Toquim,
Fazes bem, pois primeiro deves criar a base em todos os aspectos, sejam a nível cardio-vascular seja a nível dos ligamentos e tendões, com o treino de base que deves fazer nesta altura, pedalando leve, incluindo também trabalho geral de força no ginásio se quiseres, pois se começas logo em força bruta especializada, o teu corpo vai reagir mal. Todos os trabalhos de base de pré época que conheço, usam a mesma regra que diz que o prato grande não entra. Depois, e por isso a sequencia no "via fácil", deves fazer um trabalho de força especializado, e direccionado aos grupos envolvidos directamente na pedalada, com a ideia de transpôr a força adquirida no ginásio para o pedal, trabalhando na posição e angulos identicos ao do movimento que fazes a pedalar, em que o melhor é fazê-lo mesmo na bicicleta (atenção a quem só tem bicicleta de Btt, que o "pequeno" prato 44, pode ser curto para este trabalho, devendo pensar arranjar bike de estrada, com os seus mega andamentos 53-11). Neste tipo de trabalho, há quem faça só trabalho de força, eu faço trabalho de força, misturado com velocidade no mesmo treino, seja, trabalho de potencia. Depois de teres a força específica adquirida, vais trabalhar o consumo de oxigénio e a tolerancia ao ácido láctico, para depois poderes com tudo isto adquirido, fazeres um ciclo de potencia máxima aeróbica, PMA, que te vai afinar e sacar os cavalos todos cá para fora ou rebentar contigo, se saltaste etapas. Por isso, se queres aproveitar o "via", e tirar proveito dele, não tropeces nas etapas. Segue-as na sequencia certa.
Fibras de contração ultra-rápida: muita força em pouco tempo. fibras do tipo IIb, esgotam em muito pouco tempo, sendo sobretudo anaeróbicas. Sprinters, corredores de velocidade nos 100mt chegam a ter 85% destas fibras nos seus musculos. No btt servem para os arranques e ataques fortíssimos. Um super atleta velocista com 85% destas fibras, no btt, perdia até com a minha avó.
Fibras de contração rápida: fibras do tipo IIa. Fibras rápidas que já possuem capacidade para trabalho aeróbico também, já com uma duração de tempo de esforço, maior, e sendo já uma arma do crossista, mas ainda assim rápidamente fatigáveis.
Fibras de contração lenta: São as que funcionam melhor no metabolismo aeróbico das gorduras e do glicogénio, pois são as que têem mais enzimas aeróbicas, mitocondrias, e mioglobina. Grande resistencia ao trabalho, conseguindo armazenar muito glicogénio e triglicéridos. Apesar da pouca força e velocidade que possuem, pelo tempo, e resistencia nesse tempo, ao trabalho, são a nossa fibra de eleição representando cerca de 70 a 75% do total de fibras no atleta de btt.
Portanto Toquim, quando fazes um treino de 2 horas em baixa cadencia fazendo muita força, ou em alta cadencia imprimindo muita rotação, estás a usar exactamente os mesmos tipos de fibras que são predominantemente as lentas e algumas rápidas do tipo IIa. Claro que num topo ou num ataque "puxas" mais das rápidas IIa e vais buscar as IIb que só duram muito poucos segundos, levando 5 minutos a recarregarem-se de fosfato de creatina.
É genética a distribuiçao de fibras, e não se pode modificar, pois não há intermutabilidade, embora as IIb possam adoptar caracteristicas das IIa. Por isso o Armstrong numca poderia bater o Bettini no sprint, e a um sprinter puro e duro, não se lhe pode exigir que suba bem, pois a sua percentagem de rápidas é demasiado alta, faltando-lhe as trabalhadoras lentas para aguentar bem a subida, ou esforços prolongados. Veja-se o completo e equilibrado Candido Barbosa, que sendo essencialmente um grande sprinter, defende-se bem em todos os campos, mas perde as voltas no contra relógio, onde os adversários menos rápidos, mas com maior percentagem de lentas, suportam maior tempo em esforço. XCO=Lentas trabalhadas para serem bem oxigenadas e ricas em glicogénio, mas com rápidas sempre em grande forma e preparadas para a guerra, por isso sempre metes meia duzia de sprints de 6 segundos em treinos de baixa intensidade, e fazes acelarações fortes, em toda a época, mesmo na pré época, pois estas raparigas rápidas gostam de se manter activas, e assim não se esquecem que também fazem muita falta.
Mas como já nascemos com a distribuição que temos, escolhida pelo papá e pela mamã, não nos devemos preocupar muito com isto, pensando a tartaruga, que algum dia vai bater o coelho em velocidade, mas se só fizeres treinos de velocidade, apesar de manteres a mesma proporçaõ com que nasceste, só estando a trabalhar as rápidas, só estas vão evoluir e ficar em forma, fazendo parecer que te transformaste, assim como se trabalhares só as lentas, duras daqui até França, mas assim que rodares o punho, e abrires um pouco de gaz, para atacar uma subida, ou passar um adversário, ou sacudir o chato da roda, abafas logo, por as tuas rápidas de sempre, não estarem treinadas... mas que estão lá na mesma quantidade de sempre. Em Portugal há a mania de só treinar as lentas, com medo que as rápidas sejam tão rápidas que se vão...
Bons treinos,
paulo marinheiro