lobo solitario
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Há cerca de duas semanas fiz o passeio de Santo António de Mixões da Serra, um trajecto desenhado por gentes de Vila Verde, no concelho de Braga. Já conhecia a zona de muitas vezes lá passar nos estradões e, de outra vez, ter feito um improviso pela encosta Norte do monte. Desta vez segui a inspiração e trabalho de outros, cortesia de um membro do Forum que aqui deixou o track. Fiquei maravilhado com os trilhos seleccionados. Confesso que não imaginava que por lá se escondessem esses caminhos perdidos. Entusiasmado, resolvi recrutar companhia para um circuito a começar em Ponte de Lima. A ideia era apanhar a ecovia até Ponte da Barca, subir a Santo António, seguir o referido trajecto até Portela de Vade e, aí, apontar as rodas ao Oural e aproveitar a descida pelo vale do Trovela onde existem bons trilhos. Vasculhei a gaveta de tracks e colei à pressa o que encontrei. Enviei ao Myrage, o lorde de Ponte de Lima, tentando-o aliciar a cair na teia que iria tecer. Logo ele me responde, algo timidamente, perguntando se eu queria mesmo subir a trialeira de Germil. Inadvertidamente tinha colado o regresso de um dos passeios dos MY-JO-FLO (http://www.forumbtt.net/index.php/topic,38674.0.html) que passava por essa dura descida. A trialeira, essa, tinha-a feito inúmeras vezes e só de pensar fazê-la em sentido inverso dava-me calafrios. Corri para as cartas do exército e desenhei uma alternativa em estrada que adicionei à manta de retalhos geo-referenciados gravada no GPS.
Domingo, dia 22, arranquei para Ponte de Lima. Sem surpresa, compareceram o ICH e um amigo, o Manuel. A confirmação tinha sido dada com um pedido do track no final da semana. Também sem grande surpresa, o NOX não compareceu. Com alguma surpresa vi chegar o Myrage. Tinha aceite um desafio que prometia alguma dureza. Confessou que não tinha tido coragem de não servir de anfitrião nos seus domínios. Finalmente, apareceu o meu colega de trabalho, o Nuno, com muita vontade de empenar. Arrancámos calmamente a gozar a margem esquerda do rio Lima e a aplaudir o empenho do poder local na valorização deste património. A quantidade de ciclistas que percorrem este caminho atesta o sucesso da iniciativa. Sem dificuldades, atingimos Ponte da Barca e tentámos encontrar a ligação à estrada 351. No ecran aparecia um risco azul cueca, um traçado violeta e as estradas a vermelho. Sem saber que tinha gravado a alternativa 351plus a vermelho e que esta se escondia cobardemente por entre o riscado de estradas, atirei-me ao traçado violeta, pensando que o azulinho seria a infâme subida até Germil. O caminho revelou-se interessante. Depois de fazer alguma estrada em direcção ao Soajo, entrámos numa pequena estrada de montanha que visitava algumas pequenas aldeias: Santa Cruz, S. João. Nada me era familiar e congratulava-me com a escolha, bem mais sensata que subir calhaus, feito cabrito. A dada altura o ICH pergunta-me se à direita não se veria a encosta com o trilho de Germil. Sem sequer olhar, neguei peremptoriamente pois esse estaria muitos quilómetros à frente. Poucos metros adiante o Myrage dizia “... mas... não é esta a entrada (ou saída) desse trilho?”. Olho, adapto o cérebro a essa nova realidade inquestionável, engulo em seco e admito que tínhamos feito o trajecto errado. Afinal, azul cueca era o rio Lima...
Havia que tomar uma decisão: ou seguir pela estrada para, mais à frente, apanhar a estrada que sobe para Germil ou atacar imediatamente a calçada e os caminhos que subiam empinados pela encosta da serra. Pensei que a Providência escreve direito por linhas tortas. Aqui acho que usou o alfabeto cirílico, escrevendo de baixo para cima e da direita para a esquerda. O que devo, neste ponto, admitir é que a ideia de subir esta trialeira me tinha deixado muuuuito curioso e com vontade de a experimentar noutra altura, sem maltratar os companheiros desse dia. Assim, não demorou muito a que decidisse, em nome do grupo, a subir logo por ali. Para abreviar algo que levaria muito tempo a descrever, devo dizer-me surpreso pela extensão do trilho que foi possível fazer montado. Pelo menos, metade dos cerca de 4-5 Km. Muitas zonas davam mesmo muito gozo a negociar, entre força bruta e capacidade de equilíbrio. É óbvio que parei muitas vezes a bufar deseperadamente e a pensar que esta brincadeira se iria pagar caro mais à frente. Durante a subida sentia-se o cheiro dos incêndios que enxameavam os montes para os lados do Gerês e Peneda. O céu estava pardo do fumo.
Em Germil convidámos o dono da tasca a abri-la de propósito para nós. Novos balcões e modernos apliques de luz no tecto atestavam uma necessidade de remodelação, possivelmente estimulada por uma visita da ASAE ao local, anteriormente bastante decrépito. Daqui em frente foi estrada até Santo António que passámos rapidamente, ainda recentemente reabastecidos. Após os primeiros trilhos apercebi-me do desgaste muscular e da eminência de cãimbras, se não tivesse juízo. O grupo avançava à frente do seu guia. Junto às enormes paredes do fantástico fojo de lobo, construção que deveria ser monumento nacional, parei e comi uma maçã.
Recuperei, assim, algum descanso, eliminando o lactato dos tecidos. Continuámos até Portela de Vade, admirando as belas paisagens rurais e acabando o trilho a fazer uma espécie de pista de down-hill sobranceira à aldeia.
O ambiente, lá em baixo, era festivo e os meus colegas, atraídos como moscas ao mel, já se iam misturar na festança que se preparava. Chamei-os e lá fomos para mais uma paragem num café junto da estrada. Neste ponto, quem quisesse poderia voltar pela estrada 101 até Ponte da Barca. Ninguém deu parte de fraco e lá nos dirigimos ao Oural. A subida foi feita por um trilho muito usado por motoqueiros e ciclistas (novamente, para descer!). Já o tinha subido mas muito mais fresco. Apesar disso, lá consegui vencer o desnível que, em algumas zonas, deve atingir declives de 20% ou mais durante centenas de metros seguidos. Alguns queixavam-se de cãimbras. Apenas o ICH parecia imune aos esforços.
Do topo, iniciámos a descida por caminhos largos e rápidos e, lá em baixo, o Myrage despediu-se de nós pois seguiria pela estrada da Boalhosa até Ponte de Lima. O resto do grupo ainda foi fazer mais uns single-tracks e a descida da encosta para o rio Trovela, uma série de calçadas (muitas delas descalças!) com uma inclinação assassina e muita pedra solta, a convidar a um despiste. O regresso foi, então, simples, primeiro por um estradão rolante que percorre o vale mais ou menos à mesma cota e, depois, pela tal estrada até Ponte de Lima. O Nuno ainda parou no restaurante “Os telhadinhos” para comer algo que se vendia na racha. Eu estava demasiado cansado para sequer ter fome. Tínhamos apenas percorrido 87 Km com 2000 m de acumulado mas com picos de esforço de muito maior desnível! Tive sorte que, como autor do crime, não me tivessem dado um “enxerto de porrada” no final...
PS: Não me deu para a fotografia mas fica prometido um pequeno filme do evento
Domingo, dia 22, arranquei para Ponte de Lima. Sem surpresa, compareceram o ICH e um amigo, o Manuel. A confirmação tinha sido dada com um pedido do track no final da semana. Também sem grande surpresa, o NOX não compareceu. Com alguma surpresa vi chegar o Myrage. Tinha aceite um desafio que prometia alguma dureza. Confessou que não tinha tido coragem de não servir de anfitrião nos seus domínios. Finalmente, apareceu o meu colega de trabalho, o Nuno, com muita vontade de empenar. Arrancámos calmamente a gozar a margem esquerda do rio Lima e a aplaudir o empenho do poder local na valorização deste património. A quantidade de ciclistas que percorrem este caminho atesta o sucesso da iniciativa. Sem dificuldades, atingimos Ponte da Barca e tentámos encontrar a ligação à estrada 351. No ecran aparecia um risco azul cueca, um traçado violeta e as estradas a vermelho. Sem saber que tinha gravado a alternativa 351plus a vermelho e que esta se escondia cobardemente por entre o riscado de estradas, atirei-me ao traçado violeta, pensando que o azulinho seria a infâme subida até Germil. O caminho revelou-se interessante. Depois de fazer alguma estrada em direcção ao Soajo, entrámos numa pequena estrada de montanha que visitava algumas pequenas aldeias: Santa Cruz, S. João. Nada me era familiar e congratulava-me com a escolha, bem mais sensata que subir calhaus, feito cabrito. A dada altura o ICH pergunta-me se à direita não se veria a encosta com o trilho de Germil. Sem sequer olhar, neguei peremptoriamente pois esse estaria muitos quilómetros à frente. Poucos metros adiante o Myrage dizia “... mas... não é esta a entrada (ou saída) desse trilho?”. Olho, adapto o cérebro a essa nova realidade inquestionável, engulo em seco e admito que tínhamos feito o trajecto errado. Afinal, azul cueca era o rio Lima...
Havia que tomar uma decisão: ou seguir pela estrada para, mais à frente, apanhar a estrada que sobe para Germil ou atacar imediatamente a calçada e os caminhos que subiam empinados pela encosta da serra. Pensei que a Providência escreve direito por linhas tortas. Aqui acho que usou o alfabeto cirílico, escrevendo de baixo para cima e da direita para a esquerda. O que devo, neste ponto, admitir é que a ideia de subir esta trialeira me tinha deixado muuuuito curioso e com vontade de a experimentar noutra altura, sem maltratar os companheiros desse dia. Assim, não demorou muito a que decidisse, em nome do grupo, a subir logo por ali. Para abreviar algo que levaria muito tempo a descrever, devo dizer-me surpreso pela extensão do trilho que foi possível fazer montado. Pelo menos, metade dos cerca de 4-5 Km. Muitas zonas davam mesmo muito gozo a negociar, entre força bruta e capacidade de equilíbrio. É óbvio que parei muitas vezes a bufar deseperadamente e a pensar que esta brincadeira se iria pagar caro mais à frente. Durante a subida sentia-se o cheiro dos incêndios que enxameavam os montes para os lados do Gerês e Peneda. O céu estava pardo do fumo.
Em Germil convidámos o dono da tasca a abri-la de propósito para nós. Novos balcões e modernos apliques de luz no tecto atestavam uma necessidade de remodelação, possivelmente estimulada por uma visita da ASAE ao local, anteriormente bastante decrépito. Daqui em frente foi estrada até Santo António que passámos rapidamente, ainda recentemente reabastecidos. Após os primeiros trilhos apercebi-me do desgaste muscular e da eminência de cãimbras, se não tivesse juízo. O grupo avançava à frente do seu guia. Junto às enormes paredes do fantástico fojo de lobo, construção que deveria ser monumento nacional, parei e comi uma maçã.
Recuperei, assim, algum descanso, eliminando o lactato dos tecidos. Continuámos até Portela de Vade, admirando as belas paisagens rurais e acabando o trilho a fazer uma espécie de pista de down-hill sobranceira à aldeia.
O ambiente, lá em baixo, era festivo e os meus colegas, atraídos como moscas ao mel, já se iam misturar na festança que se preparava. Chamei-os e lá fomos para mais uma paragem num café junto da estrada. Neste ponto, quem quisesse poderia voltar pela estrada 101 até Ponte da Barca. Ninguém deu parte de fraco e lá nos dirigimos ao Oural. A subida foi feita por um trilho muito usado por motoqueiros e ciclistas (novamente, para descer!). Já o tinha subido mas muito mais fresco. Apesar disso, lá consegui vencer o desnível que, em algumas zonas, deve atingir declives de 20% ou mais durante centenas de metros seguidos. Alguns queixavam-se de cãimbras. Apenas o ICH parecia imune aos esforços.
Do topo, iniciámos a descida por caminhos largos e rápidos e, lá em baixo, o Myrage despediu-se de nós pois seguiria pela estrada da Boalhosa até Ponte de Lima. O resto do grupo ainda foi fazer mais uns single-tracks e a descida da encosta para o rio Trovela, uma série de calçadas (muitas delas descalças!) com uma inclinação assassina e muita pedra solta, a convidar a um despiste. O regresso foi, então, simples, primeiro por um estradão rolante que percorre o vale mais ou menos à mesma cota e, depois, pela tal estrada até Ponte de Lima. O Nuno ainda parou no restaurante “Os telhadinhos” para comer algo que se vendia na racha. Eu estava demasiado cansado para sequer ter fome. Tínhamos apenas percorrido 87 Km com 2000 m de acumulado mas com picos de esforço de muito maior desnível! Tive sorte que, como autor do crime, não me tivessem dado um “enxerto de porrada” no final...
PS: Não me deu para a fotografia mas fica prometido um pequeno filme do evento