Legislativas

TLouro

Member
Boas,

Desculpem lá, mas discordo radicalmente de quase tudo o que aqui foi escrito!

Considero a eventual concretização de um governo de esquerda uma falta de seriedade e um atentado à democracia, apesar de perfeitamente legal e constitucional. Porquê? Pelo seguinte:

1-António Costa "assaltou" a liderança do PS, de forma completamente legal diga-se, alegando que o seu antecessor teve uma vitória "poucochinha". A seguir perde as eleições mais importantes de uma forma considerável e continua em funções. Novamente de forma legal e estatutariamente inatacável. Mas isto é sério e coerente? Então assume um cargo dizendo que o seu antecessor não ganha por uma margem suficiente, depois perde, e ainda assim não se demite!?

2-Os partidos de esquerda apresentaram-se a eleições prometendo representar os que são contra a NATO, a Europa, o Euro e a austeridade em geral. E depois apoiam um governo (do PS) que é favorável à maior parte destas coisas (mesmo da austeridade, embora em menor grau)? É legal e constitucional? Claro que sim. Mas é sério e honesto para com os eleitores!?

3-Se a nossa democracia fosse a sério e se os nossos políticos fossem homenzinhos e sérios, um governo minoritário seria encarado com naturalidade, sendo certo que para as questões importantes teria que haver uma concordância alargada, pelo menos entre os dois maiores partidos. Faz algum sentido andar a reformar o sistema fiscal ou a segurança social de forma avulsa, em função da cor do governo que lá está? Porque carga de água é que não se entendem para traçar um rumo a longo prazo nas matérias estratégicas para o país? Como é que um investidor (e como nós precisamos de investidores!!!) pode vir para o nosso pais, se não faz ideia sequer de quanto vai pagar de impostos no próximo ano, quanto mais no período do investimento!?

E aproveitando para falar em contas, na situação atual o país já gasta mais 3% do que ganha (o chamado défice). Como é que se aumentam salários (aumenta despesa do estado), baixam-se impostos (corta-se na receita) e mantém-se o défice!? Só se descobrirem petróleo na costa algarvia! Alguém com bom senso acha isto credível?
 

Joseelias

Well-Known Member
O BE tem um eleitorado muito flutuante. Aliás, soube de pelo menos meia-dúzia de anteriores votantes no PSD, que não querendo votar no PS pois não suportam o Costa, e o PCP sendo um tabu para eles, acabaram por votar no BE em puro voto de protesto. Pode parecer incrível mas é verdade. Aliás, li muitos relatos destes noutras discussões políticas no pós-eleições pela internet. Surpreendeu-me e muito.

Nesse sentido, o BE teve um resultado em que se torna difícil de prever qual a evolução que terá numas próximas eleições. Acho que pode ganhar ou perder imenso com este acordo. Isto é, pode reter muitos dos votos de protesto se se saírem bem e provarem valor, mesmo entre pessoas que não são efectivamente da sua área ideológica. Ou pode perder esses votos para a direita novamente e os apoiantes da sua área irem para os novos partidos fundados pelos ex-membros do BE. Na minha opinião, esta decisão do BE pode ser uma quase tudo ou nada.

O PCP é mais estável, como se tem comprovado ao longo dos tempos e do que conheço de apoiantes do PCP não são, de forma geral, tão dogmáticos e inflexíveis como os pintam na comunicação social, pelo que seria necessário acontecer algo de verdadeiramente chocante da parte da direcção do PCP para perderem a confiança. Na verdade, estão mais apreensivos com alguma armadilha que o PS possa maquinar que com as decisões da direcção do PCP, que na verdade se mostrou o mais difícil de negociar com o PS. Inclusive, foi quem forçou o PS a deixar o Passos ser empossado e a ser seguido todo o processo institucional normal até ao momento da queda, fazendo o Costa desistir do discurso de ser tudo uma perda de tempo e que mais valia ser ele logo empossado. Pelo menos de acordo com as noticias.

Para falar verdade, o facto de ambos os partidos terem demonstrado vontade prática de fazer parte de uma solução governativa, contrariando a acusação de serem apenas "partidos de protesto", caiu bem entre muita gente de esquerda que de facto estavam desanimadas por não verem uma mudança no panorama político nacional. Dependendo do resultado que tudo der, podem haver muitos abstencionistas de esquerda que voltem a votar, depois de se sentirem afastados por todas as divisões que a esquerda tem e a quase impossibilidade de terem uma palavra em termos governativos. Mas neste momento é tudo uma incógnita.
 

TLouro

Member
Setegu, essa teoria é interessante e até concordo no que diz respeito à previsão da evolução dos acontecimentos. É óbvio que cada partido vai tentar tirar o máximo partido da situação!

Mas essa exposição falha ou omite o essencial: até parece que ninguém perde muito com isto... Errado! Se cada um dos partidos políticos até pode vislumbrar oportunidades interessantes para si próprio, nós, portugueses e contribuintes, vamos-nos entalar à séria e arriscamo-nos a passar (e pagar!) por uma crise bem maior do que aquela onde ainda estamos...
 

Joseelias

Well-Known Member
@TLouro:

Relativamente ao ponto 1, acho que pouco há a dizer... Mas desde que o Paulo Portas fez o mesmo ao Manuel Monteiro, que me parecia ser uma pessoa bastante séria e uma mais valia para a direita, e deu aquela golpada do "Irrevogável" em pleno governo, o precedente está aberto. Um erro não desculpa o outro, mas os telhados de vidro, são lixados...

O ponto 2, apenas surpreende pela novidade. Mas tal como o PSD e PP tiveram que ceder em pontos quando negociaram a aliança PáF, não vejo porque motivo é considerado escandaloso quando a esquerda faz o mesmo. O facto de partidos políticos terem opiniões fortes e divergentes não significam que sejam dogmas. De resto, como ouvi um dos dirigentes dos partidos da esquerda a responder a essa questão, é que são posições que porão eventualmente em prática um dia que os eleitores portugueses os coloquem directamente no governo. Até lá, e estando numa posição minoritária, negoceiam o que conseguem.

O ponto 3, não faz muito sentido para mim da forma como o colocas. Até hoje os governos minoritários tiveram sempre o apoio, ou pelo menos a tolerância do outro grande partido. Desta vez o PS decidiu não ter essa tolerância, e está totalmente no seu direito. E o que aqui se passou, acontece normalmente nos países mais ricos e democráticos Europa. Não sei se os Dinamarqueses ou Belgas, entre outros, não se podem considerar como "homenzinhos e sérios". Aliás nós temos muito a aprender com eles. Em Portugal isto só é um escândalo pois o somos o país da União Nacional, do Bloco Central e de todas as formas de manter a população arrebanhada dentro do mesmo curral.

Concordo plenamente com as tuas observações sobre as reformas a longo prazo a nível fiscal, da segurança social e por aí fora. Mas, sem querer entrar em grandes polémicas, isso aconteceria apenas se os partidos que nos têm governado colocassem Portugal à frente dos seus interesses pessoais e de todos os interesses nebulosos que gravitam à volta deles. Veja-se a catástrofe que são as PPP, que apesar de todos os avisos foram assinadas como se não houvesse amanhã e que agora custam milhares de milhões por ano aos nossos bolsos.
 

TLouro

Member
Joseelias,

As críticas que agora faço aos partidos de esquerda por após as eleições defenderem o oposto do que defenderam na campanha eleitoral é obviamente extensível a todos os partidos que o façam. E todos, mesmo todos já o fizeram. A novidade é que os partidos mais à esquerda ainda não tinham tido a oportunidade de o fazer, mas não a desperdiçaram! Não me esqueço que o Passos derrubou o anterior governo do Sócrates porque o pais não aguentava mais impostos e depois foi o que se viu! Como tu dizes, e muito bem, o erro de um não desculpa o erro do outro!

A diferença entre esta aliança à esquerda e a aliança à direita é que o programas do PSD e do PP eram "conciliáveis" e não tinha diferenças de fundo. Um acordo entre PS, PCP e BE implica necessariamente que uns ou outros reneguem algumas das suas grandes causas (vamos ficar ou sair do euro? as metas do défice são para cumprir ou não?).

O PS está no seu pleno direito de não apoiar o governo do PaF. As razões que levaram a isso é que me parecem as piores possíveis. A minha leitura (e isto é muito subjetivo) é que o Costa está desesperadamente a tentar salvar a pele e esta é a única via. A médio prazo esta evolução vai estoirar com o pais e com o próprio PS. Verifica-se, portanto que a hierquização de valores dos políticos é exatamente a contrária do que publicitam, ou seja, na verdade é eu, depois eu, depois eu,..., depois o meu partido, depois o meu pais.

Subscrevo em absoluto o teu último parágrafo!
 

Joseelias

Well-Known Member
@TLouro

Acho que de alguma forma respondeste à tua questão das alianças. Como os programas do PSD e do PP eram de tal forma conciliáveis houve, mais do que uma aliança, uma coligação pré-eleitoral em que ambos os partidos integrariam um governo.

No caso dos partidos de esquerda, não houve uma coligação nem uma aliança. Houve um acordo assinado entre as partes que aplica-se apenas a situações especificas e a outras que surjam no futuro. As diferenças entre os partidos não foram anuladas, nem me parece que o PS, o BE, o PCP e os Verdes tenham renegado fosse o que fosse. Provavelmente, as questões mais fracturantes nem foram discutidas. Discutiu-se aquilo que era possível conciliar para viabilizar um governo do PS. De tal forma, que ao contrário do PSD e do PP que partilharam o poder executivo, apenas o PS integrará o governo.

Se o PS decidir aprovar leis que aprofundem a integração ou uma maior colaboração de Portugal na NATO, tenho a certeza que os restantes partidos de esquerda votarão contra no parlamento. Bem como, se o PS se lembrasse de nos amarrar ainda mais ao Euro, ou se as metas do défice forem cumpridas com base em políticas que são inaceitáveis para a esquerda e por aí fora, também penso que votarão contra. Não me parece que haja uma negação dos programas e das causas desses partidos.

Tenho dúvidas que em 2016 o exército americano tenha uma barraquinha de recrutamento para os Marines na Festa do Avante... :D

Relativamente ao Costa não tenho grande defesa para ele, mais pelos precedentes a esta situação, que pelo que se passa agora especificamente. De resto, não posso gostar de alguém que como presidente da câmara de Lisboa me proibiu de entrar na cidade apenas porque sou pobre e não posso pagar para ter um carro novo... Mesmo que o meu passe sem problemas na inspecção, sendo o mesmo modelo que se vendeu em 2000 e polua menos que os carros de alta cilindrada que ando pela cidade! :mad:
 

SeteGu

Active Member
TLouro não creio que os partidos de esquerda defendam "cegamente" a saída da moeda única. Talvez uma das poucas diferenças entre o BE e a CDU esteja precisamente nessa questão. O BE coloca em cima da mesa o estudo dessa possibilidade enquanto que a CDU já defende mais a saída em si. Bem... no fundo pode parecer que é a mesma coisa mas julgo que não...

Mas compreendo perfeitamente o que estás a dizer. Aliás a minha primeira reação foi um pouco assim... mas eu julgo que o BE/CDU continuam a defender o mesmo que defendiam. Não estão é em posição de serem eles a governar de fazer como "lhes apetece". Sendo assim, a sua influência só se poderá fazer sentir até certo ponto... e ainda bem que assim é porque caso contrário aí é que as eleições não serviriam para nada.
 

Negoci8er

Member
Antes de explicar a minha linha de pensamento gostaria de dizer que não tenho um partido político e infelizmente vemos políticos corruptos à direita e à esquerda...
O que eu defendo é uma linha de pensamento que penso ser a que a longo prazo traz prosperidade para o País e para a população que é a política de direita. Enquanto a direita procura acabar com os pobres a longo prazo, a esquerda procura acabar com os ricos a curto prazo, e sinceramente o que me incomoda são os pobres e gostaria de ver a pobreza eliminada ou reduzida, já acabar com os ricos não vejo vantagem nenhuma...
De seguida vou tentar dar exemplos práticos (na área das bicicletas) de como as políticas de esquerda podem arruinar (de novo) o nosso País:
- Aumentar a receita com base no aumento do consumo subindo salários e pensões (PS, BE, PCP)
Esta medida dinamiza a economia, as pessoas com mais dinheiro vão comprar mais bicicletas, mais acessórios... as lojas vão vender mais, vão empregar mais funcionários...
O problema desta medida é que ao incentivar o consumo vamos aumentar as importações e criar um desequilibro na balança comercial (as bicicletas que chegam dos EUA, Espanha, França, etc... terão que ser pagas e sairá dinheiro para o exterior) A nossa divida externa aumenta, o País fica mais pobre...
Política correta - Aumentar a receita com base no crescimento das exportações
Basear a sustentabilidade no aumento da produtividade e crescimento da economia. Ao sermos mais competitivos teremos mais clientes no mercado externo e será possível aumentar as exportações. Os salários são pagos com dinheiro que entra do exterior e logo ao longo do tempo torna a nossa economia mais forte. Com o aumento das exportações temos uma balança comercial positiva (mais exportações e menos importações)

- Aumento do salário mínimo para 600€ no curto prazo (BE e PCP)
Todos nós concordamos que o salário mínimo deveria ser superior mas temos que criar condições para tal, caso contrário tem um efeito perverso.
Por exemplo a Decathlon está a montar bicicletas em Águeda, caso haja uma subida do salário mínimo teremos os seguintes impactos:
- A montagem da bicicleta custará A+Aumento da mão de obra
- Componentes custarão B+Aumento da mão de obra
- Embalagens C+Aumento da mão de obra
- Transportes D+Aumento da mão de obra, etc...
A Decathlon faria todas as continhas e verificaria que os custos de produção seriam = ((A+AMO)+(B+AMO)+(C+AMO)+(D+AMO)+etc...
Analisava o mercado e deslocaria a produção para outro País mais económico (Roménia, Polónia, China, ...)
Em Portugal teríamos um salário mínimo de 600€ e não teríamos empregos... Mas os Portugueses de esquerda estavam felizes porque o salário mínimo era de 600€!

- Como forma de aumentar a receita fiscal tributar as grande multinacionais (BE, PCP e penso que PS)
Mais uma medida perversa...
E podemos pegar no mesmo exemplo de uma empresa tipo "Decathlon".
Ao aumentar a tributação a grandes multinacionais os custos produtivos em Portugal aumentarão... As empresas tentando ser competitivas no mercado global tentam produzir com os custos mais baixo. Ao receberem um aumento de impostos, simplesmente procurariam outro local mais económico e sairiam de Portugal.
No caso de uma multinacional que tenha 500 funcionários, ficaríamos com 500 desempregados. Onde estavam 500 contribuintes para a Segurança Social ficariam 500 desempregados a viver de subsídio de desemprego.

Como podem verificar, não é uma questão de ideais é uma questão de racionalidade! As coisas são muito simples...
A vida custa e só com trabalho teremos uma grande nação, não com medidas fáceis e populistas. Foram estas mesmas medidas que querem implementar que nos deixaram em 2011 com um défice de 11%! Mas a memória é curta e já se esqueceram dos erros...
É caso para dizer que da esquerda não vem bons ventos nem bons casamentos! ;)
 

SeteGu

Active Member
Já agora... falando de mim eu não apoio nenhum partido em particular... Aliás até acho que cada um devia pensar pela sua cabeça e não pela cabeça do partido A, B ou C como muitas vezes julgo que acontece. Nem sequer apoio a esquerda ou a direita... apoio (ou não) ideias e propostas em concreto venham elas de onde vierem.
Agora... claro que isso não me impede de votar no partido A, B ou C... mas curiosamente nunca cheguei (ainda) a votar num partido 2x.

Negoci8er no geral concordo mas não consigo concordar com a questão do salário... Pelo que dizes até parece que nós nem somos um dos (ou o) países da Europa com os salários mais baixos. Aumenta-se o salário mínimo para 600€ e a Sportzone vai fechar uma fábrica em Portugal para abrir em França (ordenado mínimo superior a 1.000€), por exemplo? É por isso que não há empresas em França ou que França é um país pobre?

A meu ver, se isso fosse tão "simples" assim vinham muito mais empresas para Portugal (mão de obra barata).
Ou o ideal é baixar os ordenados para concorrer com a China?
E os produtos quando passaram da Europa para serem feitos na China ficaram mais baratos? Assistimos a uma baixa de preço nos produtos em geral com essa transição?

Mas claro que a riqueza não vem do céu... Olhemos para a Alemanha:
Já viram as empresas de valor acrescentado que eles têm? Na industria automóvel devem ser à volta de uma dezena (grupo VW, grupo Daimler, etc...). A todas as horas saem carros novos para toda a Europa (e não só)...
Bayer (industria química e farmacêutica), Siemens (faz desde electrodomésticos a comboios), BASF (industria química), SAP (software), etc...

Lembram-se da UMM (União Metalo-Mecânica)? Produzia jipes... Pois...
Lembram-se da Sorefame (Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas)? Produzia carruagens/comboios. Extinta em 2001.

Temos, ainda assim, algumas empresas competitivas em que boa parte dos seus produtos são exportados:
Vista Alegre, Costa Verde, Nelo, etc... mas que não são suficientes... até a Orbita, ao que parece, exporta quase toda a produção. E, a meu ver, podia aproveitar melhor os recursos que tem para crescer.

Temos de continuar a fazer mais e melhor... a apostar e apoiar as empresas da "casa". Ajudá-las a crescer! Só assim se consegue aumentar as exportar e equilibrar a balança... não é congelando salários. Por acaso aplaudi nesse aspeto o anterior governo porque (do que me apercebi) foi o primeiro a revelar alguma preocupação sobre este assunto. Mas depois...

E eu já antes me preocupava com o facto de vir quase tudo lá de fora e já nessa altura tentava ao máximo optar por produtos Portugueses (ex: bananas da madeira em vez da Colombia, etc...). Chega também o estigma que muitas vezes existe de que o que vem lá de fora é que é bom... tenhamos algum orgulho no que é nosso. Eu se tiver escolha muitas vezes (claro que nem sempre) acabo por optar por produtos made in PT.

O problema com os ricos em Portugal, para mim, é só uma: corrupção! Veja-se a vergonha do que se passou ainda agora com a pensão do Ricardo Salgado. Contra isto é que as pessoas se deviam começar por manifestar.

Para finalizar e para refletir: Se terminasse agora o curso (engenharia) e arranjasse trabalho provavelmente iria receber à volta de 700€... fora os que nem trabalho conseguem arranjar. Se for para outro país provavelmente começo a receber (no mínimo) o dobro...
Estamos a pagar em Portugal aos jovens para eles estudarem, estamos a dar-lhes ferramentas para produzirem riqueza e depois eles vão produzir riqueza lá para fora?
 
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Negoci8er

Member
SeteGu, tal como referido anteriormente a economia é previsível e muito simples entre a relativa complexidade...
Em relação aos salários há uma característica que faz toda a diferença produtividade
Eu também sou da área de engenharias, sabes bem do que falo! ;)
Se em Portugal produzimos 3 bicicletas por dia por funcionário, e um funcionário recebe 550€, teremos que produzir 3,2 para receber 587€. Crescimento sustentado, onde a empresa se mantém produtiva.
O que acontece no exemplo que deste, é que noutros países que referiste eles são mais produtivos, logo suportam salários mais elevados! ;)
A questão da produtividade pode ser discutida e o JIT (Just In Time) é uma boa ferramenta para eliminar desperdícios. Outra filosofia organizativa muito boa é o Lean...
São ferramentas que permitem às empresas ser mais eficientes e produtivas.
Outro fator também importante que referiste é a capacidade de criar valor acrescentado. Temos que ter preocupação em ter qualidade e investir muito em marketing.
Por exemplo o calçado nacional está bom e recomenda-se. Várias empresas de calçado subiram o salário acima dos valores tabela do estado. Porque conseguem criar valor acrescentado, e são produtivos.
Quanto à mão de obra qualificada que abandona o País também lamento mas faz parte das leis do mercado... vivemos numa aldeia global e quem paga melhor tem a possibilidade de ter os melhores funcionários seja aqui ou no Japão...
Tens que ter esperança no futuro e pode ser que tenhas uma boa oportunidade de trabalho por cá em que sejas reconhecido pelo teu valor! ;)
 
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SeteGu

Active Member
Se as pessoas recebem e vivem mal a sua motivação/produtividade poderá também não ser a melhor... é importante que as pessoas se motivem e sintam as supostas melhorias do país também na sua carteira (aos poucos naturalmente). Se for para trabalhar cada vez mais e melhor €stando cada vez pior as pessoas naturalmente acabam por sentir que é em vão...
O aumento de salário seria positivo também para quem não exporta. Sei lá... além de muitas empresas também padarias, clinicas veterinárias, etc... Acho que (como em tudo) tem de haver um meio-termo... e até se as exportações têm vindo a subir talvez faça sentido aumentar um pouco os ordenados.

Sem dúvida que cada vez mais as empresas têm que ser eficientes... há uma série de filosofias que vão nesse sentido e que, felizmente, têm vindo a ser aplicadas em várias empresas Portuguesas... A filosofia Kaizen também, por exemplo.

JIT, lean, stock´s... o que me foste lembrar... gestão de operações; curiosamente gostei bastante dessa cadeira. :)

Tens que ter esperança no futuro e pode ser que tenhas uma boa oportunidade de trabalho por cá em que sejas reconhecido pelo teu valor! :wink:
Obrigado pela motivação. :)
Também eu espero!
 
Last edited:

Joseelias

Well-Known Member
@Negoci8er

Epá, não venhas com essa da produtividade dos portugueses.

Isso é das campanhas mais vergonhosas que tem sido feita para nos quebrar, e para nos forçar a aceitar condições de trabalho e salários quase inumanos para os padrões ocidentais. A medida da produtividade não tem a ver com a quantidade de produtos que se criam num dia. A produtividade de um trabalhador é medida com base na riqueza que produz no seu horário de trabalho. E não sou eu que digo isto, são os economistas.

Dando um exemplo do mundo das bicicletas também. Mesmo que um funcionário da Decathlon em Águeda monte dez Rockrider 300 por dia, sem pausas para café, cigarros ou casa-de-banho, nunca será considerado tão produtivo como um trabalhador que monte apenas UMA Specialized S-Works Epic FSR 29 e passe todo o dia na conversa e a dormir.

Isto é, o trabalhador português no final do dia produziu apenas 3000€ de riqueza com as 10 bicicletas, e o que montou apenas uma S-Works produziu 11.000€.

Como é que uma costureira em Famalicão consegue competir em "produtividade" contra um operário da Mercedes se o produto dela é vendido a 5€ e o dele a 50.000€? Não digo que não há maus hábitos de trabalho a serem corrigidos, pois são óbvios. Mas aí, desculpem lá, a responsabilidade é dos patrões e dos responsáveis da empresa que não fazem o seu trabalho seja por não serem exigentes ou não saberem motivar. Se um trabalhador é mau a culpa é dele, agora sermos TODOS maus?... Hummmmm...

A Leica, uma empresa alemã que produz as Rolls-Royce das máquinas fotográficas, construiu uma nova fábrica de várias dezenas de milhões de euros em Famalicão. Chegou a ser equacionada a transferência para o Leste da Europa, mas a qualidade do trabalho dos portugueses é de tal forma superior que eles não quiseram arriscar, mesmo indo pagar salários substancialmente inferiores. Os patrões e chefias portuguesas são uma miséria total em termos de competência. Não só não têm coragem de assumir a posição de chefia, como acham que a lei do chicote é a forma de resolver as coisas. E eu fartei-me de assistir a coisas destas e como chefe de equipa choquei muitas vezes com os superiores pela cobardia e desinteresse. E trabalhava no privado!

Relativamente às medidas de direita serem mais adequadas. Penso que os países mais ricos da Europa provam exactamente o oposto. A Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega, França e por aí fora são o que são pois seguiram políticas de esquerda de cariz Socialista e Social-Democrata. Sim, a Social-Democracia na Europa é centro-esquerda. A questão principal de Portugal nem sequer é as políticas serem de direita ou de esquerda. Neste momento qualquer medida é benéfica se for aplicada com bom senso e o interesse nacional à frente de tudo o resto. O problema é termos dois partidos dominantes minados de corrupção e interesses, em que a última preocupação é governar o país e mais governar-se a eles próprios e aos amigos. Como se explica que até à data não temos leis anti-corrupção aprovadas?!

Aliás, vejamos a balança comercial dos últimos 30 anos, em que cada vez mais medidas de direita foram sendo aplicadas, como a precarização dos contratos de trabalho, baixos salários e por aí fora. Encontrei estes dados na net e confirmei que são verdade:

Exportações vs. Importações
1985: +10 Milhões de Euros
1996: -6 Mil Milhões de Euros
2008: -16 Mil Milhões de Euros

O período de 1985 a 1996 foi a governação de Cavaco, com maiorias absolutas e milhares de milhões de euros a entrar em Portugal vindos da UE. Como é possível passar de 10 milhões positivos para 6 MIL milhões negativos em 11 anos!!! Penso que é óbvio que o Cavaco não é de esquerda. A questão não é ser de esquerda ou direita, mas ser patriótico e servir o país em vez de interesses obscuros.

E a recuperação da balança comercial em 2014, tão propagandeada pelo governo só aconteceu pela brutal contracção da economia, e como nós importamos quase tudo, desde aviões às batatas, houve menos importações. Aliás, cheguei a ler que esses valores das exportações até foram "martelados" pois incluíram os valores das privatizações a grupos estrangeiros neles. Ora uma privatização não é uma exportação...

O problema de Portugal não está na ala política, mas sim na falta de patriotismo de quem nos tem governado. Vejamos o caso do Durão Barroso que traiu o seu eleitorado, que tinha confiado nele para nos governar, e assim que pôde foi mamar na teta da comissão europeia lançando o país numa grave crise politica.
 

jm.cruz

Member
Não costumo fazer grandes comentarios sobre politica, mas vou deixar aqui os meus quinhentos:

Joseelias, no essencial concordo com aquilo que mencionas. O problema do nosso país é que a nossa classe politica, não passa de um bando de "tacheiros", o problema não está nos trabalhadores (os que realmente querem trabalhar), pois estes são dos melhores a nivel europeu (é apenas a minha opinião).

Em relação ao que está acontecer, não vou dizer que concordo, da maneira como ps e como os outros 3 partidos de esquerda estão a propor a formação do governo, falando muito sinceramente é mais uma de "só querem o tacho" essencialmente pelas idologias politicas de cada um. Mas o que é certo é que o país, precisa de uma mudança, e muito pessoalmente vou dar o beneficio da duvida, e espero que não ponham bem pior do que está.

Desculpem os erros, e sou apenas um cidadão sem experiencia em ciencias politicas..
 

Negoci8er

Member
Joseelias, desculpa dizer mas não percebeste ou não leste bem o que disse anteriormente...
Fiz referência que a melhor forma de aumentar os salários é por 2 vias: aumento da produtividade (JIT's, Lean, Kaizen, 5 S's, etc...) ou pela via do valor acrescentado... está bem referido no que disse anteriormente. ;)
Comparar os custos produtivos de um Mercedes com os de uma t-shirt não têm nada de comparável (não é só mão de obra). Comparemos a amortização de uma estrutura e de outra... Não sejamos demagogos.
A Leica apenas está cá porque ainda consegue produzir a custos controlados com uma estrutura que garante bons níveis de qualidade, mas também porque vende artigos "Made in Germany" que acrescenta muito valor ao produto e permite pagar salários acima da média... Assim como a empresa vizinha, Mabor-Continental...
Quanto aos portugueses trabalhadores, sou o primeiro a defendê-los. Sei que todas as pessoas têm um nome, têm famílias, e sonhos. O maior bem das empresas são os Recursos Humanos! São eles que fazem a real diferença entre empresas, não as máquinas... Agora quando temos que apontar o dedo, temos que ser honestos. Poderia dar 1001 exemplos de falta de profissionalismo mas neste local público até tenho vergonha em fazê-lo... Digo apenas que há muitas pessoas que em Portugal trabalham de uma forma e no estrangeiro de outra... (absentismo, baixas fraudulentas, etc...)
Atenção que eu também sou trabalhador por conta de outrem e digo coitados de alguns trabalhadores, mas também coitados de alguns patrões!
Como referi anteriormente não posso dizer que tenha um partido, mas sim uma linha de pensamento.
Na anterior legislatura houve uma tentativa de legislar para apertar o cerco ao enriquecimento ilícito, mas não houve consenso no parlamento... O problema muitas vezes é que ao governar há choques com interesses instalados e é difícil alterar o que está errado.
Toda a minha "atividade" política se resume a isto defender o que faz todo o sentido para o melhor do País e dos Portugueses.
Sou um homem livre de pensamento e posso criticar da direita à esquerda sem "amarras"! ;)
 

Negoci8er

Member
Joseelias, desculpa dizer mas não percebeste ou não leste bem o que disse anteriormente...
Fiz referência que a melhor forma de aumentar os salários é por 2 vias: aumento da produtividade (JIT's, Lean, Kaizen, 5 S's, etc...) ou pela via do valor acrescentado... está bem referido no que disse anteriormente. ;)
Comparar os custos produtivos de um Mercedes com os de uma t-shirt não têm nada de comparável (não é só mão de obra). Comparemos a amortização de uma estrutura e de outra... Não sejamos demagogos.
A Leica apenas está cá porque ainda consegue produzir a custos controlados com uma estrutura que garante bons níveis de qualidade, mas também porque vende artigos "Made in Germany" que acrescenta muito valor ao produto e permite pagar salários acima da média... Assim como a empresa vizinha, Mabor-Continental...
Quanto aos portugueses trabalhadores, sou o primeiro a defendê-los. Sei que todas as pessoas têm um nome, têm famílias, e sonhos. O maior bem das empresas são os Recursos Humanos! São eles que fazem a real diferença entre empresas, não as máquinas... Agora quando temos que apontar o dedo, temos que ser honestos. Poderia dar 1001 exemplos de falta de profissionalismo mas neste local público até tenho vergonha em fazê-lo... Digo apenas que há muitas pessoas que em Portugal trabalham de uma forma e no estrangeiro de outra... (absentismo, baixas fraudulentas, etc...)
Atenção que eu também sou trabalhador por conta de outrem e digo coitados de alguns trabalhadores, mas também coitados de alguns patrões!
Como referi anteriormente não posso dizer que tenha um partido, mas sim uma linha de pensamento.
Na anterior legislatura houve uma tentativa de legislar para apertar o cerco ao enriquecimento ilícito, mas não houve consenso no parlamento... O problema muitas vezes é que ao governar há choques com interesses instalados e é difícil alterar o que está errado.
Toda a minha "atividade" política se resume a isto defender o que faz todo o sentido para o melhor do País e dos Portugueses.
Sou um homem livre de pensamento e posso criticar da direita à esquerda sem "amarras"! ;)
 

Joseelias

Well-Known Member
@Negoci8er

Eu li o que escreveste, mas o meu texto já ia (demasiado) longo... :)

Eu sei que a estrutura necessária para produzir t-shirt e Mercedes são abismalmente diferentes. No entanto, a menos que Mercedes comece a dar prejuízo não há forma de a maior parte dos trabalhadores portugueses poderem ser equiparados em termos de produtividade pois não produzem bens com tanto valor. Mesmo trabalhando o mesmo e tão eficientemente.

O problema é que os empresários e os políticos, em particular os de direita, deturpam o conceito económico de "Produtividade" (grosseiramente: riqueza produzida a dividir por tempo de trabalho) e transformando esse conceito numa espécie de insulto de forma a tirar força aos trabalhadores e a justificar a redução do valor pago nas horas extraordinárias, aumento do tempo de trabalho, não aumento de salários e por aí fora fazendo acreditar que Produtividade significa apenas o número de horas e peças criadas e que nós somos uns vadios. Em Portugal o conceito de "Produtividade" não é um conceito económico, mas uma arma política.

No caso da criação de negócios de valor acrescentado, isso é mais complicado. Se estivermos a falar de captar investimentos, como é que isso é conseguido com a nossa burocracia e custos de produção em termos energia, combustíveis, impostos e por aí fora. Andamos há dezenas de anos a falar nisto e onde é que estamos? Por outro lado, o estado pouco investe nas universidades, nomeadamente os institutos de investigação que poderiam levar à descoberta de produtos que depois de patenteados poderiam gerar muito valor. E o facto de sermos promovidos, pelos próprios governos, como a China da Europa com toda a certeza que não vai valorizar a marca Portugal.

Eu não nego a incompetência que por aí grassa. Eu próprio assisti a coisas escandalosas. Mas novamente, quando as chefias se demitem da sua função o que se há-de de esperar? Tu próprio dizes que os trabalhadores portugueses se comportam diferentemente cá ou lá fora. Porquê? Porque as nossas chefias são uma nódoa.

Estive numa situação em que nunca saia antes das 20h quando devia de sair às 18h porque uma das funcionárias que me deviam de passar o trabalho chegava e saia à hora que queria, sobrecarregando a colega que "apanhava" porque ainda não havia trabalho suficiente para mim!!! E o que fazia o chefe? Nada! Como ele andava a ver se lhe saltava para cima, ela agia como a dona daquilo. Fartei-me e fiz queixa dela a esse chefe com ela ali à frente e tudo. Ele nem sabia onde se meter. Depois disso melhorou substancialmente... Ou uma empresa em que estive que foi levada praticamente à ruína muito por causa de um departamento altamente incompetente em que o responsável era afilhado de um "grande", e ninguém tinha coragem de fazer nada. Nem os administradores tinham coragem de pôr aquilo na linha. E podia contar mais coisas.

Ora, a culpa é toda dos trabalhadores, ou especialmente de quem foi contratado especificamente para pôr as coisas a funcionar eficazmente e não o faz? Fazendo uma analogia, de que te serve uma bicicleta de 10.000€ e treinares todos os dias se nas provas a tua bicicleta tem sempre o avanço desapertado da direcção e nem andas a direito 2 metros? Durante quanto tempo te ias esforçar mais?

Quanto à minha postura política já me dava por satisfeito se fossemos governados por alguém que fosse genuinamente honesto independentemente da posição politica, e de preferência por um centro-esquerda ou esquerda escandinava, isto é os verdadeiros sociais-democratas e socialistas, não o que temos cá que são fraudes. Tenho opinião política mas não tenho dogmas.
 
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SeteGu

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Eu não conheço tão bem assim a realidade do mercado de trabalho para poder comentar sobre isso. Mas parece-me que mesmo que passemos a produzir 1500 telhas por dia em vez de 1000 (super eficiência) continuamos a receber menos por dia que, por exemplo, a Alemanha fazendo um carro.

Alguém me explique porque Portugal é dos poucos países da Europa que não tem uma marca que produza automóveis em série... O que nos falta? Porque razão, por exemplo, a UMM deixou de produzir?

Enquanto houve dinheiro (da Europa) foi para quê? Só para construir autoestradas? O Sócrates já ia embalado para a 3ª entre Lisboa e Porto. Para quê pergunto eu?

Somos um país à beira mar plantado... parece que não há uma estratégia... Já viram a nossa localização e os recursos que temos disponíveis? Mandaram-nos cortar na pesca (e cortámos), na agricultura (e cortámos)... e agora o que aproveitamos além do turismo?
Somos uma porta da Europa... temos alguma linha férrea (mercadorias) em condições que nos ligue diretamente o Porto de Leixões a Espanha e ao resto da Europa?
 
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Baba

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Mas aí tens que agradecer à Alemanha, que nos deu subsídios para deixarmos de produzir, para depois nos vermos obrigados a ter de lhes comprar, a eles que ainda produzem. E nós, que nem uns patinhos, ou melhor que nem uns soaresinhos, dizemos que sim a tudo. E nós, com mar que nunca mais acaba, não podemos pescar e temos que comprar o peixe.... seja lá de onde é que ele vem. Ou seja os subsídios de que usufruímos apenas serviram para agora nos vermos forçados a submeter à soberania da Europa central da qual o PSD tem sido tão bom aluno, e na qual o PS se vestia tão bem. A isso junta-se a adesão ao Euro, quando não tínhamos estrutura para tal, e numa altura em que o escudo estava sobrevalorizado. Juntamente com a incompetência de quem nos desgoverna à 40 anos, mais as ppp, e portagens em pontes que já estão pagas 20 vezes, e pagamento de portagens a estradas que foram construídas com subsídios europeus, e privatização do sector energético. Ou seja o mais importante é garantir os tachos quando se sai dos desgovernos, e é por isso que não se mexe nos grandes sorvedouros, porque esta malta tem que ter a certeza de um lugar de trabalho garantido, tipo estradas de portugal e coisas que tal.... mas pronto, isso sou só eu que tenho mau feitio e a mania das teorias da conspiração...
 

Joseelias

Well-Known Member
Bem, boa parte dos fundos comunitários foram gastos em Ferraris, a tal ponto que a marca chegou a mandar investigadores a Portugal nos anos 80 ou 90 para perceber como é que Portugal em um ou dois anos se tornou o principal comprador de carros da marca a nível mundial.

Também houve muitos fundos destinado à agricultura que foram usados para comprar montes no Alentejo, alguns deles por pessoas bastante mediáticas, e que para continuar a receber esses fundos de apoio semeavam às três-pancadas searas ano após ano que nunca chegavam a ser ceifadas e a ter os cereais comercializados. Ficaram nos campos a apodrecer até ao ano seguinte em que plantavam de novo... para nada... As colheitas eram invariavelmente dadas como perdidas e poupava-se os gastos do processo. O objectivo não era produzir mas sim receber a "massa" com a qual pagaram as propriedades, grandes carros, nomeadamente a moda dos Jipes, e viver uma vida de luxo.

Também houve muitos empresários têxteis, por exemplo, que para receber os subsídios destinados à modernização das empresas compraram noutros países da Europa maquinaria tão velha como aquela que tinham por meia-dúzia de tostões, mas facturada como se fossem o último grito da tecnologia com o preço correspondente. A diferença era embolsada, claro. Ora, o dinheiro foi usado para os tais Ferraris, a compra de Solares com as respectivas quintas, grandes casas, etc.

Parte destas empresas, depois de "renovadas" faliam em falências fraudulentas, despedindo toda a gente e não havia indemnizações pois o recheio da fábrica desaparecia e não havia dinheiro para pagar os salários, muitas vezes em atraso, aos trabalhadores. Eram depois reabertas pela mulher ou irmãos do ex-dono com novos planos de investimento novamente subsidiados pela UE. Voltavam a contratar as mesmas pessoas que tinham perdido o emprego, mas desta vez com contratos a prazo e ordenado mais baixos. Pouco tempo depois passavam para as mãos dos antigos donos...

O Soares, por exemplo, decidiu renovar a Siderurgia Nacional comprando maquinaria alemã dos anos 40! Ficaram a apodrecer nos terrenos pois era mais velha que a da fábrica. Quanto terá sido pago, e quanto terá custado na verdade... Para onde terá ido a diferença....

Como estes exemplos há milhares por esse país fora, que foram a seu tempo denunciados o mais claramente possível pelos tais partidos considerados apenas de protesto, pelos sindicatos e pelos próprios trabalhadores que se viam primeiro sem emprego, e depois contratados pela mesma empresa, a fazer o mesmo mas a ganhar o ordenado mínimo e com contratos a prazo.

No tempo do Cavaco como Primeiro-Ministro em especial, isto era o pão-nosso-de-cada-dia, mas apesar dos alertas constantes dos partidos de "protesto", mesmo apresentando provas reais nada foi feito. Porque será?... Bom, estávamos no país em que personagens como o Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Duarte Lima e muitos outros da mesma espécie ocupavam os mais altos cargos da nação sob a batuta de Cavaco. Os BPN, BES e companhia não apanharam toda a gente de surpresa...

Mas depois de Cavaco não melhorou. Os partidos do "protesto" continuaram a avisar e a ser ignorados, e infelizmente novamente a provar-se terem razão. Tal como com a entrada no Euro. Ignorados, e tiro na mouche.

Não estou com isto a dizer, que as soluções e as opções económicas destes partidos sejam as melhores para Portugal. Isso cabe a cada um decidir. Mas que foram avisando de forma acertada muitos dos erros que agora se reconhecem e pelos quais estamos a pagar, disso não tenho dúvidas.
 
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Negoci8er

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@Joseelias, como vês muitas das questões são tão clara e óbvias que é difícil não estar de acordo... até podíamos formar um partido em conjunto! ;)
Quanto aos partidos do "protesto" concordo que também façam falta para denunciar as aldrabices... o problema é que eles falam, falam, mas não passam disso e nunca se querem comprometer com nada. Ainda agora não querem fazer parte do governo de António Costa. Assim, no momento em que der asneira dizem nós não pertencíamos ao governo...
Quanto às aldrabices a esquerda "caviar" também não pode falar muito (embora não tenham tantos casos públicos)... ou seja, todos os que podem metem a mão no pote da direita à esquerda! E se uns não metem tanto é porque não têm tido tantas oportunidades... :D

@Setegu, quanto à ausência de uma marca automóvel em Portugal estará relacionado com os enormíssimos custos associados à mesma.
Teríamos que pensar nos custos dos terrenos, construção dos edifícios, aquisição de máquinas e robôs complexos, formação de recursos humanos, marketing, ensaios, homologações, goodwill, etc...
Todos estes custos teriam um período de amortização muito longo e seriam muito difíceis de suportar por uma nova empresa... Quem estaria disposto a investir milhões num projeto novo, sem garantias de retorno do investimento?
Mesmo hoje, não podemos dizer que as marcas sejam de um país... Por exemplo a Suécia tinha 2 marcas automóveis e neste momento não tem nenhuma. A Saab faliu e a Volvo é de capital chinês embora ainda mantenha a unidade produtiva em Gotemburgo.
O mundo move-se pelo dinheiro, não haja dúvidas...
A escravatura que existia no período pré revolução industrial não foi eliminada devido à sensibilização dos direitos humanos. Apenas foi eliminada porque com a mecanização das tarefas foi possível produzir mais com menos custos (os escravos não eram necessários)...
 
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