Todas as histórias começam com um propósito, uma razão de ser, aquilo que desencadeou um determinado acontecimento, e por isso mesmo sinto que devo de falar do porquê daquilo que conhecemos hoje simplesmente como "Tróia - Sagres".
Tudo começa com a obstinação de um homem, que nesse ido ano de 1990, a fim de contrariar um "sentimento de velhice" se propôs a realizar um teste duro e dificilmente ao seu alcance, realizar a viagem que habitualmente realizava de carro no final do ano, mas em bicicleta.
Hoje, e passados 17 anos, António Malvar contínua a fazer essa mesma viagem, esse teste anual, com os mesmos objectivos que estabeleceu há 17 anos atrás "ir de Tróia a Sagres de bicicleta num só dia e chegar antes de anoitecer."
Assim nasce um mito, uma jornada épica, que com o passar dos anos atraiu cada vez mais amantes desta nossa paixão que são as bicicletas, e é assim que ano após ano, cada vez mais pessoas se juntam a esta viagem, seja por desafio, por passeio, por admiração ao homem, ou por qualquer outro motivo.
Confesso que apesar de ser um completo apaixonado por as bicicletas, os passeios em cima dos tapetes de alcatrão nunca me cativaram, seja por achar monótono ou por simplesmente ter muito receio dos condutores de veículos motorizados, e devem-se a esses dois factores o facto de eu nunca ter feito o Tróia - Sagres.
Este ano os amigos com quem costumo pedalar cá por Serpa, fizeram-me uma proposta irrecusável (por causa das possíveis represálias, claro :lol: ) : conduzir o carro de apoio durante esse sábado de forma a possibilitar-lhes melhores condições logísticas, do que se fizessem esta jornada em autonomia.
Aceitei, ainda que apreensivo, e pensei que para uns se divertirem alguém teria de fazer o frete, desta feita fui, da próxima será outro, os "sacrifícios" fazem parte da amizade.
Dessa forma, e no passado sábado 16 de Dezembro de 2006, às 6h, com uma noite escura e cerrada lá estava eu, no local marcado para cumprir com aquilo que me fora solicitado.
Iria seguramente ser um longo dia, mas estava longe de pensar o quão gratificante iria ser, e o quanto ia curtir.
Arrancámos já atrasados, com um frio tremendo, que aos poucos se foi desvanecendo, graças à sofagem da Ford Transit, ao nascer do sol, e claro ao calor humano de pessoas que aguardam com expectativa mais um dia de aventura.
Seriam 7h50' quando nos cruzámos pela primeira vez com um companheiro do pedal perto da Comporta, mais à frente, em frente aos "Árabes" vislumbrei o José Carlos e o MrLamb, nas suas singlespeed, uma buzinadela que se falasse diria "Força aí, seus malucos" :lol: e prossegui até Tróia.
Na chegada a Tróia, já muitos haviam arrancado, ainda vi alguns amigos que depressa se despacharam e se puseram "na alheta".
À saída de Tróia estava o António Malvar, junto à carrinha da Ciclonatur, com a sua bike exótica preparada para estas andanças (que mais à frente terão oportunidade de vislumbrar em fotografia :lol: )
O meu grupo la se despachou e fez-se à estrada, objectivo: Sagres.
Arranquei, ultrapassei alguns dos últimos grupos, e eis que pouco antes do cruzamento para Pinheiro da Cruz, encontro duas caras amigas, era o Vítor e o Valter, do Rodas Clube, estavam ali a oferecer chá quente a quem quisesse aceitar, parei logo a carrinha, para me juntar aquela festa, beber um cházinho quente e dar dois dedos de conversa.
Por ali fiquei até que passou toda a gente, ou pelo menos assim julgámos, viemos mais tarde a saber que havia quem se tivesse atrasado :wink:
Até S. Torpes pouco há para contar, foi aí que começou um Tróia - Sagres diferente para mim, e para o pessoal do meu grupo, com um desvio para Porto Côvo, percorrer aquela estrada numa manhã fria de inverno com um sol radioso, a observar a magnifica paisagem do mar, foi um daqueles momentos que me fez pensar "Ainda bem que vim".
Chegada a Porto Côvo, para fazer o abastecimento na espectacular pastelaria O Marquês, que belo pequeno almoço.
Aqui já havia perdido dois elementos do meu grupo (Netwarrior e André) que se entusiasmaram e se integraram num pelotão que parecia um TGV, não sabem o que perderam :twisted:
Apanhei o Pereira, o Azedo e o Filipe, mais tarde apareceu o Capelinha. Feito o repasto, e devoradas as tostas, os sumos de laranja, os folhados, e babado face a tantas iguarias, lá prosseguimos caminho, saí de Porto Côvo à frente deles, para fazer uma paragem em Mil Fontes, passados poucos km's encontro o João Marinho e o Kalash, que o acompanhava.
Fiquei boquiaberto com o João, trazia a bike com pneus "de mato", e vinha a puxar um atrelado com mais não sei quantos kg de carga, uma paragem para umas fotos e um lamiré, e la seguiram viagem, tal como eu.
A próxima paragem era perto da Ponte de V.N. Mil Fontes, local onde aguardei que a minha malta chegasse, e onde ganhei companhia na carrinha, o Pereira estava adoentado e sob medicação, ainda faltava bastante até Sagres e fez uma escolha racional. Um mini abastecimento de àgua e laranjas. Próxima paragem: S. Teotónio, para dar ao dente :mrgreen:
Lá parei na bomba da Galp, local onde a nossa carrinha mais parecia uma cozinha, tal não era a fartura de comida que havia.
Por esta altura, vi que a carrinha foi crucial, o prazer com que os meus amigos comiam era um agradecimento implícito.
Daqui para a frente é que as coisas iam complicar a sério, e por esta altura os meus dois outros amigos que haviam seguido no "pelotão TGV" já deveriam ter chegado a Sagres.
Em Odeceixe novo desvio em relação ao percurso estipulado, "Vamos à praia", ainda bem que o fizemos, é um daqueles locais de uma espectacularidade tremenda, uma paragem para tirar fotos e apreciar a paisagem soberba, não existem palavras que descrevam.
Era altura de seguir viagem, o sol teimava em desaparecer a uma velocidade incrível, e ainda faltavam uns bons km's até Sagres, por esta altura já todos sabíamos que a chegada ao destino seria com a companhia da noite, e o vale fresco da Bordeira e as subidas da Carrapateira ainda estavam para vir.
Daqui a Aljezur foi um instante, uma rápida paragem, e saímos de Aljezur, à frente largamos a estrada principal que vai para Lagos, para virar à direita e ir em direcção a Sagres, foi aqui os últimos rasgos de luz solar deram o ar da sua graça e a noite caiu sobre nós.
Por esta altura do dia, e com a quantidade de km's que as pernas levavam, o Filipe começou a quebrar, entendi que não lhe havia de dar abébias e pressionei-o, "Precisas de água? Toma um bolo, isto dá power! Bora lá Filipe, não descoles deles.", pouco depois vi que o grupo estava coeso, o João acompanhava o Filipe (quando não puxava à frente :lol e iluminados por os máximos da Transit lá superaram as dificuldades até Vila do Bispo, local onde fizemos a última paragem antes de Sagres, para largar as bagagens do Capelinha e do Gato, que por alí ficaram, mais umas fatias do bolo espectacular que o André (que por esta hora já secava há umas boas
horas em Sagres) nos trouxe, e aí estamos nós a sair de Vila do Bispo, já a vislumbrar Sagres.
Uma pequena confusão e o João e o Kalash seguiram pela estrada antiga, enquanto o Azedo e o Filipe prosseguiam pela via rápida, onde o Filipe mandou um valente malho, que felizmente não teve consequências.
A chegada a Sagres fez-se às 19:24, já com a noite bem escura, e um frio digno de ser apelidado "rijeza" por estes companheiros, agarrados à placa de Sagres
Aproveito para dar os meus parabéns a todos que se predispuseram a realizar este desafio, tenham ou não acabado.
Parabéns especiais para o Filipe, que mostrou uma perseverança soberba, ao Azedo e aos seus desvios que nos levaram a curtir sítios espectaculares, aos meus amigos José Carlos e MrLamb que paparam o Tróia-Sagres de singlespeed, ao João Marinho que por esta altura ainda vai a pedalar a caminho de casa, e que transformou o Tróia - Sagres em Tróia - Sagres - Porto, ao André e ao Nelson que estão em forma e chegaram a Sagres a horas de almoço :mrgreen:
Agradecimentos aos malucos que me cravaram para lhes ir conduzir a carrinha, porque afinal foi um dia muito bem passado, ao Vítor Sobral e ao Valter Matos do Rodas Clube pelo cházinho quente, ao Pereira que levou umas saladas, e umas tartes muiiiiito boas, ao André que levou também um bolo muito bom, ao Nelson pelas bebidas, e a todos e mais alguns que eu me esqueci, porque sim.
Não vos maços com mais texto, deixo-vos as fotos :wink:
Até breve.
Tudo começa com a obstinação de um homem, que nesse ido ano de 1990, a fim de contrariar um "sentimento de velhice" se propôs a realizar um teste duro e dificilmente ao seu alcance, realizar a viagem que habitualmente realizava de carro no final do ano, mas em bicicleta.
Hoje, e passados 17 anos, António Malvar contínua a fazer essa mesma viagem, esse teste anual, com os mesmos objectivos que estabeleceu há 17 anos atrás "ir de Tróia a Sagres de bicicleta num só dia e chegar antes de anoitecer."
Assim nasce um mito, uma jornada épica, que com o passar dos anos atraiu cada vez mais amantes desta nossa paixão que são as bicicletas, e é assim que ano após ano, cada vez mais pessoas se juntam a esta viagem, seja por desafio, por passeio, por admiração ao homem, ou por qualquer outro motivo.
Confesso que apesar de ser um completo apaixonado por as bicicletas, os passeios em cima dos tapetes de alcatrão nunca me cativaram, seja por achar monótono ou por simplesmente ter muito receio dos condutores de veículos motorizados, e devem-se a esses dois factores o facto de eu nunca ter feito o Tróia - Sagres.
Este ano os amigos com quem costumo pedalar cá por Serpa, fizeram-me uma proposta irrecusável (por causa das possíveis represálias, claro :lol: ) : conduzir o carro de apoio durante esse sábado de forma a possibilitar-lhes melhores condições logísticas, do que se fizessem esta jornada em autonomia.
Aceitei, ainda que apreensivo, e pensei que para uns se divertirem alguém teria de fazer o frete, desta feita fui, da próxima será outro, os "sacrifícios" fazem parte da amizade.
Dessa forma, e no passado sábado 16 de Dezembro de 2006, às 6h, com uma noite escura e cerrada lá estava eu, no local marcado para cumprir com aquilo que me fora solicitado.
Iria seguramente ser um longo dia, mas estava longe de pensar o quão gratificante iria ser, e o quanto ia curtir.
Arrancámos já atrasados, com um frio tremendo, que aos poucos se foi desvanecendo, graças à sofagem da Ford Transit, ao nascer do sol, e claro ao calor humano de pessoas que aguardam com expectativa mais um dia de aventura.
Seriam 7h50' quando nos cruzámos pela primeira vez com um companheiro do pedal perto da Comporta, mais à frente, em frente aos "Árabes" vislumbrei o José Carlos e o MrLamb, nas suas singlespeed, uma buzinadela que se falasse diria "Força aí, seus malucos" :lol: e prossegui até Tróia.
Na chegada a Tróia, já muitos haviam arrancado, ainda vi alguns amigos que depressa se despacharam e se puseram "na alheta".
À saída de Tróia estava o António Malvar, junto à carrinha da Ciclonatur, com a sua bike exótica preparada para estas andanças (que mais à frente terão oportunidade de vislumbrar em fotografia :lol: )
O meu grupo la se despachou e fez-se à estrada, objectivo: Sagres.
Arranquei, ultrapassei alguns dos últimos grupos, e eis que pouco antes do cruzamento para Pinheiro da Cruz, encontro duas caras amigas, era o Vítor e o Valter, do Rodas Clube, estavam ali a oferecer chá quente a quem quisesse aceitar, parei logo a carrinha, para me juntar aquela festa, beber um cházinho quente e dar dois dedos de conversa.
Por ali fiquei até que passou toda a gente, ou pelo menos assim julgámos, viemos mais tarde a saber que havia quem se tivesse atrasado :wink:
Até S. Torpes pouco há para contar, foi aí que começou um Tróia - Sagres diferente para mim, e para o pessoal do meu grupo, com um desvio para Porto Côvo, percorrer aquela estrada numa manhã fria de inverno com um sol radioso, a observar a magnifica paisagem do mar, foi um daqueles momentos que me fez pensar "Ainda bem que vim".
Chegada a Porto Côvo, para fazer o abastecimento na espectacular pastelaria O Marquês, que belo pequeno almoço.
Aqui já havia perdido dois elementos do meu grupo (Netwarrior e André) que se entusiasmaram e se integraram num pelotão que parecia um TGV, não sabem o que perderam :twisted:
Apanhei o Pereira, o Azedo e o Filipe, mais tarde apareceu o Capelinha. Feito o repasto, e devoradas as tostas, os sumos de laranja, os folhados, e babado face a tantas iguarias, lá prosseguimos caminho, saí de Porto Côvo à frente deles, para fazer uma paragem em Mil Fontes, passados poucos km's encontro o João Marinho e o Kalash, que o acompanhava.
Fiquei boquiaberto com o João, trazia a bike com pneus "de mato", e vinha a puxar um atrelado com mais não sei quantos kg de carga, uma paragem para umas fotos e um lamiré, e la seguiram viagem, tal como eu.
A próxima paragem era perto da Ponte de V.N. Mil Fontes, local onde aguardei que a minha malta chegasse, e onde ganhei companhia na carrinha, o Pereira estava adoentado e sob medicação, ainda faltava bastante até Sagres e fez uma escolha racional. Um mini abastecimento de àgua e laranjas. Próxima paragem: S. Teotónio, para dar ao dente :mrgreen:
Lá parei na bomba da Galp, local onde a nossa carrinha mais parecia uma cozinha, tal não era a fartura de comida que havia.
Por esta altura, vi que a carrinha foi crucial, o prazer com que os meus amigos comiam era um agradecimento implícito.
Daqui para a frente é que as coisas iam complicar a sério, e por esta altura os meus dois outros amigos que haviam seguido no "pelotão TGV" já deveriam ter chegado a Sagres.
Em Odeceixe novo desvio em relação ao percurso estipulado, "Vamos à praia", ainda bem que o fizemos, é um daqueles locais de uma espectacularidade tremenda, uma paragem para tirar fotos e apreciar a paisagem soberba, não existem palavras que descrevam.
Era altura de seguir viagem, o sol teimava em desaparecer a uma velocidade incrível, e ainda faltavam uns bons km's até Sagres, por esta altura já todos sabíamos que a chegada ao destino seria com a companhia da noite, e o vale fresco da Bordeira e as subidas da Carrapateira ainda estavam para vir.
Daqui a Aljezur foi um instante, uma rápida paragem, e saímos de Aljezur, à frente largamos a estrada principal que vai para Lagos, para virar à direita e ir em direcção a Sagres, foi aqui os últimos rasgos de luz solar deram o ar da sua graça e a noite caiu sobre nós.
Por esta altura do dia, e com a quantidade de km's que as pernas levavam, o Filipe começou a quebrar, entendi que não lhe havia de dar abébias e pressionei-o, "Precisas de água? Toma um bolo, isto dá power! Bora lá Filipe, não descoles deles.", pouco depois vi que o grupo estava coeso, o João acompanhava o Filipe (quando não puxava à frente :lol e iluminados por os máximos da Transit lá superaram as dificuldades até Vila do Bispo, local onde fizemos a última paragem antes de Sagres, para largar as bagagens do Capelinha e do Gato, que por alí ficaram, mais umas fatias do bolo espectacular que o André (que por esta hora já secava há umas boas
horas em Sagres) nos trouxe, e aí estamos nós a sair de Vila do Bispo, já a vislumbrar Sagres.
Uma pequena confusão e o João e o Kalash seguiram pela estrada antiga, enquanto o Azedo e o Filipe prosseguiam pela via rápida, onde o Filipe mandou um valente malho, que felizmente não teve consequências.
A chegada a Sagres fez-se às 19:24, já com a noite bem escura, e um frio digno de ser apelidado "rijeza" por estes companheiros, agarrados à placa de Sagres
Aproveito para dar os meus parabéns a todos que se predispuseram a realizar este desafio, tenham ou não acabado.
Parabéns especiais para o Filipe, que mostrou uma perseverança soberba, ao Azedo e aos seus desvios que nos levaram a curtir sítios espectaculares, aos meus amigos José Carlos e MrLamb que paparam o Tróia-Sagres de singlespeed, ao João Marinho que por esta altura ainda vai a pedalar a caminho de casa, e que transformou o Tróia - Sagres em Tróia - Sagres - Porto, ao André e ao Nelson que estão em forma e chegaram a Sagres a horas de almoço :mrgreen:
Agradecimentos aos malucos que me cravaram para lhes ir conduzir a carrinha, porque afinal foi um dia muito bem passado, ao Vítor Sobral e ao Valter Matos do Rodas Clube pelo cházinho quente, ao Pereira que levou umas saladas, e umas tartes muiiiiito boas, ao André que levou também um bolo muito bom, ao Nelson pelas bebidas, e a todos e mais alguns que eu me esqueci, porque sim.
Não vos maços com mais texto, deixo-vos as fotos :wink:
Até breve.