JorgeSantos
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Este bem que podia ser mais um Relato de uma Aventura pelos Caminhos de Santiago, de um grupo de muitos amigos que partiram em busca do “Caminho” desejado e que no fim chegaram todos ou quase todos e que foram felizes para sempre.
Mas não!
Este vai ser o relato possível de apenas 2 amigos que partiram rumo ao “Caminho” ora guiado por setas/conchas, ora guiado por um Gps que teimava em não acordar, ora guiado pelo companheirismo e amizade que os fez partir nesta “aventura”.
O Caminho já estava a ser preparado desde do início de Julho e foi mantido em segredo absoluto. Não fosse haver sabotagem ou pensamentos maliciosos que deitassem tudo por água abaixo.
Desde do inicio o objectivo era fazer Porto - Santiago Compostela em 3 dias. Com calma, sem stress e sem ninguém ficar para trás. No fundo tirar gozo do que se está a fazer.
Tanto eu como o Floopi já tínhamos feito a Serra da Labruja em aventuras anteriores, assim como o Caminho entre o Porto e Ponte Lima.
Nesta aventura também nos apetecia fazer algo diferente, mas seguindo sempre o Caminho.
Foi então que surgiu a ideia de fazer no 1º Dia o Caminho de Santiago Litoral. Caminho esse que está reconhecido por Compostela e que vem assinalado na Credencial de Peregrino. Mesmo assim e para uma total segurança que estava a fazer o “Caminho” confirmei junto da Oficina do Peregrino em Santiago se tal era válido. A resposta foi afirmativa.
Então começou-se a preparar as coisas nesse sentido.
E foi planeado antecipadamente fazer o seguinte:
Porto – Santiago Compostela em autonomia total.
Sendo que:
1º Dia: Porto - Valença – Caminho Português Litoral
2º Dia: Valença – Padron – Caminho Português
3º Dia: Padron – Santiago Compostela – Caminho Português
E assim foi, bikes prontas, mochilas prontas, vontade e tranquilidade prontas.
Siga :arrow:
1º Dia:
7.18 da manhã já lá estava eu na Sé à espera do Floopi que chegou passados 10 minutos.
Discurso de ocasião, boa sorte a ambos e pedais ao “Caminho” .
Porto, Prelada, Araújo
1ª Pausa para uns ajustes…
Modivas, Vila Conde, Povoa de Varzim
Aqui pedimos o 1º “carimbo”
O Caminho por este lado tem outras vistas…
Pelo caminho íamos já encontrando setas e indicações que estávamos no Caminho certo.
Esposende, Viana
Aqui em Esposende o Floopi a meter 5 euritos de combustível
A entrada em Viana pela Ponte antiga com a Nossa Srª da Luzia a observar-nos
Como era hora do almoço aproveitamos e almoçámos numa das praças mais famosas de Viana.
Depois do merecido almoço viria a parte mais difícil do dia. E difícil porque o vento estava muito forte e de frente.
Vila Praia Ancora, Moledo, Caminha
Vila Nova Cerveira, Valença
Chegados a Valença o conta voltinhas marcava 128 kms. Eram 16.30h.
Este dia ficou marcado por pequenos enganos. Fruto do Caminho em algumas partes não estar devidamente marcado. A N13 serviu sempre como referencia para não nos perdermos.
O acumulado neste dia andou na casa dos 1000 metros ascendentes. Nada de especial, a distancia total é que acaba por massacrar um pouco.
Mas nada que um bom banho e um bom jantar não cure.
Balanço do dia:
Muitos kms com muito calor e muito vento. Etapa bastante rolante e divertida. Em Valença ter cuidado com as contas que nos apresentam. Por 2 vezes queriam nos enganar. Ou coisas a mais na factura, ou uma água que 1 hora antes custa 1 euro e passado meia hora já custa 1,50. Isto talvez se deva ao excesso de imigrantes em Valença. Simplesmente quase não existem Portugueses a atender. Ou são Brasileiros ou Ucranianos ou Espanhóis.
Com isto não quero dizer que são todos iguais……mas que foi um facto foi!
2º Dia:
O dia começou cedo. 07.20h já estávamos prontos para o pequeno-almoço.
08H já estávamos a sair de Valença.
Tui
Redondela
Pontevedra
A parte difícil a chegar a Pontevedra e uma das que me tinha desmotivado o ano passado.
Padron- Chegada às 17horas.
Penso que ficámos num dos piores Hotéis da zona. Valeu o facto das bikes dormirem no quarto.
Além disso é impressionante com as pessoas não dão valor às bikes que transportamos. Muitos quando nós perguntávamos onde podíamos deixar a bike, diziam: “ Tem ali um jardim, deixe ficar lá…………ou outra em que perguntei se a garagem do Hotel era segura, respondeu-me: “ Não sei………..” Coisas assim!
Outro facto em Padron é o de não existir um único restaurante aberto. Andamos 45 minutos à procura de um. Lá achamos uma pizzaria. E que soube pela vida…….
No dito Hotel e quando nos preparávamos para adormecer, eis que começam a surgir uns barulhos estranhos. Alguém estava com dores…….daquelas dores que todos nós gostámos. Claro que no fim da “cura” e da explosão em apoteose, gritei bem alto: “ Há Valentes!” Claro está que ninguém respondeu…
Curiosamente essa noite praticamente não preguei olho. A cama dobrava-se toda, o Floopi jurava a pés juntos que tinha visto uma pulga a saltar à corda, cheirava a tabaco dentro do quarto, às 04h da madrugada uma “cambada” de peregrinos que também dormiram lá, decidiram acordar e fazer o maior barulho possível.
Lá tive eu que ligar a TVE e assistir a um jogo de futebol que estava a dar. Como sou solidário, resolvi acordar o Floopi com água.
Um conselho: Vejam o Rex em Espanhol! É o máximo!
Lá consegui adormecer após o Sevilha ter marcado um golo não sei bem a quem.
Balanço do Dia:
Dia bastante duro! Sobe e desce constante com muito calor pelo caminho. Caminhos lindíssimos, o mesmo problema de se estar muitas vezes a cruzar a M-550, mas fora isso, espectacular mesmo.
No fim do dia quase 100kms feitos e com um acumulado bem jeitoso.
Mas o objectivo tinha sido cumprido. Chegar cedo a Padron e deixar os 25 kms finais para o 3º dia.
3º Dia
06.20H Toca o despertador do telemóvel (agora é que estava a dormir bem)
Banho, pequeno almoço que tínhamos comprado no dia anterior.
2º Conselho: Quando comprarem algo, vejam as datas.
07h Estávamos a sair de Padron. O dia ameaçava chuva e mau tempo, aliás como tinha sido noticiado pela TVE.
A partir daqui o Caminho era totalmente novo para mim. Lá fomos seguindo as conchas e as setas. Caminhos “engraçados” mas em algumas zonas perigosos. Principalmente com o cruzar constante da M-550. Mas correu tudo bem. E aqui tenho de elogiar a maneira como o povo Espanhol respeita os “peregrinos”. Por diversas vezes, muitas automobilistas paravam para nos deixarem passar. Nesse aspecto são melhores e mais respeitadores que nós.
Este foi um dia também de emoções, tanto para mim como para o Floopi.
Foi o dia em que mais peregrinos vimos a pé. Dezenas e dezenas a fazer o Caminho e de todas as nacionalidades.
Percorríamos os últimos Kms com bastante calma, mas bastante ansiosos. E a emoção e a lágrima apareceu quando avistei Santiago de Compostela ao longe………bem ao longe. Mas ali tive a certeza absoluta que tínhamos conseguido. Que tínhamos cumprido ao pormenor aquilo que nos tínhamos proposto.
Mais me emocionei quando um grupo de escuteiros gritava e saltava de felicidade ao ver Santiago ao longe. Eles que vinham a pé à vários dias. Por vezes mostramo-nos fortes, mas nestas situações confesso ser-me difícil controlar aquele “formigueiro” que se sente na barriga. É algo inexplicável.
Uns kms à frente e já estávamos dentro de Santiago. Daí até entrar na praça da Catedral foi um ápice. Eram 09.45h.
O que se sente é algo que não se consegue explicar. Por isso ficam apenas as fotos.
Fotos tiradas, abraços dados, agradecimentos feitos, momento de reflexão feito. E fomos buscar a mais que merecida Compostela. Já estava cheio, mas com calma e paciência lá consegui chegar ao balcão. Apresentei a Credencial, preenchi a ficha com os dados requisitados e a menina passa-me a Compostela para a mão.
Agora um dos momentos engraçados.
Quando a menina me dá a Compostela para a mão, pus-me a ver e pareceu-me ler em vez do meu nome (Jorge Santos) ler Joaquim Santos dirigi-me imediatamente ao balcão e disse:
“Desculpe enganou-se no meu nome!”
A menina olha para a Compostela, ri-se e diz:
“ Está em Latim, e Jorge escreve-se Georgium”
Claro está que pedi desculpa e enfiei o saco na cabeça de vergonha.
Na praça da Catedral ainda deu para assistir a alguns espectáculos de rua que iam acontecendo.
Almoçamos por lá e por fim regressamos de carro com os Pais do Floopi que fizeram o favor de nos ir buscar.
E com isto teremos uma bonita história para contar aos nossos filhos. E são estes momentos que fazem do Btt um desporto excepcional.
Até sempre...
Dados Finais :
1º Dia – 128 Kms
2º Dia – 99 Kms
3º Dia – 25 Kms
Acumulado Ascendente superior a 3000 metros.
Fotos-Textos por Floopi e Josant
Mas não!
Este vai ser o relato possível de apenas 2 amigos que partiram rumo ao “Caminho” ora guiado por setas/conchas, ora guiado por um Gps que teimava em não acordar, ora guiado pelo companheirismo e amizade que os fez partir nesta “aventura”.
O Caminho já estava a ser preparado desde do início de Julho e foi mantido em segredo absoluto. Não fosse haver sabotagem ou pensamentos maliciosos que deitassem tudo por água abaixo.
Desde do inicio o objectivo era fazer Porto - Santiago Compostela em 3 dias. Com calma, sem stress e sem ninguém ficar para trás. No fundo tirar gozo do que se está a fazer.
Tanto eu como o Floopi já tínhamos feito a Serra da Labruja em aventuras anteriores, assim como o Caminho entre o Porto e Ponte Lima.
Nesta aventura também nos apetecia fazer algo diferente, mas seguindo sempre o Caminho.
Foi então que surgiu a ideia de fazer no 1º Dia o Caminho de Santiago Litoral. Caminho esse que está reconhecido por Compostela e que vem assinalado na Credencial de Peregrino. Mesmo assim e para uma total segurança que estava a fazer o “Caminho” confirmei junto da Oficina do Peregrino em Santiago se tal era válido. A resposta foi afirmativa.
Então começou-se a preparar as coisas nesse sentido.
E foi planeado antecipadamente fazer o seguinte:
Porto – Santiago Compostela em autonomia total.
Sendo que:
1º Dia: Porto - Valença – Caminho Português Litoral
2º Dia: Valença – Padron – Caminho Português
3º Dia: Padron – Santiago Compostela – Caminho Português
E assim foi, bikes prontas, mochilas prontas, vontade e tranquilidade prontas.
Siga :arrow:
1º Dia:
7.18 da manhã já lá estava eu na Sé à espera do Floopi que chegou passados 10 minutos.
Discurso de ocasião, boa sorte a ambos e pedais ao “Caminho” .
Porto, Prelada, Araújo
1ª Pausa para uns ajustes…
Modivas, Vila Conde, Povoa de Varzim
Aqui pedimos o 1º “carimbo”
O Caminho por este lado tem outras vistas…
Pelo caminho íamos já encontrando setas e indicações que estávamos no Caminho certo.
Esposende, Viana
Aqui em Esposende o Floopi a meter 5 euritos de combustível
A entrada em Viana pela Ponte antiga com a Nossa Srª da Luzia a observar-nos
Como era hora do almoço aproveitamos e almoçámos numa das praças mais famosas de Viana.
Depois do merecido almoço viria a parte mais difícil do dia. E difícil porque o vento estava muito forte e de frente.
Vila Praia Ancora, Moledo, Caminha
Vila Nova Cerveira, Valença
Chegados a Valença o conta voltinhas marcava 128 kms. Eram 16.30h.
Este dia ficou marcado por pequenos enganos. Fruto do Caminho em algumas partes não estar devidamente marcado. A N13 serviu sempre como referencia para não nos perdermos.
O acumulado neste dia andou na casa dos 1000 metros ascendentes. Nada de especial, a distancia total é que acaba por massacrar um pouco.
Mas nada que um bom banho e um bom jantar não cure.
Balanço do dia:
Muitos kms com muito calor e muito vento. Etapa bastante rolante e divertida. Em Valença ter cuidado com as contas que nos apresentam. Por 2 vezes queriam nos enganar. Ou coisas a mais na factura, ou uma água que 1 hora antes custa 1 euro e passado meia hora já custa 1,50. Isto talvez se deva ao excesso de imigrantes em Valença. Simplesmente quase não existem Portugueses a atender. Ou são Brasileiros ou Ucranianos ou Espanhóis.
Com isto não quero dizer que são todos iguais……mas que foi um facto foi!
2º Dia:
O dia começou cedo. 07.20h já estávamos prontos para o pequeno-almoço.
08H já estávamos a sair de Valença.
Tui
Redondela
Pontevedra
A parte difícil a chegar a Pontevedra e uma das que me tinha desmotivado o ano passado.
Padron- Chegada às 17horas.
Penso que ficámos num dos piores Hotéis da zona. Valeu o facto das bikes dormirem no quarto.
Além disso é impressionante com as pessoas não dão valor às bikes que transportamos. Muitos quando nós perguntávamos onde podíamos deixar a bike, diziam: “ Tem ali um jardim, deixe ficar lá…………ou outra em que perguntei se a garagem do Hotel era segura, respondeu-me: “ Não sei………..” Coisas assim!
Outro facto em Padron é o de não existir um único restaurante aberto. Andamos 45 minutos à procura de um. Lá achamos uma pizzaria. E que soube pela vida…….
No dito Hotel e quando nos preparávamos para adormecer, eis que começam a surgir uns barulhos estranhos. Alguém estava com dores…….daquelas dores que todos nós gostámos. Claro que no fim da “cura” e da explosão em apoteose, gritei bem alto: “ Há Valentes!” Claro está que ninguém respondeu…
Curiosamente essa noite praticamente não preguei olho. A cama dobrava-se toda, o Floopi jurava a pés juntos que tinha visto uma pulga a saltar à corda, cheirava a tabaco dentro do quarto, às 04h da madrugada uma “cambada” de peregrinos que também dormiram lá, decidiram acordar e fazer o maior barulho possível.
Lá tive eu que ligar a TVE e assistir a um jogo de futebol que estava a dar. Como sou solidário, resolvi acordar o Floopi com água.
Um conselho: Vejam o Rex em Espanhol! É o máximo!
Lá consegui adormecer após o Sevilha ter marcado um golo não sei bem a quem.
Balanço do Dia:
Dia bastante duro! Sobe e desce constante com muito calor pelo caminho. Caminhos lindíssimos, o mesmo problema de se estar muitas vezes a cruzar a M-550, mas fora isso, espectacular mesmo.
No fim do dia quase 100kms feitos e com um acumulado bem jeitoso.
Mas o objectivo tinha sido cumprido. Chegar cedo a Padron e deixar os 25 kms finais para o 3º dia.
3º Dia
06.20H Toca o despertador do telemóvel (agora é que estava a dormir bem)
Banho, pequeno almoço que tínhamos comprado no dia anterior.
2º Conselho: Quando comprarem algo, vejam as datas.
07h Estávamos a sair de Padron. O dia ameaçava chuva e mau tempo, aliás como tinha sido noticiado pela TVE.
A partir daqui o Caminho era totalmente novo para mim. Lá fomos seguindo as conchas e as setas. Caminhos “engraçados” mas em algumas zonas perigosos. Principalmente com o cruzar constante da M-550. Mas correu tudo bem. E aqui tenho de elogiar a maneira como o povo Espanhol respeita os “peregrinos”. Por diversas vezes, muitas automobilistas paravam para nos deixarem passar. Nesse aspecto são melhores e mais respeitadores que nós.
Este foi um dia também de emoções, tanto para mim como para o Floopi.
Foi o dia em que mais peregrinos vimos a pé. Dezenas e dezenas a fazer o Caminho e de todas as nacionalidades.
Percorríamos os últimos Kms com bastante calma, mas bastante ansiosos. E a emoção e a lágrima apareceu quando avistei Santiago de Compostela ao longe………bem ao longe. Mas ali tive a certeza absoluta que tínhamos conseguido. Que tínhamos cumprido ao pormenor aquilo que nos tínhamos proposto.
Mais me emocionei quando um grupo de escuteiros gritava e saltava de felicidade ao ver Santiago ao longe. Eles que vinham a pé à vários dias. Por vezes mostramo-nos fortes, mas nestas situações confesso ser-me difícil controlar aquele “formigueiro” que se sente na barriga. É algo inexplicável.
Uns kms à frente e já estávamos dentro de Santiago. Daí até entrar na praça da Catedral foi um ápice. Eram 09.45h.
O que se sente é algo que não se consegue explicar. Por isso ficam apenas as fotos.
Fotos tiradas, abraços dados, agradecimentos feitos, momento de reflexão feito. E fomos buscar a mais que merecida Compostela. Já estava cheio, mas com calma e paciência lá consegui chegar ao balcão. Apresentei a Credencial, preenchi a ficha com os dados requisitados e a menina passa-me a Compostela para a mão.
Agora um dos momentos engraçados.
Quando a menina me dá a Compostela para a mão, pus-me a ver e pareceu-me ler em vez do meu nome (Jorge Santos) ler Joaquim Santos dirigi-me imediatamente ao balcão e disse:
“Desculpe enganou-se no meu nome!”
A menina olha para a Compostela, ri-se e diz:
“ Está em Latim, e Jorge escreve-se Georgium”
Claro está que pedi desculpa e enfiei o saco na cabeça de vergonha.
Na praça da Catedral ainda deu para assistir a alguns espectáculos de rua que iam acontecendo.
Almoçamos por lá e por fim regressamos de carro com os Pais do Floopi que fizeram o favor de nos ir buscar.
E com isto teremos uma bonita história para contar aos nossos filhos. E são estes momentos que fazem do Btt um desporto excepcional.
Até sempre...
Dados Finais :
1º Dia – 128 Kms
2º Dia – 99 Kms
3º Dia – 25 Kms
Acumulado Ascendente superior a 3000 metros.
Fotos-Textos por Floopi e Josant