Boas
Gostaria de deixar aqui a minha contribuição sobre a bike em análise onde tentarei ser o mais objectivo possível, deixando de lado justificações emocionais relacionadas com a marca e o seu marketing.
O meu caso:
Specialized Enduro SL Comp 2008 tamanho L, peso com setup actual 14,280Kg. Comprada no final de 2007 mais por razões emocionais do que racionais mas enfim, penso que é o que acontece com a maioria de nós. Depois da compra feita tentamos arranjar argumentos que o justifiquem. Queria uma bike polivalente do tipo “ do it all ” que tanto desse para descer como para subir, que fosse relativamente leve, com uma suspensão eficiente e um preço que não me levasse a falência.
Suspensão da frente: Specialized Future Shock E150 SL, avariada no acto da entrega da bicicleta. Cartucho do ar (perna esquerda) perdia metade do ar de um dia para o outro.
Três semanas para me resolverem o problema, mau serviço do revendedor ao qual o importador também não está isento de culpas. Depois de ter estado a espera da bicicleta durante três meses fiquei lixado com esta situação porque uns meses antes estive para comprar o modelo de 2007 mas como tinha conhecimento dos problemas da forqueta resolvi encomendar o modelo de 2008 na esperança que esses problemas me passassem ao lado. Imaginem a minha frustração quando me deparei com a fuga de pressão do cartucho do ar ao fim de três dias de utilização.
Afinação: Compressão e retorno completamente abertos, pré-carga com 80 psi, o que no meu caso da um sag de 30%, (com equipamento peso cerca de 86 kg), válvula de descarga (spike valve) com 50 psi.
Comportamento: Muito insensível aos pequenos ressaltos, a rolar a suspensão vai completamente “congelada” e só acorda com impactos médios ou mais fortes, chega a provocar dormência nas mãos quando rolamos mais depressa, por exemplo a descer do Monge para os Capuchos na Serra de Sintra. Em curva também não ajuda uma vez que em situação de falta de aderência da frente a extensão não actua rápido o suficiente o que leva o conjunto a ir atrás da roda o que não dá confiança nenhuma e pode levar a uma eventual queda (já me aconteceu) principalmente em situação de relevo ao contrario (off camber) mas os pneus também têm influencia nesta situação mas falarei deles noutro post. Eventualmente poderia aumentar a pré-carga para acelerar o retorno mas isso iria tornar a suspensão ainda mais rija o que iria agravar o problema da sensibilidade. Noutro tipo de situação se for necessário levantar a frente para ultrapassar um obstáculo (um pequeno tronco por exemplo), tornasse extremamente difícil de o fazer precisamente por causa desta falta de velocidade da suspensão e no meu caso que uso um tamanho L ainda é pior uma vez que o triangulo da frente é mais comprido do que um M que é o tamanho bitola no desenvolvimento das bicicletas, é quase preciso lutar com o guiador para o conseguir e já tive situações em que quase passei por cima do guiador por causa disto, uma vez que uso pedais Crank Brothers de encaixe, puxo a frente e ela não vêm mas puxo pela traseira ao mesmo tempo é ela vem, resultado, um quase “front flip” hehe. Mas nem tudo é mau, a descer rápido em zonas muito degradas com muita pedra valas e raízes a mistura é um foguetão e perdoa inúmeros erros de pilotagem, más trajectórias, obstáculos que não estavam previstos etc. e quanto pior o terreno melhor ela se comporta tanto a descer como a subir posso dar como exemplo o trilho quê desce do Chimarrão em direcção a A5 em Monsanto onde chego a pedalar de “quinta a fundo”, qualquer dia fico lá colado a um jeep da policia florestal, hehe. Por outro lado está falta de sensibilidade faz com que pedale muito bem e sem bombeio no entanto é preciso referir que subir de pé mesmo com o curso reduzido para 110mm (o que dá muito jeito) é proibido. Está é uma bicicleta que sobe tudo o que for preciso mas mais devagar, subir de pé só para transpor um obstáculo ocasional ou algum topo onde é preciso ter um pouco mais de inércia para vencer. A forqueta é extremamente rígida mas também outra coisa não seria de esperar de uma suspensão com eixo de 25mm bainhas de 35mm e dupla coroa. Não existe nenhuma suspensão de coroa simples seja de que marca for que tenha uma rigidez comparável, até podem ter uma excelente rigidez da coroa até ao eixo, caso da Fox com eixo de 20mm mas é preciso não esquecer que dá coroa para cima, nenhuma suspensão de coroa simples pode competir com uma suspensão de dupla coroa. Quanto as revisões, não tenham medo de tal coisa uma vez que não passam de uma simples limpeza do interior da suspensão e dos retentores e de uma troca de óleo. No meu caso é efectuada de 1000 em 1000 quilómetros. Se verificarem que deixou de aparecer óleo nas bainhas é porque esta na altura da revisão. Uma forma de melhorar o comportamento desta suspensão é virar a bicicleta ao contrário antes de irem pedalar.
Ao fazer esta manobra estamos a lubrificar os bronzes o que ajuda a eliminar a insensibilidade desta forqueta. Penso que a origem deste problema deve estar no tamanho dos bronzes das jarras o que provoca um fenómeno que os anglo-saxónicos denominam de stiction (palavra derivada da aglutinação de Stop com Friction) a Specialized deve ter optado por uns bronzes maiores para evitar o aparecimento precoce de folgas mas só uma pessoa como o Nuno Duarte é que pode confirmar esta teoria. Quando tiver mais t€mpo vou mandar a forqueta para a ND Tuning, é que actualmente o meu t€mpo está a ser gasto num outro projecto com duas rodas (Stumpjumper HT Comp sub-9) mas isto é assunto para outro tópico.
Suspensão traseira: Tipo Horst Link com amortecedor Specialized AFR com spike valve.
Afinação: Compressão toda aberta, retorno com seis clics desde a posição de fechado para dar algum controlo a traseira, pré-carga com 130 psi o que dá um sag de 30%.
Comportamento: Sensível que baste e com uma curva de progressão linear mas tenho a impressão que com o acumular dos quilómetros tem vindo a perder a sensibilidade no entanto é de referir que nunca lhe fiz uma revisão e é natural que esteja com falta de lubrificação de resto zero problemas. Bombeio é uma palavra que não existe nesta bicicleta a não ser como já referi se o pedalar for de pé, sei que para alguns de vocês pode ser difícil de acreditar que uma bike com 150mm de curso não bombeie mas na realidade é mesmo assim e se repararem eu escrevi que a compressão esta toda aberta, porque se eu rodar o botãozinho azul para a direita, então é que ela não se mexe mesmo.
Por outro lado gostaria de referir aqui que não estou a ver onde é que esta a teoria do total suspension integration uma vez que a suspensão traseira tem um comportamento linear e a forqueta tem um comportamento de endurecimento progressivo, portanto jogam em clubes diferentes com comportamentos diferentes, lá se vai o TSI.
Conclusão sobre suspensões: Penso que a Spec foi mais no sentido da eficácia de pedalada do que da eficiência de absorção em velocidades de suspensão lentas. Como a forqueta não tem bloqueio eles tentaram por outro meio aumentar a eficácia de pedalada o que se veio traduzir na tão falada falta de sensibilidade. Contudo acho que numa bicicleta com tanto curso e cuja vocação é claramente para descer a bruta e de qualquer maneira deveria ser ao contrario. Para pedalar a Spec tem outras bikes com argumentos melhores caso da Stump FSR onde o seu peso e cursos mais reduzido são uma mais valia. Quem é que quer pedalar com chaimites de 14 kg? Só malucos como eu que chegam a fazer 100 km num dia com a SL. É preciso no entanto referir que a tendência actual dos construtores de binas vai no sentido da eficácia de pedalada e posso dar um exemplo flagrante como é o caso da Santa Cruz Nomad que tem recebido criticas precisamente por ter perdido a supless de suspensão que tinha o anterior modelo. É exactamente a mesma situação da Spec, para que é que querem uma Nomad que pedale bem quando têm uma LT2 que é bem mais adequada para isso? Isto é tudo uma situação de compromisso e não podemos ter as duas coisas, ou temos sensibilidade de absorção ou temos eficácia de pedalada no entanto os construtores é que sabem da sua vida e até já existem alguns que conseguiram um bom compromisso caso da Lapierre com as suas Zesty.
Bom, este post já vai demasiado longo, a seguir quando puder vou falar do quadro e rodas.
Cumprimentos a todos
Jorge