Vinte anos. Como pode já ter passado tanto tempo?
Não me perguntem datas ou locais certos. Tenho algures num caderno onde apontava as voltinhas que fazia os dados desta aventura,mas enquanto não o encontrar não posso dar certezas.
Mas encontrei as fotos,e é o que basta.
A rota:
Muitos devem saber que o principal abastecimento de água de Lisboa é a albufeira da barragem do Castelo de Bode,no rio Zêzere. O percurso da linha de água é sempre que possível em linha recta,e o cano é quase sempre subterrâneo,excepto em locais muito ingremes ou passagem de cursos de água. A acompanhá-lo existe uma estrada de manutenção,em terra,na grande maioria do percurso.
O meu desafio foi chegar à barragem de Castelo de Bode seguindo essa estrada sempre que possível,e voltar pelo alcatrão.
Depois de fazer uns reconhecimentos até à zona de Casével (Torres Novas),e achar que seria “canja” uma viagem numa estrada que não apresentava practicamente nenhumas dificuldades,sem trânsito e principalmente sem o perigo de me perder.
E assim num belo dia de Junho (penso eu que foi por esta altura),enchi um bidon,coloquei numa mochila o farnel e um cantil de água fresca,e fiz-me ao caminho…
Por causa das grande volta que tinha que dar para encontrar uma ponte para passar o Rio Alviela,fui directamente de casa até ao Sobral,e lá iniciei a minha saga.Os primeiros kms correram exactamente como previsto,até ao primeiro desvio,já na zona dos Riachos.
Aqui dei de caras com umas ruínas romanas,a Villa Cardillio. Que belo sítio para uma pequena pausa !
Depois de abandonar a linha de água por uns kms para procurar uma ponte sobre o rio Almonda,retomei-a e rumei ao Entroncamento,onde cruzei as obras da futura A23/IP6 (!),e segui por uma das zonas mais bonitas do percurso:
Até aqui as dificuldades não tinham sido muitas,mas o cansaço começava a notar-se,e mal sabia eu o que aí vinha…o mais difícil da viagem!
Depois do Entroncamento o terreno muda radicalmente,e o sobe e desce constante e muito íngreme dos últimos kms antes do Castelo de Bode,que quase sempre fazia saír o cano do solo,e a estrada era substituída por um estreito passadiço por cima do cano,a bons metros do chão…por momentos as dores nas pernas desapareciam!
Algures nesta zona,tive de fazer uma “ginástica extra”,o caminho estava vedado por um grande portão,de mais de 2m de altura. Depois de olhar para a zona circundante e constatar que não tinha outra hipótese,decidi-me a saltar por cima,coisa mais fácil de dizer do que fazer,com uma bike pesada e bastante cansaço…mas o pior estava para vir,a vedação era de uma quinta de gado bravo,e acho que nunca pedalei com tanta vontade ao avistar relativamente perto os seus inquilinos!
Mais adiante,outro grande desvio,desta feita para evitar as instalações da EPAL,onde a água é tratada…para quem vinha há umas horas no mato,ver aquele edifício todo cercado de uma rede alta,com relva até perder de vista e um aspecto “aeroespacial”,foi uma das maiores surpresas do trajecto.
E finalmente,cheguei á barragem! Objectivo (meio) cumprido,embora com mais dificuldade que o previsto…
Não me recordo,mas talvez a ideia inicial tenha sido voltar pelo mesmo caminho…rapidamente foi posta de parte,tendo em conta as dificuldades encontradas na vinda. Assim,passei por um café,comprei 2 garrafas de água,tirei mais umas fotos e fiz-me à estrada…com pneus largos,pernas “arrumadas” e uma sensação de anestesia,lá cumpri o caminho de volta a casa,com câimbras nas últimas subidas para ajudar à festa.
Uma das memórias mais marcantes foi parar num café em Liteiros (Torres Novas),para comprar uma Cola e um Mars,e ficar como que “siderado” a olhar para a tv,que mostrava o vídeo do “Are you gonna go my way” do Lenny Kravitz…eu estava tão cansado que por alguma razão aquilo ficou cá marcado no fundo.
No total,foram 130km,mais de metade em terra,já que a barragem de Castelo de Bode fica a menos de 60km de minha casa. Demorei 8h30m em toda a viagem,das quais 7h30m a pedalar…
Nunca mais voltei a fazer tantos kilometros,mesmo na bike de estrada.Já fiz algumas maratonas de 100km,e sinceramente hoje em dia não é a distância que me atrai,daí que se for esta aventura que fica no topo em termos de “longitude” não importo nada com isso.
Uma perspetiva sobre a máquina:
Quadro e forqueta em aço (nada de cromoly),travões Mafac cantilever,manetes de plástico,aros Empal alumínio ~40mm largura,pneus Michelin Hi-Hot 2.125”,manípulos e deviadores Triplex,pedaleiro (oval) e cubos Ofmega,15 velocidades.
Peso nunca soube…e ainda bem!
E uma palavra sobre o que era fazer algo deste género no início dos anos 90:
Não haviam GPS,telemóveis,internet,nem qualquer coisa do género. Havia mapas,cartas topográficas,sangue frio,desenrascanço e uma grande vontade de ir mais longe,à procura do desconhecido e de passar de bicicleta onde muito poucos tinham passado.
Olhar para trás e lembrar-me destes tempos faz-me ganhar ainda mais vontade de continuar a pedalar!
Obrigado pelo vosso tempo,
Boas pedaladas
Não me perguntem datas ou locais certos. Tenho algures num caderno onde apontava as voltinhas que fazia os dados desta aventura,mas enquanto não o encontrar não posso dar certezas.
Mas encontrei as fotos,e é o que basta.
A rota:
Muitos devem saber que o principal abastecimento de água de Lisboa é a albufeira da barragem do Castelo de Bode,no rio Zêzere. O percurso da linha de água é sempre que possível em linha recta,e o cano é quase sempre subterrâneo,excepto em locais muito ingremes ou passagem de cursos de água. A acompanhá-lo existe uma estrada de manutenção,em terra,na grande maioria do percurso.
O meu desafio foi chegar à barragem de Castelo de Bode seguindo essa estrada sempre que possível,e voltar pelo alcatrão.
Depois de fazer uns reconhecimentos até à zona de Casével (Torres Novas),e achar que seria “canja” uma viagem numa estrada que não apresentava practicamente nenhumas dificuldades,sem trânsito e principalmente sem o perigo de me perder.
E assim num belo dia de Junho (penso eu que foi por esta altura),enchi um bidon,coloquei numa mochila o farnel e um cantil de água fresca,e fiz-me ao caminho…
Por causa das grande volta que tinha que dar para encontrar uma ponte para passar o Rio Alviela,fui directamente de casa até ao Sobral,e lá iniciei a minha saga.Os primeiros kms correram exactamente como previsto,até ao primeiro desvio,já na zona dos Riachos.
Aqui dei de caras com umas ruínas romanas,a Villa Cardillio. Que belo sítio para uma pequena pausa !
Depois de abandonar a linha de água por uns kms para procurar uma ponte sobre o rio Almonda,retomei-a e rumei ao Entroncamento,onde cruzei as obras da futura A23/IP6 (!),e segui por uma das zonas mais bonitas do percurso:
Até aqui as dificuldades não tinham sido muitas,mas o cansaço começava a notar-se,e mal sabia eu o que aí vinha…o mais difícil da viagem!
Depois do Entroncamento o terreno muda radicalmente,e o sobe e desce constante e muito íngreme dos últimos kms antes do Castelo de Bode,que quase sempre fazia saír o cano do solo,e a estrada era substituída por um estreito passadiço por cima do cano,a bons metros do chão…por momentos as dores nas pernas desapareciam!
Algures nesta zona,tive de fazer uma “ginástica extra”,o caminho estava vedado por um grande portão,de mais de 2m de altura. Depois de olhar para a zona circundante e constatar que não tinha outra hipótese,decidi-me a saltar por cima,coisa mais fácil de dizer do que fazer,com uma bike pesada e bastante cansaço…mas o pior estava para vir,a vedação era de uma quinta de gado bravo,e acho que nunca pedalei com tanta vontade ao avistar relativamente perto os seus inquilinos!
Mais adiante,outro grande desvio,desta feita para evitar as instalações da EPAL,onde a água é tratada…para quem vinha há umas horas no mato,ver aquele edifício todo cercado de uma rede alta,com relva até perder de vista e um aspecto “aeroespacial”,foi uma das maiores surpresas do trajecto.
E finalmente,cheguei á barragem! Objectivo (meio) cumprido,embora com mais dificuldade que o previsto…
Não me recordo,mas talvez a ideia inicial tenha sido voltar pelo mesmo caminho…rapidamente foi posta de parte,tendo em conta as dificuldades encontradas na vinda. Assim,passei por um café,comprei 2 garrafas de água,tirei mais umas fotos e fiz-me à estrada…com pneus largos,pernas “arrumadas” e uma sensação de anestesia,lá cumpri o caminho de volta a casa,com câimbras nas últimas subidas para ajudar à festa.
Uma das memórias mais marcantes foi parar num café em Liteiros (Torres Novas),para comprar uma Cola e um Mars,e ficar como que “siderado” a olhar para a tv,que mostrava o vídeo do “Are you gonna go my way” do Lenny Kravitz…eu estava tão cansado que por alguma razão aquilo ficou cá marcado no fundo.
No total,foram 130km,mais de metade em terra,já que a barragem de Castelo de Bode fica a menos de 60km de minha casa. Demorei 8h30m em toda a viagem,das quais 7h30m a pedalar…
Nunca mais voltei a fazer tantos kilometros,mesmo na bike de estrada.Já fiz algumas maratonas de 100km,e sinceramente hoje em dia não é a distância que me atrai,daí que se for esta aventura que fica no topo em termos de “longitude” não importo nada com isso.
Uma perspetiva sobre a máquina:
Quadro e forqueta em aço (nada de cromoly),travões Mafac cantilever,manetes de plástico,aros Empal alumínio ~40mm largura,pneus Michelin Hi-Hot 2.125”,manípulos e deviadores Triplex,pedaleiro (oval) e cubos Ofmega,15 velocidades.
Peso nunca soube…e ainda bem!
E uma palavra sobre o que era fazer algo deste género no início dos anos 90:
Não haviam GPS,telemóveis,internet,nem qualquer coisa do género. Havia mapas,cartas topográficas,sangue frio,desenrascanço e uma grande vontade de ir mais longe,à procura do desconhecido e de passar de bicicleta onde muito poucos tinham passado.
Olhar para trás e lembrar-me destes tempos faz-me ganhar ainda mais vontade de continuar a pedalar!
Obrigado pelo vosso tempo,
Boas pedaladas