Então e se eu quiser ser um bttista, onde é que tiro a licença?
Estou na brincadeira, até porque nunca fiz BTT a sério e só ontem comprei uma bicicleta para retomar as minhas voltas, após mais de 6 anos sem sequer me sentar numa. Isto para dizer que a minha opinião pouco vale, mas que sempre achei que há lugar para tudo.
Eu fazia TT ocasionalmente quando a minha namorada tinha o Jimny dela. Não tínhamos estribos, nem ginchos, nem suspensões super levantadas, etc, nem andávamos em "filinhas" de jipes com água e lama até ao pára-brisas, mas não deixava de ser Todo-o-Terreno, nem deixávamos de ir a sítios onde carros normais não vão. Era "soft-core" mas era. O mesmo acontece com a minha mota. Não tenho barbas e tatuagens, nem ando de fatinho integral em pele da Dainese, nunca fui a Faro nem a Góis, não vou a track-days, nem atravessar a Europa ou os desertos do norte de África. No entanto ando de mota de manhã, à tarde e à noite, de semana e ao fim-de-semana, com e sem a maria, para ir trabalhar ou para ir para a praia, quer faça sol quer caia granizo. É feinha, mas gosto dela e nunca os meus amigos me viram tão deprimido como o mês passado, quando ela avariou. Resumindo, sou motard, independentemente de corresponder ou não à ideia que os outros têm disso.
Para mim o mesmo se aplica ao meu BTT. Sou auto-suficiente e ajudo todos os que posso, mas não faço grandes trilhos, nem ando sozinho perdido no mato. Porquê? Porque já há muito que aprendi que nem tudo é para todos e algumas dessas lições foram aprendidas da pior forma. A título de exemplo, todas as vezes que tentei sacar cavalinhos, ou não andava nem 5cm com a roda no ar, ou acabava de costas no chão. O bunny hop, para mim, continua a ser um mistério da vida, já que vejo gajos a saltar para cima de bancos de jardim e eu nem para cima de um lancil de passeio. Devido a isso, também não tento grandes trilhos com grandes obstáculos. Isso impede-me de vir a ser um "bttista" de alma e coração? Acho que não. Esforço-me e faço os meus trilhos "soft-core", tentando esticar a corda de vez em quando, mesmo sabendo que o meu "esticar a corda" é fazer trilhos que muitos outros fazem de olhos fechados. E ainda assim, considerando a minha falta de jeito, não é impossível terminar o dia numa cama de hospital.
Já sobre as competições, epah, eu fiz desporto de competição desde os 9/10 anos e não me venham com coisas. Se há uma tabela, é para ficar na parte de cima, a menos que a tabela esteja ao contrário. Eu se tivesse que dar 10-0 ao meu melhor amigo, para me qualificar bem, dava sem pensar duas vezes e só esperava o mesmo dele. O que não invalidava que nos ajudássemos nos treinos, nos aquecimentos e ainda fossemos beber um copo depois do jogo, perdesse quem perdesse. Afinal de contas, se assim não fosse, não era competição.
Aliás, tenho um amigo que, quando eu era miúdo, foi campeão nacional de BTT ou DH ou lá o que foi e também não me parece que ele tenha chegado lá a andar a parar para ajudar tudo e todos.
Por fim, os "maratoneiros", qual é o mal? Maratona não é atletismo, tal como o sprint de 100m e o corta-mato? Porque é que no BTT deixa de ser BTT? Tenho amigos que praticam isso, que andam a semana toda a malhar no Cycling ou Spinning (consoante o ginásio onde andam) e ao fim de semana vão fazer trilhos que nunca mais acabam, mais parece a volta a Portugal mas por terra. E não os vejo menos divertidos por isso. Pelo contrário, gostam tanto que aquilo é quase todas as semanas.
Portanto, peço desculpa a todos os que possa eventualmente chatear, por andar aqui a desvirtuar o seu desporto, mas para mim BTT é andar numa bicicleta todo-o-terreno (e asfalto também é terreno). Se depois fazem DH, XC ou maratonas, vai do gosto de cada um.