Ensaio Em Detalhe:
Specialized Enduro Expert
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Valentin
Rider: Oscar Martins
De entre os inúmeros tipos de bicicletas propostos pelos fabricantes, as bicicletas de enduro/all-mountain são daquelas que mais tem sofrido um desenvolvimento tecnológico agressivo e incessante. É algures entre o XC e o DH que fica o mundo destas máquinas. Assumidamente optimizadas para descer de forma agressiva e rápida, estão cada vez mais à vontade nas subidas graças ao uso de componentes cada vez mais ligeiros e geometrias de suspensão varáveis e apuradas. A Specialized Enduro é um dos modelos que desde a sua criação tem estado consistentemente na linha da frente desta vertiginosa evolução. Esta máquina chega a 2011 como uma proposta muito interessante para aqueles que querem extrair o máximo de adrenalina nas descidas mas não dispensam a capacidade de trepar novamente até ao topo da montanha. Levamos uma Specialized Enduro Expert 9v de 2011 para os trilhos para descobrir até onde nos levam os 160 mm desta ambiciosa máquina.
Índice
O quadro da Specialized Enduro abandona por completo qualquer pretensão de seguir o desenho clássico de uma bicicleta de todo o terreno, exibindo em alternativa uma forma complexa constituída por um entrelaçamento de vários elementos estruturais moldados com recurso a técnicas de hydroforming. O triângulo central encontra-se dividido por uma forte barra central, criando uma estrutura reforçada onde apoia o amortecedor. Os tubos empregues na construção são todos de enorme diâmetro e os cordões de soldadura que os unem são longos e largos, características que favorecem a rigidez e resistência.
A decoração deste quadro segue uma linha muito discreta e minimalista, com poucos logótipos. Este quadro é pintado com um tom bronze mate, uma cor muito invulgar mas que parece ter agradado a todos os que contactaram com este quadro. A pintura tem um acabamento ligeiramente rugoso, muito agradável ao toque, ocasionalmente interrompida por pequenos painéis polidos onde a superfície é totalmente lisa. Estas zonas jogam com as reflexões de luz, dando ao quadro um brilho característico quando exposto à luz solar. É um visual diferente que contrasta com as opções de decoração menos discretas que são típicas dos quadros desta gama.
A testa deste quadro segue a já obrigatória construção cónica para garantir elevada rigidez face aos impactos frontais. Embora a maneira mais habitual de produzir este tipo de testa cónica seja maquinando um tubo de grande espessura até à forma cónica final, a Specialized optou por forjar o alumínio para obter esta peça. É certamente uma opção acertada pois esta operação permite não só moldar o material mas também lhe atribui alguma resistência adicional. A metade inferior da caixa de direcção, com o seu enorme rolamento de 1.5 polegadas, encontra-se totalmente integrada dentro desta secção do quadro. Tudo isto contribui para uma testa com um aspecto geral muito limpo.
No zona do pedaleiro encontramos um tradicional interface roscado e a sempre bem-vinda adição de uma placa ISCG para ajudar à montagem de acessórios (a Enduro Expert 9v faz uso desta placa para montar um guia de corrente Gamut). Aqui encontramos também um dos detalhes de construção mais interessantes do quadro, o desvio que o tubo de selim faz antes de chegar ao pedaleiro. Uma grande porção deste tubo encontra-se deslocada uns milímetros para a esquerda relativamente ao plano central da bicicleta. Isto tem o objectivo de libertar espaço para o movimento do desviador da frente, uma vez que este está montado directamente na escora traseira. Os engenheiros da Specialized montam assim o desviador dianteiro de modo a que o mesmo acompanhe de forma fiel os movimentos da suspensão e não seja obrigado a trabalhar com uma corrente que alterna constantemente de posição.
O triângulo traseiro é dominado pelas articulações do sistema FSR e pelas escoras que fazem a ponte entre o triângulo dianteiro e a roda de trás. Para os interessados em perceber melhor esta geometria de suspensão, uma explicação resumida do sistema FSR pode ser encontrada no ensaio que fizemos recentemente à Camber Expert. Os pivots que permitem a articulação da suspensão incluem vários rolamentos selados, todos alojados em cavidades de alumínio reforçadas para suster as forças transmitidas pelos impactos na roda traseira. O balanceiro central é uma peça esculpida de alumínio, com dimensões compactas mas que ainda assim consegue fazer a ligação entre o tubo de selim, as escoras superiores e um tirante que actua o amortecedor. Olhando um pouco mais para trás, verificamos que a ponte que une as duas escoras superiores faz parte de uma robusta peça forjada que inclui as ponteiras das escoras, onde liga o balanceiro central. Na ponte está também discretamente gravado em relevo o nome do modelo, um pormenor que demonstra o nível de controlo absoluto sobre a forma do metal. As ponteiras traseiras do quadro, onde assenta a roda, são de grande espessura e com uma complexa forma tridimensional. Para protecção da escora inferior encontramos montada uma robusta protecção de plástico, específica para este modelo.
Todos estes pormenores construtivos revelam elevada atenção no projecto do quadro, não só no plano mecânico mas também no plano visual. Neste modelo existe um claro esforço para conjugar a função e forma, algo que é especialmente difícil numa máquina tão minimalista como uma bicicleta mas que na nossa opinião parece ter sido conseguido.
[anchor="montagem"]Componentes[/anchor]
O modelo Enduro Expert 9v que aqui testamos é uma versão que não sofreu grandes alterações de 2010 para 2011. Mas ainda assim continua a ser uma proposta muito válida e com uma escolha de componentes de elevada qualidade. A montagem que a Specialized propõe para este modelo é uma mistura equilibrada de componentes de gama média e alta, com escolhas muito adequadas à natureza e carácter desta máquina.
Como habitual, começamos a descrição de componentes a olhar para as suspensões. Na frente do quadro a Specialized monta uma RockShox Lyrik IS 2-step, com curso variável entre os 160 e 140 mm e eixo passante Maxle lite de 20 mm. A controlar o sistema FSR encontramos um amortecedor Fox RP2 com Boost Valve e afinações específicas para a Enduro. Considerações detalhadas sobre o funcionamento das suspensões podem ser encontradas na secção seguinte deste artigo.
A transmissão 2x9 desta máquina é um sortido de componentes de várias marcas e gamas diferentes. O pedaleiro é um Shimano FC-762, com a habitual tecnologia Hollowtech II de rolamentos externos e eixos integrados. É montado com pratos de 22 e 36 dentes e um bashring Gamut em policarbonato. Produzido pela Gamut é também o guia que se encarrega de manter a corrente controlada nas descidas mais agressivas. Como todos os guias de corrente deste tipo é um pouco ruidoso a trabalhar mas rapidamente nos habituamos ao zumbir gerado pela roldana.
A guiar a corrente sobre os dois pratos do pedaleiro encontramos um desviador Shimano da série SLX. Na parte posterior da transmissão temos um Sram X-0 associado a uma cassete Shimano de 9 velocidades (com relação 11-34). No guiador da bicicleta encontramos um par de triggers SRAM X-9 para controlo preciso da transmissão. Como seria de esperar, o funcionamento deste conjunto é muito agradável, combinando o funcionamento suave dos pedaleiros e desviadores dianteiros Shimano com o funcionamento mais seco e imediato do desviador traseiro X-0. As relações são perfeitamente adequadas para as capacidades desta bicicleta e a presença do conjunto bashring/esticador de corrente é útil. Só mesmo em estrada aberta é que se nota a falta do prato de 44 dentes.
As rodas são quase totalmente montadas com componentes DT Swiss, sendo a única excepção o cubo da roda da frente que é fornecido pela própria Specialized. O cubo traseiro é um DT 330 SL, de rolamentos e com a típica construção cuidada e ligeira da DT Swiss. Os aros são uns robustos E440S, com uma espectacular pintura vermelha especialmente concebida para esta bicicleta. Como todos os aros actuais da DT Swiss, são aprovados para uso tubeless desde que seja neles aplicada a fita própria da marca. O raios Competition 1.8/1.6 completam o conjunto e são uma óptima escolha, com admirável compromisso entre resistência e peso. Sobre estas rodas encontramos duas versões dos pneus Specialized Eskar com 2.3 polegadas de largura. Na roda da frente encontramos um S-Works Eskar e na roda traseira encontramos um Eskar Control. Embora venham montados com câmara, ambos são compatíveis com uma conversão para tubeless, uma operação que recomendamos vivamente e que está a apenas à distância de um kit da DT Swiss.
Face à grande capacidade de descida desta máquina, encontramos um conjunto de travões sem concessões no nível de potência. Os Avid Elixir CR SL estão presentes, com discos de 205 mm e 185 mm. Demonstraram ter potencia mais que suficiente para parar a Enduro em todas as situações, sempre de forma incansável e controlada. Certamente um ponto forte desta bicicleta.
A Specialized equipa as Enduro com o seu espigão de selim telescópico, o Command Post. Este espigão usa ar pressurizado para colocar o selim na altura que desejarmos. O Command Post tem três posições de selim pré-definidas. Além da posição superior, de extensão máxima, existe uma posição intermédia em que o selim desce 35 mm e a posição inferior, onde o selim desce um total de 100 mm. O funcionamento deste espigão de selim é actuado remotamente por cabo e conta com um manípulo muito minimalista mas fácil de utilizar. Durante a nossa primeira sessão de testes o espigão desceu sem aviso um par de vezes mas bastou uma pequena e simples re-afinação da tensão do cabo para que funcionasse de forma perfeita durante os restantes dias do ensaio.
A combinação do quadro e os componentes desta Enduro Expert perfazem um peso de 14.12 kg (tamanho M, sem pedais). É um valor muito interessante para uma máquina de 160 mm, especialmente se tivermos em conta que esta montagem não faz sacrifícios de durabilidade ou funcionalidade para atingir este número. Para todos aqueles preocupados em atingir pesos ainda mais baixos a Specialized oferece ainda várias versões da Enduro com quadro em carbono. É óbvio que nestas versões o preço sobe em conformidade com a poupança de peso, fazendo com que os modelos de alumínio sejam a escolha mais racional numa análise custo/benefício.
[anchor="trilhos"]Nos trilhos[/anchor]
Assim que nos sentamos na Enduro sentimos-nos muito bem encaixados, com um guiador largo e comandos acessíveis. A frente lançada, com um ângulo de direcção muito relaxado (66,5 graus), dá extrema confiança para abordar obstáculos mas no primeiro contacto sugere comportamento menos bom a baixas velocidades. Na realidade isto não se verifica pois a Enduro tem um comportamento muito neutro nas zonas mais lentas e deixa-se guiar facilmente. Certamente que não tem o nervosismo e impaciência em mudar de direcção que as bicicletas de menos curso apresentam, mas quem não anda constantemente em corridas convive facilmente com esta natureza descontraída.
As capacidades de subida desta bicicleta são muito agradáveis para uma bicicleta com 160 mm de curso e mais de 14 kg de peso. Em subidas mais rolantes, a Enduro não compromete e permite subir de forma confortável, sempre a bom ritmo. Não permitindo acelerações explosivas, é no entanto um quadro que pedala muito bem, graças à geometria de suspensão apurada e o funcionamento do amortecedor Fox RP2. Como ajuda adicional na subida, a Rock Shox Lyrik permite reduzir o curso de 160 para 140 mm, baixando um pouco a altura do guiador. Esta diferença é relativamente curta para alterar radicalmente o comportamento ascendente mas é sempre uma ajuda bem-vinda para atingir uma posição de subida mais apropriada. Nas subidas mais técnicas e irregulares a Enduro confia no amplo curso para absorver os obstáculos, sendo capaz de tragar terreno muito complicado. Esta boa capacidade de subida técnica é apenas limitada pela distância dos pedais ao chão pois o eixo pedaleiro desta bicicleta é relativamente baixo. Quando a suspensão comprime nas zonas rochosas mais irregulares, os pedais aproximam-se muito do chão e quebra-se a cadencia de pedalada.
Assim que chegamos às descidas, a Specialized Enduro imediatamente revela o seu verdadeiro carácter, acelerando sem dificuldade sobre os obstáculos no terreno, com uma estabilidade incrível em cima qualquer tipo de piso. Ganha velocidade muito rapidamente, sempre transmitindo plena confiança ao rider. Os 160 mm de curso permitem uma absorção das irregularidades natural e fluída, erguendo os limites de aderência desta máquina para velocidades elevadas. O ângulo de direcção relaxado permite guiar a roda da frente com total segurança a alta velocidade, abrindo a cada instante inúmeras escolhas de caminho que só uma bicicleta com este curso pode ter como opção.
Em trilhos estreitos, a Enduro é bastante ágil e deixa-se controlar facilmente em curvas fechadas. A bicicleta pode ser rodada muito prontamente usando o travão traseiro que, por ser potente e muito eficaz, permite deter a rotação do pneu traseiro a qualquer instante. O espigão de selim telescópico Command Post é uma ajuda valiosa nas zonas mais técnicas, embora tenham sido raras as oportunidades em que usamos os 100 mm totais de descida. Com o selim completamente retraído, perde-se um pouco de encaixe e também a possibilidade de controlar a bicicleta com as pernas. De facto, a posição intermédia em que o selim desce apenas 35 mm acaba por ser muito mais interessante para descidas técnicas do que os números sugerem.
A absorção de impactos na frente é extremamente eficaz mas não está focada na sensibilidade, demonstrando em alternativa uma compostura inabalável ao amortecer impactos sucessivos e um funcionamento muito previsível quando esgotamos o curso disponível. Em drops grandes, enquanto a Lyrik vai comprimindo e absorvendo a energia, podemos facilmente controlar a direcção e o equilíbrio da bicicleta. Na suspensão traseira encontramos bastante mais sensibilidade, havendo uma adaptação quase perfeita da roda traseira ao perfil do terreno. A roda segue firmemente colada ao solo, mesmo em zonas com raízes e rochas soltas. Durante a travagem nota-se apenas alguma interacção entre as forças geradas no disco e a movimentação da suspensão, típica das bicicletas com curso generoso e do uso de discos de grande diâmetro. Quanto aos pneus instalados neste Enduro Expert, demonstraram ter bons níveis de aderência em piso de terra compacta e solta, com comportamento muito previsível no limite. Apenas em pisos mais rochosos e duros gostaríamos de ter um pouco mais de aderência.
A Enduro Expert 9v que aqui testamos revelou-se como uma bicicleta cuidadosamente construída e competente numa gama muito vasta de terrenos. É certo que não sobe como uma uma bicicleta de cross-country mas em retorno a sua capacidade de gerar adrenalina e diversão nas descidas é viciante. O seu quadro traz montada uma série de componentes muito robustos e têm uma geometria, que embora vocacionada para descer depressa, permite também que se ataque qualquer subida sem reclamações e a bom ritmo. E a Enduro encaixa-se perfeitamente numa classe de bicicletas com muito futuro. Uma vez que a grande maioria dos praticantes nacionais de BTT começou a praticar o desporto em bicicletas de XC puro, é perfeitamente natural que este segmento de bicicletas de Enduro e All Mountain cresça à medida que alguns deixam o XC e optam por bicicletas com mais curso. E ao fim destas semanas de ensaio, podemos afirmar que a Enduro é uma sólida opção neste segmento, uma máquina que não pode ser descartada por todos aqueles que olham para as descidas técnicas e anseiam por mais velocidade e liberdade de exploração.
[anchor="agradecimentos"]Agradecimentos[/anchor]
O staff do FórumBTT agradece à Specialized Portugal e à loja BikeSpace de Braga a cedência da bicicleta de teste para a realização deste ensaio.
Specialized Enduro Expert
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Valentin
Rider: Oscar Martins
De entre os inúmeros tipos de bicicletas propostos pelos fabricantes, as bicicletas de enduro/all-mountain são daquelas que mais tem sofrido um desenvolvimento tecnológico agressivo e incessante. É algures entre o XC e o DH que fica o mundo destas máquinas. Assumidamente optimizadas para descer de forma agressiva e rápida, estão cada vez mais à vontade nas subidas graças ao uso de componentes cada vez mais ligeiros e geometrias de suspensão varáveis e apuradas. A Specialized Enduro é um dos modelos que desde a sua criação tem estado consistentemente na linha da frente desta vertiginosa evolução. Esta máquina chega a 2011 como uma proposta muito interessante para aqueles que querem extrair o máximo de adrenalina nas descidas mas não dispensam a capacidade de trepar novamente até ao topo da montanha. Levamos uma Specialized Enduro Expert 9v de 2011 para os trilhos para descobrir até onde nos levam os 160 mm desta ambiciosa máquina.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/12.jpg[/IMGtb]
Índice
[iurl="aspectos"]Quadro e construção[/iurl]
[iurl="fsr"]- Sistema FSR[/iurl]
[iurl="montagem"] - Componentes[/iurl]
[iurl="trilhos"] - Nos trilhos[/iurl]
[iurl="suma"] - Em suma[/iurl]
[iurl="ficha"]Ficha técnica do quadro[/iurl]
[iurl="componentes"]- Componentes da bicicleta testada[/iurl]
[iurl="geometria"] - Geometria[/iurl]
[iurl="agradecimentos"] - Agradecimentos[/iurl]
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/col1.jpg[/IMGtb] [IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/col3.jpg[/IMGtb] [IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/col2.jpg[/IMGtb] [IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/col4.jpg[/IMGtb]
[anchor="aspectos"]Quadro e Construção[/anchor]
O quadro da Specialized Enduro abandona por completo qualquer pretensão de seguir o desenho clássico de uma bicicleta de todo o terreno, exibindo em alternativa uma forma complexa constituída por um entrelaçamento de vários elementos estruturais moldados com recurso a técnicas de hydroforming. O triângulo central encontra-se dividido por uma forte barra central, criando uma estrutura reforçada onde apoia o amortecedor. Os tubos empregues na construção são todos de enorme diâmetro e os cordões de soldadura que os unem são longos e largos, características que favorecem a rigidez e resistência.
A decoração deste quadro segue uma linha muito discreta e minimalista, com poucos logótipos. Este quadro é pintado com um tom bronze mate, uma cor muito invulgar mas que parece ter agradado a todos os que contactaram com este quadro. A pintura tem um acabamento ligeiramente rugoso, muito agradável ao toque, ocasionalmente interrompida por pequenos painéis polidos onde a superfície é totalmente lisa. Estas zonas jogam com as reflexões de luz, dando ao quadro um brilho característico quando exposto à luz solar. É um visual diferente que contrasta com as opções de decoração menos discretas que são típicas dos quadros desta gama.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/23.jpg[/IMGtb]
A testa deste quadro segue a já obrigatória construção cónica para garantir elevada rigidez face aos impactos frontais. Embora a maneira mais habitual de produzir este tipo de testa cónica seja maquinando um tubo de grande espessura até à forma cónica final, a Specialized optou por forjar o alumínio para obter esta peça. É certamente uma opção acertada pois esta operação permite não só moldar o material mas também lhe atribui alguma resistência adicional. A metade inferior da caixa de direcção, com o seu enorme rolamento de 1.5 polegadas, encontra-se totalmente integrada dentro desta secção do quadro. Tudo isto contribui para uma testa com um aspecto geral muito limpo.
No zona do pedaleiro encontramos um tradicional interface roscado e a sempre bem-vinda adição de uma placa ISCG para ajudar à montagem de acessórios (a Enduro Expert 9v faz uso desta placa para montar um guia de corrente Gamut). Aqui encontramos também um dos detalhes de construção mais interessantes do quadro, o desvio que o tubo de selim faz antes de chegar ao pedaleiro. Uma grande porção deste tubo encontra-se deslocada uns milímetros para a esquerda relativamente ao plano central da bicicleta. Isto tem o objectivo de libertar espaço para o movimento do desviador da frente, uma vez que este está montado directamente na escora traseira. Os engenheiros da Specialized montam assim o desviador dianteiro de modo a que o mesmo acompanhe de forma fiel os movimentos da suspensão e não seja obrigado a trabalhar com uma corrente que alterna constantemente de posição.
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O triângulo traseiro é dominado pelas articulações do sistema FSR e pelas escoras que fazem a ponte entre o triângulo dianteiro e a roda de trás. Para os interessados em perceber melhor esta geometria de suspensão, uma explicação resumida do sistema FSR pode ser encontrada no ensaio que fizemos recentemente à Camber Expert. Os pivots que permitem a articulação da suspensão incluem vários rolamentos selados, todos alojados em cavidades de alumínio reforçadas para suster as forças transmitidas pelos impactos na roda traseira. O balanceiro central é uma peça esculpida de alumínio, com dimensões compactas mas que ainda assim consegue fazer a ligação entre o tubo de selim, as escoras superiores e um tirante que actua o amortecedor. Olhando um pouco mais para trás, verificamos que a ponte que une as duas escoras superiores faz parte de uma robusta peça forjada que inclui as ponteiras das escoras, onde liga o balanceiro central. Na ponte está também discretamente gravado em relevo o nome do modelo, um pormenor que demonstra o nível de controlo absoluto sobre a forma do metal. As ponteiras traseiras do quadro, onde assenta a roda, são de grande espessura e com uma complexa forma tridimensional. Para protecção da escora inferior encontramos montada uma robusta protecção de plástico, específica para este modelo.
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Todos estes pormenores construtivos revelam elevada atenção no projecto do quadro, não só no plano mecânico mas também no plano visual. Neste modelo existe um claro esforço para conjugar a função e forma, algo que é especialmente difícil numa máquina tão minimalista como uma bicicleta mas que na nossa opinião parece ter sido conseguido.

O modelo Enduro Expert 9v que aqui testamos é uma versão que não sofreu grandes alterações de 2010 para 2011. Mas ainda assim continua a ser uma proposta muito válida e com uma escolha de componentes de elevada qualidade. A montagem que a Specialized propõe para este modelo é uma mistura equilibrada de componentes de gama média e alta, com escolhas muito adequadas à natureza e carácter desta máquina.
Como habitual, começamos a descrição de componentes a olhar para as suspensões. Na frente do quadro a Specialized monta uma RockShox Lyrik IS 2-step, com curso variável entre os 160 e 140 mm e eixo passante Maxle lite de 20 mm. A controlar o sistema FSR encontramos um amortecedor Fox RP2 com Boost Valve e afinações específicas para a Enduro. Considerações detalhadas sobre o funcionamento das suspensões podem ser encontradas na secção seguinte deste artigo.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/14.jpg[/IMGtb]
A transmissão 2x9 desta máquina é um sortido de componentes de várias marcas e gamas diferentes. O pedaleiro é um Shimano FC-762, com a habitual tecnologia Hollowtech II de rolamentos externos e eixos integrados. É montado com pratos de 22 e 36 dentes e um bashring Gamut em policarbonato. Produzido pela Gamut é também o guia que se encarrega de manter a corrente controlada nas descidas mais agressivas. Como todos os guias de corrente deste tipo é um pouco ruidoso a trabalhar mas rapidamente nos habituamos ao zumbir gerado pela roldana.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/13.jpg[/IMGtb]
A guiar a corrente sobre os dois pratos do pedaleiro encontramos um desviador Shimano da série SLX. Na parte posterior da transmissão temos um Sram X-0 associado a uma cassete Shimano de 9 velocidades (com relação 11-34). No guiador da bicicleta encontramos um par de triggers SRAM X-9 para controlo preciso da transmissão. Como seria de esperar, o funcionamento deste conjunto é muito agradável, combinando o funcionamento suave dos pedaleiros e desviadores dianteiros Shimano com o funcionamento mais seco e imediato do desviador traseiro X-0. As relações são perfeitamente adequadas para as capacidades desta bicicleta e a presença do conjunto bashring/esticador de corrente é útil. Só mesmo em estrada aberta é que se nota a falta do prato de 44 dentes.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/21.jpg[/IMGtb]
As rodas são quase totalmente montadas com componentes DT Swiss, sendo a única excepção o cubo da roda da frente que é fornecido pela própria Specialized. O cubo traseiro é um DT 330 SL, de rolamentos e com a típica construção cuidada e ligeira da DT Swiss. Os aros são uns robustos E440S, com uma espectacular pintura vermelha especialmente concebida para esta bicicleta. Como todos os aros actuais da DT Swiss, são aprovados para uso tubeless desde que seja neles aplicada a fita própria da marca. O raios Competition 1.8/1.6 completam o conjunto e são uma óptima escolha, com admirável compromisso entre resistência e peso. Sobre estas rodas encontramos duas versões dos pneus Specialized Eskar com 2.3 polegadas de largura. Na roda da frente encontramos um S-Works Eskar e na roda traseira encontramos um Eskar Control. Embora venham montados com câmara, ambos são compatíveis com uma conversão para tubeless, uma operação que recomendamos vivamente e que está a apenas à distância de um kit da DT Swiss.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/22.jpg[/IMGtb]
Face à grande capacidade de descida desta máquina, encontramos um conjunto de travões sem concessões no nível de potência. Os Avid Elixir CR SL estão presentes, com discos de 205 mm e 185 mm. Demonstraram ter potencia mais que suficiente para parar a Enduro em todas as situações, sempre de forma incansável e controlada. Certamente um ponto forte desta bicicleta.
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A Specialized equipa as Enduro com o seu espigão de selim telescópico, o Command Post. Este espigão usa ar pressurizado para colocar o selim na altura que desejarmos. O Command Post tem três posições de selim pré-definidas. Além da posição superior, de extensão máxima, existe uma posição intermédia em que o selim desce 35 mm e a posição inferior, onde o selim desce um total de 100 mm. O funcionamento deste espigão de selim é actuado remotamente por cabo e conta com um manípulo muito minimalista mas fácil de utilizar. Durante a nossa primeira sessão de testes o espigão desceu sem aviso um par de vezes mas bastou uma pequena e simples re-afinação da tensão do cabo para que funcionasse de forma perfeita durante os restantes dias do ensaio.
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A combinação do quadro e os componentes desta Enduro Expert perfazem um peso de 14.12 kg (tamanho M, sem pedais). É um valor muito interessante para uma máquina de 160 mm, especialmente se tivermos em conta que esta montagem não faz sacrifícios de durabilidade ou funcionalidade para atingir este número. Para todos aqueles preocupados em atingir pesos ainda mais baixos a Specialized oferece ainda várias versões da Enduro com quadro em carbono. É óbvio que nestas versões o preço sobe em conformidade com a poupança de peso, fazendo com que os modelos de alumínio sejam a escolha mais racional numa análise custo/benefício.

Assim que nos sentamos na Enduro sentimos-nos muito bem encaixados, com um guiador largo e comandos acessíveis. A frente lançada, com um ângulo de direcção muito relaxado (66,5 graus), dá extrema confiança para abordar obstáculos mas no primeiro contacto sugere comportamento menos bom a baixas velocidades. Na realidade isto não se verifica pois a Enduro tem um comportamento muito neutro nas zonas mais lentas e deixa-se guiar facilmente. Certamente que não tem o nervosismo e impaciência em mudar de direcção que as bicicletas de menos curso apresentam, mas quem não anda constantemente em corridas convive facilmente com esta natureza descontraída.
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As capacidades de subida desta bicicleta são muito agradáveis para uma bicicleta com 160 mm de curso e mais de 14 kg de peso. Em subidas mais rolantes, a Enduro não compromete e permite subir de forma confortável, sempre a bom ritmo. Não permitindo acelerações explosivas, é no entanto um quadro que pedala muito bem, graças à geometria de suspensão apurada e o funcionamento do amortecedor Fox RP2. Como ajuda adicional na subida, a Rock Shox Lyrik permite reduzir o curso de 160 para 140 mm, baixando um pouco a altura do guiador. Esta diferença é relativamente curta para alterar radicalmente o comportamento ascendente mas é sempre uma ajuda bem-vinda para atingir uma posição de subida mais apropriada. Nas subidas mais técnicas e irregulares a Enduro confia no amplo curso para absorver os obstáculos, sendo capaz de tragar terreno muito complicado. Esta boa capacidade de subida técnica é apenas limitada pela distância dos pedais ao chão pois o eixo pedaleiro desta bicicleta é relativamente baixo. Quando a suspensão comprime nas zonas rochosas mais irregulares, os pedais aproximam-se muito do chão e quebra-se a cadencia de pedalada.
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/20.jpg[/IMGtb]
Assim que chegamos às descidas, a Specialized Enduro imediatamente revela o seu verdadeiro carácter, acelerando sem dificuldade sobre os obstáculos no terreno, com uma estabilidade incrível em cima qualquer tipo de piso. Ganha velocidade muito rapidamente, sempre transmitindo plena confiança ao rider. Os 160 mm de curso permitem uma absorção das irregularidades natural e fluída, erguendo os limites de aderência desta máquina para velocidades elevadas. O ângulo de direcção relaxado permite guiar a roda da frente com total segurança a alta velocidade, abrindo a cada instante inúmeras escolhas de caminho que só uma bicicleta com este curso pode ter como opção.
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Em trilhos estreitos, a Enduro é bastante ágil e deixa-se controlar facilmente em curvas fechadas. A bicicleta pode ser rodada muito prontamente usando o travão traseiro que, por ser potente e muito eficaz, permite deter a rotação do pneu traseiro a qualquer instante. O espigão de selim telescópico Command Post é uma ajuda valiosa nas zonas mais técnicas, embora tenham sido raras as oportunidades em que usamos os 100 mm totais de descida. Com o selim completamente retraído, perde-se um pouco de encaixe e também a possibilidade de controlar a bicicleta com as pernas. De facto, a posição intermédia em que o selim desce apenas 35 mm acaba por ser muito mais interessante para descidas técnicas do que os números sugerem.
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A absorção de impactos na frente é extremamente eficaz mas não está focada na sensibilidade, demonstrando em alternativa uma compostura inabalável ao amortecer impactos sucessivos e um funcionamento muito previsível quando esgotamos o curso disponível. Em drops grandes, enquanto a Lyrik vai comprimindo e absorvendo a energia, podemos facilmente controlar a direcção e o equilíbrio da bicicleta. Na suspensão traseira encontramos bastante mais sensibilidade, havendo uma adaptação quase perfeita da roda traseira ao perfil do terreno. A roda segue firmemente colada ao solo, mesmo em zonas com raízes e rochas soltas. Durante a travagem nota-se apenas alguma interacção entre as forças geradas no disco e a movimentação da suspensão, típica das bicicletas com curso generoso e do uso de discos de grande diâmetro. Quanto aos pneus instalados neste Enduro Expert, demonstraram ter bons níveis de aderência em piso de terra compacta e solta, com comportamento muito previsível no limite. Apenas em pisos mais rochosos e duros gostaríamos de ter um pouco mais de aderência.
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[anchor="suma"]Em suma[/anchor]
A Enduro Expert 9v que aqui testamos revelou-se como uma bicicleta cuidadosamente construída e competente numa gama muito vasta de terrenos. É certo que não sobe como uma uma bicicleta de cross-country mas em retorno a sua capacidade de gerar adrenalina e diversão nas descidas é viciante. O seu quadro traz montada uma série de componentes muito robustos e têm uma geometria, que embora vocacionada para descer depressa, permite também que se ataque qualquer subida sem reclamações e a bom ritmo. E a Enduro encaixa-se perfeitamente numa classe de bicicletas com muito futuro. Uma vez que a grande maioria dos praticantes nacionais de BTT começou a praticar o desporto em bicicletas de XC puro, é perfeitamente natural que este segmento de bicicletas de Enduro e All Mountain cresça à medida que alguns deixam o XC e optam por bicicletas com mais curso. E ao fim destas semanas de ensaio, podemos afirmar que a Enduro é uma sólida opção neste segmento, uma máquina que não pode ser descartada por todos aqueles que olham para as descidas técnicas e anseiam por mais velocidade e liberdade de exploração.
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[anchor="ficha"]Ficha Técnica do Quadro[/anchor]
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[anchor="componentes"]Componentes da Bicicleta Testada[/anchor]
[IMGtb]http://thinkbikes.forumbtt.net/2011-01-Specialized-Enduro/24.jpg[/IMGtb] |
[anchor="geometria"]Geometria[/anchor] Para o tamanho M testado:
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O staff do FórumBTT agradece à Specialized Portugal e à loja BikeSpace de Braga a cedência da bicicleta de teste para a realização deste ensaio.