Todo o meu corpo me pede para parar. As pernas não podem mais,as costas estão arrumadas,as mãos querem largar o guiador,até os olhos ardem,do suor que me escorre pela testa. Serei eu um masoquista?
Que raio faço eu aqui afinal? Esta subida parece longa como um dia sem pão,e claramente hoje não tenho argumentos para lutar contra a gravidade.
Tento abstrair-me do esforço e pensar noutra coisa,mas como coração na boca e os pulmões a arder tenho de me limitar a controlar a respiração e tentar que as pernas pedalem em círculos.
Não conseguir pensar em mais nada até é uma vantagem,e afinal também foi isso que me trouxe aqui hoje.
E finalmente,estou cá em cima. O esforço valeu a pena,por esta sensação espetacular que corre o meu corpo,me adormece as dores e me vicia para que volte a subir aqui outra vez…outro dia,porque não sou assim tão maluco.
Respiro fundo como se o ar fosse acabar e penso que não deve haver muita gente que conseguisse fazer uma subida destas. Certamente não aqueles amigos que ainda são capazes de mandar umas bocas foleiras: “Com o que gastaste nisso comprava uma mota,é só enrolar o punho!”, “Cansar-me?? Só se for de dormir!!”, “O que vais fazer a essas provas,se tens de pagar e nem ganhas nada?”
Sabem lá eles. E por mim já gastei o meu latim a explicar o que é um desporto que só quem pratica percebe.
Uma descida! Agora também não é tempo de pensar,toda a concentração é pouca. Olhar para a frente,identificar os obstáculos,dosear a travagem,relaxar os braços e pernas,sentir a aderência dos pneus.
Posso ir a 15km/h neste carreiro de cabras,mas é de longe mais entusiasmante que descer a 50 num estradão qualquer.
Piso uma raíz,a roda deslizou,mandando-me fora da trajectória,saíu-me um pé do pedal,acho que…NÃO! Não foi desta! As coisas que acontecem em apenas 2 segundos!
Posso ter descido aqui à velocidade de uma lesma,mas para mim foi uma conquista,e não preciso arriscar o pescoço para me sentir um super-herói,pelo menos por uns segundos…tenho é de deixar de ver aqueles vídeos em que os gajos saltam mais alto que a minha casa e descem como se fossem num carril. Como raio aquilo é possível…
Que saudades daqueles poucos dias em que tudo parece fácil,a bicicleta desliza,o corpo responde a tudo com vontade e não há subida que meta medo. Os dias que fazem com que me sinta um verdadeiro atleta,capaz de enfrentar qualquer desafio.
Hoje não é um desses dias.
Sinto-me lento,pesado e sem habilidade. Pensamentos correm pela minha mente: “Talvez com uma bike mais leve…”,”Não devia ter bebido aquelas minis…”,”Como é que me vou aguentar naquela prova do próximo mês?”
Mas aí está mais uma subida. Qual manifestação contra o governo,todos os cantos do meu corpo reclamam. As costas gritam para parar,os pulmões querem desistir,as pernas pedem misericórdia…
Mas eu não sou uma democracia.
Que raio faço eu aqui afinal? Esta subida parece longa como um dia sem pão,e claramente hoje não tenho argumentos para lutar contra a gravidade.
Tento abstrair-me do esforço e pensar noutra coisa,mas como coração na boca e os pulmões a arder tenho de me limitar a controlar a respiração e tentar que as pernas pedalem em círculos.
Não conseguir pensar em mais nada até é uma vantagem,e afinal também foi isso que me trouxe aqui hoje.
E finalmente,estou cá em cima. O esforço valeu a pena,por esta sensação espetacular que corre o meu corpo,me adormece as dores e me vicia para que volte a subir aqui outra vez…outro dia,porque não sou assim tão maluco.
Respiro fundo como se o ar fosse acabar e penso que não deve haver muita gente que conseguisse fazer uma subida destas. Certamente não aqueles amigos que ainda são capazes de mandar umas bocas foleiras: “Com o que gastaste nisso comprava uma mota,é só enrolar o punho!”, “Cansar-me?? Só se for de dormir!!”, “O que vais fazer a essas provas,se tens de pagar e nem ganhas nada?”
Sabem lá eles. E por mim já gastei o meu latim a explicar o que é um desporto que só quem pratica percebe.
Uma descida! Agora também não é tempo de pensar,toda a concentração é pouca. Olhar para a frente,identificar os obstáculos,dosear a travagem,relaxar os braços e pernas,sentir a aderência dos pneus.
Posso ir a 15km/h neste carreiro de cabras,mas é de longe mais entusiasmante que descer a 50 num estradão qualquer.
Piso uma raíz,a roda deslizou,mandando-me fora da trajectória,saíu-me um pé do pedal,acho que…NÃO! Não foi desta! As coisas que acontecem em apenas 2 segundos!
Posso ter descido aqui à velocidade de uma lesma,mas para mim foi uma conquista,e não preciso arriscar o pescoço para me sentir um super-herói,pelo menos por uns segundos…tenho é de deixar de ver aqueles vídeos em que os gajos saltam mais alto que a minha casa e descem como se fossem num carril. Como raio aquilo é possível…
Que saudades daqueles poucos dias em que tudo parece fácil,a bicicleta desliza,o corpo responde a tudo com vontade e não há subida que meta medo. Os dias que fazem com que me sinta um verdadeiro atleta,capaz de enfrentar qualquer desafio.
Hoje não é um desses dias.
Sinto-me lento,pesado e sem habilidade. Pensamentos correm pela minha mente: “Talvez com uma bike mais leve…”,”Não devia ter bebido aquelas minis…”,”Como é que me vou aguentar naquela prova do próximo mês?”
Mas aí está mais uma subida. Qual manifestação contra o governo,todos os cantos do meu corpo reclamam. As costas gritam para parar,os pulmões querem desistir,as pernas pedem misericórdia…
Mas eu não sou uma democracia.