A bicicleta como um utilitário
Isto não é um guia compreensivo, aliás nem um guia chega a ser, são apenas sugestões de alguém que passou a andar de bicicleta nas suas deslocações por Lisboa! Espero que possam aprender alguma coisa com os erros que cometi!
Ao fim de um mês vão ver que 50km por semana não é nada de especial, que acabam por ganhar bastante tempo nestas deslocações e que a vossa fama agora é de maluquinho! A ideia é tentar convencer as pessoas que não é preciso ser um super-herói para andar de bicicleta, nem é nenhuma odisseia. Além de ser fazível, é bastante mais fácil do que aquilo que as pessoas têm em mente...
Para quem não tiver paciência para ler isto tudo, no final de cada secção estão uns pontos chave que ajudam a resumir o que foi escrito.
[A Bicicleta]
Como sou adepto das singlespeed e como me safo na maior nas 7 colinas de Lisboa de singlespeed, sugiro que arranjem uma ... isso mesmo, adivinharam, uma bicicleta com mudanças para se começarem a habituar e não ficarem muito desmoralizados. Não é por uma questão de capacidade física, acho que é mesmo uma barreira psicológica que leva algum tempo a ser ultrapassada. Por exemplo, os nossos políticos ainda não a conseguiram ultrapassar e acham que andar de bicicleta em Lisboa é impossível, aliás, para além de impossível eles acham que andar de bicicleta na estrada deveria ser ilegal!
Uns pneus de cicloturismo são suficientes para andar na cidade, meter uns pneus de estrada é pedir furos e desconforto, enquanto os pneus de BTT nos vão atrasar bastante e exigir muito maior esforço físico.
Luzes são essenciais, assim como uns reflectores para o caso de acabarem as pilhas ou de uma avaria na nossa iluminação. Podem encontrar nas lojas de bicicletas vários reflectores para colocar nas rodas para melhor a visibilidade lateral nos cruzamentos.
Travões em condições, à frente e atrás, apenas tive que utilizar os travões a sério por um par de vezes, mas ainda bem que estavam a funcionar. Nós não temos luzes de travão como os automóveis, *nunca* façam travagens bruscas na bicicleta, nem derrapagens, de preferência usem os travões com suavidade e apenas quando tiver mesmo que ser. É importante saber controlar a nossa velocidade sem recorrer aos travões, assim como é importante saber a distância em que se consegue travar com segurança, com a prática vai-se lá. Atenção, isto não é BTT!!!
Qualquer quadro serve, deve-se escolher um do tamanho apropriado já agora. Lembrem-se que vão acabar por riscar o quadro, quer queiram quer não, não vale a pena fazer grandes investimentos aqui.
Um ciclocomputador com relógio, nem que seja para ver quantos minutos é que vamos chegar antes do tempo por termos pegado na bicicleta em vez do carro. Embora seja uma "mariquice" a mais, acaba por dar bastante jeito e até o podemos exibir aos colegas, "Já viste esta semana fiz 50km!"...
Uma pequena campainha para os que ainda não conseguiram largar a buzina, mas a meu ver só serve para chatear os peões.
Para se proteger da água e sujidade que possa ser projectada das rodas em movimento pode-se instalar uns guarda-lamas na bicicleta. (No Inverno usar em conjunto com umas boas calças impermeáveis para eficácia de 200%)
Para proteger as calças do óleo da corrente e de um ou outro rasgão é aconselhável colocar um prato de protecção (pode-se encontrar em qualquer loja de bicicletas a custo 0) ou optar por uma bicicleta que já venha equipa com um "protector de corrente" (chain guard, em inglês).
Preocupem-se principalmente com estes quatro itens:
* Travões
* Luzes
* Transmissão
* Pneus
[Segurança na estrada]
Antes de mais, nunca esquecer a iluminação sempre que as condições o exigirem (e mesmo quando não exigem), verificar sempre que está tudo a funcionar correctamente, leia-se não se lembrem de ligar a luz de trás em andamento, caso não esteja a funcionar correctamente pode dar-vos uma falsa sensação de segurança. Já agora, evitem ao máximo andar nos passeios, é de longe mais perigoso do que andar na estrada, muitas pessoas com movimentos impossíveis de prever, carros a sair de garagens, cães, postes, além de que atravessar a estrada de bicicleta é mais perigoso do que andar de bicicleta na estrada! É que enquanto andamos na estrada vamos no mesmo sentido dos carros...
Não vou perder muito tempo neste capítulo, no que depende do ciclista basta bom senso para andar em segurança. Andar sempre no *meio* da faixa da direita, apenas permitir as ultrapassagens se isso não condicionar a *nossa* segurança!!! Se a manobra do condutor correr mal quem sofre é quem vai na bicicleta, portanto só devemos permitir essa manobra quando sentirmos que é seguro. Andar encostado à direita é um erro, se a maior parte das pessoas nem verifica se vem um carro a passar quando abre a porta, então muito menos se preocupam com uma bicicleta (embora depois peçam imensa desculpa, porque não estavam à espera e blá..blá..blá..). Por aquilo que leio em vários sites de "Bike Commuting" é um dos acidentes mais comuns entre ciclistas, estão avisados. Andar muito chegado à direita também aumenta a probabilidade de atropelarmos um peão que salte para a estrada sem olhar, foi detrás de uma carrinha de abastecimento de um café que saiu o peão responsável pela única queda (até hoje) nestas deslocações, felizmente só sujei as mãos e ficaram ligeiramente esfoladas, no entanto entortei ligeiramente o guiador.
Há que saber quando é que podemos andar depressa, quando é que podemos andar devagar e também quando é que o devemos fazer!
No Inverno há que ter em atenção o piso molhado, principalmente todo aquele que não seja alcatrão! É que travar no alcatrão é uma maravilha, agora tentem parar a bicicleta em empedrado... Pensando bem, não tentem, a primeira coisa que perdem é a direcção e quando dão por ela estão deitados no chão! O melhor a fazer nestas situações é reduzir a velocidade antes de entrar neste tipo de piso, quando entrarem tentem que a bicicleta esteja completamente perpendicular ao chão e se for necessário travar, façam-no muito devagar. (isto também serve para o BTT e é melhor não dizer como é que aprendi)
Embora ainda não tenha experimentado qualquer problema de aderência no que toca a passadeiras e marcações na estrada, há quem diga que não é a melhor superfície para se efectuar uma travagem ou fazer uma curva, lembrem-se sempre que o melhor mesmo é travar no asfalto, de preferência numa zona sem buracos.
Cuidado também com os reflectores que normalmente são colocados junto a passadeiras ou na divisão das vias de circulação, enquanto de carro mal os sentimos, nas nossas bicicletas podem-nos fazer perder o equilíbrio.
Na cidade de Lisboa ainda há muitas ruas com carris do eléctrico instalados, há dois acidentes comuns nestes tipos de vias. Entalar a roda da frente no carril, que, convenhamos, não é boa ideia!, ou escorregar nos carris. Para evitar que isto nos aconteça podemos andar entre os dois carris, o que normalmente nos coloca longe do alcance das portas dos carros estacionados, temos é que ter cuidado quando quisermos sair, quanto mais fechado for o ângulo entre a roda da bicicleta e o carril maior é a probabilidade de termos um acidente. (é o mesmo que acontece na abordagem a um passeio, ao subir um passeio, por mais baixo que seja, deve-se sempre tentar fazer com o ângulo mais aberto possível (90º é o ideal) e com o rabo fora do selim.
* Iluminação
* Travegens
* Passadeiras
* Carros mal estacionados
* Velocidade excessivamente rápida/lenta
* Portas de carros estacionados
* Piso escorregadio
* Cruzamentos
[Segurança do material]
A questão da segurança do material é talvez a que mais preocupa aqueles que utilizam a bicicleta no seu dia-a-dia para se fazerem deslocar dentro das cidades. Embora não possua dados que comprovem a eficácia das minhas sugestões, posso-vos dizer que sempre que fiquei apeado foi por questões mecânicas!
Postes, sinais, árvores ou estacionamento apropriado? Sugiro, em caso de disponibilidade, estacionamento apropriado, nem que seja para justificar o investimento que alguém teve a bondade de fazer. Postes ou sinais, é tudo a mesma coisa, desde que não atrapalhe nem trânsito nem peões. Agora por favor, não prendam a bicicleta às árvores, não é por uma questão de amor à natureza, que dizer, também é, mas ao prenderem a bicicleta a uma árvore de certeza que algum cão vai lá deixar a sua marca territorial! Fora de brincadeiras, árvores só em último recurso, é que se toda a gente for lá prender a bicicleta de certeza que não lhe vai dar muita saúde.
A meu ver a escolha do local é talvez o ponto mais importante no que toca à segurança do material, um sítio de boa visibilidade, com bastante gente a passar, comércio, cafés ou pastelarias, estacionamentos de motas, etc., são sempre pontos interessantes para estacionar. Não significa que estamos safos, mas existem bastantes mais elementos dissuasores nesses locais do que em ruas onde não passa ninguém onde é mais fácil passar despercebido.
Por exemplo, quando vou à baixa de Lisboa acabo sempre por deixar a bicicleta em frente a um hotel qualquer, também já a deixei numa rua escura e quando voltei ainda lá estava, mas a meu ver não vale a pena arriscar. Desde o Campo Grande até ao Marquês do Pombal é uma maravilha para estacionar a bicicleta, é só escolher um sítio que não atrapalhe os peões. Lembrem-se também que quanto maior visibilidade as nossas bicicletas tiverem, mais habituadas as pessoas/condutores ficam à nossa presença, só assim se alteram as mentalidades.
Há que ter especial atenção às rodas e selins com aperto rápido, quando pensarem em adquirir uma corrente(ou mais) lembrem-se que vai ter que ter comprimento suficiente para alcançar pelo menos as duas rodas. Eu ando com duas correntes, uma prende o quadro e a roda da frente ao poste, enquanto a outra prende o selim e a roda de trás ao quadro. Por vezes, se houver espaço suficiente, utilizo apenas uma corrente que prende as duas rodas e quadro ao poste. Se optarem por ter uma bicicleta apenas para estas deslocações troquem o aperto rápido do selim por um normal. Antes de deixarem a bicicleta verifiquem se ficou bem presa, basta puxar a bicicleta e ver se ela vem atrás ou não, não queiram descobrir da pior forma que afinal só tinham prendido a bicicleta pelo avanço! (logo pela manhã tudo é possível!)
Outra dica, enquanto que uma parte dos frequentadores deste fórum consegue identificar uma SID ou F100 só pelo cheiro, para a grande maioria da população aquilo é o equivalente às que se vendem nas bicicletas do supermercado. Isto para dizer, pneus largos e com grandes tacos chamam logo a atenção (além de que se tornam um pesadelo para pedalar no alcatrão), uma forqueta rígida não é nada apetecível, uma suspensão (qualquer que seja) já começa a abrir o apetite aos amigos do alheio, uma suspensão total (por pior que seja) é uma festa e já conseguem fazer o Lisboa Downtown com aquilo (ou pelo menos pensam), com os travões de disco (mecânicos ou hidráulicos) até se lhes reviram os olhos, e mudanças? Quantas mais melhor!!
Quanto menos apelativa for a bicicleta melhor, torna-se menos provável que seja levada por alguém de princípios menos nobres, como ficam menos chateados se isso por acaso vos acontecer. Há também os engraçadinhos que gostam muito de mexer nos manípulos das mudanças, mas nunca se atreveram na minha singlespeed ainda não sei bem porquê, eheheh! Agora que penso melhor nisso, se calhar foi por causa disso que uma noite qualquer me colaram uma pastilha elástica no selim...
* Material pouco apetecível
* Estacionar em zonas de bastante tráfego, boa visibilidade
[Mecânica]
Como disse há pouco, as poucas vezes que fiquei apeado foi por questões mecânicas... Mantenham sempre a bicicleta em condições, verifiquem os calços dos travões todos os meses e a transmissão. Verifiquem também o desgaste dos pneus, quanto mais gastos estiverem maior é a probabilidade de os furarem.
Até hoje só furei uma vez nas minhas deslocações citadinas e pela razão que anteriormente enunciei, a melhor solução é utilizar uma câmara de ar com líquido reparador, não vale a pena levar bomba, remendos e câmara extra (até porque algum dia se vão esquecer disso tudo em casa e é nesse mesmo dia que vão furar), se tiverem que trocar o pneu estacionem a bicicleta num local seguro e passem por lá mais tarde para fazer essa operação. Se possível passem lá de carro depois do jantar e façam esse trabalho na garagem com melhor iluminação.
Acima de tudo não inventem com esta bicicleta, a última coisa que vão querer é ter uma falha qualquer a caminho do trabalho porque decidiram fazer umas pequenas experiências durante o fim-de-semana.
Sempre que pensei, "ah isto safa", não safou!
* Verificar travões
* Verificar transmissão
* Verificar pneus
[Percursos]
Provavelmente os percursos que fazem de carro são bastante incompatíveis com bicicletas, está na altura de conhecer umas quantas alternativas. O fim-de-semana é uma boa altura para fazer essa exploração e ver quanto tempo é que demora a fazer a deslocação, sem nunca esquecer que o tráfego aumenta durante os dias úteis. Pegar num mapa da cidade, google maps, via michelin, mappy ou semelhantes também pode ajudar.
[Vestuário]
A minha experiência nesta campo não é muito vasta, mas posso dar alguns conselhos. Utilizar um cesto à frente ou uns alforges atrás (na bicicleta, claro) para levar o que for preciso. Malas a tiracolo ou às costas acabam por não ser práticas, as primeiras por questões de equilíbrio e manobragem, as segundas porque nos deixam as costas suadas.
No Verão costumo sair de casa com uma tshirt velha vestida que depois troco quando chego ao meu destino, provavelmente se andasse 5km/h mais devagar esta operação não seria necessária...
Para o Inverno comprei umas calças impermeáveis por 15Eur na Decathlon, são bastante práticas na medida em que se vestem por cima da roupa sem que seja necessário descalçarmo-nos. Não convém utilizar impermeáveis muito quentes, senão é provável que cheguem mais encharcados em suor do que num dia de 40ºC à sombra... Um cachecol é sempre boa ideia para os dias mais frios, mas se estiverem numa onda anti-social já têm uma boa desculpa para não falar!
Se não querem andar com o rabo o dia todo molhado então não arrisquem levar a bicicleta num dia em que as estradas estão, ou possam vir a estar molhadas!! Mais vale deixar a bicicleta em casa e depois ir comprar as tais calças... Eu não ganho à comissão, mas acho mesmo que deviam comprar umas calças adequadas para a chuva! Também só descobri que afinal "salta mais água do que aquilo que eu pensava" depois de já ter chegado ao meu destino.
Um colete reflector semelhante aos que são utilizados nos carros ajudam-no a tornar-se bem visível aos outros condutores, a não esquecer quando se circula em vias de tráfego rápido, como por exemplo a Avenida Marginal.
No fundo a única grande diferença que vai de um biciclista para um motociclista está nas distâncias que é possível percorrer em tempo útil, na velocidade e aceleração. Estas últimas duas há que ter em conta no que toca à segurança na estrada, não podemos fazer tudo aquilo que eles fazem!
Espero que este tópico seja de alguma utilidade para quem o ler, nem que seja para experimentar durante um dia, uma semana até, e depois se não gostarem podem vir aqui queixar-se! A sério que gostava de ouvir os argumentos daqueles que tentaram e não gostaram/conseguiram. Fico à espera!
Aos outros, aqueles que optaram por este belo meio de transporte, espero que dêem uma ajuda a completar este tópico.
Podem encontrar aqui a versão em PDF do texto: http://www.alface.de/bicicletas/
Edit:
* Primeira revisão, adicionar "guarda-lamas" à bicicleta para proteger da água / sujidade que as rodas possam projectar, sugestão de ICH. (10/Jan/2007)
* Segunda revisão, adicionar travagens nas passadeiras, coletes reflectores, reflectores laterais, chain guards, reflectores salientes na estrada, carris do eléctrico e pequena alteração ao "guarda-lamas". Sugestões de Mangelovsky, snowbike, fbruno69. (10/Jan/2007)
* Terceira revisão: Versão em PDF
Isto não é um guia compreensivo, aliás nem um guia chega a ser, são apenas sugestões de alguém que passou a andar de bicicleta nas suas deslocações por Lisboa! Espero que possam aprender alguma coisa com os erros que cometi!
Ao fim de um mês vão ver que 50km por semana não é nada de especial, que acabam por ganhar bastante tempo nestas deslocações e que a vossa fama agora é de maluquinho! A ideia é tentar convencer as pessoas que não é preciso ser um super-herói para andar de bicicleta, nem é nenhuma odisseia. Além de ser fazível, é bastante mais fácil do que aquilo que as pessoas têm em mente...
Para quem não tiver paciência para ler isto tudo, no final de cada secção estão uns pontos chave que ajudam a resumir o que foi escrito.
[A Bicicleta]
Como sou adepto das singlespeed e como me safo na maior nas 7 colinas de Lisboa de singlespeed, sugiro que arranjem uma ... isso mesmo, adivinharam, uma bicicleta com mudanças para se começarem a habituar e não ficarem muito desmoralizados. Não é por uma questão de capacidade física, acho que é mesmo uma barreira psicológica que leva algum tempo a ser ultrapassada. Por exemplo, os nossos políticos ainda não a conseguiram ultrapassar e acham que andar de bicicleta em Lisboa é impossível, aliás, para além de impossível eles acham que andar de bicicleta na estrada deveria ser ilegal!
Uns pneus de cicloturismo são suficientes para andar na cidade, meter uns pneus de estrada é pedir furos e desconforto, enquanto os pneus de BTT nos vão atrasar bastante e exigir muito maior esforço físico.
Luzes são essenciais, assim como uns reflectores para o caso de acabarem as pilhas ou de uma avaria na nossa iluminação. Podem encontrar nas lojas de bicicletas vários reflectores para colocar nas rodas para melhor a visibilidade lateral nos cruzamentos.
Travões em condições, à frente e atrás, apenas tive que utilizar os travões a sério por um par de vezes, mas ainda bem que estavam a funcionar. Nós não temos luzes de travão como os automóveis, *nunca* façam travagens bruscas na bicicleta, nem derrapagens, de preferência usem os travões com suavidade e apenas quando tiver mesmo que ser. É importante saber controlar a nossa velocidade sem recorrer aos travões, assim como é importante saber a distância em que se consegue travar com segurança, com a prática vai-se lá. Atenção, isto não é BTT!!!
Qualquer quadro serve, deve-se escolher um do tamanho apropriado já agora. Lembrem-se que vão acabar por riscar o quadro, quer queiram quer não, não vale a pena fazer grandes investimentos aqui.
Um ciclocomputador com relógio, nem que seja para ver quantos minutos é que vamos chegar antes do tempo por termos pegado na bicicleta em vez do carro. Embora seja uma "mariquice" a mais, acaba por dar bastante jeito e até o podemos exibir aos colegas, "Já viste esta semana fiz 50km!"...
Uma pequena campainha para os que ainda não conseguiram largar a buzina, mas a meu ver só serve para chatear os peões.
Para se proteger da água e sujidade que possa ser projectada das rodas em movimento pode-se instalar uns guarda-lamas na bicicleta. (No Inverno usar em conjunto com umas boas calças impermeáveis para eficácia de 200%)
Para proteger as calças do óleo da corrente e de um ou outro rasgão é aconselhável colocar um prato de protecção (pode-se encontrar em qualquer loja de bicicletas a custo 0) ou optar por uma bicicleta que já venha equipa com um "protector de corrente" (chain guard, em inglês).
Preocupem-se principalmente com estes quatro itens:
* Travões
* Luzes
* Transmissão
* Pneus
[Segurança na estrada]
Antes de mais, nunca esquecer a iluminação sempre que as condições o exigirem (e mesmo quando não exigem), verificar sempre que está tudo a funcionar correctamente, leia-se não se lembrem de ligar a luz de trás em andamento, caso não esteja a funcionar correctamente pode dar-vos uma falsa sensação de segurança. Já agora, evitem ao máximo andar nos passeios, é de longe mais perigoso do que andar na estrada, muitas pessoas com movimentos impossíveis de prever, carros a sair de garagens, cães, postes, além de que atravessar a estrada de bicicleta é mais perigoso do que andar de bicicleta na estrada! É que enquanto andamos na estrada vamos no mesmo sentido dos carros...
Não vou perder muito tempo neste capítulo, no que depende do ciclista basta bom senso para andar em segurança. Andar sempre no *meio* da faixa da direita, apenas permitir as ultrapassagens se isso não condicionar a *nossa* segurança!!! Se a manobra do condutor correr mal quem sofre é quem vai na bicicleta, portanto só devemos permitir essa manobra quando sentirmos que é seguro. Andar encostado à direita é um erro, se a maior parte das pessoas nem verifica se vem um carro a passar quando abre a porta, então muito menos se preocupam com uma bicicleta (embora depois peçam imensa desculpa, porque não estavam à espera e blá..blá..blá..). Por aquilo que leio em vários sites de "Bike Commuting" é um dos acidentes mais comuns entre ciclistas, estão avisados. Andar muito chegado à direita também aumenta a probabilidade de atropelarmos um peão que salte para a estrada sem olhar, foi detrás de uma carrinha de abastecimento de um café que saiu o peão responsável pela única queda (até hoje) nestas deslocações, felizmente só sujei as mãos e ficaram ligeiramente esfoladas, no entanto entortei ligeiramente o guiador.
Há que saber quando é que podemos andar depressa, quando é que podemos andar devagar e também quando é que o devemos fazer!
No Inverno há que ter em atenção o piso molhado, principalmente todo aquele que não seja alcatrão! É que travar no alcatrão é uma maravilha, agora tentem parar a bicicleta em empedrado... Pensando bem, não tentem, a primeira coisa que perdem é a direcção e quando dão por ela estão deitados no chão! O melhor a fazer nestas situações é reduzir a velocidade antes de entrar neste tipo de piso, quando entrarem tentem que a bicicleta esteja completamente perpendicular ao chão e se for necessário travar, façam-no muito devagar. (isto também serve para o BTT e é melhor não dizer como é que aprendi)
Embora ainda não tenha experimentado qualquer problema de aderência no que toca a passadeiras e marcações na estrada, há quem diga que não é a melhor superfície para se efectuar uma travagem ou fazer uma curva, lembrem-se sempre que o melhor mesmo é travar no asfalto, de preferência numa zona sem buracos.
Cuidado também com os reflectores que normalmente são colocados junto a passadeiras ou na divisão das vias de circulação, enquanto de carro mal os sentimos, nas nossas bicicletas podem-nos fazer perder o equilíbrio.
Na cidade de Lisboa ainda há muitas ruas com carris do eléctrico instalados, há dois acidentes comuns nestes tipos de vias. Entalar a roda da frente no carril, que, convenhamos, não é boa ideia!, ou escorregar nos carris. Para evitar que isto nos aconteça podemos andar entre os dois carris, o que normalmente nos coloca longe do alcance das portas dos carros estacionados, temos é que ter cuidado quando quisermos sair, quanto mais fechado for o ângulo entre a roda da bicicleta e o carril maior é a probabilidade de termos um acidente. (é o mesmo que acontece na abordagem a um passeio, ao subir um passeio, por mais baixo que seja, deve-se sempre tentar fazer com o ângulo mais aberto possível (90º é o ideal) e com o rabo fora do selim.
* Iluminação
* Travegens
* Passadeiras
* Carros mal estacionados
* Velocidade excessivamente rápida/lenta
* Portas de carros estacionados
* Piso escorregadio
* Cruzamentos
[Segurança do material]
A questão da segurança do material é talvez a que mais preocupa aqueles que utilizam a bicicleta no seu dia-a-dia para se fazerem deslocar dentro das cidades. Embora não possua dados que comprovem a eficácia das minhas sugestões, posso-vos dizer que sempre que fiquei apeado foi por questões mecânicas!
Postes, sinais, árvores ou estacionamento apropriado? Sugiro, em caso de disponibilidade, estacionamento apropriado, nem que seja para justificar o investimento que alguém teve a bondade de fazer. Postes ou sinais, é tudo a mesma coisa, desde que não atrapalhe nem trânsito nem peões. Agora por favor, não prendam a bicicleta às árvores, não é por uma questão de amor à natureza, que dizer, também é, mas ao prenderem a bicicleta a uma árvore de certeza que algum cão vai lá deixar a sua marca territorial! Fora de brincadeiras, árvores só em último recurso, é que se toda a gente for lá prender a bicicleta de certeza que não lhe vai dar muita saúde.
A meu ver a escolha do local é talvez o ponto mais importante no que toca à segurança do material, um sítio de boa visibilidade, com bastante gente a passar, comércio, cafés ou pastelarias, estacionamentos de motas, etc., são sempre pontos interessantes para estacionar. Não significa que estamos safos, mas existem bastantes mais elementos dissuasores nesses locais do que em ruas onde não passa ninguém onde é mais fácil passar despercebido.
Por exemplo, quando vou à baixa de Lisboa acabo sempre por deixar a bicicleta em frente a um hotel qualquer, também já a deixei numa rua escura e quando voltei ainda lá estava, mas a meu ver não vale a pena arriscar. Desde o Campo Grande até ao Marquês do Pombal é uma maravilha para estacionar a bicicleta, é só escolher um sítio que não atrapalhe os peões. Lembrem-se também que quanto maior visibilidade as nossas bicicletas tiverem, mais habituadas as pessoas/condutores ficam à nossa presença, só assim se alteram as mentalidades.
Há que ter especial atenção às rodas e selins com aperto rápido, quando pensarem em adquirir uma corrente(ou mais) lembrem-se que vai ter que ter comprimento suficiente para alcançar pelo menos as duas rodas. Eu ando com duas correntes, uma prende o quadro e a roda da frente ao poste, enquanto a outra prende o selim e a roda de trás ao quadro. Por vezes, se houver espaço suficiente, utilizo apenas uma corrente que prende as duas rodas e quadro ao poste. Se optarem por ter uma bicicleta apenas para estas deslocações troquem o aperto rápido do selim por um normal. Antes de deixarem a bicicleta verifiquem se ficou bem presa, basta puxar a bicicleta e ver se ela vem atrás ou não, não queiram descobrir da pior forma que afinal só tinham prendido a bicicleta pelo avanço! (logo pela manhã tudo é possível!)
Outra dica, enquanto que uma parte dos frequentadores deste fórum consegue identificar uma SID ou F100 só pelo cheiro, para a grande maioria da população aquilo é o equivalente às que se vendem nas bicicletas do supermercado. Isto para dizer, pneus largos e com grandes tacos chamam logo a atenção (além de que se tornam um pesadelo para pedalar no alcatrão), uma forqueta rígida não é nada apetecível, uma suspensão (qualquer que seja) já começa a abrir o apetite aos amigos do alheio, uma suspensão total (por pior que seja) é uma festa e já conseguem fazer o Lisboa Downtown com aquilo (ou pelo menos pensam), com os travões de disco (mecânicos ou hidráulicos) até se lhes reviram os olhos, e mudanças? Quantas mais melhor!!
Quanto menos apelativa for a bicicleta melhor, torna-se menos provável que seja levada por alguém de princípios menos nobres, como ficam menos chateados se isso por acaso vos acontecer. Há também os engraçadinhos que gostam muito de mexer nos manípulos das mudanças, mas nunca se atreveram na minha singlespeed ainda não sei bem porquê, eheheh! Agora que penso melhor nisso, se calhar foi por causa disso que uma noite qualquer me colaram uma pastilha elástica no selim...
* Material pouco apetecível
* Estacionar em zonas de bastante tráfego, boa visibilidade
[Mecânica]
Como disse há pouco, as poucas vezes que fiquei apeado foi por questões mecânicas... Mantenham sempre a bicicleta em condições, verifiquem os calços dos travões todos os meses e a transmissão. Verifiquem também o desgaste dos pneus, quanto mais gastos estiverem maior é a probabilidade de os furarem.
Até hoje só furei uma vez nas minhas deslocações citadinas e pela razão que anteriormente enunciei, a melhor solução é utilizar uma câmara de ar com líquido reparador, não vale a pena levar bomba, remendos e câmara extra (até porque algum dia se vão esquecer disso tudo em casa e é nesse mesmo dia que vão furar), se tiverem que trocar o pneu estacionem a bicicleta num local seguro e passem por lá mais tarde para fazer essa operação. Se possível passem lá de carro depois do jantar e façam esse trabalho na garagem com melhor iluminação.
Acima de tudo não inventem com esta bicicleta, a última coisa que vão querer é ter uma falha qualquer a caminho do trabalho porque decidiram fazer umas pequenas experiências durante o fim-de-semana.
Sempre que pensei, "ah isto safa", não safou!
* Verificar travões
* Verificar transmissão
* Verificar pneus
[Percursos]
Provavelmente os percursos que fazem de carro são bastante incompatíveis com bicicletas, está na altura de conhecer umas quantas alternativas. O fim-de-semana é uma boa altura para fazer essa exploração e ver quanto tempo é que demora a fazer a deslocação, sem nunca esquecer que o tráfego aumenta durante os dias úteis. Pegar num mapa da cidade, google maps, via michelin, mappy ou semelhantes também pode ajudar.
[Vestuário]
A minha experiência nesta campo não é muito vasta, mas posso dar alguns conselhos. Utilizar um cesto à frente ou uns alforges atrás (na bicicleta, claro) para levar o que for preciso. Malas a tiracolo ou às costas acabam por não ser práticas, as primeiras por questões de equilíbrio e manobragem, as segundas porque nos deixam as costas suadas.
No Verão costumo sair de casa com uma tshirt velha vestida que depois troco quando chego ao meu destino, provavelmente se andasse 5km/h mais devagar esta operação não seria necessária...
Para o Inverno comprei umas calças impermeáveis por 15Eur na Decathlon, são bastante práticas na medida em que se vestem por cima da roupa sem que seja necessário descalçarmo-nos. Não convém utilizar impermeáveis muito quentes, senão é provável que cheguem mais encharcados em suor do que num dia de 40ºC à sombra... Um cachecol é sempre boa ideia para os dias mais frios, mas se estiverem numa onda anti-social já têm uma boa desculpa para não falar!
Se não querem andar com o rabo o dia todo molhado então não arrisquem levar a bicicleta num dia em que as estradas estão, ou possam vir a estar molhadas!! Mais vale deixar a bicicleta em casa e depois ir comprar as tais calças... Eu não ganho à comissão, mas acho mesmo que deviam comprar umas calças adequadas para a chuva! Também só descobri que afinal "salta mais água do que aquilo que eu pensava" depois de já ter chegado ao meu destino.
Um colete reflector semelhante aos que são utilizados nos carros ajudam-no a tornar-se bem visível aos outros condutores, a não esquecer quando se circula em vias de tráfego rápido, como por exemplo a Avenida Marginal.
No fundo a única grande diferença que vai de um biciclista para um motociclista está nas distâncias que é possível percorrer em tempo útil, na velocidade e aceleração. Estas últimas duas há que ter em conta no que toca à segurança na estrada, não podemos fazer tudo aquilo que eles fazem!
Espero que este tópico seja de alguma utilidade para quem o ler, nem que seja para experimentar durante um dia, uma semana até, e depois se não gostarem podem vir aqui queixar-se! A sério que gostava de ouvir os argumentos daqueles que tentaram e não gostaram/conseguiram. Fico à espera!
Aos outros, aqueles que optaram por este belo meio de transporte, espero que dêem uma ajuda a completar este tópico.
Podem encontrar aqui a versão em PDF do texto: http://www.alface.de/bicicletas/
Edit:
* Primeira revisão, adicionar "guarda-lamas" à bicicleta para proteger da água / sujidade que as rodas possam projectar, sugestão de ICH. (10/Jan/2007)
* Segunda revisão, adicionar travagens nas passadeiras, coletes reflectores, reflectores laterais, chain guards, reflectores salientes na estrada, carris do eléctrico e pequena alteração ao "guarda-lamas". Sugestões de Mangelovsky, snowbike, fbruno69. (10/Jan/2007)
* Terceira revisão: Versão em PDF