Santiago da Cruz [Famalicão] - Santiago de Compostela [Julho 2009]

complice

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A vontade de fazer o Caminho Português até Santiago de Compostela, surgiu pela aventura e por considerar Santiago uma das minhas cidades preferidas. A preparação ocorreu com dois meses de antecedência. Coloquei o físico em forma e planeie da melhor forma a data de saída e as etapas que eu e o restante grupo devíamos fazer.

O grupo foi constituído por quatro elementos: Edgar Costa (Vila Nova de Famalicão), Batista Mesquita (Oeiras), Tiago Campos (Vila do Conde) e João Gomes (Póvoa de Varzim).

Destinamos que o dia de arranque seria Domingo, 26 de Julho, e escolhemos esta data por ser depois da Festa de Santiago que decorre anualmente na capital da Galega. Fugindo, desta forma, à afluência de gente na cidade e nos caminhos de peregrinação.

Decidimos também que o arranque seria feito de Santiago da Cruz, uma localidade do concelho de Vila Nova de Famalicão.

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Depois de uma noite mal dormida, provavelmente devido à ansiedade, fomos tomar o pequeno-almoço com o Presidente da Junta de Freguesia de Santiago da Cruz, que apoiou esta aventura que ligou os dois Santiagos.

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Fizemos o primeiro carimbo na Credencial e colocamos as bandeiras de Santiago da Cruz penduradas nas bicicletas, mochilas ou alforges.
O arranque foi feito às 9h da manhã em direcção a Braga e fomos acompanhados por dois colegas de BTT cá de Famalicão, que fizeram connosco os primeiros 15 quilómetros totalmente em estrada. Chegados à Sé de Braga, fizemos o segundo carimbo e registamos uma foto para o álbum.

Seguimos em direcção a Prado.

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Embora existam comentários que o caminho está mal marcado em Braga, não sentimos qualquer dificuldade em sair da cidade em direcção ao meio menos urbano. Percalço tivemos quando um grupo de BTTistas nos indicou que o caminho que estávamos a seguir não era o original mas sim uma alternativa ao caminho principal. Aceitamos a sugestão e seguimos atrás deles até ao ponto inicial do original. (Fica aqui a referência e o nosso obrigado).

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Pelo caminho até Ponte Lima fizemos uma pausa para reforço e outra para pedir água fresca numa aldeia bem típica do interior do Minho.

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O objectivo seria chegar a Ponte Lima e almoçar, mas o encontro de pessoas conhecidas de um dos aventureiros fez com que a nossa paragem se antecipasse uns quilómetros antes de Ponte Lima. Aceitamos com satisfação o almoço oferecido [fantástico leitão], o mergulho na piscina e todas as saborosas sobremesas que estavam na mesa.

O resultado desta variadíssima ementa aumentou a nossa preguiça para pedalar e quase três horas depois decidimos que o melhor era fazer-nos à estrada antes que não resistíssemos ao digestivo [Whisky] que nos estavam a oferecer.

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A passagem por Ponte de Lima foi como um foguete, paragem para foto e dois minutos para ver a corrida dos galgos. Corrida tínhamos nós pela frente até chegar à Labruja.

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A famosa Labruja

Muito tínhamos consultado sobre a Labruja. “É a subir”, “Só há duas formas de subir: ao lado dela ou com ela às costas”, “É impossível pedalar pela Labruja”.

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Não se sente a Labruja. A serra aparece assim do nada, como uma tempestade ciclónica. E assim aconteceu. O Batista Mesquita foi o que se manteve mais tempo em cima da bicicleta. Os 20 quilos que eu tinha na bicicleta foram suportados pelos meus braços, o travão da frente foi o melhor apoio para nas paragens a bicicleta não cair para trás. A Labruja é severamente pior daquilo que tínhamos lido, é soberbamente mais inclinada que nas fotos que visualizamos. É maior calvário de todo este caminho que fizemos.

A cruz dos franceses é sem dúvida um bom local para paragem

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O Batista olhava-nos de lado a pensar “mas estes gajos já querem parar outra vez?”. Uma foto para a recordação e siga serra acima que ainda temos muito que andar até Valença.

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Depois da serra da Labruja o cansaço começou a fazer-se sentir

Estava exausto e com algumas cãibras que me foram atormentando os músculos até à chegada. A poucos quilómetros de Valença o João sentiu os problemas do furo lento que tinha e tivemos de parar novamente.

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Chegamos a Valença perto das 21h, a noite chegaria rapidamente e nós não conseguimos falar com ninguém responsável do Albergue. Sem ter nenhuma alternativa, entramos. Saudamos alguns dos peregrinos que estavam no seu interior, grande parte deles de Espanha e outros países da Europa.

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Nas normas do albergue lemos que fecha as 22h e que as luzes se apagam às 23h. Fomos rápido procurar um sítio para jantar. Alimentamo-nos com mais hidratos de carbono que o habitual, umas cervejas e cama que o corpo precisa de descanso.

Dia 2

Como guardamos as bicicletas no quartel dos Bombeiros de Valença [o nosso obrigado] não tínhamos a necessidade de acordar antes das 7h da manha. O quartel abre as 8h, por isso foi arrumar o beliche e tomar um pequeno-almoço digno de campeões. O Tiago como vinha sendo habitual comeu como um cavalo.

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Recolhemos as bicicletas e demoramos uns 40 minutos a consertar o furo na bicicleta do João. O arranque de Valença em direcção a Tui foi tardio e feito já perto das 9 da manha.

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Depois de uns “Viva La España” cantados em bom som pelo João estávamos no país vizinho e o João no chão. Não deve o solo de nuestros hermanos ter gostado da música que cantava e atiro-o ao chão mesmo ao lado da placa que anuncia terras espanholas.

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Procuramos uma bomba de gasolina para encher um pneu e o Batista rapidamente encontrou uma loja de bicicletas na mesma rua para comprar óleo.

O João por sua vez aproveitou e pediu para encher a suspensão integral da bicicleta para não andar feito um kanguru aos saltinhos.

A partir de Tui aceleramos o ritmo, passamos por diversos peregrinos que tinham abandonado o albergue mais cedo e ultrapassamos rapidamente a zona industrial de Porriño.

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Chegados a esta localidade perdemos o Tiago de vista, alguns contactos e ele informou-nos que ia continuar a pedalar. Abastecemo-nos de alimentos num supermercado local e alguns quilómetros depois paramos junto ao albergue de Mos para almoçar.

Do Tiago pouco sabíamos, estranhávamos a sua altíssima potência para a fuga ao pelotão. Estaria dopado? Recolhemos uma foto em Redondela sem o Tiago e continuamos a seguir o trilho do GPS do Batista, ignoramos o aviso que existia para irmos à volta, cruzamos este excelente riacho de agua gelada. Hora do refresco e da fruta fresca que compramos em Porriño.

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“O Tiago ligou, disse que está numa marisqueira logo a seguir a Arcade”, este nosso super guerreiro conseguiu almoçar durante uma hora e mesmo assim não o apanhamos. Já haviam apostas: “ele apanhou boleia de uma carrinha ou outro veículo”. Só uns dois quilómetros antes de Pontevedra é que o encontramos, estava com a super Lapierre estacionada numa esplanada de um café, trocamos umas certas impressões com postura que teve em pedalar cinco horas sozinho e seguimos para o centro da cidade.

No centro de Pontevedra fizemos uma paragem obrigatória com um furo meu. Em menos de cinco minutos o mestre Batista reparou o problema e seguimos. Queríamos chegar o mais perto possível de Santiago.

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Chegamos ao albergue em Briallos bastante cedo. Estava cheio e informaram-nos que teríamos de dormir no chão. Fizemo-nos à estrada. Ainda tínhamos alguns quilómetros para fazer até Caldas de Reis – o nosso destino final deste segundo dia.

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Ao cruzar a estrada N505 decidi atrair a malta para irmos ver as cascatas do Rio Barosa, aceitaram o pedido e pedalamos menos de 1000 metros fora do caminho. Paramos por uns minutos, capturamos umas fotos e regressamos à rota.

Caldas de Reis estava cada vez mais perto

À chegada procuramos o convento de Freiras que nos tinham indicado em Briallos, a irmã com quem falamos indicou-nos um local para dormir por 15 euros. Achamos caro e decidimos procurar um Hotel. Ficamos no Sena, em quarto duplo por pouco menos de 40 euros. Guardamos as bicicletas na garagem, onde ficaram seguras e pela primeira vez tínhamos toalhas secas e um quarto com televisão.

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Fomos depois colocar as pernas nas termas locais e de seguida à O Muiño, a taberna mais famosa da localidade.

Dia 3

Para este último dia, eu decidi, não continuar de Santiago de Compostela para Finisterra como inicialmente estava previsto. Desta forma, partimos com tempo, tomamos o pequeno-almoço no Hotel e seguimos como o caracol. Tínhamos pouco menos de 40 quilómetros para fazer e esse facto fez-nos ir devagar. Estavam reservados os melhores trilhos que fizemos durante todo o caminho. Não recordamos quantos quilómetros foram, mas de Cruceiro até Valga gozamos uns excelentes trilhos – sombrios, frescos e cheios de vegetação.

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Mais um pouco de ciclo turismo, mais um furo e começamos a chegar próximo da área urbana de Santiago. Aqui separamo-nos e pedalamos pelo alcatrão, sempre a subir e saudar os peregrinos que iam a pé pelo passeio. “Buen camino, peregrino!” e “Un poquito más y llegarás a Santiago”.

Foram estas as nossas últimas palavras no último esforço que fizemos nesta viagem.

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A chegada à famosa catedral foi feita com cavalos do João e com o espírito de missão cumprida. Recebemos a Compostela. Almoçamos e convencemos o Batista a não voltar de bicicleta para Portugal. O resto da tarde foi passado em amena cavaqueira sobre bicicletas, pneus, câmaras-de-ar e algumas lições de mecânica que o Batista partilhou connosco.

Três dias, 216 quilómetros, 3800 metros de acumulado e muitas histórias partilhadas.

Mais fotos desta aventura
 

fpeixoto83

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Em Grande...

O ''bichinho de S.Tiago'' cresceu ainda mais depois de vos ter acompanhado nos primeiros quilómetros. Uma coisa é certa ... Para o ano lá estamos!!!!


Aquele Abraço
 
Caros Confrades

Parabéns pela viagem e não é toda a malta que faz o caminho que vai aquelas quedas de agua no rio Barosa que são fantasticas mas existe nessas mesmas quedas outras acima, não sei se sabiam disso.

1 abraço e um queijo da serra
Miguel K2 Sampaio
 

complice

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fpeixoto83 said:
Em Grande...

O ''bichinho de S.Tiago'' cresceu ainda mais depois de vos ter acompanhado nos primeiros quilómetros. Uma coisa é certa ... Para o ano lá estamos!!!!


Aquele Abraço

Eu certamente que alinharei novamente. Cumps.

Miguel K2 Sampaio said:
Caros Confrades

Parabéns pela viagem e não é toda a malta que faz o caminho que vai aquelas quedas de agua no rio Barosa que são fantasticas mas existe nessas mesmas quedas outras acima, não sei se sabiam disso.

1 abraço e um queijo da serra
Miguel K2 Sampaio

Sim conheço um pouco aquele local e aquelas quedas de água, o objectivo foi mesmo apresentar o sitio para mais tarde a malta regressar unicamente lá. Cumps.
 

tpfernandes

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Parabéns pela iniciativa, foram voces que vieram no Jornal da terra certo? Pelo menos vi um grupo que ia a Santiago.

Tambem fui este ano mas foi mais puxado um bocado, 260 km com mais de 4000 de acumulado.

Daqui a pouco posto o report.
 

complice

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tpfernandes said:
Parabéns pela iniciativa, foram voces que vieram no Jornal da terra certo? Pelo menos vi um grupo que ia a Santiago.

Tambem fui este ano mas foi mais puxado um bocado, 260 km com mais de 4000 de acumulado.

Daqui a pouco posto o report.

Sim, um dos jornais do concelho apareceu por lá na manha que partimos. Fico à espera do teu report.
 

tpfernandes

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complice said:
tpfernandes said:
Parabéns pela iniciativa, foram voces que vieram no Jornal da terra certo? Pelo menos vi um grupo que ia a Santiago.

Tambem fui este ano mas foi mais puxado um bocado, 260 km com mais de 4000 de acumulado.

Daqui a pouco posto o report.

Sim, um dos jornais do concelho apareceu por lá na manha que partimos. Fico à espera do teu report.

Quando vi no jornal pensei "porra, só eu é que já lá fui duas vezes e não apareci no jornal."... :lol: :lol:
 

BikeBrother

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Missão cumprida, mais um conjunto de malucos que alcançaram a meta de Santiago...parabéns!!! :mrgreen: :mrgreen:

Agora só falta ir ao Penedo das Letras..lol...

Abraço
 

complice

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BikeBrother said:
Missão cumprida, mais um conjunto de malucos que alcançaram a meta de Santiago...parabéns!!! :mrgreen: :mrgreen:

Agora só falta ir ao Penedo das Letras..lol...

Abraço

Se este Agosto não estivesse assim tão quente =/ tenho a bicicleta parada há semanas. Temos de combinar a ida ao penedo a ver se já subo aquilo em cima da bike.
Cumps
 

BikeBrother

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Isso do calor não é desculpa...aquilo tem muita sombra..eheheh :mrgreen: :mrgreen:

Fora de brincadeiras, estes dias fui lá com uns amigos, enganei-me um pouco no caminho porque subi por Sezures e como resultado chegámos lá cima parecendo que tinhamos caído a um tanque...mas se nao for assim nao tem piada..eheheh...além disso para quem foi a Santiago isto é uma brincadeira..
 
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