Re: 5ª TransPortugal Garmin de 10 a 17 de Junho 2007
Tal como o Ludos, só tenho 1 palavra para explicar esta semana: ESPECTACULAR.
Já há vários anos que queria participar neste evento, o ano passado estive mesmo quase, mas um acidente em Janeiro cancelou todo o planeamento previsto.
Em Dezembro de 2006 marquei o inicio da minha preparação com a participação no Tróia-Sagres e desde lá até dia 10 de Junho foram 6 meses de bastante treino e onde tive de abdicar de muita coisa a nivel pessoal, que em certas alturas questionei se valeria ou não a pena. As últimas semanas então parecia que nunca mais passava o tempo...
Mas logo desde o 1º dia se percebeu que a TransPortugal tem uma atmosfera e uma vivência que deixa marcas... Logo no dia de chegada com tantas e belas máquinas que o ambiente se evidencia de festa. 1 semana a conviver entre malucos do pedal, partilhar experiências e contactar com gente diferente é algo que quero repetir (agora se é dentro ou fora de fronteiras logo veremos). O pessoal que veio no autocarro (não fui parte deles) teve logo umas horas para se conhecer e fomentar o convivio.
No 1º dia o medo era muito, após o briefing do António Malvar todos estavamos expectantes do que viria adiante, pelo que o dia foi atacado com calma. Acabamos por fazer todo o dia eu e o Cláudio em conjunto, e ainda bem, pois a parte do meio da etapa é bastante rápida e acabei por me ir um pouco abaixo (mais tarde recuperei) e no final já estavamos a ficar bem cansados de tanto km.
Como o 1º dia tinha corrido bem e estavamos a sentir-nos bem, resolvemos atacar o 2º dia com garra, o que se reflectiu na nossa classificação nesse dia, mas também no 3º dia, com o Cláudio com dores nos joelhos a grande maioria do dia e eu algumas, mas só na parte final (graças a deus). Foi um dia para aguentar até ao fim.
Sendo assim adoptamos avançar para o 4º dia com mais calma, percebemos que afinal não somos de aço e tinhamos de andar com cabecinha. Os fantasmas da etapa anterior andavam nos nossos pensamentos e fomos com calma, a ver se não estragavamos nada (neste caso os nossos belos joelhinhos).
E ainda bem que assim fizemos, pois no 5º dia (Castelo de Vide - Monsaraz) tivemos um dia de autêntico inverno, com chuva torrencial entre Castelo de Vide e Alegrete, o que obrigou alguns concorrentes da desistir da etapa e outros a optar por nem arrancar, nalguns pontos pus mesmo em causa se conseguiria acabar a etapa... E eu fui dos que sai com o casaco da chuva, alguns foram em versão SL, só em manga curta (gente corajosa). Por sorte a partir de Alegrete as condições melhoraram um pouco, como menos chuva e acima de tudo terreno a ajudar mais à progressão, acabámos por ir encontrando gente e a certa altura formamos um grupo com 7 elementos (que acabou por perder 2 elementos, mas ganhou outro mais à frente). E assim em grupo de 6 toleramos melhor as dificuldades do dia. Neste dia muitos tiveram problemas com os seus GPS, vários mais com os travões (eu incluido) e os habituais furos (eu incluido). Acabamos os dia em grupo de 4 pois a rapariga que ia connosco deve ter-se aborrecido do nosso ritmo e o belga que connosco seguia não esperou aquando meu furo.
Foi dia de chegar bem tarde (19h), lavar a bicla e tomar banho à pressa, para jantar a correr e tratar de mudar pastilhas, pneu traseiro e cabo das mudanças traseiras antes de deitar. Neste dia nem houve alongamentos para ninguém.
Dia 6, Monsaraz-Albernoa, com a bicla já em condições de atacar mais um dia, lá fomos para uns 1ºs 20km em asfalto, numa etapa bem plana ("portuguese flat" e não "belgian flat") andamos em toada normal, mas que foi prejudicada pelo facto de a 30km do final ficar sem mudanças traseiras por excesso de porcarias nas bichas (devia ter trocado tudo e não só o cabo), foi "triple speed" à moda do Jorge Manso com 4ª atrás e jogando com os pratos. Ainda deu pra sofrer um pouco na última secção de alcatrão, mas graças ao Cláudio e ao nosso amigo sul-africano George que nos acompanhou em várias etapas consegui uma boa protecção do vento enquanto eles mantiveram um ritmo certinho nos 25km/h (eu não conseguia dar mais). Deu para ter uma leve ideia pelo que passaria o Tom, mas já tinha mais trabalho para o fim do dia, desta vez trocar os cabos e bichas das mudanças de trás...
7º etapa, a da subida mais dura e para mim das mais duras da TransPortugal. O dia inicia-se com um grande trecho de zona "portuguese flat" (plano à moda portuguesa) em que se foram formando grandes grupos com o duo dinâmico (Cláudio Nogueira e Jorge Manso) a integrar um grupo com cerca de 10 elementos, o que fez com que até à 1ª grande subida do dia se fosse a andar bem rápido. Nesta fase também os 1ºs se juntaram num grande grupo, sendo mesmo tão rápidos que em certa ocasião tiveram de usar um portão de uma vedação como travão de emergência (diz a Hillary - a 1º senhora - que só via pernas pelo ar). Na 1º subida partem-se os grupos e altera-se o terreno para mais declivoso, quando por fim atacamos a serra de Espinhaço de Cão está apenas o duo dinâmico e o George, a 1ª subida de terra de que tanto se fala torna-se mais fácil do que esperado (devido à sua má reputação é atacada com cuidado), mas as intermináveis e incontáveis subidas de alcatrão tornam-se bem duras pois o Cláudio está a sentir-se bem e eu não posso daar parte de fraco, especialmente a subir, que é o meu ponto forte). Felizmente voltamos ao nosso normal de 0 probelmas mecânicos (felizmente com as mudanças todas disponiveis).
A última etapa, a da consagração, em que esperava que toda a gente abrandasse um pouco acabou por não ser assim, com alguns lugares de classificação ainda por definir alguns atacaram cedo e acabamos por ajudar um compatriota a defendeer-se de um ataque por parte do belga que lhe tinha 20 min para recuperar. Chegados ao belga exactamente quando chegamos à costa (Carrapateira) acabamos por deixá-lo para trás nas subidas das praias. Com alguns problemas de água na parte final acabamos por partilhá-la entre nós para todos termos suficiente e acabamos novamente em grupo, deste vez de 4 tugas.
A saida da praia da Barriga com Sagres a ver-se lá ao fundo dá novo alento e ao passar a placa de Sagres é uma explosão de alegria ao conseguir superar o desafio de pedalar 8 maratonas em dias seguidos.
O banho de água fria (embora o Cal Bugart dissesse que menos fria que das últimas vezes) soube-me como nenhum pois significou o atingir de um sonho e o culminar de uma magnifica experiência.
Ainda tivemos direito a novo banho, já todos em conjunto e banho de parte dos elementos da organização, também eles no final de um esforço maratoniano.
Obrigado António Malvar, Berta Assunção, Louize, José Carlos, Ludos, Sandra e Sandra, Mila, Teresa, Agnelo, José Vaz, André, Andreia, Cláudio Nogueira, Luis Gomes, João Oliveira, João Mesquita; Nuno Gomes, Adriano Alves, Ricardo Melo, Sandra, Nuno Machado, Ricardo Lanceiro, Oscar Galvão, António, Pedro Soares, Jorge Mendes, Carol Silvera, Tom Letsinger (uma grande inspiração para muitos de nós), Hillary, Filomena, Cal Bugart; George... e todos os que lá estiveram por fazerem da super o que ela foi.
Obrigado também ao Mário Silva e ao Pedro Roque por aparecerem para nos dar alento em tão dificil dia. Obrigado ao meu tio Joca pelo apoio e aos meus pais por me terem possibilitado esta maravilhosa semana, bem como por todo o enorme apoio que me têm dado ao longo destes 12 anos de BTT, que tiveram nestes últimos dias um ponto muito alto (espero ainda ter muitos mais pontos altos para viver). E obrigado Diana por suportares as minhas ausências, indisponibilidades e cansaço dos últimos meses.
Jorge Manso (desculpem a seca, mas foi o resumo possivel)