Travessia da via algarviana....

pitbulll

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Pois vai ser iniciada na segunda feira a aventura do ano de 3 amigos que vai ser a travessia da Via Algarviana desde Serpa até Sagres, o que faz um total de 400 e poucos quilometros, que irão ser feitos em autonomia, pois levamos tendas e sacos cama + comida, a aventura começa segunda feira com a descida de Serpa até Alcoutin, onde pernoitaremos a 1ª noite para recuperar e na terça começar a aventura na via.

vamos tirando fotos para + tarde publicar com um pequeno relato, do que foi vivido no decorrer desta grande maluqueira :p....

queria deixar aqui o meu convite para quem se quiser juntar a nós os 3, sera bem vindo, deixo o meu contacto telefonico 93 313 94 82 Nuno.
 

pitbulll

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ultimas afinações e revisão da maquina quase prontas com a lista feita do que levar assim + importante.

aqui fica ums pequena lista:
tenda.
saco cama.
colchão de ar.
estojo primeiros socorros.
2 elos rapidos.
2 cameras de ar.
1 bomba.
remendos.
2 cabos de mudanças suplentes.
1 jogo de pastilhas de travão suplentes + um a meio uso.
1 eixo rapido suplente.
1 pomada de halibut.
1 rolo de papel higienico.
ferramentas diversas.
algumas blusas, calções e meias.
1 frasco de champo.

loooooool isto é só para 4 dias seguidos que deve ter um total de 400 e poucos quilometros de btt em autonomia, a coisa promete doer... hihihihihi
 
Last edited:

Luis Ferreira

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Boa sorte para a vossa aventura.

Fiz a travessia da via algarviana em Abril deste ano e achei espetacular. Preparem-se para a dureza.
Um conselho: verifiquem as pastilhas/calços de travão se não estiverem em bom estado vão prevenidos.
 

pitbulll

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é já + logo as 7 da manha a partida de Santa Iria a 7 quilometros de Serpa, a descida até au Pomarão a apanhar a via algarviana, lá para as 2 da tarde ja estaremos a circular pela via dentro..
obrigado juikiuj....
 

pitbulll

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pois foi algo desatroso a minha travessia, pois começei na 2ª feira foram logo 84 quilometros até alcoutin a descer pelos trilhos como manda, chagando lá fomos a procurar um local para pernoitar e eis que resolvemos ir para a praia fluvial e sitio espetacular, muito bonito mesmo, ainda fomos a agua, depois de uma sessão de ioga para alongar os musculos stressados da viagem, chega a hora do descanso, mas qual descanso qual que....

1 dos meus parceiros de viagem terminaria ali a sua aventura, pois não tinha + pernas, entºao resolveo telefonar para o iren buscar, era meia noite quando arracou. meu primo ficava sem carda para o atrelado, então ficou com uma mochila as costas apenas e mandou o atrelado para casa TB, depois resolvemos ir dormir, mas ali perto cerca de 100 metros, 1 carro com musica alta, ppl a rir e a gritar, aquilo lá terminou as 1:30 da madrugada, depois la para as 2 horas começa um rafeiro a uivar que fazia um ECO enorme ... loooooool aquilo tudo, acordou os cães todos ali da zona e ja se sabe o resoltado hihihihihi e pregar olho naaaaaaaaaaaaa, os animais la acalmaram até que por volta da 4 horas começou um cão a ladrar e foi até as 6, hora de levantar acampamento e preparativos para arrancar. ja se sabia o que se ia esperar no inicio, o meu primo sem peso a costas e eu com alforges/tenda + as coisas todas, ja estava a ver que o fim não iria ser bonito, nas 1ªs subidas ainda resisti com a puxar pelos os 23 quilos + ou - mas au fim de 20 quilometros o meu joelho começou a gritar forte, pensei logo é o fim, fogo tanto que queria fazer esta travessia e o joelho agora pum.
o esforço foi tanto que a dor voltou, o que me fez desistir logo em corte da seda uma aldeola.
o meu primo la segui na minha bike pois tinha o suporte dos alforges que servio para prender apenas a tenda e la foi ele a procura da sorte.

tenho aqui algumas fotos, + tarde posto elas com alguns comentarios...
 

rp23

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Boas amigo Nuno, quando pensastes em fazer a via Algarviana devias ter lido primeiro a exelente cronica que o Sr. Rogerio Pinto escreveu agora...
Assim nunca planeavas fazer de Santa Iria até Sagres em 3 dias.
Ainda temos que fazer a via os dois...
João Carlos-Vales Mortos
 

katitaContessa

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Nuno, só agora vi o teu tópico!

Isso é que foi azar amigo! Deixa tar para o ano tentas novamente e vais ver que consegues, tens é que tratar desse joelho, ir ao médico, fazer exames e talvez tomar um reforço!

Beijinhos grandes
 

pitbulll

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o joelho foi o azar, mas só arreou por causa do peso, a minha travessia ia ser feita en 4 dias porque o 1º desses 4 dias ia ser arrancar daqui até alcoutin.... o meu primo depois de me ter deixado em corte da ceda, seguio caminho e foi pernoitar en cahopo e no 2º dia ficou a 9 quilometros de silves a passar a noite, depois teve um problema com o Gps e regressou, mas era coisa para ser feita en 3 dias arrancando de alcoutin...
 

juikiuj

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Abandonar a travessia por causa desse zingarelho?
Já li de alguém que a fez em um dia, provas não vi.
A Via é para desfrutar não para bater records, um dia que a faça vai ser mesmo para curtir, e se calhar vou sózinho, ao meu ritmo e prontos.
 

Luis Ferreira

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Lamento que a vossa aventura não tenha corrido como planearam.
A travessia que fiz da Via foi o apoio logístico da Almargem que todos os anos organiza uma travessia garantindo alojamento informal no final de cada etapa e o transporte da bagagem por uma quantia bastante acessível.
Desejos melhor sorte para a próxima vez.
 

proque

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Aproveito o facto de este tópico estar aberto para efetuar o meu relato da travessia da Via Algarviana no início deste mês.
 

proque

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Via algarviana – a magna dureza - i - intrÓito

http://velocipedia.blogspot.pt/2012/06/via-algarviana-magna-dureza-i.html

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I - INTRÓITO E PRÉVIAS CONSIDERAÇÕES



ABSTRACT - To cross the mythical GR 13 (Via Algarviana) is the dream of any self-respected mountain-biker. Yet, despite this irresistible appeal one should keep in mind that this is probably the hardest official MTB crossing in the mainland Portugal.

Cruzar a mítica Grande Rota 13 (GR 13 - Via Algarviana) é o sonho de um qualquer betetista que se preze deste nosso retângulo à beira mar plantado. Porém, apesar do appel irrésistible que encerra, convirá ter presente que esta será, provavelmente, a mais dura travessia BTT “oficial” em Portugal continental.

À partida, para além de um anúncio de altimetria muito elevado e de uma distância considerável, poderemos subestimar a dificuldade e sermos levianamente traídos pelo facto de encararmos com alguma bonomia as serranias do sul. Por uma questão de simplificação mental e de boa ordem na arrumação das ideias de muita gente, a montanha é a norte e a planície a sul de Portugal.

Todavia nada mais errado: nesta travessia verificamos, milha após milha, subida após subida, por que motivo o Algarve foi, ao longo dos tempos, um reino separado de Portugal já que a esta região corresponde uma fronteira montanhosa bem marcada, de difícil transposição, que age como um indelével separador físico a norte e a que só a moderna engenharia de construção estradal conseguiu responder com efetividade. Se é assim no sentido transversal, por maioria de razão o será no sentido longitudinal.

Ora, esta Via Algarviana, cruzando os inúmeros, intrincados e sinusoidais relevos das serranias de Mu (Caldeirão) e de Monchique, abordando en passant a Serra de Espinhaço de Cão, desde a parte inferior do Guadiana (Alcoutim) ao Cabo de São Vicente, percorrendo o interior montanhoso do Algarve e recreando o caminho tradicional da peregrinação a São Vicente Mártir, padroeiro de Lisboa - cuja nave, escoltada pela parelha de corvos, se converteu no brasão da capital portuguesa - revela-se como um desafio extremo e poderoso a exigir, a um tempo, capacidade de superação e sacrifício, empenhamento total e boas formas física e mental.

Trata-se de uma travessia épica, que percorre uma zona da região algarvia completamente distinta daquilo que é o roteiro turístico habitual de sol e praia e até do próprio barrocal (se bem que este seja percorrido em algumas passagens). Preparem-se para serem surpreendidos por um Algarve de baixa densidade, inóspito, através de uma travessia em que cada um dos inúmeros quilómetros são percorridos lenta e arduamente.

A maioria do seu traçado é típico de montanha, num sobe e desce constante que alterna os vales e travessia de ribeiras com as duras ascensões de montes, o que implica, quer um desgaste físico permanente, quer uma grande concentração nas vertiginosas descidas para que não haja surpresas desagradáveis.

Os números finais resultantes da epopeia são eloquentes: 318 quilómetros de extensão, 7840 metros de desnível positivo acumulado (Garmin Data), travessia de 9 concelhos (Alcoutim, Castro Marim, Tavira, São Brás de Alportel, Loulé, Silves, Monchique, Lagos e Vila do Bispo) e cerca de 21 freguesias. É essencialmente uma rota pedestre mas que tem as condições suficientes para ser percorrida de bicicleta de montanha ainda que, breves troços, necessitem de uma alternativa (facilmente descortinável no local) já que, está bem de ver, as rodas são bem menos versáteis do que as solas das botas de caminhada.

A travessia oficial anual de BTT, organizada pela associação Almargem (responsável pelo levantamento da GR13), decorre em 5 dias. Ainda assim entendi, num lírico acesso de wishful thinking típico de quem adora pedalar na natureza, que apenas 4 dessas rotações planetárias seriam suficientes para este nosso projeto. Em bom rigor foram 3 dias e meio já que os números da última jorna configuravam um excursionismo ligeiro em bicicleta (apenas 40 kms. e 549 m. de acumulado) se comparados com os três iniciais. Valeu a meteorologia de feição destes primeiros dias de Junho já que, seja o tempo chuvoso, seja o calor intenso, poderiam ter comprometido irremediavelmente a incursão.

A prática veio a demonstrar que é possível a travessia em 4 dias mas que não é lá muito recomendável já que, a mesma, se estriba num desgaste físico permanente, muito elevado e sem apelo, não deixando qualquer margem de manobra para os imponderáveis de que, apesar dos planeamentos rigorosos, o BTT é farto.

Para quem, apesar destes avisos se deseja aventurar saiba, de antemão que, o primeiro e principal problema a resolver é de natureza organizacional. De facto, a Via Algarviana constitui um enorme pesadelo logístico, seja no acesso à partida / chegada, seja nas questões comezinhas das dormidas / jantares ou, inclusive, nos sectores iniciais, onde atos tão banais como beber um simples café ou comer uma sanduíche levantam dificuldades inesperadas. Daí que tudo tenha de estar devidamente planeado sob pena de se ter de recorrer ao improviso e quiçá comprometer tudo.

Comparecemos três criaturas à partida (e à chegada): o autor destas linhas; também o Sérgio Duarte, com o seu ar tranquilo e com quem já havia viajado de Lisboa a Badajoz e o João Bronze, sujeito bastante extrovertido e espirituoso e que muito alegrou esta nossa travessia.

A configuração das três bicicletas, no modo de transportar os artefatos extra necessários ao bom sucesso da missão, era distinta: enquanto eu e o Sérgio optámos pelos fantásticos e ligeiros alforges da Topeak que, pelo facto de prenderem o tubo de selim, são de uma simplicidade incrível, livrando as costas de excessos de peso (a opção do reboque Extrawheel não era válida para tais relevos por motivos óbvios), o João, por seu turno, optou por levar tudo às costas e reforçar com uma bolsa de guiador. Ambas as opções se mostraram válidas embora eu ache que a mochila carregada sacrifica (ainda) mais a postura e as costas podendo contribuir para o surgimento precoce do cansaço. Mas, de um modo ou de outro, seguiu-se sem um acréscimo de peso significativo.
 

juik

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É bom que se divulgue a Via Algarviana, parabéns pela viagem. Um dia destes ainda me meto a caminho, como conheço razoavelmente bem a região, sobretudo a metade poente, ainda não me entusiasmei a tal. Não consegui aceder às fotografias.
 

nunoklein

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Como me revi nos teus comentários Proque.

Menosprezei a dificuldade da Via Algarviana e depois foi o constatar que não iria ser fácil. Fiz tambem a travessia em três dias e meio e os primeiros três foram realmente muito dificeis.

Os primeiros dois dias até Messines são quase uma viagem em autonomia. Só ao terceiro dia consegui arranjar uma câmara de ar de reserva.

Muitos são os que são apanhados desprevenidos e que sucumbem á sua dureza.

Excelente relato.
 

proque

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UM PRÓLOGO A EXIGIR MUITO EMPENHO

DIA 1
ALCOUTIM – VAQUEIROS (ALCOUTIM)
62 kms. - 1562m. de Altitude Positiva Acumulada (Garmin Data)
Sectores 1, 2 e 3

ABSTRACT - Starting in Alcoutim, this first day means to crossing 62 kilometres until Vaqueiros. Yet it was far from being considered "easy" or "simple" at least if compared with the following days.

Este primeiro dia de travessia contaria com 62 quilómetros de extensão e uma peculiaridade administrativa - o facto de começar e terminar no concelho de Alcoutim, embora com uma breve passagem pelo concelho vizinho de Castro Marim. Ainda assim esteve muito longe de se considerar como fácil ou simples se bem que até desse modo possa ser definido comparativamente com os dois dias subsequentes como teremos ocasião de constatar.

Alcoutim é uma lindíssima povoação sita na margem do Guadiana, frente à andaluza Sanlucar e cuja origem se perde no tempo. É uma terra acolhedora, de vistas desafogadas e que casa maravilhosamente com aquele curso de água. Ela marca o início da Via Algarviana, desse modo, a partida deu-se bem junto ao rio, na esplanada – miradouro sobre as margens fluviais e onde tivemos ocasião de encontrar o Dr. Francisco Amaral, afável presidente da câmara municipal que, após um primeiro assomo de incredulidade, nos desejou as maiores felicidades.

O ambiente local é de tal modo acolhedor que não apetecia começar a jornada, antes por ali ficar saboreando tranquilamente as vistas e a pacatez do Guadiana. Mas, lá fomos, pedalando os primeiros metros a direito, para depois percorrermos tranquilamente a margem direita do rio para norte apreciando o vale enquanto o desnível não nos exigia empenho.

Começamos então a subir abandonando aquele belo vale, internando-nos nos espaços de sequeiro e cruzando, uma após outra, as pequenas aldeias: Cortes Pereiras, Afonso Vicente e Corte Tabelião, visitando o conjunto megalítico dos menires de Lavajo e chegando ao cruzamento com a EN122 e a povoação de Balurcos findando aqui o sector 1 da Via.
Na ausência de um café ou de qualquer outro tipo de estabelecimento onde reabastecer recorremos à roda que puxava a água do poço. Este artefacto hidráulico constitui, aliás, um ex-libris da serra algarvia e que haveríamos de reencontrar amiúde durante a nossa travessia.

Inicia-se aqui o sector 2 que nos haveria de conduzir a Furnazinhas e ao cruzamento da fronteira com o concelho vizinho de Castro Marim. mas, para tanto, após a típica povoação de Palmeira, era necessário proceder à difícil transposição da Ribeira da Foupana por um profundo vale a que se seguia uma subida longa e penosa. Este é, sem embargo, um momento mágico com a extensa decida junto ao enorme viaduto do IC22 e o cruzamento a vau da Ribeira por um trilho muito pouco óbvio. A longa subida culmina em planalto e após a mesma rapidamente cumprimos os 14kms. até às Furnazinhas onde, o único café, se encontrava encerrado em virtude de ser feriado nacional.

Apesar disso parámos um pouco para descansar e, após retemperar energias, seguimos viagem para os 20 kms. finais até Vaqueiros que se revelaram algo trabalhosos em função do relevo acidentado como que como que dando o mote para aquele que seria o traçado constante da travessia

Chegamos finalmente até junto de Vaqueiros, embora descendo até Ferrarias, aglomerado quase abandonado ligado à antiga exploração mineira de cobre, mas onde a recuperação possibilitou preservar um casarão que serve de confortável alojamento a quem demanda a Via Algarviana. A nossa chegada pelas 17:00 permitiu, nessa noite, que aquele bucólico lugar pudesse crescer populacionalmente 300% já que é apenas habitado por um simpático idoso – se não contabilizarmos os três jumentos, bem entendido.

Este primeiro dia, apesar de relativamente curto, mostrou toda a dureza da Via e adensou, ainda mais, a imprevisibilidade da jornada seguinte com uma extensão de quase 130 kms. e uma previsão de altimetria insana. Talvez por isso, de modo preventivo, o nosso jantar tenha sido por volta das 18:00 e, pelas 19:30, tenhamos recolhido pois haveria que madrugar no dia seguinte: essa era, de resto, a única garantia de que dispúnhamos de que seria possível pedalar tantas horas e com tanta dificuldade e almejar chegar em tempo útil a Silves.
 

proque

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Via algarviana - magna dureza iii

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II – A MÃE DE TODAS AS ETAPAS

DIA 2
VAQUEIROS (ALCOUTIM) - SILVES – 129 kms. – 3402 m. de Altitude Positiva Acumulada (Garmin Data)
Sectores 4, 5, 6, 7, 8 e 9


ABSTRACT: This was the "mother of all stages." We crossed four counties, made ​​several kilometers and climbed many mountains until we reach, finally, Silves just after sunset. The hardness level was extreme but we succeeded.

O peso da responsabilidade determinou que o despertar se efectuasse pelas 06:00 para, pelas 07:00 e após um substancial pequeno-almoço, estarmos em cima do selim ainda com uma temperatura ambiente relativamente baixa.

Fazendo a transição do concelho de Alcoutim para o de Tavira, este sector 4, que decorre entre Vaqueiros e Cachopo, interna-se em plena Serra de Mu (Caldeirão) e pode ser definido da seguinte forma: três fortes descidas, três ribeiras e três ascensões duríssimas com duas consequências claras: desgaste físico elevado e velocidade média de deslocação baixa o que levantava ainda mais preocupações relativamente à distância planeada.


Ainda assim a paisagem é agora mais interessante e humanizada que a da primeira etapa, consubstanciada em alguns povoados que se vão sucedendo à medida que nos vamos internando no norte do concelho de Tavira (Monchique, Amoreira e Casas Baixas) do mesmo modo que vamos partilhando o nosso caminho com a GR 23 que circunda Cachopo e que, me tempos, tive ocasião de percorrer.

Por isso a chegada e a pausa na típica vila do Cachopo foi recebida com algum alívio mas apenas marcaria, após retemperarmos as forças, o reinício de idênticas dificuldades desta vez até ao Barranco do Velho, percorrendo os concelhos de Tavira, São Brás de Alportel e Loulé nuns extenuantes 30 kms. correspondentes ao sector 5 e em que os vales se sucederam com a particularidade de a amplitude, quer das descidas, quer das subidas, ser cada vez maior.

O perfil montanhoso da Serra de Mu revelou-se, aqui, no expoente máximo com os seus barrancos profundos e a sua linha montanhosa rasgando o horizonte que, a espaços, deixava antever o Atlântico. Cruzámos penosamente, um após outro, diversos aglomerados populacionais: Currais, Alcaria Alta, Castelão até cruzarmos a profunda ribeira de Odeleite marcando a fronteira de concelhos e dando início à mais longa subida até Parizes, já em terras de São Brás de Alportel para, de seguida, descer e começar a ascensão final até ao Barranco do Velho, situado em plena e mítica N2, outrora a principal via de acesso rodoviário de e para o Algarve.

Terminava assim a Serra do Caldeirão, pelo menos a sua parte de maior dificuldade já que, daí em diante, o sector 6, seria apenas descer a sua vertente oriental até Salir. É o fim de um mundo - o serrano, das encostas de xisto - para transitarmos até outro - o do barrocal, onde impera o calcário, a terra rossa e os laranjais de perder de vista. As vistas começam a desafogar para poente com boa parte do Barlavento agora ao alcance dos nossos olhos.

Até Salir, isto é, durante praticamente 15 kms., descemos continuamente como que em jeito de vingança pelo ciclópico rompe-piernas do Caldeirão. Só assim seria possível almejar o terminus da etapa em tempo útil. De facto, até Silves, se excepcionarmos a dezena de quilómetros final, uma incrível subida antes de Benafim, ou os breves quilómetros após Alte, a média aumentou na proporção inversa da dificuldade.

Estes quilómetros rapidíssimos até Salir souberam maravilhosamente pois sentiam-se o terreno a avançar sem que o esforço exigido fosse consentâneo com a distância percorrida. Rápida em alguns pontos, técnica e lenta noutros, deu para descomprimir e avançar substantivamente em direcção ao final. Nova paragem na povoação para retemperar forças e logo continuamos por um terreno diferente, um prolongamento do barrocal algarvio por terrenos calcários e de cultivos hortícolas onde os laranjais imperam.

A qualidade dos caminhos também melhorou substantivamente. Damo-nos agora, inclusive, ao luxo de rolar alguns quilómetros por um pitoresco e pavimentado caminho agrícola. Melhor ainda, esses quilómetros são planos e agradáveis. Uma após outra as povoações sucedem-se: Almarguinho, Cerro de Baixo e de Cima. Sem embargo e apesar da enorme agradabilidade, um preocupação acentuava-se, é que tínhamos de passar por Benafim, povoação que ficava lá em cima mas, há medida que os quilómetros passavam, apenas se circulava em plano - havia qualquer coisa de estranho...

A resposta surgiria mais tarde: subir-se-ia tudo de uma vez. Durante bem mais de um quilómetro surge uma daquelas portelas impossíveis palmilhada a passo com a bicicleta inexoravelmente empurrada de modo penoso, colina acima. Curiosamente este seria uma espécie de introdução às subidas apeadas de que o sector 10 (Silves - Monchique), do dia seguinte, seria fértil.

Chegados a Benafim dirigimo-nos rapidamente para Alte acompanhando, no final deste sector 7, a ribeira do mesmo nome e chegando a uma das aldeias mais típicas e pitorescas de Portugal: casas caiadas e inúmeras chaminés artísticas num dos cenários rurais urbanos mais interessantes do Algarve.

Tempo de restaurar forças de novo para enfrentar o sector 8 que nos levaria a São Bartolomeu de Messines ao longo de quase 20 kms. pelo meio dos amendoais de sequeiro do barrocal. Sob o viaduto da A2 e a cerca de um quilómetro de Messines cruzamos a N124 para, de modo insondável, nos recrearmos por mais cerca de 5 kms. entrando na povoação de sul para N. e preparando-nos, após uma breve pausa, para o último sector, o nono e que nos conduziria a Silves e ao imprescindível descanso.

É o recomeço da dureza serrana. A princípio rolou-se muito rapidamente junto à margem esquerda da albufeira do Funcho para, após cruzarmos o paredão da barragem, recomeçar o rompe piernas a que já nos havíamos desabituado. Acresce o facto de termos já 120kms. percorridos e a noite a fazer anunciar a sua chegada. Ainda assim e penosamente lá chegámos a Silves onde nos instalámos no hotel pelas 21:00, ou seja, 14 horas após começarmos a pedalar em Vaqueiros para além do que sopunhamos ser o nosso limite físico e mental.
 

juik

New Member
Vocês devem ter compreendido muito bem o porquê do tal Reino do Algarve. (Reino que com a implantação da República em 1910 não foi abolido. ????)
 
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