, ao atravessar o denso bosque que povoa a encosta, senti um amargo de boca por estar a descer aquilo tudo por estrada em vez de o fazer pelo trilho que estava planeado. Enfim, outras oportunidades surgirão.
Esfomeados (pelo menos eu não tinha levado mantimentos a contar com os kms extra) e gelados encontrámos finalmente o conforto dos carros.
No regresso concordava com o Plus que, apesar de simples, este terá sido talvez o passeio que mais nos "encheu a alma" este ano.
Pela parte que me toca, foi apenas ontem mas já estou com saudades.