lobo solitario
New Member
Re: [Foto-Report] As minhas solitárias pedaladas pela natureza...
A primeira vez que vi o tópico deste reverendíssimo Autor atraiu-me, sobretudo, o epíteto por ele seleccionado para se dar a conhecer à nossa comunidade. Imaginei um frade careca, vestido com uma toga de pano cru, castanha, áspera (particularmente na zona de contacto com o selim) e com sandálias adaptadas a pedais de encaixe. Percorrendo as fotos, rapidamente me dei conta que se tratava de alguém mais “normal”. Dada a extensa galeria de auto-retratos, os seus traços fisionómicos foram facilmente memorizados.
Na semana passada, o tópico adquiriu um novo interesse pois me dei conta de novas possibilidades no monte de S. Pedro de Fins. Como acessos ao topo, apenas tinha percorrido os dois estradões: o que liga a Caldelas, fi-lo sempre a subir; o que liga a Amares, fi-lo sempre a descer. Agora, o nosso monge sugeria alternativas, com interessantes descidas, lajes de granito e paisagens deslumbrantes. Pensei: “porque é que nunca me pus a hipótese de variar?”. Uma das razões é que quase sempre fui de passagem, en route para a Via Nova. Assim, neste Domingo, um pouco ressacado, lá me decidi a dedicar o dia a S. Pedro. Talvez lhe saltasse em cima duas vezes seguidas...
O dia estava magnífico e, o Minho, verde e florido.
A primeira subida foi a “clássica”, com utilização do estradão a partir de Caldelas. Lá em cima assisti à chegada de vários ciclistas que tinham subido pela face oposta. Bufavam e estavam inchados de orgulho pela proeza. O primeiro vinha sério, com ar de profissional, com a sua tabuleta numerada no guiador. Cumprimentou-me de passagem mas afastou-se para uma zona distinta. “Devo estar com mau aspecto”, pensei. Chegaram em vagas sucessivas mais corajosos e corajosas, magros ou de perímetro alargado, bunda esguia ou bunda larga. Entretido a vê-los chegar, fiquei preguiçosamente mais tempo do que o que normalmente gasto em paragens. O sol estava agradavelmente sorridente, a paisagem estendia-se até horizontes longínquos: via-se a Cabreira, a serra de Fafe, o Gerês, a Peneda...
Arranco-me ao estupor e atiro-me a explorar os caminhos que se adivinhavam pela cumeada, em direcção a Santa Cruz. Excelentes. Chego rápido à Geira e por ela regresso, com o intuito de voltar a subir ao monte de S. Pedro, desta vez pelo outro estradão. A dada altura vejo um pedalista a guardar a sua máquinda fotográfica e reconheço, imediatamente, o reverendíssimo guru do dia. Pergunto-lhe descaradamente “não és o Cister Monge Tony?”. Retrospectivamente, penso que estou a ficar anormalmente extrovertido. E se ele não fosse o dito cujo? Que pensaria alguém se lhe perguntassem se se tratava de tal tipo de criatura? Enfim... ele pareceu, também, reconhecer-me e explico-lhe as minhas motivações do dia. Quando o informo que iria subir, ele ofereceu-se para me acompanhar. Em Vilela, meto uma terceira rasgada por uma rampa em paralelo acima. O monge ainda praguejou a meio mas lá chegámos ao topo dessa primeira dificuldade a bombear deseperadamente oxigénio para os bofes. A sua montada, desprovida de pedais de encaixe, não ajudava na pedalada redonda necessária para manter o momento e facilitar a ascenção.
Lá atingimos o topo, eu pela segunda vez nesse dia. Desta feita, entretive-me a ver a série de cumes entre Turiz e a serra Amarela. Fantástica distância, a que vencemos há quase um ano, Indy... Uma pequena alcateia de downhilleiros chega de furgoneta e atira-se pelos trilhos abaixo. Regressámos com o monge a guiar-me pelo seu kintal. Apresentou-me a um simpático single-track que passa por uma imponente quinta, infelizmente num lastimável estado de abandono.
De Caldelas sigo novamente a solo e decido fazer o caminho de regresso por trilhos marcados por um passeio (creio que do BTT de VilaVerde). Tinha-o feito no regresso da Rota do Homem mas não me lembrei que teria que atravessar o Cávado numa improvisada ponte de palettes de madeira que dois Invernos teriam, com certeza, removido do seu leito. De facto, a única alternativa era utilizar as pedras de uma espécie de represa, perigosamente atravessada por uma forte correnteza do rio. Abordei um grupo de jovens e perguntei-lhes se dava passagem para a outra margem. Um disse-me que teria que molhar os pés e que estava escorregadio. Outro, olhando para a Titânia Vanessa disse-me que, se caísse, mergulharia em meu auxílio. Perguntei-lhe se iria antes em busca da máquina. O seu sorriso foi esclarecedor. A razão de ser de tanto detalhe neste pormenor do passeio deve-se à apreensão que senti em atravessar o rio. Radical. Saltar de pedra em pedra, calhaus cobertos de limos e separados por hiatos de um metro de água a correr ferozmente... Sobrevivi sem cair à água.
No final, ficaram promessas de organizar mais umas incursões em conjunto por terras cistercenses. Até lá.
A primeira vez que vi o tópico deste reverendíssimo Autor atraiu-me, sobretudo, o epíteto por ele seleccionado para se dar a conhecer à nossa comunidade. Imaginei um frade careca, vestido com uma toga de pano cru, castanha, áspera (particularmente na zona de contacto com o selim) e com sandálias adaptadas a pedais de encaixe. Percorrendo as fotos, rapidamente me dei conta que se tratava de alguém mais “normal”. Dada a extensa galeria de auto-retratos, os seus traços fisionómicos foram facilmente memorizados.
Na semana passada, o tópico adquiriu um novo interesse pois me dei conta de novas possibilidades no monte de S. Pedro de Fins. Como acessos ao topo, apenas tinha percorrido os dois estradões: o que liga a Caldelas, fi-lo sempre a subir; o que liga a Amares, fi-lo sempre a descer. Agora, o nosso monge sugeria alternativas, com interessantes descidas, lajes de granito e paisagens deslumbrantes. Pensei: “porque é que nunca me pus a hipótese de variar?”. Uma das razões é que quase sempre fui de passagem, en route para a Via Nova. Assim, neste Domingo, um pouco ressacado, lá me decidi a dedicar o dia a S. Pedro. Talvez lhe saltasse em cima duas vezes seguidas...
O dia estava magnífico e, o Minho, verde e florido.
A primeira subida foi a “clássica”, com utilização do estradão a partir de Caldelas. Lá em cima assisti à chegada de vários ciclistas que tinham subido pela face oposta. Bufavam e estavam inchados de orgulho pela proeza. O primeiro vinha sério, com ar de profissional, com a sua tabuleta numerada no guiador. Cumprimentou-me de passagem mas afastou-se para uma zona distinta. “Devo estar com mau aspecto”, pensei. Chegaram em vagas sucessivas mais corajosos e corajosas, magros ou de perímetro alargado, bunda esguia ou bunda larga. Entretido a vê-los chegar, fiquei preguiçosamente mais tempo do que o que normalmente gasto em paragens. O sol estava agradavelmente sorridente, a paisagem estendia-se até horizontes longínquos: via-se a Cabreira, a serra de Fafe, o Gerês, a Peneda...
Arranco-me ao estupor e atiro-me a explorar os caminhos que se adivinhavam pela cumeada, em direcção a Santa Cruz. Excelentes. Chego rápido à Geira e por ela regresso, com o intuito de voltar a subir ao monte de S. Pedro, desta vez pelo outro estradão. A dada altura vejo um pedalista a guardar a sua máquinda fotográfica e reconheço, imediatamente, o reverendíssimo guru do dia. Pergunto-lhe descaradamente “não és o Cister Monge Tony?”. Retrospectivamente, penso que estou a ficar anormalmente extrovertido. E se ele não fosse o dito cujo? Que pensaria alguém se lhe perguntassem se se tratava de tal tipo de criatura? Enfim... ele pareceu, também, reconhecer-me e explico-lhe as minhas motivações do dia. Quando o informo que iria subir, ele ofereceu-se para me acompanhar. Em Vilela, meto uma terceira rasgada por uma rampa em paralelo acima. O monge ainda praguejou a meio mas lá chegámos ao topo dessa primeira dificuldade a bombear deseperadamente oxigénio para os bofes. A sua montada, desprovida de pedais de encaixe, não ajudava na pedalada redonda necessária para manter o momento e facilitar a ascenção.
Lá atingimos o topo, eu pela segunda vez nesse dia. Desta feita, entretive-me a ver a série de cumes entre Turiz e a serra Amarela. Fantástica distância, a que vencemos há quase um ano, Indy... Uma pequena alcateia de downhilleiros chega de furgoneta e atira-se pelos trilhos abaixo. Regressámos com o monge a guiar-me pelo seu kintal. Apresentou-me a um simpático single-track que passa por uma imponente quinta, infelizmente num lastimável estado de abandono.
De Caldelas sigo novamente a solo e decido fazer o caminho de regresso por trilhos marcados por um passeio (creio que do BTT de VilaVerde). Tinha-o feito no regresso da Rota do Homem mas não me lembrei que teria que atravessar o Cávado numa improvisada ponte de palettes de madeira que dois Invernos teriam, com certeza, removido do seu leito. De facto, a única alternativa era utilizar as pedras de uma espécie de represa, perigosamente atravessada por uma forte correnteza do rio. Abordei um grupo de jovens e perguntei-lhes se dava passagem para a outra margem. Um disse-me que teria que molhar os pés e que estava escorregadio. Outro, olhando para a Titânia Vanessa disse-me que, se caísse, mergulharia em meu auxílio. Perguntei-lhe se iria antes em busca da máquina. O seu sorriso foi esclarecedor. A razão de ser de tanto detalhe neste pormenor do passeio deve-se à apreensão que senti em atravessar o rio. Radical. Saltar de pedra em pedra, calhaus cobertos de limos e separados por hiatos de um metro de água a correr ferozmente... Sobrevivi sem cair à água.
No final, ficaram promessas de organizar mais umas incursões em conjunto por terras cistercenses. Até lá.