Rescaldo do grupo “100% Mato & Estrada “ no “Tróia/Sagres Primaveril 2010”
Foi um amanhecer muito rápido, com o pessoal a chegar dentro da hora prevista e a ajudar no carregamento da carrinha. Já com as bikes bem amarradas passamos pelo Pinhal Novo para buscar o “Chuchas” que, esgotado dos muitos dias de trabalho até à Meia-Noite, deixou-se dormir. Compreende-se mas custou-nos alguns minutos preciosos.
A viagem até Tróia foi longa mas divertida e ainda deu para parar para um café a meio do caminho. Chegados ao Ferry, já os Duros do Pedal estavam quase prontos, com os nervos à flor da pele e ouvia-se no ar a incerteza da alteração do percurso sobre a passagem, ou não, pela Serra do Cercal. Os minutos restantes para as 8:30 passavam a voar e, mais uma vez, o “Chuchas” queixoso dos suportes de bidões defeituosos, pediu para montar naquele momento uns novos que tinha comprado à noite (aqueles que eu aconselhei a não comprar) pois não o tinha já feito porque a bike tinha ficado na loja no dia anterior. Esta foi uma situação que podia ser evitada mas, se nuns dias esperamos por uns também podemos esperar por outros.
Todos a postos chegamos à linha de partida e já os Duros do Pedal seguiam 500m na frente. Foi o delírio! O pessoal começou a acelerar com toda a força para colar na traseira da Automotora. Já colocados achei que o ritmo imposto (37km/h) era demasiado acelerado para se fazer um bom aquecimento, parecia que ninguém estava ciente da dureza do percurso.
Confrontado com esta situação gritei bem alto: “João, estamos a andar depressa de mais!”, o João não respondeu, os outros continuavam sem baixar o ritmo e o Nuno Pinto diz: “Temos é de ir na roda daqueles gajos!”.
Foi o pior que eu podia ter ouvido.
Com tantos treinos que foram feitos a pensar neste dia, uns como “exemplos a seguir” e outros como “exemplos a não seguir”, o pessoal foi logo escolher a pior opção!
Revoltado com esta situação saí disparado para a frente, colocando-me junto dos mais fortes do grupo, onde encontrei o Gioseppe (o tal que era suposto juntar-se a nós), o Victor, o Tdi, o Tó Monteiro e mais uns quantos que não me lembro o nome. Fui para a frente de propósito para não ajudar ninguém à medida a que fossem descolando, tinham que sofrer na pele as suas escolhas para que aprendam de uma vez por todas.
Foram 50km demasiado intensos, já não pedalava com força mas sim com raiva, muita raiva por saber o que me esperava dentro de muito breve. Não demoraram a chegar as dores nas pernas. Ao km 53 já não aguentava o ritmo e ìa abrindo brechas na Automotora. Ouvi no seio daquele grupo a seguinte expressão: “Este gajo é do outro grupo e só está aqui para partir esta *****!”. É incrível a velocidade com que se passa de gostar para não gostar de algo, sem falar de que 50% dos elementos daquele grupo de amigos, tão bem afamados, manda literalmente todo o tipo de embalagens para o chão. Deixei-me descolar sem stresses, a Turtle ìa de passagem e tenta fazer a minha recolagem dando-me a roda do seu veículo, ainda fiz 50mt mas, como não era assim que queria fazer esta viagem, pedi-lhe que seguisse.
Chegado ao local do 1º Abastecimento o meu Cpc acusava média de 36.7km/h, um recorde. Em vez de ficar contente fiquei ainda mais revoltado porque com tantas dores nas pernas dificilmente iria concluir esta viagem.
Após a chegada e abastecimento do grupo, perguntei ao Aquino se vinha pedalar até ao fim, ao que felizmente o mesmo respondeu que sim. Já mais animado, decidi assim a minha estratégia para os 140km restantes, acompanhar o Aquino soltando o acumulado de ácido láctico a pouco e pouco.
Lá fomos seguindo, mais calmos claro e com as primeiras subidas a ser mais massacrantes do que se podia esperar, culpa do cansaço.
Conhecedor do gráfico da altimetria da passagem pela Serra do Cercal e do relato do amigo Portázio que tinha passado na região em Abril, decidi que na rotunda do Cercal virávamos para VN Mil Fontes pois a estrada esburacada era a de Porto Covo e assim evitamos subir muitos e muitos metros. Antes de Odeceixe eu e o Aquino estávamos sem gota de água mas, como levava-mos o “Piloto Automático” ligado nem paramos à passagem por uma estação de serviço. Ao passarem por nós, e ao saberem que não tinha-mos água, três amigos do grupo de “Guardas Prisionais de Lisboa” prontamente pediram à sua viatura de apoio para nos dar água, um grande obrigado para eles.
Fomos seguindo viagem até encontrar-mos a rampa de Odeceixe, coisa para ser feita de costas…. enfim.
Paramos para abastecer, comer uma bela de uma sandes de presunto e uma mini preta, um lanche dos deuses que o Hugo preparou para nós.
Já mais recompostos, constatamos isso mesmo nos km seguintes, seguimos viagem animados por saber-mos que já só faltavam 50km para a tão desejada placa “SAGRES”.
O Aquino chegou a exclamar: “Parece que cada vez temos mais força?!?!”. Era sinal de que o ácido láctico já tinha sido totalmente rejeitado e que estávamos a fazer uma boa gestão das nossas restantes energias.
Á medida que avançava-mos as descidas eram recebidas com encanto, as subidas com astúcia e as rectas com cadência. A placa de Vila do Bispo deu um grande alento e na recta final, com o vento palas costas, seguia-mos a 40km/h.
A paragem para a foto do dia foi feita com uma sensação de dever cumprido, com uma alegria indescritível por palavras, é preciso sofrer assim tanto para se poder dar tamanho valor ao Tróia-Sagres deste ano, para mim o melhor.
Registo das “medidas e comprimentos” do grupo:
100% Mato & Estrada-----Tróia/Sagres Primaveril 2009-----28km/h
100% Mato & Estrada-----Tróia/Sagres Primaveril 2010-----27km/h
Não se compreende como um dito "GRUPO" com apenas dois elementos, a ajuda de uma outsider e com o vento pela frente, em 2009 consegue fazer menos 20minutos que em 2010 em que estavam 6 elementos, não contando com o N.Parreira mas sim com o Gioseppe, com um vendaval pelas costas e com uma carrinha pronta para ajudar em algum imprevisto.
A intensão de arranjar uma carrinha foi para não haver a necessidade de ir tão cedo para Lisboa ao encontro dos Duros, para ficar a despesa mais barata e para não chegar tão tarde a casa. Se em 2009 cheguei a casa à Meia-Noite em ponto, este ano após retirar os autocolantes à carrinha, de ter lavado os mosquitos e de a ter ido entregar cheguei 20 minutos mais tarde.
Será que valeu a pena o risco de pedir uma carrinha emprestada? Se houvesse uma avaria, quem dava a cara? Após 24h de ponderação deixo o ano 2011 entregue aos "deuses".
Muito obrigado e parabéns ao Aquino, foste um verdadeito amigo e herói durante todo o percurso.
Muito obrigado ao Hugo e 1001 desculpas por teres chegado tão tarde, a intensão nunca foi essa, se tudo corresse como programado ainda vinha-mos almoçar ao Montijo (exagerando).
Obrigado ao Sr. Henrique pelo empréstimo da carrinha, nunca esquecerei o seu gesto.
Até breve.