Não posso deixar de concordar com o Bravellir. Qualquer coisa resulta desde que seja a gosto. E ás vezes, por questões de reutilizar material não se justifica fazer investimentos para estar no ponto óptimo. É como tudo, nem sempre se pode se ter o que se quer e ás vezes não se quer o melhor.
Mas como isto é um forum e o projecto está público em cima da mesa e aberto a opiniões, acho que é interessante discutir realmente e com fundamento quais vão ser as diferenças entre uma SID de 28 mm e uma outra forqueta de curso maior no comportamento e funcionalidade do quadro.
A primeira diferença grande que vai haver vai ser a rigidez direccional. Nuno, certamente que sabes o quão flexível é a SID quando comparada com qualquer outra forqueta moderna com bainhas de 32 mm para cima. Se admites que é uma bicicleta sem pretensões a recordes de peso, penso que tinhas a ganhar em ir para mais rigidez.
A segunda diferença, já foi referida, é mesmo em termos de geometria. As mudanças na geometria da bicicleta são relativamente grandes. Basicamente altera-se por completo a natureza da bicicleta.
Embora diga XC no quadro, a Cove Hummer é na realidade algo que actualmente se define como uma hardtail de AM. As definições e generalizações valem o que valem, mas estamos a olhar para algo que em termos de características se aproxima muito das On-One 456, da Viento do Marky ou Orange P7, entre muitas outras. São hardtails desenhadas com vários pontos chave: Bom espaçamento para pneus largos, ângulo direcção bem abaixo dos 70º, testa curta para não colocar o guiador no tecto com forquetas longas e altura de caixa de pedaleiro razoável para permitir pedalar continuamente em zonas pedregosas.
Segundo o site deles, a Cove foi desenhada para ter uma forqueta de 510 mm, ideal para acomodar, por exemplo, uma Revelation ou Pike no curso de 130 mm.
A propósito da discussão interessante de ângulos de direcção e A-C que decorreu no meu ensaio da
Blur LT2 fiz uns modelos parâmetricos que permitem tirar alguns valores importantes da geometria com umas simples introduções de dados:
Com uma Revelation por exemplo: Usando os modelos, com a configuração de "fábrica", espera-se um ângulo de direcção de 68.50º, relaxado e estável com um valor de trail mecânico de aproximadamente 77 mm. (Trail mecânico é o comprimento da alavanca imaginária que retorna a roda a da frente à posição neutra. Quanto maior for esta alavanca mais facilmente a bicicleta se estabiliza - mesmo conceito das rodas dos carrinhos de hiper-mercado, os eixos estáo à frente para que elas se auto alinhem com o movimento do carro). Isto são características muito adequadas a uma bicicleta de AM, capaz de atacar secções de terreno muito irregular sem perder a direccionalidade.
- Com a SID de 80 mm (eixo-coroa de 451 mm): Espera-se um ângulo de direcção de quase 72º, extremamente vertical, e um trail mecânico de 60 mm. O ângulo de direcção fica superior ao de uma Scott Scale (que em M se fica pelos 71º). A alavanca de estabilização reduz-se 22%. Ou seja, estamos a transformar uma bicicleta naturalmente estável em algo significativamente mais nervoso, de reacções rápidas mas pouco neutral em terreno irregular.
Desta analise não haverá nada que se possa considerar bom ou mau. Simplesmente se altera o comportamento direccional. O problema é que o quadro foi estudado para estar com 68.5º de direcção e como tal existem outros parâmetros que saiem das zonas habituais:
- Ângulo de selim. Enquanto que está nos 72.50º para a configuração de fábrica, vai aumentar para quase 76º com a SID. Isto é extremamente vertical. Voltando novamente à referencia que é a Scott Scale, vemos que a Scott usa 73.5º no máximo para este parâmetro. A diferença pode parecer pequena, mas a realidade é que a distribuição de massas do quadro fica bem modificada com uma tendência de chegar o utilizador muito para a frente e acaba por dificultar as descidas.
- Altura de caixa de pedaleiro. Passa de 320 mm na versão de fábrica para 295 mm na versão com SID. 25 mm podem parecer pouco, mas é provavel que seja o suficiente para levar os pedais a bater no chão várias vezes. As Spark (não encontrei dados da Scale) têm 330 mm. Ou seja, os pedais vão andar 35 mm mais baixos que na Spark (sem sag em ambos os casos).
Portanto, a modificação é passível de ser feita e continua a ser uma bicicleta utilizável. No entanto o carácter da máquina muda do dia para a noite e com isso vêm atrás algumas modificações indesejadas em parâmetros que normalmente não ligamos muito mas são bastante importantes.
Números à parte, a minha opinião pessoal é que essa bicicleta merecia ser configurada para cumprir a missão para a qual foi projectada. Mesmo que se incorra num bocadinho mais de peso, mesmo que não seja aquele estilo de XC das bicicletas que se vêem aqui a torto e a direito acho que era algo de diferente ter uma bicicleta mais vocacionada para o AM super leve.
PS: Xiça que escrevi muito. Mas é um tema que dá que falar.