Re: Relato Férias 2006 - Entre o Minho e Trás-os-Montes
Cá vai a 5º e infelizmente ultima etapa :cry:
Mas a aventura de 2007 já está planeada, em breve vou publicar aqui o percurso que vou fazer, para que os locais possam dar conselhos de locais a visitar e tascos onde recuperar energias
ETAPA 5 (O Douro, finalmente!!): Carrezeda de Ansiães – Peso da Régua
O dia em que finalmente íamos chegar ao Douro. O início prometia dificuldades, pois íamos cruzar o Douro para Sul, na barragem da Valeira e subir as escarpas até S. João da Pesqueira.
O dia não começou muito bem. Ao sair da pensão, já mais tarde do que queríamos por causa do calor, tínhamos um furo. Mas mais valia ali do que mais tarde.
Fomos tomar o pequeno-almoço, ao supermercado comprar uns sumos e seguimos viagem, rumo ao Douro.
A primeira aldeia que passamos chamava-se Marzagão, talvez a aldeia com mais burros por metro quadrado de Portugal, tal era a quantidade de animais que vimos a pastar tranquilamente pelos campos.
Até Carrapatosa a descida era suave, mas a partir daí tornou-se vertiginosa, com os sinais de trânsito a indicar 10% de inclinação. Foi aí que vimos o Douro pela primeira vez, tivemos de parar para tirar umas fotos!
Na descida tive de ir com atenção porque com o reboque a bicicleta ganhava muita velocidade e os travões exigiam muito mais força. Enquanto descíamos já podíamos ver o quanto a estrada do outro lado do rio era inclinada...porque não podemos fazer um slide para o outro lado???
A paisagem é de cortar a respiração. Apesar da inclinação, as margens até aos topos dos montes estavam cheias de vinha e oliveira, com os típicos socalcos. Em alguns locais nem se conseguia perceber como lá chegar, pois não se viam caminhos e os socalcos eram bastante irregulares e com muito xisto como a natureza o criou.
Mas tanta beleza não diminuiu a força da gravidade nem a intensidade do calor. A Marta foi subindo enquanto eu tirava fotos na barragem e quando a apanhei já se queixava do calor. Fomos subindo devagar e parando nas poucas sombras, com a velha desculpa de tirar umas fotos!
Parecíamos já estar perto do topo quando deixamos de ver o rio, mas até S. João da Pesqueira continuámos sempre a subir. Antes ainda passamos pela bela quinta do Sidrô, perdida no meio dos vinhedos.
Em S. João da Pesqueira, enquanto procurávamos um lugar para almoçar visitamos o bem recuperado centro histórico. Um pouco por acaso acabamos a almoçar na Adega da Ana. Uma bela tasca, com vista sobre uma vinha da pequena esplanada que tem à sombra. Tasca sim, onde não há ementa, apenas dois pratos do dia e onde os clientes não são turistas mas sim trabalhadores das redondezas.
Pedimos a vitela estufada, que vinha servida com puré. Pedimos também uma travessa de arroz de feijão que vinha a acompanhar os carapaus fritos. Que bela refeição!
Para quem passar por estas zonas, ficam aqui as coordenadas: 29 T 633809 4556505 ou N41.15005 W7.40424.
Durante o almoço consultamos os horários dos comboios e resolvemos anular a ultima etapa e seguir logo para Barcelos quando chegássemos à Régua. A Marta tinha uma consulta no dia a seguir, pelo que já não íamos ter tempo de fazer a etapa toda. Como ainda tínhamos comboio sempre poupávamos uma dormida fora...
Sendo assim, apesar do calor convidar a passar a tarde na esplanada da Adega da Ana, seguimos viagem logo a seguir à sobremesa.
Sabíamos que os últimos km iam ser mais fáceis, junto ao Douro, que íamos acompanhar desde Casais do Douro. Mas até lá contávamos com algumas surpresas. Felizmente só subimos mais um pouco logo a seguir a S. João da Pesqueira.
O resto do percurso descia sempre ligeiramente, o que foi muito agradável! A paisagem continuava linda, especialmente a partir do momento em que o rio Torto se tornou visível. As vinhas, muitas das quais novas, ocupavam o monte desde o fundo dos vales até ao topo. O trabalho árduo que deve ser fazer as vindimas naqueles locais, com os trabalhadores a terem de acartar toneladas de uvas monte acima e abaixo.
E novamente o Douro. Do outro lado da margem, a roçar as águas, estava a linha do comboio. Metemos a “taleiga” e fizemos um contra-relógio até à Régua, interrompido por algumas paragens nos locais de maior beleza para tirar as ultimas fotos.
Locais como a Quinta do Porto Ferreira, vinhas que pareciam mergulhar no rio, pontes antigas sobre os inúmeros afluentes do Douro, as estações do comboio perdidas no meio do nada na outra margem, uma casa feita de xisto e madeira que se confunde com a paisagem...motivos não faltaram.
Ainda chegamos à Régua com tempo, deu para comprar uns pacotes dos famosos rebuçados, lanchar e apreciar a estação. Nela estava o comboio turístico preste a partir com carruagens panorâmicas suíças Schindler dos anos 50, algumas locomotivas a vapor antigas, locomotivas a pedais (serão iguais às que o Triguinho usa para treinar?), uma carruagem antiga e degradada da Rota do Vinho do Porto e os “comboibus” iguais aos da linha de Mirandela que vão para Vila Real (percurso que fizemos posteriormente e que é espectacular, sempre a subir no meio dos vinhedos, a contornar os montes todos).
Durante a viagem de comboio continuámos a apreciar o rio, parecendo por vezes que íamos de barco e não de comboio, tão perto íamos da água. A partir do Ribadouro a linha abandona o rio, numa longa subida até Marco de Canavezes, onde por vezes as velhas automotoras diesel já sentem algumas dificuldades.
O dia acabou com uma longa espera na estação de Ermesinde, pois por causa do comboio turístico (linha única, fez atrasar todos os outros) perdemos o ultimo comboio para Barcelos (que era por volta das 20:00) e na estação não existiam horários nenhuns dos suburbanos de Braga nem funcionários a quem perguntar. Lá veio o suburbano de Braga, passadas quase 2 horas e saímos em Nine, onde o pai da Marta nos foi buscar de carro.
E assim acabou a nossa aventura. O Karro-o aguentou todos os maus tratos e o Patú trocou-me posteriormente o fecho rápido que vinha empenado, pelo já não ganho cabelos brancos sempre que o tenho de montar.
Está assim pronto para novas aventuras, pelo que se agradecem sugestões de itinerários!
Dados do dia:
Distância: 72 km; Tempo: 3:50; Velocidade média: 18,65 km/h; Velocidade Max: 60 km/h; Calorias consumidas (Marta): 1416 kCal
Dados totais:
Distância: 357 km; Tempo: 26:13; Calorias consumidas (Marta): 9639 kCal (e ficou mais pesada 3 kg, tão boa que era a comida dos tascos da região!)