Aqui vai o meu habitual rescaldo.
Como soube da maratona um pouco em cima da hora, já foi mesmo no limite que efectuei a inscrição. No entanto, por um erro de emails a confirmação acabou por só chegar correctamente à organização a 3 dias da maratona o que, no entanto, não me impediu de participar.
Apesar das referências à primeira maratona serem escassas e até pouco abonatórias na questão das fitas, acabei por arriscar participar. "Que mais não seja, pelo jersey", pensei.
Mas senti que foi mesmo um tiro no escuro já que o site da organização era bastante simples e a informação apesar de tudo, espartana.
Pessoalmente não faço cavalos de batalha com a questão dos tracks GPS e portanto a existência da altimetria e do acumulado já chega para ver o que me espera, e no caso, estavam presentes no site.
No dia da maratona:
Como conheço minimamente a Trofa não foi complicado chegar de Ermesinde até lá, por Folgosa.
Cheguei por volta das 8 e pouco e já havia alguns carros a descarregar ciclistas e bicicletas no largo da feira. No entanto como sabia que os banhos eram na escola EB 2.3. optei por fazer uma pequena paragem só para levantar o kit de frontal e depois estacionei o carro no parque da escola, para evitar ter de o conduzir quando voltasse, certamente todo enlameado dada a chuva dos dias anteriores.
O levantamento do frontal foi rápido e eficaz. Surpreendeu-me no entanto a falta de senha ou outra forma de controlo para o almoço. Quando questionei se não faltava a senha para almoço, responderam-me que não. Era só chegar, sentar e comer. É estranho, mas se a organização assim quer, por mim não haveria problema.
No saco, além do esperado frontal, estava um bidão (útil!), um par de canetas, um panfleto e o jersey da fullwear, com qualidade bastante aceitável. Pessoalmente apesar de não adorar a decoração, prefiro este ao do Luso Galaico, por exemplo.
O núcleo da organização estava concentrado num autocarro modificado, que se torna excelente para este tipo de situações, especialmente porque caso estivesse a chover, quem estava à espera do frontal (espera inexistente diga-se de passagem) pelo menos estava abrigado.
Tudo pronto, e partida dada com um ligeiro atraso, o que seria sempre de evitar.
Primeiras centenas de metros para saudar a população e rapidamente estávamos na periferia da cidade já em bom ritmo.
Aliás toda a primeira parte da maratona foi feita a uma média muito alta, o que acabou por se reflectir mais perto do final, onde muita gente quebrou.
Muito sinceramente, os primeiros quilómetros não me entusiasmaram muito, excepção feita ás primeiras subidas a sério e respectivas descidas. Talvez por ainda não ter encontrado o meu ritmo, fosse um pouco mais aborrecido e não tenha prestado grande atenção ao restante envolvente.
Nota positiva para a presença de bastantes elementos da organização nos cruzamentos e zonas mais complicadas. Havia também distribuição abundante de água, no entanto, para minha surpresa, na parte em que mais seria necessária, depois do abastecimento único, não voltei a encontrar ninguém a distribuir. Pessoalmente penso que inverter o enfoque da distribuição para a parte final seria mais correcto, especialmente se estivesse bastante calor.
Mas não esteve e por isso havia imensas poças de água, alguma lama, pedras molhadas e perigosas e ribeiras cheias. Se dos primeiros obstáculos nos podemos desviar, já das duas atravessadelas da ribeira não nos livramos.
E caríssimos companheiros... Nem quero sequer imaginar a quantidade de agentes patogénicos que corriam naquelas águas. O cheiro era completamente nauseabundo e como as passagens eram relativamente profundas, foi impossível não ficar completamente ensopado naquele caldo fétido.
Passei os restantes quilómetros a desejar ter ali um chuveiro para rapidamente retirar aquela "água" do contacto com a minha pele. O resultado foi o esperado, e apareceram meia dúzia de borbulhas, já habituais nas maratonas que passam em terrenos com elevado teor de descargas de dejectos animais.
Se a organização não pode controlar a qualidade da água (nem isso seria de esperar, como é obvio!) poderia poupar os atletas a essas passagens. Nem num dia de calor seria agradável ali passar...
Voltando aos trilhos, cada vez ser tornavam mais interessantes à medida que a maratona rodava para o lado oriental da cidade.
As marcações estavam aceitáveis. Pessoalmente senti falta de algumas fitas mas como no enfiamento do caminho se conseguia vislumbrar outra mais à frente, acabava por não perder muito tempo com dúvidas. No entanto será conveniente reforçar o número de fitas imediatamente depois das viragens para confirmar que aquele é mesmo o caminho certo. E ninguém espera ficar sem ver uma única fita durante 1 quilómetro, como sugeriu o speaker na partida.
Quanto aos atalhanços, e desculpem a utilização recorrente do exemplo já aqui dado, mas como referência não há muito que enganar neste caso: Também eu fiquei deveras surpreendido quando, depois de 20 quilómetros a rolar bem forte, apanho o casal de BTTistas que sabia estarem atrás de mim na partida e que rolava a um ritmo tranquilo. E ainda fiquei a matutar umas centenas de metros naquilo, até que me surgiu a teoria mais provável de algum engano que tenha dado na supressão de alguma parte do percurso.
Naturalmente não creio que o atalhanço tenha sido com objectivos classificativos, até porque acredito que o espírito da sua presença na maratona tenha sido outro, o do passar uma divertida manhã de BTT e pela descontracção, certamente o objectivo estava a ser cumprido. Daí que o exemplo aqui não seja com o intuito de apontar o dedo acusador, mas apenas porque serviram de ponto de referência.
Agora o que não posso concordar é com o argumento de que como os três primeiros não atalharam e só havia prémio para esses, o resto não importa. Primeiro por uma questão de igualdade. Todos estamos sujeitos às mesmas regras e portanto sabe bem chegar ao final e saber que a nossa classificação foi aquela porque quem ficou acima andou a mesma distância mas teve pernas para a fazer mais depressa, e quem ficou abaixo, ficou porque demorou mais tempo a fazer o mesmíssimo percurso.
Aliás, mesmo no grupo da frente havia algumas pessoas descontentes porque se aperceberam que existia a possibilidade de atalhar e isso cria um clima de suspeição que não beneficia ninguém. Mais ainda, rolei junto de um grupo em que um dos elementos inocentemente alertava os restantes para que quisesse chegava rapidamente ao final. Palavras completamente inconsequentes, mas que revelam que de facto é possível a quem conhece contornar partes do percurso em favor próprio.
Quem atalhou involuntariamente só terá de se dirigir portanto à organização, alertar para esse facto e pedir para considerarem a classificação nula. Será o mínimo, digo eu. Quem atalhou voluntariamente, obviamente é de uma pobreza de espírito inqualificável e portanto como certamente se estará a marimbar para estas questões da consciência e do desportivismo, cala-se que nem um rato e vai aceitando as palmadinhas nas costas dos amigos porque "estás a andar de caraças pá!".
Voltemos aos trilhos. Já conhecia a passagem superior na linha do comboio, e acho um piadão inclui-la numa maratona como elemento de diferença. Logo ali estava o abastecimento. Não parei mas pareceu-me ter o suficiente, sem ser extraordinário.
Mais trilho e o quebra pernas do final onde finalmente, a partir do quilómetro 30 encontrei o meu ritmo e consegui recuperar bastantes posições não tendo deixando de ficar surpreendido por apanhar pessoal que ia a abrir pouco antes. Aqui o percurso começou a agradar mais e as zonas divertidas sucediam-se. Uma nota altíssima por isso para a grande descida perto do final e que convidava a exceder todos os limites de velocidade!
Uns singles catitas mesmo a acabar e o último troço na desactivada linha de comboio, onde a suspensão traseira da Cannondale teve um papel de destaque permitindo rolar a uma velocidade muito boa sem me sacudir como se estivesse dentro de uma máquina de lavar roupa.
Uma palavra adicional ao speedmoreira já que, mais uma vez fui de muito poucas palavras e portanto deve ter mais uma vez ficado a achar que eu sou um malcriado pretensioso. Como já disse antes, o esforço de rebocar este mamífero de 90 quilos montanha acima, reduz-me a capacidade de socialização!
Nota também para os 2 companheiros que fizeram comigo os quilómetros finais numa sucessão de "ora ultrapasso eu, ora ultrapassas tu" e que deram uma animação extra ao final da maratona. Competição salutar no seu melhor.
Chegada tranquila e controlada, registo de tempo e fui directo para a EB 2.3. Acabei por não lavar a bicicleta, mas a lavagem pareceu-me rápida, sem grande espera, pelo que percebi quando voltei do banho.
Condições ideais para o banho, água quente e pouquíssima gente. Soube bem para tirar todo aquele lodo pestilento de cima de mim...
O almoço era logo ali e estava minimamente composto. A feijoada estava boa, embora seja um convite descarado à sesta depois do almoço! Laranjinhas caseiras de sobremesa, bem saborosas. Não provei o vinho. Provei o sumo... e acabei por beber água!
Em suma:
Na categoria das maratonas "de cidade", a maratona da Trofa está a par com outras propostas interessantes e acima do mínimo que exijo numa maratona destas. A oferta do jersey é uma mais valia, pelo menos para mim, pelo que está aqui a prova de que com 15 euros é possível oferecer o pack completo numa maratona de BTT. Espero por isso que para o ano não caiam no erro da School Eventos que aumentou 5 euros ao preço da inscrição do Bike Camp dos 15 euros da edição do ano passado para 20 euros este ano.
Com o limar de algumas arestas e sobretudo com o tomar de medidas eficazes contra as questões duvidosas na classificação, esta maratona terá certamente suporte para crescer nos próximos anos em qualidade e em número de participantes, sempre com o objectivo da qualidade e não da quantidade. Aliás, um pequeno número de participantes é um óptimo laboratório para pequenas inovações que podem marcar a diferença.
Por isso, acredito que no próximo ano estarei novamente na Trofa para a terceira maratona da cidade.
Até lá, boas pedaladas e não se esqueçam das fitas!
Resultado final: 21º classificado (pelo menos...)