Acordei às 6 da manhã.Preparei os últimos detalhes, enchi o camelbak, abasteci de barras energéticas os bolsos do jersey. Entrei no carro e hora e meia depois estava na localidade do Campo de Gerês, bem no coração do Parque Natural da Peneda-Gerês. O ponto de encontro para a aventura de hoje era a albergaria Stop, localizada mesmo na entrada da aldeia. Com medo de me atrasar cheguei uns bons minutos mais cedo e para ocupar o tempo conduzi até ao início do estradão de terra batida que segue até à Portela do Homem. De lá, num dia bom, seriam visíveis os picos da Serra Amarela. Mas desta vez via apenas nuvens. Nuvens e vento frio que em rajadas empurrava a folhagem do arvoredo e fazia os ramos dançar. "Não vai ser fácil", pensei. Voltei para o parque da estalagem e esperei.
Um grupo grande tinha-se comprometido a aparecer. O primeiro a chegar foi o ICH, logo seguido do nosso "Major" Lobo Solitário. O CEVA chegou em força e com o carro do Tico cheio, carregando o Indy, ET e o JorgeGT. O grupo completou-se com a chegada do pessoal do BTT-VN que trouxe o Jmoniz, o Cunha, o Zé Luís e o Miguel. 11 pessoas no total, um contingente de peso para um desafio também de peso.
A jornada começou com a passagem da barragem de Vilarinho das Furnas. Foi na descida para a barragem que senti as primeiras dificuldade causadas pelo vento. Seguia junto com o JorgeGT e uma forte rajada empurrou-nos de forma tão súbita e violenta que pensei que ia cair. Estava o aviso feito.
O ataque até a aldeia de Brufe foi pela estrada. O grupo seguia alongado, consequência dos diferentes ritmos de aquecimento dos participantes. Mas o ritmo geral era bom e em pouco minutos já estávamos a atravessar o centro da pitoresca aldeia de montanha. Abandonamos o asfalto e tomamos uma série de caminho rurais que nos levaram pelas aldeias de Cortinhas e Cutelo, passando por um belo planalto aberto, coberto de húmidas ervas rasteiras que conferem à paisagem um característico ambiente de alta montanha.
O piso do centenário caminho à entrada de Cutelo encontrava-se muito degradado e requeria técnica apurada para ultrapassar. Do grupo, só o Major arriscou e teve sucesso a fazer essa sequência. Os espectadores aplaudiam da satisfação, mas relembrando que essas atitudes fariam o jovem rapidamente cair no "grupo dos 9 anos extra de vida saudável"
À saída de Cutelo um par de vacas provocou um engarrafamento que requereu alguma diplomacia para ultrapassar. Com um pouco de conversa e motivação os bovinos lá inverteram o sentido de marcha e deixaram via aberta para a progressão do grupo.
Seguiu-se uma zona extraordinária, iniciada com uma subida muito técnica pelo meio de um velho bosque. No fim da subida fomos presentados com uma descida rapidíssima em terreno aberto. Seguíamos em linha, delicadamente ajustando a trajectória das maquinas por entre os tufos de vegetação e bancos de areia que polvilhavam o piso.
Embora o plano original seguisse a estrada durante uns curtos quilómetros, o Major optou por atalhar e tentar apanhar a estrada um pouco mais à frente. A alteração resultou em pleno, cortamos alguns caminho e pudemos usufruir mais um pouco das vistas do planalto.
Chegamos à estrada e pouco antes de Germil fizemos um viragem à esquerda para interceptar mais um trilho. Uma vez que foi feita umas centenas de metros acima do que estava planeado, esta viragem foi atribulada e requereu alguma experimentação e criatividade. Mesmo assim, à segunda tentativa já estávamos no caminho certo e a descer pelo empedrado, curva após curva. À medida que íamos descendo o piso piorava e o som das correntes a bater na escora espalhava-se pelo vale. Com tanta pedra todos iam concentrados em manter a bicicleta na trajectória correcta, que por várias vezes não era a mais aparente. Mas, exceptuando uns pequenos desequilíbrios e paragens, todos chegaram intactos ao fim e com um sorriso de orelha a orelha.
Por estrada e por trilhos menos exigentes tecnicamente continuamos a nossa descida. No caminho de Paradela a Lamelas fomos brindados com uma vista fantástica da Serra da Peneda.
Poucos minutos depois estávamos em Entre Ambos-os-Rios, na N203. Era aqui que começavam as verdadeiras dificuldades do percurso. Deste ponto até ao topo da Serra Amarela esperavam-nos cerca de 25 km em subida constante, dos 60 até aos 1350 metros de altitude. Face a tamanho desafio, aproveitamos um café no início da subida para descansar e recarregar as reservas de energia. Tempos difíceis nos esperavam mais à frente.
Findo o almoço, utilizamos a estrada para subir mais 9 km calmamente até ao Lindoso. Uma vez na aldeia, por sugestão do Jmoniz, fizemos uma passagem pelo castelo e pelos espigueiros. Duas construções semelhantes na sua construção de pedra mas fundamentalmente distintas no seu uso, testemunhas dos tempos de isolação destas aldeias fronteiriças nas suas guerras contra invasores e contra a fome.
Visitada a aldeia, era agora altura de entrar na fase final da subida à Serra Amarela. Esta parte é feita por um largo estradão, de bom piso e inclinação constante. Bastaram umas centenas de metros neste caminho para partir o grupo totalmente. Cada um tentava encontrar o seu ritmo. Durante os primeiros quilómetros o grupo era encabeçado por mim, pelo ET, Indy e ICH. O ICH acabou por descolar e uns minutos depois o Indy também o fez. Eu o ET continuamos juntos à medida que negociávamos as curvas largas do trilho. Em zonas mais expostas e livres de vegetação já sentia o vento forte que nos esperava no topo, também patente pela velocidade com que as nuvens passavam sobre as nossas cabeças. Distraído das dificuldades enquanto ia espremendo os preciosos conteúdos de uma embalagem de gel energético fui gradualmente avançando e deixei o ET para trás.
Para o topo da Amarela só existe um caminho, somos obrigados a subir e descer pelo mesmo percurso. Enquanto seguia num ponto elevado da subida pude olhar para a bifurcação onde o caminho para o topo se separa do caminho descendente. Lá vi um grupo de ciclistas parado. Rapidamente percebi que grande parte do grupo não ia atacar a subida. Esperei pelo ET para lhe relatar o facto e em curta conversa concordamos que esta fora uma boa opção da parte deles.
Cada vez mais perto do topo, o vento forte alternava entre ajudante e carrasco. Ora nos ajudava ora dificultava a ascensão. O Tico, cheio de energia e vindo muito de trás, alcançou-nos nesta zona. Aproveitei a roda do Tico e juntos chegamos à parte final da subida. Aqui as inclinações suaves e graduais dão lugar a um quilómetro de rampas que forçam o uso das mudanças mais curtas. O vento continuava, cada vez mais forte, opondo-se de tal forma à progressão que me fez parar por completo nos últimos 100 metros da subida. Mas de pedalada em pedalada lá chegamos ao topo.
Esperamos pelo resto do grupo abrigados da agressividade do vento na entrada de um edifício de apoio ás antenas. Primeiro chegou o ET.
Depois, o Indy.
Seguiram-se uns momentos de alimentação e descanso. Quando estávamos prestes a iniciar a descida, fomos agradávelmente surpreendidos pela chegada do ICH. Também ele tinha resistido à tentação de desviar na bifurcação e sozinho pedalou com sucesso até ao topo.
A descida fez-se então a cinco.
Abordando o estradão, as bicicletas furavam o vento e desciam a elevada velocidade pelo estradão, levantando pó e detritos. O sol cada vez mais baixo, os 50 km/h de velocidade e o ruído dos pneus a galgar o trilho conjugaram-se para uma conferir ao momento uma certa surrealidade.
Na bifurcação já não encontramos ninguém. Tinham seguido o resto do track gps em direcção ao final, certamente guiados pelos experientes Jmoniz e Major.
Nós cinco lá continuamos a descida. E que descida memorável! Passamos por planaltos verdejantes, por zonas trialeiras cheias de lama e pedregulhos irregulares. Atravessamos pontes e bosques cerrados, locais onde as caídas folhas de Outono dançavam à frente das nossas rodas e serpenteamos o nosso caminho pelo meio de aldeias e de vacas.
Esta sequência terminou na aldeia da Ermida, que esconde nas suas encostas a zona mais espectacular deste percurso. Um caminho de cabras, rasgado na montanha com milhares de pedras, ondulando encosta abaixo numa sequência de curvas e contra-curvas. A primeira impressão é chocante, face ao penhasco que ladeia o trilho. Parei no início para avaliar a natureza do desafio. Aproveitei e tirei uma foto dos meus companheiros a acelerar pela primeira rampa abaixo.
O trilho faz-se bem rápido, com o gozo supremo de abordar com confiança os degraus e deixar a bicicleta quase sozinha mergulhar para a próxima secção de curvas.
Chegados cá baixo, o Indy diz:
"Isto não é um singletrack. É "o" singletrack"
Não pude deixar de concordar.
O trilho deixou-nos na aldeia de Lourido onde parámos para beber mais uma cola. A pausa foi bem vinda pois com cerca de 80 km nas pernas o cansaço começava a cair sobre os ombros de todos. Ficamos também a conhecer o Lance Armstrong local, que faz em 45 minutos aquilo que nos demorou hora e meia a fazer... E ele não anda de bicicleta todos os dias!
Restava agora trepar até Brufe. Tarefa difícil pois requeria uma ascensão de mais de 500 metros verticais, primeiro por estradão, depois por estrada. E o sol era cada vez mais escasso.
A fase em estradão fez-se sem dificuldades e até incluiu uma saudável porção de caminhada. Mas a estrada custou. Talvez porque o seu fim não fosse visível. Talvez porque o frio se instalava. Talvez porque o conta quilómetros marcava 85 km, muitos deles completados em subida brutal.
O panorama era este:
Lá trás sofria-se e bem para subir. O sentido de humor já tinha desaparecido há muito. Eu simplesmente olhava para baixo e pedalava.
Na aldeia de Germil parámos para montar as luzes. As estradas estavam mergulhadas na escuridão total. Um local, em jeito de ironia diz:
"Que belo dia para pedalar"
A resposta foi pronta e óbvia...
"Para nós, é sempre bom dia para pedalar"
Um quarto de hora mais a pedalar pelo asfalto e finalmente chegamos ao topo da passagem. Como merecida recompensa pelo esforço, fomos brindados com as belas cores do crepúsculo.
Brufe chegou rapidamente e daí descemos para a barragem, mergulhados na escuridão, novamente empurrados por rajadas de vento constantes. Luzes vermelhas, o ruído agressivo de vento, o escuro da noite e ao fundo as luzes das eólicas a piscar em sequência. Que experiência tão estranha, mas ao mesmo tempo tão estimulante para os sentidos.
Atravessámos a barragem e fizemos a curta subida para o Campo do Gerês. Acelerei com todas as minhas forças nesta subida. Era a última!
Chegamos... 101 quilómetros e quase 10 horas depois...
Um grupo grande tinha-se comprometido a aparecer. O primeiro a chegar foi o ICH, logo seguido do nosso "Major" Lobo Solitário. O CEVA chegou em força e com o carro do Tico cheio, carregando o Indy, ET e o JorgeGT. O grupo completou-se com a chegada do pessoal do BTT-VN que trouxe o Jmoniz, o Cunha, o Zé Luís e o Miguel. 11 pessoas no total, um contingente de peso para um desafio também de peso.
A jornada começou com a passagem da barragem de Vilarinho das Furnas. Foi na descida para a barragem que senti as primeiras dificuldade causadas pelo vento. Seguia junto com o JorgeGT e uma forte rajada empurrou-nos de forma tão súbita e violenta que pensei que ia cair. Estava o aviso feito.
O ataque até a aldeia de Brufe foi pela estrada. O grupo seguia alongado, consequência dos diferentes ritmos de aquecimento dos participantes. Mas o ritmo geral era bom e em pouco minutos já estávamos a atravessar o centro da pitoresca aldeia de montanha. Abandonamos o asfalto e tomamos uma série de caminho rurais que nos levaram pelas aldeias de Cortinhas e Cutelo, passando por um belo planalto aberto, coberto de húmidas ervas rasteiras que conferem à paisagem um característico ambiente de alta montanha.
O piso do centenário caminho à entrada de Cutelo encontrava-se muito degradado e requeria técnica apurada para ultrapassar. Do grupo, só o Major arriscou e teve sucesso a fazer essa sequência. Os espectadores aplaudiam da satisfação, mas relembrando que essas atitudes fariam o jovem rapidamente cair no "grupo dos 9 anos extra de vida saudável"
À saída de Cutelo um par de vacas provocou um engarrafamento que requereu alguma diplomacia para ultrapassar. Com um pouco de conversa e motivação os bovinos lá inverteram o sentido de marcha e deixaram via aberta para a progressão do grupo.
Seguiu-se uma zona extraordinária, iniciada com uma subida muito técnica pelo meio de um velho bosque. No fim da subida fomos presentados com uma descida rapidíssima em terreno aberto. Seguíamos em linha, delicadamente ajustando a trajectória das maquinas por entre os tufos de vegetação e bancos de areia que polvilhavam o piso.
Embora o plano original seguisse a estrada durante uns curtos quilómetros, o Major optou por atalhar e tentar apanhar a estrada um pouco mais à frente. A alteração resultou em pleno, cortamos alguns caminho e pudemos usufruir mais um pouco das vistas do planalto.
Chegamos à estrada e pouco antes de Germil fizemos um viragem à esquerda para interceptar mais um trilho. Uma vez que foi feita umas centenas de metros acima do que estava planeado, esta viragem foi atribulada e requereu alguma experimentação e criatividade. Mesmo assim, à segunda tentativa já estávamos no caminho certo e a descer pelo empedrado, curva após curva. À medida que íamos descendo o piso piorava e o som das correntes a bater na escora espalhava-se pelo vale. Com tanta pedra todos iam concentrados em manter a bicicleta na trajectória correcta, que por várias vezes não era a mais aparente. Mas, exceptuando uns pequenos desequilíbrios e paragens, todos chegaram intactos ao fim e com um sorriso de orelha a orelha.
Por estrada e por trilhos menos exigentes tecnicamente continuamos a nossa descida. No caminho de Paradela a Lamelas fomos brindados com uma vista fantástica da Serra da Peneda.
Poucos minutos depois estávamos em Entre Ambos-os-Rios, na N203. Era aqui que começavam as verdadeiras dificuldades do percurso. Deste ponto até ao topo da Serra Amarela esperavam-nos cerca de 25 km em subida constante, dos 60 até aos 1350 metros de altitude. Face a tamanho desafio, aproveitamos um café no início da subida para descansar e recarregar as reservas de energia. Tempos difíceis nos esperavam mais à frente.
Findo o almoço, utilizamos a estrada para subir mais 9 km calmamente até ao Lindoso. Uma vez na aldeia, por sugestão do Jmoniz, fizemos uma passagem pelo castelo e pelos espigueiros. Duas construções semelhantes na sua construção de pedra mas fundamentalmente distintas no seu uso, testemunhas dos tempos de isolação destas aldeias fronteiriças nas suas guerras contra invasores e contra a fome.
Visitada a aldeia, era agora altura de entrar na fase final da subida à Serra Amarela. Esta parte é feita por um largo estradão, de bom piso e inclinação constante. Bastaram umas centenas de metros neste caminho para partir o grupo totalmente. Cada um tentava encontrar o seu ritmo. Durante os primeiros quilómetros o grupo era encabeçado por mim, pelo ET, Indy e ICH. O ICH acabou por descolar e uns minutos depois o Indy também o fez. Eu o ET continuamos juntos à medida que negociávamos as curvas largas do trilho. Em zonas mais expostas e livres de vegetação já sentia o vento forte que nos esperava no topo, também patente pela velocidade com que as nuvens passavam sobre as nossas cabeças. Distraído das dificuldades enquanto ia espremendo os preciosos conteúdos de uma embalagem de gel energético fui gradualmente avançando e deixei o ET para trás.
Para o topo da Amarela só existe um caminho, somos obrigados a subir e descer pelo mesmo percurso. Enquanto seguia num ponto elevado da subida pude olhar para a bifurcação onde o caminho para o topo se separa do caminho descendente. Lá vi um grupo de ciclistas parado. Rapidamente percebi que grande parte do grupo não ia atacar a subida. Esperei pelo ET para lhe relatar o facto e em curta conversa concordamos que esta fora uma boa opção da parte deles.
Cada vez mais perto do topo, o vento forte alternava entre ajudante e carrasco. Ora nos ajudava ora dificultava a ascensão. O Tico, cheio de energia e vindo muito de trás, alcançou-nos nesta zona. Aproveitei a roda do Tico e juntos chegamos à parte final da subida. Aqui as inclinações suaves e graduais dão lugar a um quilómetro de rampas que forçam o uso das mudanças mais curtas. O vento continuava, cada vez mais forte, opondo-se de tal forma à progressão que me fez parar por completo nos últimos 100 metros da subida. Mas de pedalada em pedalada lá chegamos ao topo.
Esperamos pelo resto do grupo abrigados da agressividade do vento na entrada de um edifício de apoio ás antenas. Primeiro chegou o ET.
Depois, o Indy.
Seguiram-se uns momentos de alimentação e descanso. Quando estávamos prestes a iniciar a descida, fomos agradávelmente surpreendidos pela chegada do ICH. Também ele tinha resistido à tentação de desviar na bifurcação e sozinho pedalou com sucesso até ao topo.
A descida fez-se então a cinco.
Abordando o estradão, as bicicletas furavam o vento e desciam a elevada velocidade pelo estradão, levantando pó e detritos. O sol cada vez mais baixo, os 50 km/h de velocidade e o ruído dos pneus a galgar o trilho conjugaram-se para uma conferir ao momento uma certa surrealidade.
Na bifurcação já não encontramos ninguém. Tinham seguido o resto do track gps em direcção ao final, certamente guiados pelos experientes Jmoniz e Major.
Nós cinco lá continuamos a descida. E que descida memorável! Passamos por planaltos verdejantes, por zonas trialeiras cheias de lama e pedregulhos irregulares. Atravessamos pontes e bosques cerrados, locais onde as caídas folhas de Outono dançavam à frente das nossas rodas e serpenteamos o nosso caminho pelo meio de aldeias e de vacas.
Esta sequência terminou na aldeia da Ermida, que esconde nas suas encostas a zona mais espectacular deste percurso. Um caminho de cabras, rasgado na montanha com milhares de pedras, ondulando encosta abaixo numa sequência de curvas e contra-curvas. A primeira impressão é chocante, face ao penhasco que ladeia o trilho. Parei no início para avaliar a natureza do desafio. Aproveitei e tirei uma foto dos meus companheiros a acelerar pela primeira rampa abaixo.
O trilho faz-se bem rápido, com o gozo supremo de abordar com confiança os degraus e deixar a bicicleta quase sozinha mergulhar para a próxima secção de curvas.
Chegados cá baixo, o Indy diz:
"Isto não é um singletrack. É "o" singletrack"
Não pude deixar de concordar.
O trilho deixou-nos na aldeia de Lourido onde parámos para beber mais uma cola. A pausa foi bem vinda pois com cerca de 80 km nas pernas o cansaço começava a cair sobre os ombros de todos. Ficamos também a conhecer o Lance Armstrong local, que faz em 45 minutos aquilo que nos demorou hora e meia a fazer... E ele não anda de bicicleta todos os dias!
Restava agora trepar até Brufe. Tarefa difícil pois requeria uma ascensão de mais de 500 metros verticais, primeiro por estradão, depois por estrada. E o sol era cada vez mais escasso.
A fase em estradão fez-se sem dificuldades e até incluiu uma saudável porção de caminhada. Mas a estrada custou. Talvez porque o seu fim não fosse visível. Talvez porque o frio se instalava. Talvez porque o conta quilómetros marcava 85 km, muitos deles completados em subida brutal.
O panorama era este:
Lá trás sofria-se e bem para subir. O sentido de humor já tinha desaparecido há muito. Eu simplesmente olhava para baixo e pedalava.
Na aldeia de Germil parámos para montar as luzes. As estradas estavam mergulhadas na escuridão total. Um local, em jeito de ironia diz:
"Que belo dia para pedalar"
A resposta foi pronta e óbvia...
"Para nós, é sempre bom dia para pedalar"
Um quarto de hora mais a pedalar pelo asfalto e finalmente chegamos ao topo da passagem. Como merecida recompensa pelo esforço, fomos brindados com as belas cores do crepúsculo.
Brufe chegou rapidamente e daí descemos para a barragem, mergulhados na escuridão, novamente empurrados por rajadas de vento constantes. Luzes vermelhas, o ruído agressivo de vento, o escuro da noite e ao fundo as luzes das eólicas a piscar em sequência. Que experiência tão estranha, mas ao mesmo tempo tão estimulante para os sentidos.
Atravessámos a barragem e fizemos a curta subida para o Campo do Gerês. Acelerei com todas as minhas forças nesta subida. Era a última!
Chegamos... 101 quilómetros e quase 10 horas depois...