José Carlos
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Re: [Rescaldo]19º Troia-Sagres......13 Dezembro '08
Vivam todos,
Nem sei por onde começar....
Em todos os anos que ando de bicicleta, nunca tinha visto nada assim!
Já apanhei muita chuva, lama, vento, frio.... mas na serra as coisas são um pouco diferentes.
Anda-se sempre um pouco mais abrigado ou não sei o que é, mas como hoje.... :shock:
O meu Troia-Sagres este ano estava previsto desde início ser só "meia-dose" já que tinha combinado
levar a carrinha de apoio da Ciclonatur uma pare do percurso, permitindo assim à pessoa que todos os anos
tem essa inglória tarefa, a possibilidade de acompanhar o António Malvar.
Ainda não eram 07:30h quando nos dirigíamos para Troia e vimos passar os primeiros aventureiros
na Comporta. Só até Troia contámos 160 ! :shock:
Por esta altura ainda não chovia, e deve ter sido a única altura durante todo o dia
em que isso aconteceu, até por volta das 08:30h.
Depois, enquanto o António e a Berta se equipavam, foi vê-los passar. Grupos de 4, 6, 10, 12.... eram aos molhos!
Fiquei na zona da partida a apontar no telemóvel o nº de participantes de cada grupo até perto da 09:00h
e qual foi o meu espanto quando mais tarde somei tudo... deu 486 participantes.
Mal arranco, passa por mim um autocarro do grupo Carris com um atrelado atrás com mais de 20 ciclistas....
Ainda voltei para trás para os contar, mas foram em frente para Troia e eu precisava de seguir,
mas com estas informações posso afirmar seguramente que este ano partiram de Troia mais de 500 participantes!
À medida que fui avançando e passando os grupos que tinham saído depois das 8, reparei que as caras do pessoal
já mostravam algum desânimo e a chuva que entretanto tinha começado a cair bem, estava a começar a fazer estragos.
Como tínhamos deixado para mais tarde a decisão de onde se efectuaria a troca de condutores, fui andado
passava o meu grupo, parava, tirava umas fotos, avançava novamente e a história repetia-se.
Uma chamada de atenção que todos os anos se repete, é para as pessoas que vão de carro a acompanhar os grupos
não se colocarem imediatamente atrás dos ciclistas.
Assisti a muitos "engarrafamentos" onde estavam alguns condutores que não tinham nada a ver com o passeio
e a situações de outros grupos mais rápidos que tinham que pedalar na faixa contrária durante imenso tempo
para passar os carros e os ciclistas que iam à frente. Depois o carro de apoio desse segundo grupo, tinha que se enfiar
em algum sítio e normalmente era a apertar os outros ciclistas.
Perto de Santo André, apanho novamente os meus "apoiados" e depois de uma breve paragem para tirarem um gel
e umas barras do bolso, percebi que as coisas não estavam a correr nada bem e que os pneus smi-slick 1.95 da bicicleta da Berta
não tinham sido a melhor opção e o passo demasiado lento que levavam estavam a deixar o António,
que já partiu com uma bela "carraspana", completamente gelado.
Decidimos aí que em S. Torpes trocava-mos de posições, o que era demasiado cedo para mim que apenas queria fazer uns 80 ou 90 Km's.
Avancei para o local da 1ª paragem, em frente à termo-eléctrica, equipei-me e fiquei à espera deles (o que levou mais de uma hora)
para começar o meu calvário.
Por esta altura a chuva aumentava de intensidade e praticamente todos os que ali chegavam a esta hora (12:30h prox)
metiam-se nos carros e davam a volta ao barco (literalmente).
Confesso que já fiz muita maluqueira de sair à chuva, andar na Serra da Estrela no pior fim-de-semana dos
últimos 500 anos :mrgreen: , ir para o trabalho ás 7 da manhã com -2 graus, etc....
mas pegar na bicicleta em S. Torpes hoje, por volta do meio-dia debaixo de uma autêntica tempestade,
deve ter batido todos os records. :roll:
Como muitos de vós, não me importo de estar a andar e começar a chover, mas pegar na bicicleta debaixo de uma
tempestade como estava naquele momento..... :roll: doh
Assim que o A.M. comeu uma sandocha arrancámos, e eu pensei sempre que como estava a arrancar "a frio"
ia levar uma coça dele mas se eu estava a arrancar a frio, ele estava a arrancar a ... congelado.
Seguimos devagar sempre a aliviar quando o vento soprava de frente para não gastar energias desnecessárias,
e até fizemos uma boa média (25 k/h) nos primeiros 20 ou 30 km's.
Depois vieram as cãimbras e em S. Teotónio o A.M. dava sinais de grande dificuldade.
Estava gelado, doía-lhe o peito quando respirava e não conseguia pedalar.
Ainda se convenceu a ir beber um chá quentinho ao Rogil, mas antes da subida de Odeceixe encostou!
Pela 1ª vez em 19 anos, o Homem que deu início, sozinho, a um "movimento" sem igual no panorama
das bicicletas no nosso país, não cumpriu o seu objectivo.
Eu, ao escrever estas linhas e recordar a expressão na sua cara, fico triste (e sei que ele também ficou) e lembro-me das suas palavras:
"Quando fiz 40 anos, o que aqui entre nós, não foi assim há tanto tempo, estabeleci para mim próprio um teste anual
para contrariar a sensação de velho que minhas filhas já adultas me faziam sentir." A.M..
Apenas posso acrescentar que estou certo que ainda vai realizar muitos mais Troia-Sagres! :wink:
Quanto a mim, segui em direcção ao Rogil apanhando pelo caminho um grupo de velhos amigos, com os quais já tive o prazer
de pedalar por varias vezes, seja em Sintra, nos passeios da Ciclonatur ou até num Troia-Sagres ao qual me "colei"
e lá fomos numa amena cavaqueira.
Depois da demasiado longa espera pela tosta-mista do Café do Rogil a questão que se colocava era se seguia com este
grupo até Sagres, ou se me metia na carrinha e voltava-mos para trás logo ali.
O problema era que o relógio marcava 15:45h e até Sagres, com aquelas condições íamos demorar seguramente
mais de duas horas, o que significava que passávamos a pertencer à classe "maluquinhos que acabam o Troia-Sagres completamente de noite"
Convencidos os outros ocupantes das viaturas a irem até ao final a 20 km's hora (nas descidas) para nos iluminarem o caminho e protegerem
dos outros automóveis, quem tinha luzes montou-as, e lá seguimos.
Esta história que já vai demasiado longa, principalmente porque são 02:30h da matina, podia acabar já aqui, não fosse a melhor parte vir agora.
Meninos, vou-vos contar uma coisa.... até à Carrapateira a coisa ainda se papou, mas fazer aquela subida de 9 km's, com o pessoal a começar a quebrar,
a chuva era tanta, tanta, tanta.... que por momentos pensei que estava ali ao lado na praia do Amado a dar uma surfada.
O vento dobrava as árvores de tal forma que estava a ver quando é que um eucalipto aqueles fininhos me mandava uma vergastada na tromba.
Entretanto fez-se noite cerrada.... os carros que passavam por nós abrandavam e a cara das pessoas lá dentro era de horror!!!
Resumindo.... há muito tempo que não me divertia tanto na minha vida!!
À memória vieram os dias de menino, que só a bicicleta nos pode trazer de volta, em que, mesmo sabendo do puxão de orelhas (ou outras coisas)
que iríamos levar ao chegar a casa, nos enfiávamos dentro das poças de água e apanhávamos aquelas molhas descomunais com direito a constipação
nos dias seguintes e no meu caso a ser o brigado a ir à escola na mesma que "era para aprender a não andar à chuva".
Foi assim até Sagres com a benesse do vento ter virado e amainado um pouco e de vez em quando dar uma ajudinha.
Tudo isto não se tornou um pesadelo porque felizmente a escolha do equipamento se revelou
perfeita para as condições. Casacos, luvas e impermeáveis de boa qualidade foram essenciais.
Um grande obrigado ao António Malvar por ter tido esta brilhante ideia e por hoje, me ter proporcionado mais um dia de felicidade,
e aos companheiros dos últimos Km's.
Para o ano o Troia-Sagres faz 20 anos e irá haver surpresas, se tudo correr bem.
Desculpem a seca, mas só leram porque quiseram... :lol:
Abraços e boas pedaladas, molhadas!
JC
Vivam todos,
Nem sei por onde começar....
Em todos os anos que ando de bicicleta, nunca tinha visto nada assim!
Já apanhei muita chuva, lama, vento, frio.... mas na serra as coisas são um pouco diferentes.
Anda-se sempre um pouco mais abrigado ou não sei o que é, mas como hoje.... :shock:
O meu Troia-Sagres este ano estava previsto desde início ser só "meia-dose" já que tinha combinado
levar a carrinha de apoio da Ciclonatur uma pare do percurso, permitindo assim à pessoa que todos os anos
tem essa inglória tarefa, a possibilidade de acompanhar o António Malvar.
Ainda não eram 07:30h quando nos dirigíamos para Troia e vimos passar os primeiros aventureiros
na Comporta. Só até Troia contámos 160 ! :shock:
Por esta altura ainda não chovia, e deve ter sido a única altura durante todo o dia
em que isso aconteceu, até por volta das 08:30h.
Depois, enquanto o António e a Berta se equipavam, foi vê-los passar. Grupos de 4, 6, 10, 12.... eram aos molhos!
Fiquei na zona da partida a apontar no telemóvel o nº de participantes de cada grupo até perto da 09:00h
e qual foi o meu espanto quando mais tarde somei tudo... deu 486 participantes.
Mal arranco, passa por mim um autocarro do grupo Carris com um atrelado atrás com mais de 20 ciclistas....
Ainda voltei para trás para os contar, mas foram em frente para Troia e eu precisava de seguir,
mas com estas informações posso afirmar seguramente que este ano partiram de Troia mais de 500 participantes!
À medida que fui avançando e passando os grupos que tinham saído depois das 8, reparei que as caras do pessoal
já mostravam algum desânimo e a chuva que entretanto tinha começado a cair bem, estava a começar a fazer estragos.
Como tínhamos deixado para mais tarde a decisão de onde se efectuaria a troca de condutores, fui andado
passava o meu grupo, parava, tirava umas fotos, avançava novamente e a história repetia-se.
Uma chamada de atenção que todos os anos se repete, é para as pessoas que vão de carro a acompanhar os grupos
não se colocarem imediatamente atrás dos ciclistas.
Assisti a muitos "engarrafamentos" onde estavam alguns condutores que não tinham nada a ver com o passeio
e a situações de outros grupos mais rápidos que tinham que pedalar na faixa contrária durante imenso tempo
para passar os carros e os ciclistas que iam à frente. Depois o carro de apoio desse segundo grupo, tinha que se enfiar
em algum sítio e normalmente era a apertar os outros ciclistas.
Perto de Santo André, apanho novamente os meus "apoiados" e depois de uma breve paragem para tirarem um gel
e umas barras do bolso, percebi que as coisas não estavam a correr nada bem e que os pneus smi-slick 1.95 da bicicleta da Berta
não tinham sido a melhor opção e o passo demasiado lento que levavam estavam a deixar o António,
que já partiu com uma bela "carraspana", completamente gelado.
Decidimos aí que em S. Torpes trocava-mos de posições, o que era demasiado cedo para mim que apenas queria fazer uns 80 ou 90 Km's.
Avancei para o local da 1ª paragem, em frente à termo-eléctrica, equipei-me e fiquei à espera deles (o que levou mais de uma hora)
para começar o meu calvário.
Por esta altura a chuva aumentava de intensidade e praticamente todos os que ali chegavam a esta hora (12:30h prox)
metiam-se nos carros e davam a volta ao barco (literalmente).
Confesso que já fiz muita maluqueira de sair à chuva, andar na Serra da Estrela no pior fim-de-semana dos
últimos 500 anos :mrgreen: , ir para o trabalho ás 7 da manhã com -2 graus, etc....
mas pegar na bicicleta em S. Torpes hoje, por volta do meio-dia debaixo de uma autêntica tempestade,
deve ter batido todos os records. :roll:
Como muitos de vós, não me importo de estar a andar e começar a chover, mas pegar na bicicleta debaixo de uma
tempestade como estava naquele momento..... :roll: doh
Assim que o A.M. comeu uma sandocha arrancámos, e eu pensei sempre que como estava a arrancar "a frio"
ia levar uma coça dele mas se eu estava a arrancar a frio, ele estava a arrancar a ... congelado.
Seguimos devagar sempre a aliviar quando o vento soprava de frente para não gastar energias desnecessárias,
e até fizemos uma boa média (25 k/h) nos primeiros 20 ou 30 km's.
Depois vieram as cãimbras e em S. Teotónio o A.M. dava sinais de grande dificuldade.
Estava gelado, doía-lhe o peito quando respirava e não conseguia pedalar.
Ainda se convenceu a ir beber um chá quentinho ao Rogil, mas antes da subida de Odeceixe encostou!
Pela 1ª vez em 19 anos, o Homem que deu início, sozinho, a um "movimento" sem igual no panorama
das bicicletas no nosso país, não cumpriu o seu objectivo.
Eu, ao escrever estas linhas e recordar a expressão na sua cara, fico triste (e sei que ele também ficou) e lembro-me das suas palavras:
"Quando fiz 40 anos, o que aqui entre nós, não foi assim há tanto tempo, estabeleci para mim próprio um teste anual
para contrariar a sensação de velho que minhas filhas já adultas me faziam sentir." A.M..
Apenas posso acrescentar que estou certo que ainda vai realizar muitos mais Troia-Sagres! :wink:
Quanto a mim, segui em direcção ao Rogil apanhando pelo caminho um grupo de velhos amigos, com os quais já tive o prazer
de pedalar por varias vezes, seja em Sintra, nos passeios da Ciclonatur ou até num Troia-Sagres ao qual me "colei"
e lá fomos numa amena cavaqueira.
Depois da demasiado longa espera pela tosta-mista do Café do Rogil a questão que se colocava era se seguia com este
grupo até Sagres, ou se me metia na carrinha e voltava-mos para trás logo ali.
O problema era que o relógio marcava 15:45h e até Sagres, com aquelas condições íamos demorar seguramente
mais de duas horas, o que significava que passávamos a pertencer à classe "maluquinhos que acabam o Troia-Sagres completamente de noite"
Convencidos os outros ocupantes das viaturas a irem até ao final a 20 km's hora (nas descidas) para nos iluminarem o caminho e protegerem
dos outros automóveis, quem tinha luzes montou-as, e lá seguimos.
Esta história que já vai demasiado longa, principalmente porque são 02:30h da matina, podia acabar já aqui, não fosse a melhor parte vir agora.
Meninos, vou-vos contar uma coisa.... até à Carrapateira a coisa ainda se papou, mas fazer aquela subida de 9 km's, com o pessoal a começar a quebrar,
a chuva era tanta, tanta, tanta.... que por momentos pensei que estava ali ao lado na praia do Amado a dar uma surfada.
O vento dobrava as árvores de tal forma que estava a ver quando é que um eucalipto aqueles fininhos me mandava uma vergastada na tromba.
Entretanto fez-se noite cerrada.... os carros que passavam por nós abrandavam e a cara das pessoas lá dentro era de horror!!!
Resumindo.... há muito tempo que não me divertia tanto na minha vida!!
À memória vieram os dias de menino, que só a bicicleta nos pode trazer de volta, em que, mesmo sabendo do puxão de orelhas (ou outras coisas)
que iríamos levar ao chegar a casa, nos enfiávamos dentro das poças de água e apanhávamos aquelas molhas descomunais com direito a constipação
nos dias seguintes e no meu caso a ser o brigado a ir à escola na mesma que "era para aprender a não andar à chuva".
Foi assim até Sagres com a benesse do vento ter virado e amainado um pouco e de vez em quando dar uma ajudinha.
Tudo isto não se tornou um pesadelo porque felizmente a escolha do equipamento se revelou
perfeita para as condições. Casacos, luvas e impermeáveis de boa qualidade foram essenciais.
Um grande obrigado ao António Malvar por ter tido esta brilhante ideia e por hoje, me ter proporcionado mais um dia de felicidade,
e aos companheiros dos últimos Km's.
Para o ano o Troia-Sagres faz 20 anos e irá haver surpresas, se tudo correr bem.
Desculpem a seca, mas só leram porque quiseram... :lol:
Abraços e boas pedaladas, molhadas!
JC