Ensaio Em Detalhe:
Santa Cruz Tallboy Carbon
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Valentin
Vídeos: Eduardo Marques
Rider: José Pereira
Pela primeira vez no Thinkbikes, chegou-nos ás mãos uma bicicleta com rodas de 29 polegadas. Embora por vezes pareçam ser um conceito muito recente, as bicicletas de BTT com rodas grandes não são propriamente novidade. Já povoam há mais de 10 anos no mercado americano mas só agora começam a chegar em força às lojas europeias. Nesta Santa Cruz Tallboy, o verdadeiro apelo é o facto de ser uma das primeiras 29er em carbono com suspensão total. A aplicação de suspensão integral ao conceito da roda 29 apresenta desafios de geometria e comportamento dinâmico para os quais só muito recentemente os fabricantes começaram ter soluções eficazes. A Tallboy é uma pioneira no mundo das bicicletas 29er equipadas com suspensão avançada (o VPP neste caso) e representa uma interessante alternativa para o futuro das bicicletas de BTT. Durante o tempo que tivemos a Tallboy ao nosso dispor procuramos explorar as suas capacidades e compreender quais as reais vantagens deste novo tipo de plataforma proposto pela Santa Cruz.
[anchor="aspectos"]Aspectos Práticos e de Construção[/anchor]
Como já foi referido por aqui no ensaio da Blur XC Carbon, depois de longos anos dedicados ao "tradicional" alumínio, a Santa Cruz Bicycles vê agora o carbono como uma solução ideal para muitos dos seus produtos e acredita na sua durabilidade a longo prazo. Esta confiança que a marca exibe deve-se ao cuidado aplicado no processo de construção, usando uma técnica que recorre a uma moldação monocoque com transições suaves e total ausência de junções abruptas. As diferentes peças e tubagens do quadro surgem com diâmetros substanciais e intersecções muito progressivas. A testa do quadro, preparada para caixa de direcção cónica, contribui para esta imagem sobre-dimensionada. A muscularidade do quadro serve certamente como argumento de vendas aos cépticos sobre a durabilidade do carbono como material de construção de quadros.
No geral, a Tallboy segue uma filosofia estética muito discreta, com o carbono à vista por debaixo de um acabamento matte. As aplicações gráficas são esparsas, pouco além do necessário para identificar a marca e o modelo. O aspecto sóbrio da decoração, combinado com o tamanho imponente do quadro e das rodas torna esta bicicleta numa máquina muito marcante em termos visuais que rejeita por completo o uso a cores vivas ou os típicos anodizados para chamar a atenção. É uma tendência estética que a Santa Cruz tem vindo a alargar a todos os seus modelos de carbono e que parece ser do agrado de muitos.
O sistema VPP aparece aqui novamente implementado com dois pequenos links separados que regem o movimento da roda traseira. O triângulo posterior é construído numa peça única, com um reforço imediatamente antes do desviador para aumentar a rigidez torsional. Para aqueles mais interessados nos detalhes de construção e processo de manutenção, a Santa Cruz disponibiliza no seu site uma página detalhando os passos de uma revisão ao sistema VPP da Tallboy.
Para que a Tallboy possa receber pneus de largura considerável, os designers da Santa Cruz moldaram as escoras com bastante espaço livre junto à zona de passagem do pneu. Deste modo, a marca garante que até pneus como o WTB Weirwolf 29x2.55 (55 mm reais de largura) cabem sem dificuldades, sendo agora o real factor limitador não as escoras mas a caixa do desviador da frente. A consequência directa de tal capacidade para acomodar pneus largos é a acrescida largura externa das escoras que, devido à sua posição baixa, passam muito junto à perna do ciclista. Em utilizadores com pernas um pouco largas poderá haver um ligeiro contacto com o quadro nesta zona.
[anchor="29"]Rodas de 29 polegadas[/anchor]
Sendo uma presença relativamente recente no mercado português, as rodas de 29 polegadas já têm uma longa história no mercado americano. Ao longo das décadas de 80 e 90 do século passado surgiram pontualmente algumas BTTs com rodas deste diâmetro. Mas as suas capacidades técnicas eram reduzidas, pois normalmente recorriam a adaptações de pneus e aros destinados a bicicletas de treking. O verdadeiro impulso para a moderna BTT 29er apenas se deu em 1999 com o surgimento do primeiro verdadeiro pneu 29er, o WTB Nanoraptor. A partir daí, a progressão tem sido gradual com muitas marcas de bicicletas e componentes, grandes e pequenas, a introduzir modelos 29er nas suas linhas de produtos.
As rodas a que chamamos 29er, não têm na realidade 29 polegadas de diâmetro. Uma roda de BTT com 29 polegadas tem um diâmetro de aro de 622 mm (24.5 polegadas), exactamente o mesmo diâmetro de aro das rodas usadas nas bicicletas de estrada. Uma roda de BTT com 26 polegadas tem um diâmetro de aro de 559 mm (22 polegadas). A nomenclatura 26 e 29 refere-se de forma aproximada ao diâmetro total da roda com um pneu montado.
O tema das vantagens e desvantagens das rodas 26 versus 29 é controverso e também em constante evolução devido aos avanços tecnológicos que vão surgindo. De uma forma genérica, pode-se afirmar que, quando comparadas de igual para igual com as rodas 26, as rodas 29 são mais pesadas, apresentam uma inércia rotacional maior e são ligeiramente mais susceptíveis à flexão devido aos raios mais longos necessários para suportar a roda. Em contraste, apresentam uma capacidade melhorada de rolar sobre obstáculos e uma maior área de contacto com o solo, com mais flutuação e maior aderência em curva. Actualmente, um dos principais pontos de venda para as bicicletas 29er é o facto de proporcionarem uma geometria mais natural em tamanhos de quadro grandes. Nestes tamanhos, as rodas 29er ficam instaladas mais proporcionalmente no quadro e permitem, por exemplo, a afinação da altura da frente da bicicleta sem recurso a muito espaçadores ou testas de quadro muito longas.
Devido à grande interacção homem-máquina que existe ao andar de bicicleta, os níveis de importância relativa destas vantagens e desvantagens são muito variáveis de pessoa para pessoa. É importante que se experimente convenientemente uma bicicleta de roda 29 antes de decidir se é de facto a solução que mais nos convém ou descartar completamente o conceito.
[anchor="montagem"]Componentes[/anchor]
A Tallboy de testes que nos foi cedida apresentava um conjunto de componentes de excelente qualidade que acompanha o nível do quadro. A suspensão fornecida é uma Fox F29 com 120 mm e cartucho da amortecimento FIT, equipada com tubo de direcção cónico para acompanhar o quadro e eixo passante QR15. As rodas são umas Mavic C29ssmax, uma versão com maior diâmetro das conhecidas Crossmax ST. A transmissão, fundamentalmente Shimano XT, é a racional aposta da fiabilidade em detrimento de pesos aligeirados e materiais mais exóticos. A cumprir os deveres de travagem encontramos uns Avid Elixir R, que embora sem potência avassaladora mostraram-se seguros e com tacto agradável. Nos periféricos, uma combinação de material Easton e Thomson dá garantias de durabilidade com pesos contidos.
[anchor="trilhos"]Nos trilhos[/anchor]
Para quem está habituado a rolar em bicicletas de roda 26, o primeiro contacto dinâmico com a Tallboy é profundamente marcante. Substantivos como "camião", "tractor" são tipicamente proferidos por quem pela primeira vez experimenta esta máquina. Mas essa sensação de algo pesado e difícil de manobrar é uma ilusão criada pela dimensão das rodas e do quadro, passando rapidamente com as primeiras pedaladas e curvas. A Tallboy, como todas as 29er de geometria devidamente configurada , apresenta uma manobrabilidade que não é muito diferente de uma qualquer FS com rodas 26 e curso equiparável. A direcção tem um comportamento natural e as acelerações, embora obviamente menos vivas, não são muito prejudicadas pela massa e inércia extra das rodas de 29 polegadas. E quando se começa a rolar, a ganhar velocidade, aí a Tallboy brilha com a sua estabilidade e capacidade para manter velocidades de cruzeiro. Quanto mais ondulado for o trilho, mais diversão se extraí desta máquina. Singletracks com curtas mas constantes variações de altimetria são onde a Tallboy se sente em casa. É grande a facilidade com que rolamos e curvamos nestas zonas, cruzando qualquer tipo de terreno sem complicações, ressaltos inesperados ou perdas de compostura. A suspensão traseira VPP permite aplicar tracção muito facilmente mas, quando comparada com a versão instalada na irmã Blur XC Carbon, apresenta uma afinação ligeiramente mais optimizada para o conforto e menos orientada para uma resposta directa e competitiva.
Na primeira vez que atiramos esta Tallboy de teste para subidas longas, fomos confrontados com uma frente relativamente alta que cria algumas dificuldades nas zonas mais inclinadas e técnicas. O uso da Fox F29 com 120 mm de curso, guiador sobre-elevado e avanço com inclinação positiva conjuga-se para criar uma frente que é equivalente a algumas bicicletas de roda 26 com cursos elevados (140 ou 150 mm). Nas subidas que se aproximam dos 20% de inclinação, torna-se complicado pedalar em pé e pouco prático colocar peso na roda da frente. Isto leva a perdas constantes no contacto com o solo e acaba por tornar o controlo difícil. A marca está consciente desta dificuldade das bicicletas 29er e é por isso que esta bicicleta bicicleta (no tamanho L) vem equipada com um tubo de direcção de apenas 100 mm. Haverá certamente muitos potenciais compradores desta máquina que preferem frentes altas para uma posição muito orientada para os trilhos descendentes mas existirão também aqueles que procuram na Tallboy uma máquina rápida de XC. Para os que têm pretensões de subir ao ataque qualquer pendente, será provavelmente preferível modificar a elevação do guiador para valores mais reduzidos e assim melhorar a distribuição de peso em subida. Mas seja qual for a preferência, existe muita margem de manobra para ajustar a altura da frente e mudar o carácter da bicicleta. Isto pode ser feito invertendo o avanço, ajustando os espaçadores ou optando até por aplicar uma suspensão de curso diferente (dentro de uma gama que vai de de 100 até 140 mm).
Falando então em descidas, especialmente as mais rápidas, a Tallboy exibe nelas um comportamento formidável. É muito precisa em curva e mantém a trajectória pedida sem qualquer tipo de desvio, mesmo em pisos muito complicados e soltos. O efeito giroscópico e a dimensão das rodas combinam-se com a geometria e rigidez do conjunto quadro-suspensão para produzir este comportamento exemplar. É uma sensação de segurança e solidez que apenas encontramos nas bicicletas de 26 polegadas com grande curso. A capacidade de curvar a alta velocidade é tanta que se torna relativamente fácil e rápido ir até os limites de aderência dos pneus. É por isto que recomendamos especial cuidado na selecção dos mesmos. O Maxxis Ignitor 2.1 que esta bicicleta de testes tinha instalado na frente demonstrou-se limitado face as capacidades do conjunto. Mesmo prejudicando o peso e as capacidades roladoras, um pneu da frente um pouco mais largo e com rasto mais agressivo será o ideal para esta máquina. Nas descidas mais lentas e técnicas, também aqui esta bicicleta dá confiança ao seu piloto. Em secções com constantes obstáculos rochosos, a altura das rodas (e da frente em geral) acaba por ajudar a ultrapassar as passagens técnicas mais abruptas sem qualquer tipo de sobressalto. A suspensão absorve de forma competente as irregularidades destes trilhos e não é raro ficar com a sensação de que a bicicleta tem mais curso traseiro que os 100 mm reais.
[anchor="suma"]Em suma[/anchor]
Mesmo sendo um conceito totalmente novo para a marca, a Tallboy é mais uma proposta de elevada qualidade que a Santa Cruz coloca no mercado. Com um chassis de carbono impecávelmente produzido e a comprovada suspensão VPP a bordo, esta é uma máquina de XC cujas capacidades transbordam esta classificação. O quadro Santa Cruz Tallboy é rígido, durável, permite montar bicicletas muito estáveis em trilhos irregulares e capazes de rolar quilómetros a fio sem desconforto para quem vai em cima dela. Mais do que uma experiência sobre rodas 29, a Tallboy é o elo que faltava na família da Santa Cruz. Não é excessivamente competitiva nem demasiado focada nas descidas. Fazendo uso das características únicas que a plataforma de roda 29 lhe atribui, ocupa o intervalo entre a Blur XC e a Blur LT. Depois de umas semanas a rolar nesta máquina, não pudemos deixar de ficar com a ideia de que a Santa Cruz encontrou o espaço natural das rodas 29.
[anchor="agradecimentos"]Agradecimentos[/anchor]
O staff do FórumBTT agradece ao importador da Santa Cruz, Pernalonga pela cedência da bicicleta de teste para a realização deste ensaio.
Santa Cruz Tallboy Carbon
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Valentin
Vídeos: Eduardo Marques
Rider: José Pereira
Pela primeira vez no Thinkbikes, chegou-nos ás mãos uma bicicleta com rodas de 29 polegadas. Embora por vezes pareçam ser um conceito muito recente, as bicicletas de BTT com rodas grandes não são propriamente novidade. Já povoam há mais de 10 anos no mercado americano mas só agora começam a chegar em força às lojas europeias. Nesta Santa Cruz Tallboy, o verdadeiro apelo é o facto de ser uma das primeiras 29er em carbono com suspensão total. A aplicação de suspensão integral ao conceito da roda 29 apresenta desafios de geometria e comportamento dinâmico para os quais só muito recentemente os fabricantes começaram ter soluções eficazes. A Tallboy é uma pioneira no mundo das bicicletas 29er equipadas com suspensão avançada (o VPP neste caso) e representa uma interessante alternativa para o futuro das bicicletas de BTT. Durante o tempo que tivemos a Tallboy ao nosso dispor procuramos explorar as suas capacidades e compreender quais as reais vantagens deste novo tipo de plataforma proposto pela Santa Cruz.

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Como já foi referido por aqui no ensaio da Blur XC Carbon, depois de longos anos dedicados ao "tradicional" alumínio, a Santa Cruz Bicycles vê agora o carbono como uma solução ideal para muitos dos seus produtos e acredita na sua durabilidade a longo prazo. Esta confiança que a marca exibe deve-se ao cuidado aplicado no processo de construção, usando uma técnica que recorre a uma moldação monocoque com transições suaves e total ausência de junções abruptas. As diferentes peças e tubagens do quadro surgem com diâmetros substanciais e intersecções muito progressivas. A testa do quadro, preparada para caixa de direcção cónica, contribui para esta imagem sobre-dimensionada. A muscularidade do quadro serve certamente como argumento de vendas aos cépticos sobre a durabilidade do carbono como material de construção de quadros.

No geral, a Tallboy segue uma filosofia estética muito discreta, com o carbono à vista por debaixo de um acabamento matte. As aplicações gráficas são esparsas, pouco além do necessário para identificar a marca e o modelo. O aspecto sóbrio da decoração, combinado com o tamanho imponente do quadro e das rodas torna esta bicicleta numa máquina muito marcante em termos visuais que rejeita por completo o uso a cores vivas ou os típicos anodizados para chamar a atenção. É uma tendência estética que a Santa Cruz tem vindo a alargar a todos os seus modelos de carbono e que parece ser do agrado de muitos.

O sistema VPP aparece aqui novamente implementado com dois pequenos links separados que regem o movimento da roda traseira. O triângulo posterior é construído numa peça única, com um reforço imediatamente antes do desviador para aumentar a rigidez torsional. Para aqueles mais interessados nos detalhes de construção e processo de manutenção, a Santa Cruz disponibiliza no seu site uma página detalhando os passos de uma revisão ao sistema VPP da Tallboy.

Para que a Tallboy possa receber pneus de largura considerável, os designers da Santa Cruz moldaram as escoras com bastante espaço livre junto à zona de passagem do pneu. Deste modo, a marca garante que até pneus como o WTB Weirwolf 29x2.55 (55 mm reais de largura) cabem sem dificuldades, sendo agora o real factor limitador não as escoras mas a caixa do desviador da frente. A consequência directa de tal capacidade para acomodar pneus largos é a acrescida largura externa das escoras que, devido à sua posição baixa, passam muito junto à perna do ciclista. Em utilizadores com pernas um pouco largas poderá haver um ligeiro contacto com o quadro nesta zona.


Sendo uma presença relativamente recente no mercado português, as rodas de 29 polegadas já têm uma longa história no mercado americano. Ao longo das décadas de 80 e 90 do século passado surgiram pontualmente algumas BTTs com rodas deste diâmetro. Mas as suas capacidades técnicas eram reduzidas, pois normalmente recorriam a adaptações de pneus e aros destinados a bicicletas de treking. O verdadeiro impulso para a moderna BTT 29er apenas se deu em 1999 com o surgimento do primeiro verdadeiro pneu 29er, o WTB Nanoraptor. A partir daí, a progressão tem sido gradual com muitas marcas de bicicletas e componentes, grandes e pequenas, a introduzir modelos 29er nas suas linhas de produtos.
As rodas a que chamamos 29er, não têm na realidade 29 polegadas de diâmetro. Uma roda de BTT com 29 polegadas tem um diâmetro de aro de 622 mm (24.5 polegadas), exactamente o mesmo diâmetro de aro das rodas usadas nas bicicletas de estrada. Uma roda de BTT com 26 polegadas tem um diâmetro de aro de 559 mm (22 polegadas). A nomenclatura 26 e 29 refere-se de forma aproximada ao diâmetro total da roda com um pneu montado.
O tema das vantagens e desvantagens das rodas 26 versus 29 é controverso e também em constante evolução devido aos avanços tecnológicos que vão surgindo. De uma forma genérica, pode-se afirmar que, quando comparadas de igual para igual com as rodas 26, as rodas 29 são mais pesadas, apresentam uma inércia rotacional maior e são ligeiramente mais susceptíveis à flexão devido aos raios mais longos necessários para suportar a roda. Em contraste, apresentam uma capacidade melhorada de rolar sobre obstáculos e uma maior área de contacto com o solo, com mais flutuação e maior aderência em curva. Actualmente, um dos principais pontos de venda para as bicicletas 29er é o facto de proporcionarem uma geometria mais natural em tamanhos de quadro grandes. Nestes tamanhos, as rodas 29er ficam instaladas mais proporcionalmente no quadro e permitem, por exemplo, a afinação da altura da frente da bicicleta sem recurso a muito espaçadores ou testas de quadro muito longas.
Devido à grande interacção homem-máquina que existe ao andar de bicicleta, os níveis de importância relativa destas vantagens e desvantagens são muito variáveis de pessoa para pessoa. É importante que se experimente convenientemente uma bicicleta de roda 29 antes de decidir se é de facto a solução que mais nos convém ou descartar completamente o conceito.


A Tallboy de testes que nos foi cedida apresentava um conjunto de componentes de excelente qualidade que acompanha o nível do quadro. A suspensão fornecida é uma Fox F29 com 120 mm e cartucho da amortecimento FIT, equipada com tubo de direcção cónico para acompanhar o quadro e eixo passante QR15. As rodas são umas Mavic C29ssmax, uma versão com maior diâmetro das conhecidas Crossmax ST. A transmissão, fundamentalmente Shimano XT, é a racional aposta da fiabilidade em detrimento de pesos aligeirados e materiais mais exóticos. A cumprir os deveres de travagem encontramos uns Avid Elixir R, que embora sem potência avassaladora mostraram-se seguros e com tacto agradável. Nos periféricos, uma combinação de material Easton e Thomson dá garantias de durabilidade com pesos contidos.

Para quem está habituado a rolar em bicicletas de roda 26, o primeiro contacto dinâmico com a Tallboy é profundamente marcante. Substantivos como "camião", "tractor" são tipicamente proferidos por quem pela primeira vez experimenta esta máquina. Mas essa sensação de algo pesado e difícil de manobrar é uma ilusão criada pela dimensão das rodas e do quadro, passando rapidamente com as primeiras pedaladas e curvas. A Tallboy, como todas as 29er de geometria devidamente configurada , apresenta uma manobrabilidade que não é muito diferente de uma qualquer FS com rodas 26 e curso equiparável. A direcção tem um comportamento natural e as acelerações, embora obviamente menos vivas, não são muito prejudicadas pela massa e inércia extra das rodas de 29 polegadas. E quando se começa a rolar, a ganhar velocidade, aí a Tallboy brilha com a sua estabilidade e capacidade para manter velocidades de cruzeiro. Quanto mais ondulado for o trilho, mais diversão se extraí desta máquina. Singletracks com curtas mas constantes variações de altimetria são onde a Tallboy se sente em casa. É grande a facilidade com que rolamos e curvamos nestas zonas, cruzando qualquer tipo de terreno sem complicações, ressaltos inesperados ou perdas de compostura. A suspensão traseira VPP permite aplicar tracção muito facilmente mas, quando comparada com a versão instalada na irmã Blur XC Carbon, apresenta uma afinação ligeiramente mais optimizada para o conforto e menos orientada para uma resposta directa e competitiva.

Na primeira vez que atiramos esta Tallboy de teste para subidas longas, fomos confrontados com uma frente relativamente alta que cria algumas dificuldades nas zonas mais inclinadas e técnicas. O uso da Fox F29 com 120 mm de curso, guiador sobre-elevado e avanço com inclinação positiva conjuga-se para criar uma frente que é equivalente a algumas bicicletas de roda 26 com cursos elevados (140 ou 150 mm). Nas subidas que se aproximam dos 20% de inclinação, torna-se complicado pedalar em pé e pouco prático colocar peso na roda da frente. Isto leva a perdas constantes no contacto com o solo e acaba por tornar o controlo difícil. A marca está consciente desta dificuldade das bicicletas 29er e é por isso que esta bicicleta bicicleta (no tamanho L) vem equipada com um tubo de direcção de apenas 100 mm. Haverá certamente muitos potenciais compradores desta máquina que preferem frentes altas para uma posição muito orientada para os trilhos descendentes mas existirão também aqueles que procuram na Tallboy uma máquina rápida de XC. Para os que têm pretensões de subir ao ataque qualquer pendente, será provavelmente preferível modificar a elevação do guiador para valores mais reduzidos e assim melhorar a distribuição de peso em subida. Mas seja qual for a preferência, existe muita margem de manobra para ajustar a altura da frente e mudar o carácter da bicicleta. Isto pode ser feito invertendo o avanço, ajustando os espaçadores ou optando até por aplicar uma suspensão de curso diferente (dentro de uma gama que vai de de 100 até 140 mm).

Falando então em descidas, especialmente as mais rápidas, a Tallboy exibe nelas um comportamento formidável. É muito precisa em curva e mantém a trajectória pedida sem qualquer tipo de desvio, mesmo em pisos muito complicados e soltos. O efeito giroscópico e a dimensão das rodas combinam-se com a geometria e rigidez do conjunto quadro-suspensão para produzir este comportamento exemplar. É uma sensação de segurança e solidez que apenas encontramos nas bicicletas de 26 polegadas com grande curso. A capacidade de curvar a alta velocidade é tanta que se torna relativamente fácil e rápido ir até os limites de aderência dos pneus. É por isto que recomendamos especial cuidado na selecção dos mesmos. O Maxxis Ignitor 2.1 que esta bicicleta de testes tinha instalado na frente demonstrou-se limitado face as capacidades do conjunto. Mesmo prejudicando o peso e as capacidades roladoras, um pneu da frente um pouco mais largo e com rasto mais agressivo será o ideal para esta máquina. Nas descidas mais lentas e técnicas, também aqui esta bicicleta dá confiança ao seu piloto. Em secções com constantes obstáculos rochosos, a altura das rodas (e da frente em geral) acaba por ajudar a ultrapassar as passagens técnicas mais abruptas sem qualquer tipo de sobressalto. A suspensão absorve de forma competente as irregularidades destes trilhos e não é raro ficar com a sensação de que a bicicleta tem mais curso traseiro que os 100 mm reais.


Mesmo sendo um conceito totalmente novo para a marca, a Tallboy é mais uma proposta de elevada qualidade que a Santa Cruz coloca no mercado. Com um chassis de carbono impecávelmente produzido e a comprovada suspensão VPP a bordo, esta é uma máquina de XC cujas capacidades transbordam esta classificação. O quadro Santa Cruz Tallboy é rígido, durável, permite montar bicicletas muito estáveis em trilhos irregulares e capazes de rolar quilómetros a fio sem desconforto para quem vai em cima dela. Mais do que uma experiência sobre rodas 29, a Tallboy é o elo que faltava na família da Santa Cruz. Não é excessivamente competitiva nem demasiado focada nas descidas. Fazendo uso das características únicas que a plataforma de roda 29 lhe atribui, ocupa o intervalo entre a Blur XC e a Blur LT. Depois de umas semanas a rolar nesta máquina, não pudemos deixar de ficar com a ideia de que a Santa Cruz encontrou o espaço natural das rodas 29.

[anchor="ficha"]Ficha Técnica do Quadro[/anchor]
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[anchor="componentes"]Componentes da Bicicleta Testada[/anchor]
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[anchor="geometria"]Geometria[/anchor] Para o tamanho L testado:
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