A minha primeira BTT foi um Órbita completamente rígida, e que servia para umas voltas de BTT aceitáveis, mas tirando umas mudanças boas que tinha (Shimano Exage) o resto era mau demais - quadro grande para mim, com uma geometria péssima, uma garfo direito e grosso que não absorvia nada...
Em 96, comprei uma GT Tequesta em cromoly, tb sem qualquer suspensão, mas anos luz melhor - fazia tudo o que o pessoal com suspensão fazia, mas os braços levavam uma sova valente, verdade seja dita.
Só em 99 montei outra bicicleta com um quadro Avalanche com pouco mais de kilo e meio, já com um garfo Marzocchi Z3 Light de 70mm. Ainda me lembro do feeling nas primeiras voltas, de ter o pneu da frente furado
A diferença foi tão notória como da Órbita para a primeira GT.
Em 2001, comprei a Santa Cruz Superlight (FS). Sem dúvida uma máquina fantástica, que mantive durante 13 anos. A descer era fantástica, e subir não desiludia... enfim, mesmo sem lockout, a geometria permitia que o comportamento da mesma fosse muito bom em todas as situações.
Mas... com o passar do anos, havia cada vez mais qualquer coisa que me deixava uma pulga atrás da orelha. Não tinha a ver com o comportamento dela, mas era outra coisa. Mantive a GT Avalanche durante uns anos, mas não andava nela - era a bicicleta da minha cara metade. Depois acabei por lhe arranjar uma bicicleta mais adequada ao uso que faz, e antes de a vender, há poucos anos atrás, dei umas quantas voltas com ela, e senti isto pela primeira vez. Tenho alguma dificuldade em explicar, mas o que é certo é que só não troquei mais cedo pois nos últimos anos fiz muito menos BTT e era-me difícil justificar fazer qualquer investimento numa bicicleta diferente, principalmente porque a desvalorização da Santa Cruz era enorme. Até que no ano passado me surgiu a oportunidade da Airborne Lancaster, por um valor bem em conta que me permitiu fazer a troca - o resultado é a máquina que tenho hoje.
Um dos motivos que dei para justificar a troca, é que sendo agora mais velho já não me aventuro a descer da mesma maneira que descia nos meus 20-30 anos. Mas depois de já ter dado umas voltas com esta, a verdade é que nem é por aí, pois quando quero continuo a conseguir descer da mesma forma com a Airborne (embora não o faça por opção). Sinto mais o terreno, é verdade, mas não considero isso um problema - antes uma vantagem! Para quem diz que serve para poupar as costas, é porque anda sentado quando não devia - a melhor suspensão para mim são as pernas! Para mim (chamem-me purista) a simplicidade de um quadro rígido, sem pivots, sem qualquer alteração de geometria, dá um gosto especial ao pedalar, que recuperei quando voltei a andar com a Airborne. O tal feeling que senti quando voltei a usar a Avalanche, tenho-o agora com a Airborne.
Sim, em competição certamente uma FS de topo poderá ajudar a ganhar... mas para mim o BTT é mais do que performance, é mais do que rendimento, é mais... é a relação homem-máquina que se estabelece, e nesse campo, a simplicidade de um quadro rígido dá-me um gozo especial, faz com que me preocupe menos com a bicicleta, simplifica a manutenção, enfim... é uma daquelas coisas que talvez saia do campo da racionalidade, mas a verdade é que nós somos seres emotivos, e hoje sinto que a HT me permite tirar mais gozo de uma saída para o mato do que com a FS.
Como disse recentemente noutro post... dependerá não só do uso que cada um faz, mas também daquilo que cada um espera e deseja obter da bicicleta.
(EDIT: ainda me lembro de num passeio em Sintra talvez em 2001 ou 2002, que o Marco Lúcio (que tinha sido campeão nacional de Downhill) estava no grupo, com uma Kona HT com uma suspensão à frente que não teria mais de 80mm, e simplesmente passava pela malta toda literalmente a voar!!!!... Quero com isto dizer que a máquina pode ajudar um pouco, mas as pernas, as mãozinhas e os parafusos a mais ou a menos na cabeça, fazem uma diferença muito maior!)