Outra parte de outra história!
A MÚSICA associada: " Woman " - John Lennon
Amélia, 13 anos, estudante
A Amélia passava muito tempo no seu quarto, entre o conforto dos cobertores, o desassossego da sua vida de estudante, que lhe impunham como prioritária, e a simples ocupação de jovem. Adorava, ou curtia, como gostava mais de dizer, permanecer de papo para o ar, as persianas corridas e a luz desligada, como se tivesse feito o clique no interruptor da vida e entrasse na lentidão dos sonhos.
O desassossego tinha momentos de verdadeira estupidez, não por si que pensava na razão da vida de uma estudante, mas porque a obrigavam a viver entre os seus treze anos, demasiado velha para frequentar o sétimo ano e, demasiado nova para frequentar o oitavo! Vamos lá entender o estado das coisas dos adultos, sem pensar em quem tem que levar com as suas ideias feitas, comprovadas pelos anos que têm, dizem eles, e pela carapaça com que se defendem.
A principal dificuldade na escola era conviver com estas ideias e a Língua Portuguesa, onde a faziam prisioneira de Classes de Palavras, Verbos Transitivos e Graus de Adjectivos, de Nomes e de coisas que lhe permitiam decorar a Gramática mas não falar bem, nem pensar bem. Não havia dia em que não se lembrasse da história que o Professor António lhe contara, de um tal Japonês que veio estudar Francês para Paris, para a Sorbonne e do seu colega iletrado que, como bom funcionário numa grande empresa de construção de automóveis, estava na Cidade-Luz a ajudar no desenvolvimento de um carro de fórmula um, com motor japonês e, passados seis meses, falava com a fluência que o seu compatriota nunca conseguira, ao longo dos seis anos de estudos universitários, dominando as páginas de tudo o que fosse teoria e regras.
Quando se encontravam nas ruelas de Paris, era Sakamoto, o mecânico, quem pedia as batatas fritas e os croquetes, acompanhados de vinho tinto de Bordéus, que nunca haviam provado na sua Tóquio natal. Fujirama sabia era chamar-lhe à atenção do tempo verbal que utilizava, ou do género gramatical, quando pedia, de forma hilariante, “Quelia um bife com um batatas e mostalda…”. Logo, num repente o alertava: “ Quelo um bife com umas batatas…!”
Mas, nos dias em que Sakamoto ia só, comia mesmo um bife e uma batatas, sem que isso incomodasse Pierre, o empregado que, sorria, mas entendia!
Fujirama, o frequentador da universidade, nas longas tardes, a fugir para a noite, em que o colega ficava a ouvir o ronco medonho dos motores, afinando a máquina para vencer nas pistas, jantava nos fast-food, único local onde se apontava para a ementa e se abanava a cabeça afirmativamente, dois minutos antes de lhe entregarem o tabuleiro onde, invariavelmente picava umas batatas enquanto pagava na caixa.
Continua…