Primeiras pedalas em Lisboa: problemas encontrados!
Olá a todos,
Comecei a pedalar em Lisboa há perto de um mês. Já tinha pedalado bastante, em cidade, na Holanda, na Finlândia e no Reino Unido. Afeiçoei-me ao meio de transporte e à qualidade de vida que ele traz, e não quiz deixar de o usar aqui na minha cidade. Antes de ter ido estudar lá para fora, nem nunca me tinha passado pela cabeça pedalar em Lisboa, acho que tinha demasiado medo. Entretanto, como adquiri algum à vontade na bicicleta, comecei a 'arriscar' aqui também. Desde então, já tive o meu primeiro acidente contra o espelho retrovisor dum carro estacionado que abriu a porta sem olhar (só depois li as recomendações de andar pelo meio da estrada). Foi ali à frente da antiga Feira popular e o tralho não foi nada agradável, quase perdi os sentidos além de ter feito várias escoriações. Ainda ouvi o som seco do capacete a bater na estrada e acho que na altura deu tempo para pensar "ainda bem q não me esqueci de ti!". Após 4 anos a pedalar lá fora, comecei a ter mais respeito pelo conceito de pedalar em Lisboa. Mas não deixei, longe disso, e cada vez ando mais. Mas sempre que saio têm aparecido situações que mudam a minha ideia de como melhor pedalar, em mais segurança, aqui na cidade, se tiverem alguma sugestão ou ideia parecida, comentem!
Uma situação que me surgiu ao atravessar a Praça de Londres, perto da saída para a direita que sobe para o Técnico, um taxista resolve ultrapassar-me e cortar à direita imediatamente a seguir. Travei a fundo e virei para o mesmo lado que ele, e só assim evitei ir ao chão. Fiquei parado a recuperar os ânimos quando me apercebi que o respectivo taxista tinha ficado parado num semáforo mais à frente. Eu reparei que ele me tinha visto e nem sequer pediu desculpa. Senti-me um bocado agressivo e ainda o tentei apanhar lá no semáforo, com o primeiro intuito de dar uns socos na chapa do carro e depois conversar, mas já não o apanhei.
A solução que adoptei é que quando vou a passar por cruzamentos, ou saídas à direita, normalmente encosto mais ao centro da faixa, levanto-me do selim e acelero um pouco, para mostrar claramente a intenção de seguir em frente, e para dar menos hipóteses a um condutor de fazer uma ultrapassagem "in extremis"
Outro taxista, hoje, na Av. da República a chegar à Rotunda de Entrecampos, atravessa-me a acelerar (eu ia na faixa de BUS encostado à direita) para cortar logo à minha frente e encostar ao passeio para largar o utente. Apesar de com menos perigo que a situação anterior, senti o vento do carro e a sensação de que por pouco me mandava ao chão. Cheguei-me ao vidro do taxista e só lhe disse "ó chefe!tenha lá cuidadinho comigo, tá bem?é que eu sou frágil, tou de bicicleta", ele até se começou a explicar "eu normalmente tenho calma e tal" mas eu já estava um bocado nervoso com a manobra dele e decidi continuar a pedalar sem prolongar mais a conversa. Ficou só o pedido.
Outra situação chata em Lisboa, quando vamos na estrada, são os peões que atravessam em qualquer lugar. Se com os carros têm cuidadinho, com as bicicletas muitas vezes estão-se a borrifar e até arriscam a sua "massa humana" contra a nossa. Não sei como vocês resolvem essas situações, se vão mais para o meio da estrada para os evitar, ou se continuam em frente como se não fosse nada convosco (pois ou desviar também pode ser perigoso para nós). O que é certo é que da parte dos peões também há um certo desrespeito para com os ciclistas. Claro que o oposto também deve acontecer, mas falo por mim quando digo que ao sentir-me uma minoria em Lisboa e ao querer promover o uso da bicicleta, ando sempre com o máximo de cuidado para com os peões, sobretudo quando tenho de usar o passeio.
O que se nota aqui em Lisboa, realmente, é a surpresa das pessoas com as bicicletas. As bocas tipo "É campeão!" são comuns, e as reacções dos condutores são completamente imprevisíveis. Uns ficam com tantos cuidados que vão 10 minutos a rolar devagar atrás de ti quando têm faixas para passar, outros agem como se não existíssemos. Mas devo também dizer que fiquei surpreendido com várias reacções extremamente cívicas e pacientes de condutores em Lisboa (nomeadamente de autocarros, um abraço aos condutores da CARRIS) que nunca presenciei lá fora, onde a bicicleta já faz parte da paisagem. Acho que é possível andar de bicicleta aqui em Lisboa e que com a prática fica mais seguro, sobretudo após a fase inicial de "violenta" adaptação. Só gostava de conseguir prever um pouco mais do que os condutores vão fazer, se há uma característica que se destaca nos nossos condutores, é a sua "imprevisibilidade", muitas vezes fico parado várias dezenas de segundos atrás dum carro só à espera de ver o q vai acontecer (pode ser perigoso se ele quiser fazer marcha-atrás :wink
O que quero trabalhar ainda em mim, é o não me exasperar tanto com os carros, dialogar com os condutores quando for caso disso, mas com civismo e só em 10% das ocorrências (se não um gajo passa a vida nisto). Já bati nuns quantos capots de carros para deixar o aviso, mas não sei se será o melhor, pois pode piorar ainda mais as relações bicicleta-carro (que nos interessa manter cordiais). O que acham?
Já agora para finalizar uma pergunta. Algum de vocês usa espelhos retrovisores, no guiador ou no capacete? Recomendam o seu uso em bicicleta?
Abraços e desculpem-me este longo primeiro "post". Espero ver-vos na "Massa Crítica" esta Sexta,
Miguel Ferreira