Nunca fui cliente de empresas de turismo de lazer, talvez por isso e numa tentativa de ser convertido, fui convidado pela Cabra Montêz a participar na Travessia do Alentejo que decorreu nos passados dias 23 e 24 de Abril.
Nunca tinha participado num evento deste género, apesar de ser uma longa distância, o espirito da coisa nada tem a ver com uma maratona, não me posso esquecer do quão radiante estava quando cheguei à Zambujeira do Mar e levei a bike praia a dentro até ao mar e me molhei todo. Fica aqui um relato na tentativa de demonstrar as sensações vividas intensamente durante estes dois dias.
23 de Abril de 2005
A ânsia era tanta que mal dormi, acabei por adormecer tarde e acordar à pressa, felizmente estava a “jogar em casa” e só tinha de ir ter com o pessoal ao ponto de encontro combinado, 10min depois da hora marcada e lá estava eu.
Logo aqui as coisas são muito diferentes de uma maratona, os participantes são poucos, e existe um “ritual” fomentado pelo Pedro Capelinha, de modo a quebrar o gelo entre os participantes e o pessoal decorar os nomes, quebrado o gelo era altura de um pequeno briefing acerca da etapa do dia de hoje.
Partimos então do largo dos Duques de Ficalho para deixarmos a Vila Branca para trás (por acaso Serpa já é cidade, mas há de ser sempre a Vila Branca).
A fresca manhã martirizava-me por ter escolhido uns calções curtos e um jersey de manga curta, o céu encoberto fazia-me ponderar se a minha escolha teria sido a mais acertada.
Já com a Vila Branca para trás, faz-se a passagem sob o Guadiana que corre tranquilamente lá em baixo, rumamos em direcção ao monte da Gravia dos Pisões, apesar da seca, o campo está espectacular, e o sol começa a descobrir a pouco e pouco, as papoilas contrastam com os nossos equipamentos, seguimos a um ritmo calmo e descontraído, sempre a apreciar as paisagens circundantes e a tirar fotos.
Progredimos ao longo da planície dourada, passando pela aldeia da Salvada, os bons dias às pessoas com que me vou cruzando, que para mim já são habituais neste imenso Alentejo e avançamos até à aldeia de Cabeça Gorda, sugere-se então que se faça uma pausa para comer, “Eu trouxe um salpicão, tenho é de ir comprar um pão” disse o Ricardo, por esta altura a nossa prioridade era encontrar uma padaria, 5 minutos depois, eis que a padaria da aldeia é invadida por 6 estranhos, com umas vestes pouco habituais, para raparem os bolos, que restavam. Feito o ataque à padaria era necessário um local para “encher o bandulho”, paramos então num pequeno largo e nos bancos do mesmo largo, acompanhados de alguns idosos que por ali estavam, o Azedo pergunta-lhes se sabem o caminho para Entradas, enquanto um jovem lhe dá indicações e conversa um pouco com ele o pessoal começa a arrumar a trouxa para voltar a dar ao pedal.
Partimos então para continuar esta nossa travessia do Alentejo, o próximo objectivo era o almoço na localidade de Entradas, vamos curtindo os trilhos e a falar uns com os outros, se em alguns sítios os efeitos da seca que assola o nosso país não se fazem notar, noutros sítios estão bem presentes, o Pedro e o Azedo contam-nos acerca destas diferenças de paisagens, sempre seguida de uma tradução para inglês, dado que a mulher de armas que nos acompanhava não era de nacionalidade Portuguesa.
Encontramo-nos com a carrinha de apoio, umas laranjas, reabastecimento de agua, e estamos aptos para continuar a nossa jornada até entradas onde nos espera o almoço.
Algumas alterações no terreno forçam alguns improvisos sempre bem orientados pelos guias.
Depois de um pequeno desvio porque 2º o Azedo “há ali um downhill espectacular” acabamos por chegar a Entradas, uma pacata terra, bem Alentejana como não poderia deixar de ser, mas com uma avenida em paralelepípedo muito peculiar, muito larga, ao meio um pequeno jardim, à nossa espera, o almoço
Almoçados, e entre alongamentos e uns cafés retomamos viagem, para finalmente chegarmos ao nosso destino nesta 1ª etapa, a cidade de Ourique.
Sempre rolando pela planície imensa que a pouco e pouco se vai alterando, avistamos Castro Verde, e sempre num ritmo calmo o pessoal conversava entre si. Atingimos mais um ponto de encontro com a carrinha de apoio, mais uns reabastecimentos de água fruta e barritas, e já não faltaria muito para chegarmos a Ourique.
Próximos de Ourique começam os azares, o Pedro fura, mas dada a proximidade, insiste em dar apenas um pouco de ar, e continuarmos, 200m adiante, o Luís cai, paragem forçada, enquanto uns tratam do corpo, outros tratam do equipamento, feitas as devidas reparações, continuamos para pouco depois chegarmos a Ourique à residencial onde iría-mos pernoitar.
Após uma recepção calorosa por parte do dono da residencial, e de acomodar-mos as nossas “princesas” devidamente, era altura de um duche, e um pouco de descanso até ao jantar.
O meu colega de quarto era o Ricardo Mendes, um porreiraço que eu muito admiro, talvez alguns de vós o conheçam dado algumas aventuras que ele tem feito, tais como o Trans-Atlas, o Caminho Francês de Santiago, entre outras, imperava portanto um ambiente descontraído e bastante animado.
Enquanto alguns aproveitavam para descansar nós fomos ter com o Azedo, acabámos por curtir umas fotos tiradas no ultimo reconhecimento do percurso, e informações acerca da zona e da etapa do dia seguinte.
Seguimos todos para o jantar, apesar do esforço físico, apresentava-se um grupo de pessoas bem dispostas, entre pessoal da logística e família de alguns participantes o pessoal ia conversando enquanto aguardávamos a comida.
A acompanhar a sobremesa algumas informações acerca da etapa do dia seguinte, sempre seguidas de uma tradução para inglês para que a Amanda não perdesse um único pormenor. “Tomorrow will be more difficult” disse o Azedo, a Amanda vacilou, e acabou por julgar que o Azedo estava na brincar como mais tarde nos confessou.
De regresso à residencial, aproveitamos para fazer algumas afinações e lubrificações nas biclas para o dia seguinte.
Logo de seguida, “xixi, e cama” que amanhã é dia de acordar cedo e o corpo precisa de descanso.
Enquanto o meu amigo Ricardo manda uns “roncos” muito esporádicos (não estou a ser irónico!) eu como demoro sempre a adormecer, revejo o dia de hoje na minha cabeça, e curto o quão embrenhado estou no espirito disto...
24 de Abril
Alvorada, 7:05
Mais um dia para dar ao pedal.
Depois do pequeno almoço em Ourique rolamos alguns km por uma estrada de alcatrão degradada e pouco usada, para depois seguirmos em direcção ao mar.
Passamos pela barragem do Monte da Rocha, e por aqui, à medida que vamos avançando vemos a mudança do terreno e vegetação, para trás ficam as imensas planícies e a pouca vegetação, à nossa frente, a Serra de Odemira, sem duvida o meu local de eleição de toda a travessia, uma vegetação densa, muita verdura e um sítio lindíssimo e espectacular, que nos dá a impressão de ser assim desde sempre, tanto é que como dizia o Azedo, só ali faltava aparecer um dinossauro.
Estamos cada vez mais embrenhados na serra, as subidas começam a apertar, e as lacunas de capacidade física de alguns participantes fazem-se sentir, mas como não estamos me nenhuma prova, se não vai montado, vai a pé.
A serra tenta demover-nos do nosso objectivo, surgem as subidas aos S de vários km, ao estilo das serras algarvias, os meus olhos alternam entre a roda da frente e a barragem de Santa Clara que consigo avistar à minha esquerda, não vale a pena olhar para cima.
Alcançamos uma povoação perdida no tempo e no espaço nesta Serra de Odemira, Cortes Pereiras, o Azedo está eufórico, decerto pelo que viveu no reconhecimento, agarrou-se à placa que dá a indicação da localidade.
Quem muito sobe, muito desce, descemos a todo o gás por uma imensa estrada de alcatrão sem transito algum, recordo-me que a inclinação era acentuada e estava sinalizada, só não me recordo da percentagem, ao fundo avista-se o ponto mais alto do Algarve, a Foia! Altura de abandonar o alcatrão, para entrarmos em singletracks que nos irão levar até Santa-Clara-a-Velha, à nossa espera está a Wanda com a carrinha e os morfes todos
Depois de encher a barriga, de gelados, e um pouco de repouso à sombra, equacionamos e hipótese de irmos a uma fonte nesta localidade fazer o nosso reabastecimento de água, poderíamos fazê-lo com os garrafões de água que estão na carrinha de apoio, mas temos tempo e se a sinalização diz “Visite a Fonte” é porque decerto vale a pena, fazemos então um pequeno desvio para ir à fonte buscar o tão precioso liquido.
A fonte faz as delicias de toda a gente, um caminho de pedra tipo romano, leva-nos a um local paradisíaco bem verde e fresco.
O Azedo parece uma criança, está deslumbrado com a fonte, tem uma bomba mecânica para puxar a água e tudo, junto à fonte temos a oportunidade de trocar algumas palavras com o senhor Zé, um jovem da terra que nos conta alguma história e nos enriquece pessoalmente, eu ainda estou em delírio com a fonte!
A vontade não é muita, sobretudo neste local magnifico, mas temos de continuar caminho, voltamos para trás, para deixarmos Santa-Clara-a-Velha, em direcção a S. Teotónio, uma saudação aos jovens que por ali descansavam à sombra e aí vamos nós.
Avizinha-se uma imensa subida, bolas, depois de almoço, e bem refastelados não apetecia mesmo nada, descemos para termos por companhia o rio Mira, a tarde está quente, e enquanto os outros participantes fazem uma passagem tranquila pelo rio, o Azedo, para não variar, vai a todo o gás e encharca-se até aos cabelos, eu aproveitei, deixei a maquina com o Ricardo e voltei a atravessar o rio e a encharcar-me também, o Ricardo ri-se, “têm pouca pancada têm” diz ele.
Seguimos caminho e voltamos a entrar em serra, mais subidas e mais descidas, e uma má noticia, o caminho está lavrado, não é ciclavel, mas isso não significa que não o façamos a pé e cheguemos ao nosso objectivo, de cima de este serro lavrado, sou brindado por uma vista espectacular, de um lado uma paisagem completamente distinta da do lado oposto.
Subidas e mais subidas, o João já praguejava, a Amanda vinha calada mas no seu rosto notava-se o cansaço bem como o Pedro, o Luís vinha-se aguentando à bronca, tal como eu o Azedo e o Ricardo.
Atingimos um planalto rolante, já se sentia o ar húmido do mar, estávamos em S. Teotónio, daqui à Zambujeira do Mar era um pulinho, a estrada de alcatrão sem grandes desníveis parece que deu um imenso ânimo ao pessoal, vamos a rolar a velocidades bastante consideráveis, nem parece que já fizeram 90km e que ainda há pouco praguejavam.
Chegamos ao nosso objectivo, Zambujeira do Mar, existe imensa gente na rua, descemos até à praia, e enquanto o pessoal deixa as bikes no pequeno parque de estacionamento da praia, eu e o Azedo vamos até ao mar a pedalar.
A emoção é muita, e a sensação inexplicável, nunca antes havia tido um sentimento de glória e objectivo alcançado tão forte.
O sol vai caindo sobre o mar, está na altura de arrumar as coisas na carrinha, entre uns pratos de caracóis, saladas de polvo, tostas e bebidas, fazemos a nossa despedida desta aventura.
Fica o sentimento de frustração para o Azedo, que queria um terceiro dia com a etapa de Odeceixe a Sagres, talvez para o ano.
A mim fica-me este doce com sabor a travessia e a compreensão dos fascínio de todos os que participam em grandes travessias.
(A quem teve a paxorra de ler este testamento, obrigado)
Até breve.
Luís Silva
A foto de grupo, O Ricardo, o João, eu, o Azedo, a Amanda e o Pedro.
O monstro da seara verde! :lol:
O ataque à padaria.
Novo modelo de travões de disco.
O Ricardo, o pão de quilo, e o salpicão.
O grupo, ao jantar
Mecanica matinal :wink:
O briefing.
"Méé"
Não, não tinhamos de subir aquilo!!
Heyna pa, tanto engº.
Isto vai lá é...
... à paulada...
e é que foi mesmo!
Pessoal do Dirt, Urban e FR, querem saber onde é o spot ? :lol:
Nunca tinha participado num evento deste género, apesar de ser uma longa distância, o espirito da coisa nada tem a ver com uma maratona, não me posso esquecer do quão radiante estava quando cheguei à Zambujeira do Mar e levei a bike praia a dentro até ao mar e me molhei todo. Fica aqui um relato na tentativa de demonstrar as sensações vividas intensamente durante estes dois dias.
23 de Abril de 2005
A ânsia era tanta que mal dormi, acabei por adormecer tarde e acordar à pressa, felizmente estava a “jogar em casa” e só tinha de ir ter com o pessoal ao ponto de encontro combinado, 10min depois da hora marcada e lá estava eu.
Logo aqui as coisas são muito diferentes de uma maratona, os participantes são poucos, e existe um “ritual” fomentado pelo Pedro Capelinha, de modo a quebrar o gelo entre os participantes e o pessoal decorar os nomes, quebrado o gelo era altura de um pequeno briefing acerca da etapa do dia de hoje.
Partimos então do largo dos Duques de Ficalho para deixarmos a Vila Branca para trás (por acaso Serpa já é cidade, mas há de ser sempre a Vila Branca).
A fresca manhã martirizava-me por ter escolhido uns calções curtos e um jersey de manga curta, o céu encoberto fazia-me ponderar se a minha escolha teria sido a mais acertada.
Já com a Vila Branca para trás, faz-se a passagem sob o Guadiana que corre tranquilamente lá em baixo, rumamos em direcção ao monte da Gravia dos Pisões, apesar da seca, o campo está espectacular, e o sol começa a descobrir a pouco e pouco, as papoilas contrastam com os nossos equipamentos, seguimos a um ritmo calmo e descontraído, sempre a apreciar as paisagens circundantes e a tirar fotos.
Progredimos ao longo da planície dourada, passando pela aldeia da Salvada, os bons dias às pessoas com que me vou cruzando, que para mim já são habituais neste imenso Alentejo e avançamos até à aldeia de Cabeça Gorda, sugere-se então que se faça uma pausa para comer, “Eu trouxe um salpicão, tenho é de ir comprar um pão” disse o Ricardo, por esta altura a nossa prioridade era encontrar uma padaria, 5 minutos depois, eis que a padaria da aldeia é invadida por 6 estranhos, com umas vestes pouco habituais, para raparem os bolos, que restavam. Feito o ataque à padaria era necessário um local para “encher o bandulho”, paramos então num pequeno largo e nos bancos do mesmo largo, acompanhados de alguns idosos que por ali estavam, o Azedo pergunta-lhes se sabem o caminho para Entradas, enquanto um jovem lhe dá indicações e conversa um pouco com ele o pessoal começa a arrumar a trouxa para voltar a dar ao pedal.
Partimos então para continuar esta nossa travessia do Alentejo, o próximo objectivo era o almoço na localidade de Entradas, vamos curtindo os trilhos e a falar uns com os outros, se em alguns sítios os efeitos da seca que assola o nosso país não se fazem notar, noutros sítios estão bem presentes, o Pedro e o Azedo contam-nos acerca destas diferenças de paisagens, sempre seguida de uma tradução para inglês, dado que a mulher de armas que nos acompanhava não era de nacionalidade Portuguesa.
Encontramo-nos com a carrinha de apoio, umas laranjas, reabastecimento de agua, e estamos aptos para continuar a nossa jornada até entradas onde nos espera o almoço.
Algumas alterações no terreno forçam alguns improvisos sempre bem orientados pelos guias.
Depois de um pequeno desvio porque 2º o Azedo “há ali um downhill espectacular” acabamos por chegar a Entradas, uma pacata terra, bem Alentejana como não poderia deixar de ser, mas com uma avenida em paralelepípedo muito peculiar, muito larga, ao meio um pequeno jardim, à nossa espera, o almoço
Almoçados, e entre alongamentos e uns cafés retomamos viagem, para finalmente chegarmos ao nosso destino nesta 1ª etapa, a cidade de Ourique.
Sempre rolando pela planície imensa que a pouco e pouco se vai alterando, avistamos Castro Verde, e sempre num ritmo calmo o pessoal conversava entre si. Atingimos mais um ponto de encontro com a carrinha de apoio, mais uns reabastecimentos de água fruta e barritas, e já não faltaria muito para chegarmos a Ourique.
Próximos de Ourique começam os azares, o Pedro fura, mas dada a proximidade, insiste em dar apenas um pouco de ar, e continuarmos, 200m adiante, o Luís cai, paragem forçada, enquanto uns tratam do corpo, outros tratam do equipamento, feitas as devidas reparações, continuamos para pouco depois chegarmos a Ourique à residencial onde iría-mos pernoitar.
Após uma recepção calorosa por parte do dono da residencial, e de acomodar-mos as nossas “princesas” devidamente, era altura de um duche, e um pouco de descanso até ao jantar.
O meu colega de quarto era o Ricardo Mendes, um porreiraço que eu muito admiro, talvez alguns de vós o conheçam dado algumas aventuras que ele tem feito, tais como o Trans-Atlas, o Caminho Francês de Santiago, entre outras, imperava portanto um ambiente descontraído e bastante animado.
Enquanto alguns aproveitavam para descansar nós fomos ter com o Azedo, acabámos por curtir umas fotos tiradas no ultimo reconhecimento do percurso, e informações acerca da zona e da etapa do dia seguinte.
Seguimos todos para o jantar, apesar do esforço físico, apresentava-se um grupo de pessoas bem dispostas, entre pessoal da logística e família de alguns participantes o pessoal ia conversando enquanto aguardávamos a comida.
A acompanhar a sobremesa algumas informações acerca da etapa do dia seguinte, sempre seguidas de uma tradução para inglês para que a Amanda não perdesse um único pormenor. “Tomorrow will be more difficult” disse o Azedo, a Amanda vacilou, e acabou por julgar que o Azedo estava na brincar como mais tarde nos confessou.
De regresso à residencial, aproveitamos para fazer algumas afinações e lubrificações nas biclas para o dia seguinte.
Logo de seguida, “xixi, e cama” que amanhã é dia de acordar cedo e o corpo precisa de descanso.
Enquanto o meu amigo Ricardo manda uns “roncos” muito esporádicos (não estou a ser irónico!) eu como demoro sempre a adormecer, revejo o dia de hoje na minha cabeça, e curto o quão embrenhado estou no espirito disto...
24 de Abril
Alvorada, 7:05
Mais um dia para dar ao pedal.
Depois do pequeno almoço em Ourique rolamos alguns km por uma estrada de alcatrão degradada e pouco usada, para depois seguirmos em direcção ao mar.
Passamos pela barragem do Monte da Rocha, e por aqui, à medida que vamos avançando vemos a mudança do terreno e vegetação, para trás ficam as imensas planícies e a pouca vegetação, à nossa frente, a Serra de Odemira, sem duvida o meu local de eleição de toda a travessia, uma vegetação densa, muita verdura e um sítio lindíssimo e espectacular, que nos dá a impressão de ser assim desde sempre, tanto é que como dizia o Azedo, só ali faltava aparecer um dinossauro.
Estamos cada vez mais embrenhados na serra, as subidas começam a apertar, e as lacunas de capacidade física de alguns participantes fazem-se sentir, mas como não estamos me nenhuma prova, se não vai montado, vai a pé.
A serra tenta demover-nos do nosso objectivo, surgem as subidas aos S de vários km, ao estilo das serras algarvias, os meus olhos alternam entre a roda da frente e a barragem de Santa Clara que consigo avistar à minha esquerda, não vale a pena olhar para cima.
Alcançamos uma povoação perdida no tempo e no espaço nesta Serra de Odemira, Cortes Pereiras, o Azedo está eufórico, decerto pelo que viveu no reconhecimento, agarrou-se à placa que dá a indicação da localidade.
Quem muito sobe, muito desce, descemos a todo o gás por uma imensa estrada de alcatrão sem transito algum, recordo-me que a inclinação era acentuada e estava sinalizada, só não me recordo da percentagem, ao fundo avista-se o ponto mais alto do Algarve, a Foia! Altura de abandonar o alcatrão, para entrarmos em singletracks que nos irão levar até Santa-Clara-a-Velha, à nossa espera está a Wanda com a carrinha e os morfes todos
Depois de encher a barriga, de gelados, e um pouco de repouso à sombra, equacionamos e hipótese de irmos a uma fonte nesta localidade fazer o nosso reabastecimento de água, poderíamos fazê-lo com os garrafões de água que estão na carrinha de apoio, mas temos tempo e se a sinalização diz “Visite a Fonte” é porque decerto vale a pena, fazemos então um pequeno desvio para ir à fonte buscar o tão precioso liquido.
A fonte faz as delicias de toda a gente, um caminho de pedra tipo romano, leva-nos a um local paradisíaco bem verde e fresco.
O Azedo parece uma criança, está deslumbrado com a fonte, tem uma bomba mecânica para puxar a água e tudo, junto à fonte temos a oportunidade de trocar algumas palavras com o senhor Zé, um jovem da terra que nos conta alguma história e nos enriquece pessoalmente, eu ainda estou em delírio com a fonte!
A vontade não é muita, sobretudo neste local magnifico, mas temos de continuar caminho, voltamos para trás, para deixarmos Santa-Clara-a-Velha, em direcção a S. Teotónio, uma saudação aos jovens que por ali descansavam à sombra e aí vamos nós.
Avizinha-se uma imensa subida, bolas, depois de almoço, e bem refastelados não apetecia mesmo nada, descemos para termos por companhia o rio Mira, a tarde está quente, e enquanto os outros participantes fazem uma passagem tranquila pelo rio, o Azedo, para não variar, vai a todo o gás e encharca-se até aos cabelos, eu aproveitei, deixei a maquina com o Ricardo e voltei a atravessar o rio e a encharcar-me também, o Ricardo ri-se, “têm pouca pancada têm” diz ele.
Seguimos caminho e voltamos a entrar em serra, mais subidas e mais descidas, e uma má noticia, o caminho está lavrado, não é ciclavel, mas isso não significa que não o façamos a pé e cheguemos ao nosso objectivo, de cima de este serro lavrado, sou brindado por uma vista espectacular, de um lado uma paisagem completamente distinta da do lado oposto.
Subidas e mais subidas, o João já praguejava, a Amanda vinha calada mas no seu rosto notava-se o cansaço bem como o Pedro, o Luís vinha-se aguentando à bronca, tal como eu o Azedo e o Ricardo.
Atingimos um planalto rolante, já se sentia o ar húmido do mar, estávamos em S. Teotónio, daqui à Zambujeira do Mar era um pulinho, a estrada de alcatrão sem grandes desníveis parece que deu um imenso ânimo ao pessoal, vamos a rolar a velocidades bastante consideráveis, nem parece que já fizeram 90km e que ainda há pouco praguejavam.
Chegamos ao nosso objectivo, Zambujeira do Mar, existe imensa gente na rua, descemos até à praia, e enquanto o pessoal deixa as bikes no pequeno parque de estacionamento da praia, eu e o Azedo vamos até ao mar a pedalar.
A emoção é muita, e a sensação inexplicável, nunca antes havia tido um sentimento de glória e objectivo alcançado tão forte.
O sol vai caindo sobre o mar, está na altura de arrumar as coisas na carrinha, entre uns pratos de caracóis, saladas de polvo, tostas e bebidas, fazemos a nossa despedida desta aventura.
Fica o sentimento de frustração para o Azedo, que queria um terceiro dia com a etapa de Odeceixe a Sagres, talvez para o ano.
A mim fica-me este doce com sabor a travessia e a compreensão dos fascínio de todos os que participam em grandes travessias.
(A quem teve a paxorra de ler este testamento, obrigado)
Até breve.
Luís Silva
A foto de grupo, O Ricardo, o João, eu, o Azedo, a Amanda e o Pedro.
O monstro da seara verde! :lol:
O ataque à padaria.
Novo modelo de travões de disco.
O Ricardo, o pão de quilo, e o salpicão.
O grupo, ao jantar
Mecanica matinal :wink:
O briefing.
"Méé"
Não, não tinhamos de subir aquilo!!
Heyna pa, tanto engº.
Isto vai lá é...
... à paulada...
e é que foi mesmo!
Pessoal do Dirt, Urban e FR, querem saber onde é o spot ? :lol: