“A Via Algarviana consiste na ligação entre Alcoutim e o cabo de S. Vicente, com uma extensão de aproximadamente 300 km, divididos em 14 sectores, na sua maioria instalados em plena serra algarvia”.
Foi este o desafio que me foi lançado por dois companheiros do pedal, alguns meses atrás, aproveitando alguns dias de férias que teríamos por alturas da Páscoa.
Após alguma pesquisa, essencialmente a cargo do RP23 - organizador mor desta aventura – constatou-se que se a pé a via era normalmente feita em 14 dias, já de bicicleta havia quem fizesse em 5, outros em 4 e alguns malucos em 3 dias apenas! Sensatos, tendo em conta que a travessia seria efectuada em autonomia, optámos pela média e assim dividiu-se o trajecto por 4 dias.
Mas como o RP também tem a sua parte de maluqueira, lá nos convenceu para mais uma etapa, o dia 0, a ligação entre a “nossa” aldeia – Vales Mortos – perdida na Serra de Serpa e a vila de Alcoutim, início da Via Algarviana.
Dia 0 (ligação)Vales Mortos – Alcoutim, 67km, 1114m de acumulado
Encontrámo-nos às 8.00h no local combinado e depois das fotos da praxe, arrancámos seguindo o risco marcado no GPS, que logo nos guiou para longe da estrada, por caminhos rurais, uma constante ao longo dos 5 dias que se seguiriam.
Uma das grandes diferenças relativamente a outras travessias (como o Caminho Português de Santiago, feito à um ano) é a muito reduzida percentagem de quilómetros em alcatrão, o isolamento, a passagem por aldeias e montes perdidos nas serras, ao invés das grandes vilas e cidades.
O ritmo era moderado, a apreciar as paisagens e até o voo de uma rara cegonha negra, que levantou à nossa passagem.
Logo ao km 12, à passagem pelo Monte Baixa Pires, fui contemplado com o 1º furo que de tão precoce, de imediato me fez arrepender não ter usado o (por vezes) milagroso liquido verde...
Entretanto, começaram a surgir as fitas do SRP160 - ocorrido no fim de semana anterior - que nos acompanharam ao longo de cerca de 20 km, incluindo passagens pela Corte do Pinto e pela emblemática Mina de São Domingos, uma das referências deste primeiro dia.
É defacto uma paisagem avassaladora e reveladora da importância deste complexo mineiro nesta região, ao longo de mais de um século.
A partir daqui, foi seguir alguns kms pela agora desactivada linha do comboio, passando depois por Montes Altos e Santana de Cambas antes de chegar à povoação ribeirinha do Pomarão, onde eram carregados os barcos com minério e onde, da mesma forma, atravessámos o Guadiana.
Antes disso, deu para apreciar o Vale do Guadiana, descansar um pouco e aconchegar os estômagos com um belo queijo e um chouriço da região.