Eu também sou da opinião que os sliders são a melhor opção e foi essa uma das razões pelas quais optei pelo meu quadro actual. A principal vantagem dos sliders é mesmo a facilidade de ajuste, especialmente com os parafusos de afinação. Nunca tive a oportunidade de utilizar um eixo excêntrico mas pelo que li, percebi que o seu ajuste é mais delicado.
O problema dos mecanismos excêntricos é que o seu bloqueio rotacional é extremamente complexo. Digo isto porque perdi cerca de 6 meses a desenhar um sistema completo de excêntrico para o eixo pedaleiro que funcionasse em quadros normais e apercebi-me das elevadas dificuldade que existem nesta configuração. O meu sistema de referência era o TrickStuff Excentriker, o tal que substitui um eixo de rolamentos externos e coloca lá uma versão externa de um eixo excêntrico.
Ora, o Excentriker é uma peça muito interessante mas peca em 4 aspectos. O primeiro é o preço, resultado das toneladas de trabalho CNC e do mercado de venda pequeno. O segundo é o facto de requerer cranques modificados porque os parafusos da "avozinha" interferem com o mecanismo de excêntrico. O terceiro defeito é o mecanismo de bloqueio de rotação, o qual me parece manifestamente pouco robusto. O quarto defeito é amplitude de ajuste, cerca de 7 mm, a qual não permite acomodar todas as relações de mudanças.
Face a isto, decidi deitar as mãos à obra e perceber se era possível contornar alguma destas limitações e chegar a alguma solução mais elegante. Durante este processo aprendi mesmo muita coisa sobre mecanismos de ajuste excêntricos. A primeira coisa que estudei foi o mecanismo de bloqueio do Excentriker. Este mecanismo é muito diferente dos mecanismos usados nos eixos pedaleiros excêntricos standard, os tais que estão no quadro Singular que o Pax mostra. Estes mecanismo são relativamente antigos e existem em várias configurações:
Excêntrico simples
Este é o sistema mais básico. É um cilindro de metal maquinado, com um furo descentrado que roda dentro de um tubo do quadro. O tubo do quadro tem um ranhura que é fechada por dois parafusos. Ao apertar os parafusos o diâmetro do tubo fica mais pequeno e o excêntrico é preso na posição pretendida. Simples mas têm os seus problemas. A pressão não é bem distribuída ao longo da circunferência porque o metal se deforma. Pior ainda, podemos danificar o quadro permanentemente porque os parafusos exercem uma força localizada muito elevada. Esta força conjugada com as torções normais na zona do pedaleiro pode ovalizar o tubo do quadro. Isto leva a folgas e ruídos.
Excêntrico com cunha
Esta solução de cunha é bastante elegante porque não requer parafusos no quadro. Basta um tubo com o diâmetro correcto. Ao rodar o parafuso, uma cunha sobe ligeiramente pelo resto do excêntrico e empurra-o firmemente contra o quadro. É exactamente o mesmo principio dos avanços de bicicletas antigas. Aqui as pressões são melhor distribuídas porque a área de contacto é maior e o parafuso não actua directamente sobre o metal do quadro. Este sistema é no entanto volumoso e pesado, porque requer uma área de contacto grande para funcionar de maneira eficaz.
Excêntrico bi-partido com cunha dupla
Esta solução de cunha dupla interna é a mais moderna. Neste caso, o cilindro do excêntrico é separado em duas partes distintas que são empurradas contra o quadro por duas cunhas opostas, montadas em parafusos. É de longe a melhor solução porque todo o excêntrico é usado para fazer pressão contra o quadro e a simetria das cunhas assegura que a pressão é bem distribuída.
No caso do Excentriker, um sistema deste tipo tem que ser integrado na mesma largura que a Shimano destinou aos rolamentos de pedaleiros externos: 10.5 mm. Esta largura impede completamente uma solução com cunhas porque as áreas de contacto são ridiculamente pequenas e para meter sequer os parafusos de ajuste, eles teriam que ser estupidamente pequenos e incapazes de transmitir forças úteis.
O Excentriker usa então uma solução diferente destas que apresentei acima. Usa um pino metálico que faz pressão contra o disco rotativo onde está o excêntrico. Fiz aqui um desenho rápido desse mecanismo:
Deste modo o bloqueio é feito de forma compacta e mantendo a largura abaixo dos 10.5 mm. O problema deste sistema é que para haver bloqueio efectivo no contacto entre duas peças cilíndricas as forças de contacto têm mesmo que ser elevadas, porque existe a têndencia natural de haver rolamento entre as duas superfícies. O parafuso que usam parece-me muito pequeno para isto e à medida que as peças se vão degastando é possível que seja incapaz de bloquear sem usar binários elevadíssimos.
Eu nas minhas brincadeiras cheguei a uma solução que usa apenas um parafuso externo para unir duas partes de um excêntrico ranhurado a meio. De certa forma aproxima-se à primeira solução que apresentei para os eixos excêntricos "standard", com os seus inconvenientes. No entanto esta é a forma que me parece dar mais garantias de bloqueio uma vez que é impossível montar cunhas num espaço tão reduzido.
Mesmo assim nunca fiquei convencido que fosse uma solução realmente útil e em vez de passar à produção de algo tão pouco convencional decidi investir num bom sistema de ponteiras deslizantes. No entanto, se alguém tiver uma maquina CNC em casa e tempo livre é só falar comigo que arranjo os projectos. :mrgreen:
Depois de tanto texto
, posso então dar algumas conclusões. A primeira é que os eixos excêntricos normais (internos) são uma boa solução, especialmente usando o sistema de cunha dupla fabricado pela Bushnell. A segunda é que os eixos pedaleiro excêntricos externos são demasiados limitados e caros para uma utilização prática. A terceira conclusão é que os dropouts deslizantes são uma solução muito mais "limpa" que qualquer outra alternativa, especialmente a versão fabricada pela Paragon Machine Works. Sei que quando for grande vou ter um quadro com uma coisa destas: