Repesco este tópico com dois anos, pois hoje escreveu-se mais um capítulo desta invernal subida ao Alvão, já tornada uma clássica do dia 1 de Dezembro. Se em 2009 (ver posts acima) fomos brindados com tempo inclemente e esparsa neve, desta vez tivemos muito melhor sorte. O tempo estava até agradável, com pouco vento e até umas longas abertas de sol quente. E a neve, a maior vedeta do espectáculo, marcou a sua presença em força, recobrindo todo o Alvão num manto branco que começava a partir do 700 metros de altitude.
As duas primeiras ascenções foram feitas a dois (eu e o Indy) mas desta vez arranjamos a boa companhia do Tico, Valentin e do Marco, facilmente aliciados pela perspectiva de pedalar pela neve.
Como habitual, partimos do estacionamento junto as fisgas do Ermelo e rapidamente iniciamos a subida pelos trilhos que seguem paralelos ás fisgas. Quebramos o ritmo para galgar um escorregadio singletrack que ruma à ponte junto a aldeia de Varzigueto, velho conhecido de muitas voltas pelo Alvão. Começamos no meio do nevoeiro em piso húmido e sem neve mas rapidamente começamos a ser presenteados com um panorama de rara beleza.
Com a intenção de rumar a Lamas de Olo, enveredamos agora por um pitoresco caminho que segue ondulante uns metros acima do rio Olo. Este caminho termina em Pioledo e foi uma descoberta pela primeira vez utilizada num
outro ataque pelas terras de Basto, feito no início deste ano. Este caminho fez-se lento e com muitas paragens, umas causadas por problemas de tracção e equilíbrio, outras por grandes batalhas de bolas de neve que iam irrompendo entre os intervenientes.
Ainda antes de entrar em Pioledo fizemos uso da nossa arma secreta para este terreno. Preso ao camelbak do Tico vinha um trenó plástico do Valentin que prontamente pusemos à prova numa das encostas inclinadas que encontramos à face do trilho.
Emergimos da neve à entrada do Pioledo, onde uma anciã guardando as suas galinhas nos inquiriu em jeito de surpresa:
-E vieram por aí? Onde a neve é mais funda?
Acenamos em confirmação e seguimos o nosso caminho em direcção a Lamas de Olo. Subimos a bom ritmo pela estrada de asfalto, suficiente limpa pelo rodado dos vários jipes e pickups que rolavam, em trabalho ou lazer, pelo topo do Alvão.
Atravessamos Lamas de Olo penosamente devagar. O gelo era abundante no empedrado das pequenas ruas da aldeia serrana e um temível adversário para as capacidades de aderência nossos vulgares pneus de BTT.
Rolávamos agora em direcção à barragem de Lamas de Olo. À saída da aldeia trocamos breves palavras com o condutor de uma carrinha de carga que estava preso na inclinada estrada de acesso. Claramente frustrado pela sua má escolha de percurso e sem correntes, aguardava a chegada de um prometido tractor para o puxar dali para fora. As dificuldades que a carrinha sentiu também por nós foram enfrentadas nas centenas de metros seguintes. Uma mistura de gelo e neve solta impedia que seguíssemos muito tempo em cima das bicicletas. Seguimos alternando entre períodos a pé e outros a pedalar, com discussões animadas sobre a melhor de forma de conseguir forçar a bicicleta a trepar a estrada gelada. Uns usavam da força para abrir o caminho, outros preferiam métodos psicológicos mais elaborados para tentar dominar a trajectória aleatória das duas rodas.
Depois de uns minutos neste pára-arranca, atingimos uma zona de asfalto mais plano que nos permitiu chegar à barragem. Lá a paisagem mostrava-se bela como a vimos em 2008. Estas barragem foi também um dos pontos de passagem da nossa travessia
Chaves-Coimbra deste Verão. O contraste evidencia a sempre interessante mutabilidade do nosso Norte montanhoso. Ora seco e insuportavelmente quente, ora paisagem "árctica" de maravilhas invernais.
À medida que nos aproximávamos do nosso destino final de subida, o bar Cabana, apareciam cada vez mais árvores pesadamente decoradas pela neve. O clássico postal de Natal.
Chegamos ao Cabana. Recarregamos a nossa energia com boas sandes de presunto e alheiras assadas ao lume e tentamos afugentar o frio das extremidades com as chamas da lareira.
Quando saímos do acolhedor estabelecimento, o tempo tinha ficado pior. O vento tinha levantado e a temperatura descido. O frio, agora certamente em valores bem negativos, arrepiava-nos o corpo e congelava-nos as mãos, não fazendo caso das pesadas luvas de inverno que todos envergávamos. A situação ficou desconfortável para todos. Fomos então forçados a acelerar o passo e abandonar esta zona mais gelada. Descemos, curva após curva, pela estrada em direcção ao nosso transporte e para longe da bela paisagem. Pelo caminho ainda deu para tirar umas últimas fotos, recordações de mais um alvo Alvão.
Apesar do frio incessante, penso que todos os participantes ficaram fascinados com a beleza das neves do Alvão. E eu, ainda a aquecer o corpo depois da incursão de hoje, já anseio pela próxima viagem pelas serras invernais.