Grupos de BTT são cada vez mais frequentes, desde negócios empreendedores de grande qualidade até negociatas avulsas destinadas a obter dinheiro fácil, desde grupos de dois amigos (em que um até nem anda porque ou chove, ou está calor) até grupos mais estruturados, baptizados com nomes mais ou menos pretensiosos ou denominações imaginativas (lembro-me assim, de repente, do interessante trocadilho “Bicigodos”).
Eu vou falar sobre o CEVA, o nosso desorganizador de sábado passado. Segundo os seus elementos, a sigla quer dizer Clube de Empenados do Vale do Ave. Trata-se de uma designação de difícil análise. Exibe uma certa falsa modéstia no que diz respeito a capacidades físicas, talvez um engôdo para atrair os mais incautos e proporcionar momentos de sádico prazer aos seus associados. Talvez seja apenas uma mensagem de genuína humildade, destinada a lançar uma mensagem aos mais pretensiosos. Quanto à inclusão da sua localização geográfica, apresenta-se-nos o mesmo dilema. Será que há aqui uma mensagem irónica sobre a região deprimida, destinada aos moradores de zonas mais afluentes? Se se trata apenas de localizar o clube, porque será, então, que recrutam mais de outras zonas e entram em despique com outras formações locais?
Sempre ouvi mencionar o presidente do CEVA. Não me lembro de pedalar ao seu lado e creio ter apenas visto de relance a sua sombra, como num filme de terror de qualidade duvidosa. Do que conheço, preside
de facto ao CEVA um indivíduo alto que dá pela alcunha de Indy. Nunca perguntei qual a origem dessa denominação pois gosto que se mantenham alguns mistérios que só podem adubar a nossa imaginação. É este senhor que programa a maior parte das incursões que fazem e a sua decisão é soberana sobre o destino que se traça para cada fim de semana. Mais à frente discutirei este personagem em maior detalhe. Por agora deixem-me enumerar o resto do bando de malfeitores. Trata-se de um sortido de personalidades. Alguns mais brejeiros, outros mais contidos, em comum a sua admiração, respeito, reverência, temor e, digo-o frontalmente, adoração ao seu líder. Não que ele o não mereça mas... por vezes, ronda o doentio. Recentemente, têm-se juntado novos cromos ao bando. Curiosamente, talvez por não terem sido, ainda, domados, revelam-se empreendedores e dão ideia de estarem prestes a fomentar um motim. Tomam iniciativas e propõem novas organizações, sem qualquer respeito pelo veterano líder. Seguirei, atentamente, o evoluir da História, no que diz respeito à monarquia dentro do CEVA. Finalmente, o CEVA parece ter uns visitantes mais ou menos ocasionais, membros promíscuos que saltam de grupo em grupo,
voyeurs, oportunistas como, por exemplo, eu próprio. Como tal, tenho uma visão mais distante e focada das realidades do CEVA e seus membros.
Voltemos, então, ao famigerado Índio. Imagino o seu cérebro como um largo sótão, imerso na penumbra, cheio de velhas revistas e recortes de jornal, vinilos antigos e enciclopédias amarrotadas do uso. Uma poeira paira no ar de tão frequentes visitas para consultar os velhos trastes. Cheira a bafio. Parte dos neurónios foi já substituída por chips electrónicos e, em vez de sinapses, constata-se a existência de ligações USB. Os neurotransmissores foram trocados pela radiação electro-magnética e comunicação wireless. As duas janelas dão origem a um olhar no vazio, meditabundo. O hipoglosso funciona mal, dando origem a um linguajar errático, aos solavancos. A descodificação das suas breves mensagens demora horas, mesmo nas mãos dos criptologistas mais afamados. O resultado final das sua actividades é rico e denso, quer se trate de um pequeno texto, de um circuito de bicicleta, de um pequeno filme ou de um puxão de orelhas por e-mail.
No seu conjunto, o CEVA proporciona, aos
freeloaders como eu, bons momentos e fê-lo novamente no passado fim de semana. Depreendo que outros poderão ter participado mas, como os não conheço, não lhes tecerei qulquer elogio insultuoso.
Poderia acabar dizendo as banalidades do costume, que gostei, que subi e desci, etc. etc., tudo verdade. Deixo apenas imagens de dois locais que me marcaram: o velho carvalhal e o prelúdio ao
Granito, for men.