[Crónica] Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

indy

Member
Data: 3 de Novembro de 2007
Fotos: Pedro Ribeiro, Filipe Silva e Francisco Rocha
Autor do percurso: Rui Appelberg
Distância: 104km
Desnível acumulado: 2450m (meus cálculos em Excel)

Voltámos a falar disso durante este percurso. A Travessia do Dragão (tudo) foi um evento marcante para mim. Foi aí que conheci o Rui Appelberg, um dos ideólogos da dita travessia. Costumo tratá-lo por Major (e penso que ele acha piada). Vá-se lá saber porquê, faz-me lembrar um daqueles militares aristocráticos do império britânico.



Apesar dessa admiração que nutro pelo sujeito julgo que só voltámos a pedalar juntos uma vez após a tudo. Mas mantivemos sempre contacto e de vez em quando lá recebia no meu mail mais um relato duma incursão solitária e o respectivo convite para um dia a realizar. Nas entrelinhas desses e-mails conseguia imaginar a velha raposa (não confundir com raposa velha) sentado em frente ao teclado a redigi-los com um sorriso maroto, salivando com a possibilidade de voltar a atrair incautos para as suas armadilhas empenantes.

Finalmente os astros conjugaram-se, permitindo o adiado reencontro. Como não queria estar sozinho a aturar os devaneios do Major, lá convenci mais 7 incautos para me acompanharem: ET, Tico, Tano, Orlando, Jorge Moniz, Cunha e Zé Manel.



Pouco passava das 8:00 da manhã (que o Major não tolera atrasos) lá estávamos nós a preparar a partida junto ao retiro de fim-de-semana do nosso anfitrião, em Turiz, aldeia do concelho de Vila Verde.

O briefing foi tão curto quanto este parágrafo: "Meus senhores, eu gosto de andar devagar mas com poucas paragens."

Bom, devagar é como quem diz... a velha Atlas de titânio começou de imediato a zigzagear a bom ritmo pelos caminhos enquanto oito ciclistas estremunhados, sem terem ainda compreendido exactamente o que lhes estava a acontecer, a fazerem pela vida para não perderem o contacto.



Mas a coisa lá foi fluindo. Atravessámos o Rio Homem pela primeira vez (já fica o leitor a saber a razão do baptismo desta rota) através duma bonita passagem pedonal e chegámos a Caldelas, local aprazível que pessoalmente estava a visitar pela primeira vez.



Iniciámos então a subida para S. Pedro de Fins. Inicialmente em paralelo passando de seguida a estradão. Subia, subia e quando parecia que estava a acabar, subia mais um pouco. O Major ia-me incentivando: "Vamos mesmo lá acima, assim é mais um cume para a colecção.". Lá acabámos por atingir o objectivo desejado e no alto detivemos-nos um pouco a contemplar as vistas circundantes e a cruz que encimava a capela, pintada dum inesperado laranja!



Mais um briefing do Major, incisivo: "Vamos descer. Antes do final da descida temos de virar à esquerda. Se quem for à minha frente falhar a viragem, garanto que não vou lá abaixo buscá-lo."

Pois sim. Quem é que iria passar à frente dum tipo que se lança por ali abaixo qual "vento divino" (vulgo, kamikaze). é claro que quando cheguei à beira dele invoquei que tinha vindo um pouco mais devagar por causa do pó, he he he.

O objectivo agora era tomarmos a Geira Romana que nos levaria, eventualmente, até ao Campo do Gerês. Digo "eventualmente" porque no intímo estava com algumas dúvidas de que um grupo de nove pessoas conseguisse cumprir essa missão. é que pelas contas do Major, que já tinha há algum tempo efectuado o reconhecimento a solo, no total a coisa mandava-se para cima dos 100km. E conhecendo a sua apetência por pisos tenebrosos, com os dias tão pequenos nesta altura do ano, era capaz de ser demasiado ambicioso...



Tirando uns pequenos trechos já previamente identificados e que por isso evitámos, a Geira encontra-se em excelente estado de conservação para a nossa actividade. São kms e kms de caminho sem grandes variações de cota ao longo das encostas. Dito assim até parece que estamos a falar dum passeio na ciclovia. Pois desenganem-se! Ao longo do caminho aparecem com frequência uns "rebuçados" técnicos capazes de satisfazer mesmo os ciclistas mais habilidosos, quer a subir, quer a descer. Por vezes lá havia uma zona mais rápida onde até dava para meter a "talega" mas logo ao virar duma curva era-se obrigado a meter travões a fundo ou a reduzir abruptamente para a "avozinha". Tratando-se dum conhecimento comum ficou mais uma vez provado, se dúvidas houvesse, que não só o desnível acumulado contribui para a dureza dum percurso.



Quem parecia imune a todas estas dificuldades era o nosso implacável Major. O Cunha já perguntava se era assim, se não se parava em lado nenhum para merendar. Encolhi os ombros. Na realidade estava a gozar um pouco com a situação. Estando habituado a ser guia, é frequente ouvir reclamações do género. Desta vez estava livre dessa responsabilidade e agradava-me ser outro o alvo da "fúria" dos desesperados.



Não havendo então perspectivas de paragem na civilização nos tempos que se avizinhavam e querendo provar que eram homens duros, habituados a sobreviver com o que a natureza lhes dá, começaram a recolher alguns frutos que havia pelo caminho. Inicialmente foram as castanhas, depois as maçãs, mais à frente os diospiros...

Apesar de tudo o terrível Major lá demonstrou alguma compaixão, sentou-se numa sombra na beira do caminho, e permitiu finalmente o acesso às sandes transportadas nas mochilas. Mas nada de abusos. Pessoalmente nem cheguei a terminar de comer a minha pois a ordem de marcha surgiu tão abruptamente quanto a prévia autorização de paragem.



Depois de mais uns kms do mesmo atrav és da milenar Geira lá chegámos a Covide e depois a Campo do Gerês onde finalmente foi autorizada uma paragem rápida num pequeno restaurante. Da cozinha vinham cheiros agradáveis mas o tempo escasseava e já começávamos a fazer as contas às horas de sol que restavam para o regresso, daí que nos tenhamos ficado por uma sopa de legumes. Esta simples sopa veio a ser responsável pelo caso do dia, a separação do grupo entre os defensores da sopa bem quente e os da sopa morna!

A próxima aldeia a visitar seria Brufe, no alto da encosta situada na margem oposta do Rio Homem. Eu, o ET e o Major fomos os primeiros a arrancar e lá nos dirigimos para a Barragem de Vilarinho das Furnas para efectuar a travessia do rio. Uma centena de metros após o parque de campismo detive-me para fotografar três árvores de dimensões semelhantes mas cada qual com as folhas duma cor específica: amarelas, verdes e vermelhas. Com a cota um pouco mais baixa que o habitual era também possível ao longe vislumbrar as ruínas da antiga aldeia que cedeu o nome à barragem.



A subida da barragem até Brufe é efectuada através duma estrada esculpida na encosta escarpada. Com rails dum dos lados a proteger da queda no precipício. A inclinação da subida não era muito acentuada o que nos permitia subir a um ritmo aceitável e olhando para baixo, observando ao longe as curvas da estrada que já tínhamos percorrido, sentíamos-nos como se estivéssemos numa etapa de montanha do Tour.



Em Brufe encontrámos um animado movimento de turistas, muito por causa do afamado restaurante "O Abocanhado". Esperámos pelo resto do grupo e o Major promoveu uma espécie de debate para decidir o caminho a tomar. As opções eram subir um empedrado não sei onde, trepar até uma trialeira algures... enfim. Como bons soldados que éramos, limitámos-nos a segui-lo e quando demos por ela estávamos a subir uma rampa de inclinação absurda no sentido oposto aquele que eu imaginava ser o caminho de retorno." é mais divertido por aqui" dizia ele "além disso, como vocês não devem voltar aqui tão cedo, tenho de vos mostrar tudo o que tenho para oferecer.".



E ele tinha realmente muito para oferecer. Descidas técnicas por cima de pedras de toda a forma e feitio, difíceis de descrever por palavras. Quando no espaço de 100m se tem de transpor duas ou três zonas complicadas, tudo bem. Agora quando a coisa se prolonga por centenas e centenas de metros, com as dificuldades a sucederem-se em catadupa, o meu cérebro começa a fazer cálculos estatísticos. Basicamente ocorre-me que quanto mais aquilo durar maior será a probabilidade de algo correr mal... e começo então a lembrar-me das quedas, dos períodos de convalescença sem poder pedalar, da fractura do cúbito em 94... Mas lá chegámos inteiros à aldeia de Cutelo onde fomos calorosamente recebidos por alguns habitantes locais.

Parece que havia um prémio para quem conseguisse escalar montado a próxima calçada mas ninguém se candidatou e assim prosseguimos em peregrinação apeada at é ao topo. Chegados lá acima achei estranho o Major montar e desmontar logo de subida. Cãimbras! Acho que ninguém teve pena dele. Considerámos aquilo uma benção dos deuses, na esperança que amainasse os seus instintos de malvadez.



Mais umas zonas a descer bastante técnicas at é que numa zona mais rápida sinto um comportamento estranho na roda da frente. Graças à bomba de CO2 do Orlando e ao liquido anti-furo menos de um minuto depois estava o problema resolvido e eu feliz por não ter atrasado o pelotão.



Fizemos então alguns kms por estrada até Sto António de Mixões. Pelo meio atalhámos utilizando um estradão daqueles onde se podem largar os travões e andar a grande velocidade. Mas as dificuldades técnicas ainda nos haviam de surpreender mais uma vez. De novo uma descida repleta de zonas rochosas que era necessário transpor com cuidado. E parecia que a descida nunca mais ia acabar. Quando pensávamos que já tínhamos enfrentado tudo o que de tenebroso tinha para nos oferecer eis que após mais uma curva a 180º nos deparávamos com novas dificuldades. Enfim, simplesmente delicioso para quem aprecia este tipo de percurso.

Acabada a longa descida havia que aproveitar o pouco que restava de luz solar para regressar. Começámos então a rolar por estrada a bom ritmo durante alguns kms até encontrarmos as marcações dum passeio que nos havia de levar até Vila Verde. Esta parte do percurso não tem muito que contar, num misto de caminhos e arruamentos através das aldeias. Ainda voltámos a atravessar de novo o Rio Homem para a sua margem esquerda para mais à frente, já perto de Vila Verde, voltarmos à margem direita através duma curiosa ponte semi-flutuante, em madeira, que se afundava ligeiramente na água à nossa passagem.



A entrada na sede de concelho deu-se através duma inclinada rampa em asfalto (ou então até talvez nem fosse inclinada, talvez fosse do empeno apenas...). E foi já sem luz que percorremos a meia dúzia de kms que nos separavam das viaturas abandonadas em Turiz.

No final contabilizávamos 104km. Estava estupefacto por termos conseguido, numa altura do ano em que os dias são tão pequenos e atendendo às características do percurso, não só pelos 2400m de desnível acumulado mas essencialmente pela dificuldade técnica elevada de algumas secções.

Em jeito de epílogo diria que este percurso constará no top dos melhores que até hoje fiz. Pelas paisagens, pelas zonas técnicas e, também, pela companhia. Um verdadeiro grupo de amigos a quem o Major conseguiu impor um ritmo que permitiu que o objectivo inicial não tivesse de ser amputado. Ao que parece o grupo terá respondido a contento pois já perto do final o nosso anfitrião confessava: "Sinto-me como um bombista suicida cuja missão falhou. Eu a pensar que os empenava e afinal também estou aqui que nem posso."

Um agradecimento final ao Rui Appelberg por nos ter guiado através deste percurso fenomenal. Aconselho qualquer apreciador de longas distâncias, percursos técnicos e grandes paisagens a vir experimentá-lo.

Mais fotos disponiveis aqui

Track GPS disponivel aqui

Altimetria:
altlr1.jpg
 

pjfa

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

São relatos como este que dão sentido à vida.
Os meus mais sinceros parabéns pela aventura.
 

Bravellir

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Quem vive toda a vida num subterrâneo pode ser feliz. Mas depois que vê a luz do sol por uma frincha da porta nunca mais consegue ser feliz. Nunca mais deixa de sonhar com aquele calor e aquela luz.

Tu e mais alguns, com esses relatos és essa frincha na porta. Deixas um gajo irrequieto e com uma grande necessidade de sair à aventura, de sair à procura do sol.

Obrigado
 

JorgeSantos

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Bravellir said:
Quem vive toda a vida num subterrâneo pode ser feliz. Mas depois que vê a luz do sol por uma frincha da porta nunca mais consegue ser feliz. Nunca mais deixa de sonhar com aquele calor e aquela luz.

Tu e mais alguns, com esses relatos és essa frincha na porta. Deixas um gajo irrequieto e com uma grande necessidade de sair à aventura, de sair à procura do sol.

Obrigado


Não costumo usar expressões dos outros como forma de traduzir ou elogiar algo. Mas desta vez não podia ficar indiferente a este comentário do Bravellir que espelha e bem o que se sente quando se lê um relato destes!

E logo numa altura que anda tudo e todos aos "tiros" aqui pelo fórum.

Obrigado e parabens pela partilha.

Josant
 

fg

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Pois...
Ás vezes fica um bocado repetitivo, esta história dos elogios a certos tópicos. Mas não resisto.
Não resisto, porque é por causa de relatos como este que eu gosto deste Forum!
Obrigado Indy.

O Brave já disse o resto! Poucas mas sábias palavras.
 

Tico

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Pela parte que me toca o percurso é porreiro, mas a sopinha quente, é mais que uma barra energética.

Um excelente guia, e uma boa companhia, eis a formula de um excelente passeio. O meu muito obrigado ao Major e fugi eu da filha para me meter na mãe,


Tico
 

ET

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Para além do brilhante relato do Indy, só tenho mais uma coisa a salientar: BRUTAL!!!

Aconselho vivamente! É dos melhores passeios em que já participei!

ET
 

ICH

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Realmente este tópico é daqueles que deixa água na boca.
Estava a pensar participar na Maratona da Beselga mas se calhar vou aproveitar e vou fazer este passeio pois atravessar essa zona com as cores do Outono e com este verão tardio deve ser portentoso.

Desculpem o Off-topic mas não resisto.

Já fiz alguns dos percursos idealizados pelo referido Major e é diversão garantida. Queria deixar aqui a minha homenagem pois consegue sempre uma misto de dureza física e técnica com lugares de grande beleza natural, pena que tenha deixado de actualizar o site.
 

manso

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Bom, deixas-me com água na boca.

Depois de ter tido a oportunidade recente de pedalar no Gerês e agora com este relato... Já sei que é sempre para levar a bicicleta quando for visitar a familia ao norte.
 

indy

Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Sim, experimentem que vale a pena.

ICH said:
s se calhar vou aproveitar e vou fazer este passeio pois atravessar essa zona com as cores do Outono e com este verão tardio deve ser portentoso.

Aconselho apenas:
-Nesta altura do ano não dá para perder muito tempo. Pausas rápidas (fotos, comida...) e andar antes que se faça noite.
-Em alternativa começar em Caldelas. Cortam-se alguns kms e não se perde o essencial do percurso.
-Se se for sozinho, cuidado redobrado com as descidas :wink:

Divirtam-se! :)
 

Grider

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Boas,

De facto uma aventura que merece :clap: :clap: com umas fotos a condizer!

Efectivamente, vale a pena vir ao forum ver estes exemplos de vida bem vivida!

Cumps
 

jmoniz

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Confesso que no dia não estava muito de acordo com o Indy, no que dizia respeito ao nome a batizar o passeio, mas agora na pacatez no meu lar vejo que o nome encaixe como uma luva, homenageia o "homem" que nos guiou, e o rio em que ladeamos as margens.

Pois pouco mais há a dizer depois do excelente relato do Indy, diria que está à altura do passeio, e apenas acrescentaria que a ponte sobre o rio Homem no regresso eram paletes de madeira atadadas entre si com arame, e presas ás margens. :shock:

O meu lado confessa que gostei particularmente de saber das caimbras do "Major" :twisted: Pois pensava ele que levava um grupo de incautos ou marinheiros de primeira viagem, e o tiro saiu-lhe pela culatra :D
Single-tracks, paisagens de cortar a respiração, boa camaradagem, enfim ingredientes para um dia bem passado.

Outra coisa que voçês não sabiam, é que quando subiamos para Brufe ainda fiz a minha boa acção do dia, retirei uma cobra-de-água-viperina (Natrix maura) do meio da estrada de alcatrão, onde provavelmente iria ser esmagada por algum automóvel, bem distraí-me um pouco a falar com os parceiros do lado e ela aproveitou para me cravar as marcas da ingratidão num dedo, fiquei assim com um souvenir do passeio :D

Vou repetir o que já aqui foi dito, mas também foi para mim um dos melhores passeios, gostei muito.
Confesso que foi uma agradável surpresa pois pensava que aquela parte da via romana estivesse menos ciclável.

JMoniz
 

ocram

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Boas grande aventura bem perto da minha casa , parabens grande fotos :D :wink:
 

Antonio Faisca

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

...palavras para que!!! Grande relato, grandes fotos enorme zona :shock: :shock:

Parabéns....e agora fiquei de água na boca :cry: :cry:

Tó Faisca
 

José Carlos

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Vivam,

Já por várias vezes senti uma enorme vontade de vir aqui dar os parabéns aos intervenientes desta aventura
mas na hora de escrever seja lá o que for, não sai nada :oops:
Talvez agora porque estou impossibilitado de andar de bicicleta, me tenha decidido a participar
(também pode ser porque não consigo participar em mais nada no fórum...)

É verdade que não tenho muito a acrescentar ao que foi dito, mas em todo o caso
deixo o meu grande agradecimento a todos pela partilha desta fabulosa experiência.

Já tive o prazer de pedalar com esse Senhor do Btt (Rui Appelberg,) e sei exactamente o que o Indy
(outro grande "Senhor" do Btt) :lol: quer dizer com o seu relato.

Um forte abraço a todos e oxalá um dia se reunam as condições necessárias para eu voltar
aí e ter o prazer da vossa companhia (ainda por cima com casa à disposição em Vila Verde...)

Obrigado!
 

Ferrão

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Pois é, mais uma daquelas aventuras. Há pessoas que só sabem fazer coisas em grande.
Como disse o Faísca, é de ficar com água na boca.

Fico à espera da próxima.
 

lobo solitario

New Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Logo no dia em que li o relato do Indy fiquei com vontade de trabalhar melhor o trajecto da Rota do Homem. O regresso tinha sido bastante mal amanhado, com demasiada estrada e sem qualquer semelhança ao épico que fora a primeira parte. Depois de pensar nas alternativas comecei a pensar na hipótese de fazer o percurso em sentido contrário. Chamei a este trajecto a MEMOH OD ATOR, soando a fantástico, mesmo irreal. Na passada semana lancei o "réptil" aos duros do CEVA que tinham lançado umas bocas sobre o acumulado da nossa incursão a Terras Limianas. Teria lugar no sábado, dia 15, com partida às 8h30 de Turiz. No entanto, lá voltei eu aos desafios solitários. Ficou tudo no choco a traçar a perninha!!

Sábado lá me pus a caminho, não fosse o caso de alguém estar na formatura e eu chegar atrasado. Mas não. Tudo sossegado. Uma chuvinha esporádica arrefecia o pouco entusiamo que tinha. Que se lixe. Ficou para o dia seguinte.

Domingo: cinzentão.
Pensei: vou indo até começar a chover; deixo tudo nas mãos do S. Pedro. 8h00. Subi ao monte de Santa Helena e vi o Gerês escondido por baixo de nuvens negras. A atmosfera estratificava-se.

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Mas ainda não pingava e, por isso, lá subi ao Barbudo vendo na minha frente o seu castro que, no entanto, ia evitar visitar para poupar nas subidas

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e tendo, à minha direita, Vilaverde

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e desci as trialeiras que um dia os do CEVA irão conhecer. Subi depois as rampas inclinadas do Moinho Velho apanhando o estradão que liga ao pico siamês, o Borrelho. Resolvi descer ao vale do Neiva pelos corta-fogos que tinha explorado há tempos. Já estava com moral para ir até onde desse. A subida ao Oural também a fiz por uma nova variante que só tinha utilizado uma vez. No início fui surpreendido por um valente "PUM". Pensei que fosse o Orlando a furar mas ele hoje não estava neste filme! Era apenas um foguete. Outros se lhe seguiriam...

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Deixei o vale do Neiva para trás

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e subi um lindo vale, com uma linda floresta de carvalhos, até Porrinhoso

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Quase no alto adivinhava-se a parafernália de antenas e torre de vigia do topo do Oural.

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No topo contava já 25 Km e 1000 m de acumulado. O Gerês encontrava-se, ainda, manhosamente escondido pela barriga das nuvens.

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Mais umas descidas com trialeiras à mistura e apanhava uma série de caminhos que me levaram à Portela de Vade. Começava finalmente a subir em direcção ao Gerês e ainda não chovia. O estradão é bom, embora inclinado no início. O tojo em flôr enfeitava as encostas.

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Evitei tentar chegar ao topo do Barrete para não enfiar um barrete ficando sem energia para o regresso. Fotografei o incrivelmente bem preservado fojo de Lobo

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e atirei-me a Santo António de Mixões da Serra, passando pelo Posto Maior. Em SAMS não parei. Imaginei as invectivas do Orlando (e não só) ao passar em frente do café.

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Segui até Brufe, novamente com o bom-senso que apenas a solidão me permite e que me fez evitar os desvios de Cutelo. Havia que poupar as energias.

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Em Brufe fiquei a ler aquela placa pele enésima vez mas agora lendo as entrelinhas... "Em 2008 as mulheres do CEVA não davam os homens para a Tropa de Elite..."

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Quanto à memh od ator já sabia que iria fazê-la toda, todinha: a memoh od ator estava no papo. Na descida para a barragem de Vilarinho das Furnas ainda consegui ultrapassar um Mercedes... Uma paragem para um reforço alimentar com vistas para os destroços de Vilarinho (este gajo afinal come?... dirão alguns).

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Passagem rápida por Campo do Gerês, Covide e há que atacar a Geira sensu inversu. Novas cores: verdes variados e de vez em quando uma cerejeira branquinha como uma noiva vegetal.

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Curiosamente, as forças já não me chegavam para grandes brilharetes nas calçadas mais complicadas. Desci a Geira

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e ainda vi os sinais de outro lobo solitário, com maiores necessidades nutricionais

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Passei sem olhar para a direita, para aquela viela que dava início à subida para o monte de S. Pedro de Fins. Faltava a quem me dirigir num briefing de má memória: em frente é o regresso, à direita... Na ausência de más companhias segui em frente até aos limites de Amares, colhi umas laranjas para aliviar a hipoglicemia que ameaçava, olhei mais uma vez para o sumptuoso mosteiro de Rendufe

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e voltei para o meu retiro de Turiz, 10 h depois de o deixar aquela manhã.
Foi ritmo calmo (12.2 Km/h), poucas paragens (1 horita) e a módica quantia de 111 Km (outro número bonito que repito; já o tinha feito em Trás-os-Montes com o JAP). O outro número mágico estava no ecrã do Garmin: 2500 m de acumulado. Empeno garantido: corpo dorido, não havia músculo que se não queixasse...
Até uma próxima
Major Lobo Solitário
 

indy

Member
Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

:eish: :eish:

"Em 2008 as mulheres do CEVA não davam os homens para a Tropa de Elite..."
Isto é uma declaração de guerra! :twisted:

aquela viela que dava início à subida para o monte de S. Pedro de Fins. Faltava a quem me dirigir num briefing de má memória: em frente é o regresso, à direita... Na ausência de más companhias segui em frente até aos limites de Amares
tss tss tss 8)

Obrigado... por nada.
Já não chegava o relato, ainda teve de nos vir espicaçar com as fotos :evil:
 
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