[Crónica] O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

4º dia- 10.11.2008
Saída de Nágera.

Depois de uma noite chovida com forte trovoada, o amanhecer mostrou-se tranquilo com ar de mudança de tempo, o que alegrou o pequeno grupo do albergue, de maioria francesa, que rapidamente, movimentou-se para a partida de mais uma etapa. O único que não ia a pé era eu e, também como o costume, era o último a sair, dando a casa de banho aos que tinham mais pressa. :s. Ainda era noite, e para andar a pé dá, mas de bike não é agradavel.
Atravessei rápidamente a bonita cidade de Nágera, húmida da chuva da noite e adormecida. Os únicos vultos que se viam eram os peregrinos que iam saindo das diversas ruas e dirigiam-se, guiados pela "flechas" pintadas nos passeios, todos para um só caminho.
Ultrapasso com facilidade os meus últimos companheiros, e ataco a subida que apareceu á saída, ainda noite com as formas a desenhar-se á minha frente pelo sol que começava a quer sair das montanhas, que se encontravam atrás de mim.
Depois da subida (puchadinha) apareceu uma planicie de horizontes a perder de vista. Ía olhando para cima do ombro a ver se encontrava outra ou outras bikes, mas continuava a estrada a ser apenas utilizada por pedestres, que iam transportando, como caracois, a casa ás costas.

a imensidão só para nós

a por cima do ombro, o que ía ficando para trás..

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

A 750 metros de altitude, surge no meio daqueles campos amarelados um excelente campo de Golf :lol: e logo a seguir uma bonita localidade onde se nota prosperidade.

a localidade de Cirueña

Após a passagem da localidade de Cirueña, continuam os campos sem horizonte, que convidam a pedalar apreciando a paisagem

uma hora após a saída de Nagera, tinha feito mais de 25 km, já se via ao longe Santo Dominho de la Calzada, com uma supresa agrádavel

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

O estradão desemborcava na N-120 a estrada que vinha de Nagera, mesmo á entrada de Santo Domingo de la Calzada. No cruzamento existia uma estação de serviço com auto lavagem de "coches", Como vinha cheio de lama aproveitei para lavar a Bike à mangueirada. Em frente reparei no emblema do Clube lá da terra e achei que alguém tinha roubado o Gil Vicente

Mas mais intrigado fiquei, quando no Posto de Turismo, onde fui carimbar a credencial, me deram um guia com o mapa da cidade onde constava uma história pela qual a localidade é conhecida.
"Um Jovem Alemão que peregrinava com os seus pais a caminho de Santiago. passou a noite numa pousada de Santo Domingo. Por ter recusado os amores da filha do estalajadeiro ( doh ), ela despeitada, escondeu um calice de prata na capa do jovem, que no dia seguinte foi acusado de roubo e enforcado. Seus pais antes de seguir caminho, foram despedir-se do filho, e encontraram-no vivo por milagre de Santo Domingo, que o sabia inocente. Correram a contar o milagre ao Corregedor, que lhe disse que o filho estava tão vivo como a galinha que estavam na mesa assada para ser comida. Nesse instante a ave levantou-se e cantou."
Se esta História não é a mesma do nosso Barcelos, cidade também na rota de Santiago, que as aves não voltema a cantar :mrgreen:

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Junto ao posto de Turismo não faltava o "boneco" para a foto da praxe.

Junto ao referido posto encontrei por fim alguem de Bicicleta. Era um jovem casal Italiano, que vinha a fazer a ligação por estrada. Vinham com Bikes de estrada e ele levava atrelado um daqueles carros que se usam para levar os putos no passeio de Domingo.
Como ao chegar ao Posto tinha visto a funcionaria a tirar uma foto ao casal e ao carro, perguntei se não conhecia aqueles atrelados, convencido que eles o usavam para transportar a coisas, dizendo cheio de peito que em Portugal são muito populares. A resposta deixou-me sem palavras. Eles levavam no atrelado um puto de 6 meses :s. Já os apanhei a sair , mas adiante voltamos a ver-nos.

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Atravessando Santo Domingo, com a passagem obrigatória pela Sé local, que aqui dá para ver a difença horaria entre a minha máquina e a hora espanhola, acompanha-se por um estradão em terra batida a N-120 durante cerca de 7 km, até á localidade de Grañon e a sua conhecida Cruz de Pau, ou Cruz dos Valentes.
Catedral de Santo Domingo de la Calzada

Grañon e a habitual pacatez

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

A estrada continua paralela até Belorado, um piso bom, rolante sem grandes emoções. Existe mesmo uma grande percentagem alcatroada,
porpositadamente para os peregrinos, mostrando a sua importancia turistica , passando por localidades, como Redecilla del Camino, Castildelgado, Vitoria, Villamayor del Rio e finalmente Belorado

Em Belorado, depois da habitual Praça Central e a sua Igreja, encontrei outra que me lembrou que existe outra comida, para além das tortilhas e bocadillos. E dias não são dias. Era cedo e só faltava 25 km . E vai daí . Cordero assado faz lembrar a pascoa. è tudo uma questão religiosa :mrgreen:

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

à saída de Belorado, fui seguindo os peregrinos que abandonavam a cidade, a eles é mais fácil verem as marcas, e que iam procura alojamento fora das localidades, onde é mais fácil. Rápidamente ía ficar só no caminho, como habitualmente. Mas desta vez , foi a mais penosa, A subida aos Montes de Oca não era nada o que estava á espera. Castigo do cordeiro
Se Belorado estava a 750 metros , tinha agora de subir em 18 km para 1200.

Passa-se por Tosantos e
Villambistia

só eu , o monte e as malditas moscas que me acompanharam o tempo todo de subida.

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

O caminho vai ficando cada vez pior e as moscas tambem. Sou o unico freguês que anda por ali. Não me largam. Já dispensei uma mão para servir de abano.

Este miradouro (miraoca), informava das altitudes das diversas serras que se avistavam. a mais alta era de 2300, A floresta era muito densa. Não gostava de passar aqui a noite. Pensando ter chegado ao topo, depois de mais uma golada de água e uma barra energetica, que vou transportando, com as moscas já minhas amigas, arranquei para os ultimos 12 Km do dia.
Supresa!!
No alto estava. mas ia ter que descer e subir, descer e subir :evil:

Era de doidos, ainda por cima nem dava para embalar. lá em baixo tinha sempre um rego enorme.
Aqui estava um memorial da guerra civil espanhola, que dizia " Não foi inutil a sua morte foi inutil o seu fusilamento"

Olhei para baixo e desci :roll:

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Os úlmos 6 km foram efectuados a toda a velocidade. Era um caminho de bosque com o piso muito rolante, em descida ligeira, muito largo.
Fui contando os peregrinos com que ia ultrapassando. e que só nesta zona encontrei. Contei 6 . Mas voava por aquele caminho ladeado por arvores muito altas. Queria chegar.
Sam Juan de Ortega, é um lugar mitico no caminho de Santiago. Trata-se de um Mosteiro e uma Igraja. outrora abandonados, e recuperados por um padre já falecido para servir de albergue. Em pouco tempo vi 2 autocarros com turistas para visitar a Igreja e o Albergue, com toda a babilonia de peregrinos.
Quem tambem lá encontrei foi os maus amigos Italianos com o seu Bambino

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

San Juan de Ortega
O Albergue

A Igreja

 

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Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

O Hall da entrada do Albergue, onde se deposita os sapatos e os bastões

As bikes. A minha e as dos italianos com o atrelado. Cadê dos outros?

No bar perguntei onde podia jantar, e quer o Albergue, quer o bar , quer um novo restantante com quartos individuais por detras da Igreja eram geridos por uma familia . Como só servem o jantar a partir das 8, fiz horas na esplanada da porta a apreciar o momento.
No restaurante, já só tive lugar na 3ª rodada. Enquanto esperava travei conhecimento com um casal que inicialmente julgava Ingles, mas ela era Alemã e ele brasileiro. Deu para falar com o portugues pelo meio. Mas estavam tão perdidos de amores que quase nem esperavam pelo jantar . Conheci tambem uma figura, fiquei a saber, muito conhecida dos caminhos . D. Henrique. È um peregrino profisional, não sei se é frade ou padre, ou apenas peregrino. Acabei por jantar na mesa dele. Comeu-se muito bem . boas costoletas . bom vinho. O truque é estar com os amigos. Falou de Portugal, Conhece bem o arroz de sarraburro de Ponte de Lima. Já bateu aqui tb os caminhos. No manhã seguinte encontrei-o já na estrada e tirei-lhe uma foto

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Depois de este intervalo para fazer o gosto ao corpo de participar na maratona da Póvoa, continuemos no final da 4ª etapa que ligou Nagera a S. juan de Ortega, no total de 75 km ( menos 5 que a maratona da Póvoa :mrgreen.
Ao acordar no dia 11 no albergue de Ortega, reparei que no beliche pegado ao meu estavam a levantar-se tb, o casal Italiano. Ou eu dormi como uma pedra ou o puto não incomodou ninguém . Perguntei á vizinha de "baixo", uma Filandesa bem disposta, mas tb não tinha dado por isso. Por norma venho sempre tarde para a cama, e a luz fecha ás 9 depois é só de lanterna ou como eu a luz do telemovel, que nem se sabe da vizinhaça. :evil:
Liguei Ortega, por alcatrão durante 4 km , a Agés, onde tomei o pequeno almoço habitual ( Aqueles enormes croissants com umas fatias de "jambom" e dois sumos, seguido do café "solo". Encontrei aí um dos tres portuguese que avistei em todo o caminho. Era um imigrante de Viana do Castelo que estava a fazer pela vida naquela aldeiazinha de meia duzia de habitantes, Gostei de ouvir Português
Saí e dirigi-me para um caminho rural subindo dos 1000 m de Ortega para os 1200, passando por Atapuerca, por uma paisagem identica ao nosso Alentejo

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

O Sol estava a nascer, sempre nas costas e deixava as sombras brincarem com o andamento da bike.

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Depois da subida sem problemas e admirando a paisagem , liguei rápidamente os 27 km entre Ortega e Burgos, entrando-se pela zona industrial. Atravessei a cidade á procura do caminho, seguindo as setas e os peregrinos

 

[njsantos]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

jantar . Conheci tambem uma figura, fiquei a saber, muito conhecida dos caminhos . D. Henrique. È um peregrino profisional, não sei se é frade ou padre, ou apenas peregrino. Acabei por jantar na mesa dele. Comeu-se muito bem . boas costoletas . bom vinho. O truque é estar com os amigos. Falou de Portugal, Conhece bem o arroz de sarraburro de Ponte de Lima. Já bateu aqui tb os caminhos. No manhã seguinte encontrei-o já na estrada e tirei-lhe uma foto

Ele que apareca para a SARRABULHADA dos 100norte!!!
:mrgreen: :mrgreen:

 

[BigBoss-pt]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Boas fotos,
Grande percurso, deve ser muito cansativo, mas, também muito gratificante e inesquecível.

Força,
1Abr
Bruno Patrão

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Rapidamente atravessei a ainda adormecida cidade de Burgos e em piso rápido maioritariamente alcatrão, sem grandes emoções, contornando os muitos peregrinos que ia encontrando, passei por, Villabilla (óptima para a pronuncia do norte :lol, Tradajos, Rabe de la Calzadas

e a ligação a Hornillos por entre campos de cultivo e peregrinos,

Mal encontro alcatrão, surgem grupos de ciclistas, que vou ultrapassando enchendo-me o ego ....

passa-se por baixo das ruinas do convento de San Antón e chega-se a Castrojeriz

Em Castrojeriz fiquei sem pilhas para a máquina, e em vão procurei onde comprar. Atenciosamente um habitante que me ouviu a perguntar pelas "pillas" foi a a casa e deu-me uma embalagem de 4 "pilas" novas. Vou por a sua foto na internet - prometi - e lá se pôs a jeito em frente à sua casa..
no cimo vê-se 3 bikers italianos, que segui, uma vez que iam na minha direção, o caminho de terra.

 

[miguelm3]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

MEU AMIGO ESTOU A GOSTAR DE LER , CONTINUA QUE ESTA NO BOM CAMINHO FORÇA AI :cheers:

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Apanhei o grupo dos Italianos e pedalamos em direcção ao Alto de Mostelares, que se avistava e que terminava com a planicie. Os Italianos, tinham deixado "la máquina" em Burgos e iam fazer tres dias de pedalada, pelo que optavam pelo caminho tradicional.

Para trás ia ficando Castrojeriz e a planicie recortada por altos totalmente carecas de arvores mas cheios de cereais.

Próximo do topo do monte, com o frio já a apertar, encontramos três jovens Espanhois, que aproveitavam o feriado local e a ponte do fim de semana para se aventurarem nos trilhos de Santiago. Eram muito jovens e sem muita experiência de BTT, e tive de ajudar a empurrar a pé a bike do mais novo que mal conseguia arrastar os pés. Os últimos metros eram bastante íngremes.

Depois de alguns minutos de descanso arrancamos para uma descida tão íngreme como a subida, mas com um piso muito mais técnico, com muita pedra solta. íamos acompanhado os "putos" dando-lhes dicas, como a de se sentarem no fim do selim para o peso ficar na roda traseira, que mesmo assim, pelo peso que as bikes levavam, ia resvalando completamente bloqueada.

 

[depinho]

Re: O Caminho Frances de Santiago de Compostela. Setembro 2008

Ao chegar a Itero del Castillo, deixei os jovens para trás, por não querer impor a minha presença, os Italianos já tinham se afastado e pedalando por uma planicie com um vento frio norte, por entre canais de água, cheguei a Formista, nome que me lembrava que estava com fome.
Itero del Castolli

os canais de água, piso excelente.

e Formista

Estavam feitos 90 km , procurei o Albergue, e encontrei um casal de Madrid, que levavam cada um na sua cadeira, duas filhas, uma delas ainda de fraldas. As Bicicletas eram umas autenticas pasteleiras, mas o que conta não é o "material" mas o espirito, nem que seja por um fim de semana.