Ensaio Em Detalhe:
SANTA CRUZ BLUR XC CARBON
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Pedro Ribeiro, Eduardo Marques, Santa Cruz Bicycles
Vídeo: Eduardo Marques
Rider: Óscar Martins
Finalmente, o foco no Carbono. Fiel ao alumínio desde o seu início, a marca Californiana cedeu ao inescapável apelo do carbono. O resultado? Uma pura bicicleta de XC mas com surpresas na manga.
Durante muitos anos, falar em Santa Cruz era falar em quadros de alumínio de elevada qualidade. A série Blur (XC e LT) alicerçou grande parte da sua reputação de excelente comportamento e durabilidade nos seus quadros cuidadosamente soldados, construídos com avançadas ligas de alumínio. Mas com a progressão veloz da tecnologia do carbono, a Santa Cruz viu o mercado das bicicletas de XC de gama alta a ser invadido por diversos quadros leves em compósito e os seus clientes a reivindicar pesos cada vez mais reduzidos. Depois de mais de uma década de tentativa e erro por parte de alguns pioneiros, os métodos de produção de carbono estavam agora maduros e comprovados. Os engenheiros da Santa Cruz acharam-se então no momento certo para finalmente apostar no carbono, munidos de garantias que o resultado final apresentaria progresso tangível sobre os modelos de alumínio existentes. Esta mudança de paradigma foi uma decisão arriscada mas certamente fundamental para a evolução da marca. A Blur XC Carbon que aqui testamos é o primeiro produto deste novo rumo da Santa Cruz. Terá a aposta no carbono sido uma aposta ganha?
[anchor="quadro"]Quadro e sistema VPP[/anchor]
O quadro desta Blur "carbónica" é uma evolução directa do anterior Blur XC em alumínio. O carácter mantém-se o mesmo e, como é apanágio da Santa Cruz, o sistema de suspensão traseira VPP (Virtual Pivot Point) marca a sua presença. Conforme explicado no artigo da Blur LT, este comprovado mecanismo geométrico articula-se de forma engenhosa para produzir uma variação gradual dos rácios de suspensão e reutiliza habilmente a tensão da corrente de forma a manter a roda de trás estável quando se pedala de forma mais vigorosa. Devido à forte dependência geométrica, estes sistemas de pivot virtual podem ser afinados e projectados para uma gama bastante diversa de comportamentos, que vão desde o XC ultra-leve desta Blur XC até ao DH de competição da monstruosa V-10. No Blur XC Carbon encontramos a variação deste sistema com 105 mm de curso, totalmente optimizados para o pedalar rápido e forte de uma utilização em Cross-Country e Maratona. Os rácios de suspensão são acertados para produzir uma leitura do terreno mais viva, que se pretende livre do efeito de oscilação excessivo que é patente noutras suspensões.
A geometria segue com as lições aprendidas nos Blur XC anteriores e apresenta características que hoje são tidas como obrigatórias neste tipo de quadro. Ângulo de direcção perto dos 70º para funcionar correctamente com o offset e curso das suspensões mais populares, tubo superior arqueado para simplificar a subida/descida da bicicleta e finalmente escoras o mais compactas quanto for possível para beneficiar a agilidade. A altura ao solo do pedaleiro é relativamente pequena para baixar o centro de gravidade e melhorar o comportamento em curva, embora possa gerar situações nas quais os pedais batem em obstáculos quando a suspensão comprime durante subidas técnicas. Um ponto bastante positivo deste quadro é o facto de utilizar componentes bastante uniformizados. Não existe recurso a standards recentes cuja implementação ainda não está garantida e para a maior parte dos compradores deste quadro usar componentes antigos será um processo "plug and play". Um claro piscar de olho aos donos das Blur XC anteriores.
Focando agora atenções na qualidade de construção, encontramos um trabalho de qualidade irrepreensível. Os característicos tubos curvados da série Blur são reproduzidos no carbono com ainda mais fluidez, numa interpretação curvilínea da já clássica linguagem de design dos Blur XC e da Santa Cruz como marca. É um tipo de minimalismo funcional que não requer grandes artifícios visuais para agradar à vista. De notar as zonas de intersecções de tubos, feitas de forma bastante natural, com longos e graduais remates que imprimem solidez. Como consequência das pretensões peso-pluma deste quadro, encontramos uma pintura muito reduzida onde, à parte de uma decoração discreta mas original, todo o carbono é deixado exposto como se fosse uma janela para a disposição homogénea das fibras que dão a coesão ao quadro. Os diâmetros da tubagem são substanciais e claramente calculados para dar ênfase na rigidez. Segundo a literatura da marca (e conforme é procedimento habitual da indústria) as camadas de carbono são ajustadas às exigências específicas de cada um dos tubos. Por exemplo, na parte inferior do tubo diagonal encontram-se camadas extra de tela que conferem resistência adicional aos impactos. Mesmo com estes reforços o peso final é muito competitivo, pautando-se pelas 1985 gramas em tamanho L. O sistema VPP é implementado com os característicos links compactos que prendem o triângulo traseiro. Estes links alojam os rolamentos e, para manter a lama fora das sensíveis esferas, encontram-se totalmente selados por uma barreira de vedantes . O link inferior apresenta ainda portas de injecção de lubrificante para que se possa proceder à renovação da massa dos rolamentos sem ter que os desmontar. Uma vez que localização deste link inferior origina um espaçamento bastante reduzido entre os pratos e a parte inferior do triângulo traseiro, uma placa metálica recobre a zona crítica. No entanto, não será despropositado introduzir alguma protecção adicional porque casos de chainsuck severos (com forte enrolamento de corrente) podem resultar em danos substanciais e irreparáveis para o carbono daquela zona.
[anchor="montagem"]Montagem de teste[/anchor]
A montagem de teste recebida faz jus à qualidade do quadro, uma receita comprovada de componentes de qualidade. As suspensões são entregues à Fox, com uma F32 com 100 mm de curso e eixo passante QR15 a segurar a roda da frente e um RP23 com Boost Valve a moderar o movimento da subestrutura traseira.
A travagem ficou entregue a um par de travões Hope Race X2 com discos flutuantes (analisados à parte) que permitem modular de forma controlada a rotação das vistosas e leves rodas Mavic SLR.
A transmissão é uma mistura de Shimano XT e XTR, com a típica durabilidade, trocas de mudança suaves e um peso contido. Os pneumáticos Schwalbe, de piso pouco agressivo, são pouco adequados para as épocas mais chuvosas nas quais o chão esconde surpresas escorregadias. Mas rolam muito bem e são a escolha acertada para tempo mais seco. No capítulo dos periféricos encontramos um espigão Thomson Masterpiece, um esteticamente agradável avanço 3T ARX-TEAM e um guiador Easton Monkeylight XC. A caixa de direcção fica entregue a uma clássica caixa Chris King NoThreadset.
Tudo componentes que encaixam plenamente na função e "personalidade" deste quadro e como tal devem constar da lista de possibilidades de todos os que pretenderem montar uma bicicleta a partir do quadro Blur XC Carbon.
[anchor="trilhos"]Nos trilhos[/anchor]
Para abrir esta secção e exemplificar o comportamento e capacidades desta bicicleta, apresentamos este pequeno vídeo. Uma versão HD pode ser seleccionada para maior qualidade de imagem e som.
O comportamento da Blur XC testada é vivo e dinâmico. A sensação de condução é claramente XC, com posição ideal para descarregar potência sobre a transmissão durante horas a fio. A direcção é rápida e equilibrada, mas não excessivamente leve, facto ao qual não é alheia a excelente forma do guiador Easton Monkey Lite XC. Nesta bicicleta as subidas são atacadas de forma natural, com uma boa distribuição de peso entre os eixos que não exige contorcionismo acrobático sobre o quadro para impedir o levantar da roda da frente. O VPP impede movimentos oscilantes de grande e média amplitude durante estas sessões de ascensão mas, devido à natureza não blocante desta solução anti-bombeio, existe sempre um pequeno movimento oscilante do amortecedor. Eventuais obstáculos que possam surgir durante a subida são assimilados de forma eficaz, sem ressaltos que originem perda de tracção. A acompanhar estes movimentos da suspensão temos sempre um ligeiro feedback nos pedais, uma ténue força seca que acaba por se tornar no claro sinal de que o VPP está a cumprir a sua missão de devolver a roda traseira à sua posição neutra.
Chegando a trilhos abertos e rolantes, facilmente se descobre que a Blur XC Carbon é muito eficaz para sprintar e manter velocidades de cruzeiro elevadas. Quanto mais vigorosamente se pedala, maior é a estabilidade da suspensão traseira. A bicicleta torna-se muito directa e fica-se com a distinta sensação que o triângulo traseiro está a transmitir toda a potência para a roda de trás, sendo tudo isto conseguido com o efeito de plataforma do RP23 totalmente desligado.
Mas é nas descidas que a Blur XC Carbon mais surpreende. Encoberta sob uma aparência de bicicleta crossista sem compromissos, revela-se uma máquina extremamente competente a descer e que facilmente se deixa guiar com confiança e a alta velocidade sobre todo o tipo de obstáculos. Pode parecer cliché, mas a sensação é semelhante a flutuar numa almofada de ar pelo trilho abaixo, com bastante conforto e grande isolamento daqueles inesperados impactos que nos deixam as rodas apontadas para os sítios mais impróprios nos momentos menos oportunos. O comportamento acaba por ser divertido, em contraste com a natureza sisuda de muitas máquinas de XC. A enorme rigidez do chassis é uma das razões por detrás deste comportamento. Na frente temos excelente precisão direccional e a culpada é a forqueta com eixo de 15 mm que acrescenta ainda mais rigidez torsional à já de si robusta série Fox com bainhas de 32 mm. Atrás, temos a estrutura de carbono de secções amplas, acoplada a links curtos e eixos de diâmetro generoso. É este o segredo da nova geração de quadros de carbono. A busca desmesurada de pesos recordistas que pautou a primeira fase de utilização deste material foi deixada para segundo plano e existe agora um esforço para aproveitar a grande rigidez das fibras de carbono e assim construir quadros leves e sólidos.
A articulação VPP e o óptimo amortecedor RP23 com Boost Valve apoiam-se nesta estrutura quase inflexível para proporcionar níveis de sensibilidade muito agradáveis e uma resposta equilibrada aos grandes impactos. A leitura do terreno é refinada, suave e suficientemente ampla, sem cair em exageros que levem a um comportamento preguiçoso.
[anchor="suma"]Em suma[/anchor]
Ao longo da duração deste teste ficou claro que a Blur XC Carbon é uma máquina concebida a pensar na eficiência e na velocidade, mas com uma especial preocupação em manter um comportamento sólido nas descidas e zonas técnicas. O quadro é rígido sobre o pedalar mas responde de forma confortável e equilibrada aos impactos e irregularidades do terreno. Este tipo de performance vai de encontro às necessidades daqueles que praticam provas competitivas de endurance ou até passeios de longa distância. O preço do quadro será certamente o maior impedimento à compra uma vez que se situa nos patamares mais elevados do mercado e como tal deixa esta máquina inacessível à bolsa de muitos. Mesmo assim não há falta de clientes cativados por esta bicicleta, uma máquina que vem definitivamente enterrar muitos mitos sobre o uso do carbono em BTT. A era do carbono chegou e está para durar.
[anchor="agradecimentos"]Agradecimentos[/anchor]
O staff do FórumBTT agradece ao importador da Santa Cruz, Pernalonga, a cedência da bicicleta de teste para a realização deste ensaio.
SANTA CRUZ BLUR XC CARBON
Texto: Eduardo Marques
Fotos: Pedro Ribeiro, Eduardo Marques, Santa Cruz Bicycles
Vídeo: Eduardo Marques
Rider: Óscar Martins
Finalmente, o foco no Carbono. Fiel ao alumínio desde o seu início, a marca Californiana cedeu ao inescapável apelo do carbono. O resultado? Uma pura bicicleta de XC mas com surpresas na manga.
Durante muitos anos, falar em Santa Cruz era falar em quadros de alumínio de elevada qualidade. A série Blur (XC e LT) alicerçou grande parte da sua reputação de excelente comportamento e durabilidade nos seus quadros cuidadosamente soldados, construídos com avançadas ligas de alumínio. Mas com a progressão veloz da tecnologia do carbono, a Santa Cruz viu o mercado das bicicletas de XC de gama alta a ser invadido por diversos quadros leves em compósito e os seus clientes a reivindicar pesos cada vez mais reduzidos. Depois de mais de uma década de tentativa e erro por parte de alguns pioneiros, os métodos de produção de carbono estavam agora maduros e comprovados. Os engenheiros da Santa Cruz acharam-se então no momento certo para finalmente apostar no carbono, munidos de garantias que o resultado final apresentaria progresso tangível sobre os modelos de alumínio existentes. Esta mudança de paradigma foi uma decisão arriscada mas certamente fundamental para a evolução da marca. A Blur XC Carbon que aqui testamos é o primeiro produto deste novo rumo da Santa Cruz. Terá a aposta no carbono sido uma aposta ganha?

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O quadro desta Blur "carbónica" é uma evolução directa do anterior Blur XC em alumínio. O carácter mantém-se o mesmo e, como é apanágio da Santa Cruz, o sistema de suspensão traseira VPP (Virtual Pivot Point) marca a sua presença. Conforme explicado no artigo da Blur LT, este comprovado mecanismo geométrico articula-se de forma engenhosa para produzir uma variação gradual dos rácios de suspensão e reutiliza habilmente a tensão da corrente de forma a manter a roda de trás estável quando se pedala de forma mais vigorosa. Devido à forte dependência geométrica, estes sistemas de pivot virtual podem ser afinados e projectados para uma gama bastante diversa de comportamentos, que vão desde o XC ultra-leve desta Blur XC até ao DH de competição da monstruosa V-10. No Blur XC Carbon encontramos a variação deste sistema com 105 mm de curso, totalmente optimizados para o pedalar rápido e forte de uma utilização em Cross-Country e Maratona. Os rácios de suspensão são acertados para produzir uma leitura do terreno mais viva, que se pretende livre do efeito de oscilação excessivo que é patente noutras suspensões.
A geometria segue com as lições aprendidas nos Blur XC anteriores e apresenta características que hoje são tidas como obrigatórias neste tipo de quadro. Ângulo de direcção perto dos 70º para funcionar correctamente com o offset e curso das suspensões mais populares, tubo superior arqueado para simplificar a subida/descida da bicicleta e finalmente escoras o mais compactas quanto for possível para beneficiar a agilidade. A altura ao solo do pedaleiro é relativamente pequena para baixar o centro de gravidade e melhorar o comportamento em curva, embora possa gerar situações nas quais os pedais batem em obstáculos quando a suspensão comprime durante subidas técnicas. Um ponto bastante positivo deste quadro é o facto de utilizar componentes bastante uniformizados. Não existe recurso a standards recentes cuja implementação ainda não está garantida e para a maior parte dos compradores deste quadro usar componentes antigos será um processo "plug and play". Um claro piscar de olho aos donos das Blur XC anteriores.
Focando agora atenções na qualidade de construção, encontramos um trabalho de qualidade irrepreensível. Os característicos tubos curvados da série Blur são reproduzidos no carbono com ainda mais fluidez, numa interpretação curvilínea da já clássica linguagem de design dos Blur XC e da Santa Cruz como marca. É um tipo de minimalismo funcional que não requer grandes artifícios visuais para agradar à vista. De notar as zonas de intersecções de tubos, feitas de forma bastante natural, com longos e graduais remates que imprimem solidez. Como consequência das pretensões peso-pluma deste quadro, encontramos uma pintura muito reduzida onde, à parte de uma decoração discreta mas original, todo o carbono é deixado exposto como se fosse uma janela para a disposição homogénea das fibras que dão a coesão ao quadro. Os diâmetros da tubagem são substanciais e claramente calculados para dar ênfase na rigidez. Segundo a literatura da marca (e conforme é procedimento habitual da indústria) as camadas de carbono são ajustadas às exigências específicas de cada um dos tubos. Por exemplo, na parte inferior do tubo diagonal encontram-se camadas extra de tela que conferem resistência adicional aos impactos. Mesmo com estes reforços o peso final é muito competitivo, pautando-se pelas 1985 gramas em tamanho L. O sistema VPP é implementado com os característicos links compactos que prendem o triângulo traseiro. Estes links alojam os rolamentos e, para manter a lama fora das sensíveis esferas, encontram-se totalmente selados por uma barreira de vedantes . O link inferior apresenta ainda portas de injecção de lubrificante para que se possa proceder à renovação da massa dos rolamentos sem ter que os desmontar. Uma vez que localização deste link inferior origina um espaçamento bastante reduzido entre os pratos e a parte inferior do triângulo traseiro, uma placa metálica recobre a zona crítica. No entanto, não será despropositado introduzir alguma protecção adicional porque casos de chainsuck severos (com forte enrolamento de corrente) podem resultar em danos substanciais e irreparáveis para o carbono daquela zona.

A montagem de teste recebida faz jus à qualidade do quadro, uma receita comprovada de componentes de qualidade. As suspensões são entregues à Fox, com uma F32 com 100 mm de curso e eixo passante QR15 a segurar a roda da frente e um RP23 com Boost Valve a moderar o movimento da subestrutura traseira.
A travagem ficou entregue a um par de travões Hope Race X2 com discos flutuantes (analisados à parte) que permitem modular de forma controlada a rotação das vistosas e leves rodas Mavic SLR.
A transmissão é uma mistura de Shimano XT e XTR, com a típica durabilidade, trocas de mudança suaves e um peso contido. Os pneumáticos Schwalbe, de piso pouco agressivo, são pouco adequados para as épocas mais chuvosas nas quais o chão esconde surpresas escorregadias. Mas rolam muito bem e são a escolha acertada para tempo mais seco. No capítulo dos periféricos encontramos um espigão Thomson Masterpiece, um esteticamente agradável avanço 3T ARX-TEAM e um guiador Easton Monkeylight XC. A caixa de direcção fica entregue a uma clássica caixa Chris King NoThreadset.
Tudo componentes que encaixam plenamente na função e "personalidade" deste quadro e como tal devem constar da lista de possibilidades de todos os que pretenderem montar uma bicicleta a partir do quadro Blur XC Carbon.

Para abrir esta secção e exemplificar o comportamento e capacidades desta bicicleta, apresentamos este pequeno vídeo. Uma versão HD pode ser seleccionada para maior qualidade de imagem e som.
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O comportamento da Blur XC testada é vivo e dinâmico. A sensação de condução é claramente XC, com posição ideal para descarregar potência sobre a transmissão durante horas a fio. A direcção é rápida e equilibrada, mas não excessivamente leve, facto ao qual não é alheia a excelente forma do guiador Easton Monkey Lite XC. Nesta bicicleta as subidas são atacadas de forma natural, com uma boa distribuição de peso entre os eixos que não exige contorcionismo acrobático sobre o quadro para impedir o levantar da roda da frente. O VPP impede movimentos oscilantes de grande e média amplitude durante estas sessões de ascensão mas, devido à natureza não blocante desta solução anti-bombeio, existe sempre um pequeno movimento oscilante do amortecedor. Eventuais obstáculos que possam surgir durante a subida são assimilados de forma eficaz, sem ressaltos que originem perda de tracção. A acompanhar estes movimentos da suspensão temos sempre um ligeiro feedback nos pedais, uma ténue força seca que acaba por se tornar no claro sinal de que o VPP está a cumprir a sua missão de devolver a roda traseira à sua posição neutra.

Chegando a trilhos abertos e rolantes, facilmente se descobre que a Blur XC Carbon é muito eficaz para sprintar e manter velocidades de cruzeiro elevadas. Quanto mais vigorosamente se pedala, maior é a estabilidade da suspensão traseira. A bicicleta torna-se muito directa e fica-se com a distinta sensação que o triângulo traseiro está a transmitir toda a potência para a roda de trás, sendo tudo isto conseguido com o efeito de plataforma do RP23 totalmente desligado.

Mas é nas descidas que a Blur XC Carbon mais surpreende. Encoberta sob uma aparência de bicicleta crossista sem compromissos, revela-se uma máquina extremamente competente a descer e que facilmente se deixa guiar com confiança e a alta velocidade sobre todo o tipo de obstáculos. Pode parecer cliché, mas a sensação é semelhante a flutuar numa almofada de ar pelo trilho abaixo, com bastante conforto e grande isolamento daqueles inesperados impactos que nos deixam as rodas apontadas para os sítios mais impróprios nos momentos menos oportunos. O comportamento acaba por ser divertido, em contraste com a natureza sisuda de muitas máquinas de XC. A enorme rigidez do chassis é uma das razões por detrás deste comportamento. Na frente temos excelente precisão direccional e a culpada é a forqueta com eixo de 15 mm que acrescenta ainda mais rigidez torsional à já de si robusta série Fox com bainhas de 32 mm. Atrás, temos a estrutura de carbono de secções amplas, acoplada a links curtos e eixos de diâmetro generoso. É este o segredo da nova geração de quadros de carbono. A busca desmesurada de pesos recordistas que pautou a primeira fase de utilização deste material foi deixada para segundo plano e existe agora um esforço para aproveitar a grande rigidez das fibras de carbono e assim construir quadros leves e sólidos.

A articulação VPP e o óptimo amortecedor RP23 com Boost Valve apoiam-se nesta estrutura quase inflexível para proporcionar níveis de sensibilidade muito agradáveis e uma resposta equilibrada aos grandes impactos. A leitura do terreno é refinada, suave e suficientemente ampla, sem cair em exageros que levem a um comportamento preguiçoso.

Ao longo da duração deste teste ficou claro que a Blur XC Carbon é uma máquina concebida a pensar na eficiência e na velocidade, mas com uma especial preocupação em manter um comportamento sólido nas descidas e zonas técnicas. O quadro é rígido sobre o pedalar mas responde de forma confortável e equilibrada aos impactos e irregularidades do terreno. Este tipo de performance vai de encontro às necessidades daqueles que praticam provas competitivas de endurance ou até passeios de longa distância. O preço do quadro será certamente o maior impedimento à compra uma vez que se situa nos patamares mais elevados do mercado e como tal deixa esta máquina inacessível à bolsa de muitos. Mesmo assim não há falta de clientes cativados por esta bicicleta, uma máquina que vem definitivamente enterrar muitos mitos sobre o uso do carbono em BTT. A era do carbono chegou e está para durar.


[anchor="ficha"]Ficha Técnica do Quadro[/anchor]
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[anchor="componentes"]Componentes da Bicicleta Testada[/anchor]
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[anchor="geometria"]Geometria[/anchor] Para o tamanho L testado:
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O staff do FórumBTT agradece ao importador da Santa Cruz, Pernalonga, a cedência da bicicleta de teste para a realização deste ensaio.