Tudo começou em Maio de 2009 numa noite de esplanada, tertúlias e copos ...
Um amigo contou-me que o irmão iria fazer o Caminho Francês de Santiago durante 10 etapas em autonomia (em Junho de 2009) e convidou-me na brincadeira, sabendo que eu não ia aceitar. Disse-lhe que a um mês de antecedência não podia, pois não tocava na BTT há quase 2 anos, sendo que o pouco tempo que tinha disponível fazia estrada para aproveitar melhor o tempo.
Como gosto de bikes, viagens, travessias e aventuras diferente peguei de imediato no tema e inverti as coisas. Nesse momento disse que antes de fazer o caminho francês teria de fazer o português, e ali lancei o convite para o fazer no ano seguinte com os meus amigos, assim todos teriam tempo de treinar, experimentar, pedalar até fartar, pesquisar, ler e interiorizar a coisa, enfim ...
O tempo passou e não se tocou mais no assunto.
No Natal de 2009, estudei o percurso e alojamentos e enviei email a uns 6 potenciais peregrinos a oficializar o convite para a grande aventura em autonomia! Troco uma prenda que recebi repetida por um suporte para alforges da Zéfal na Decathlon. Estava lançada a coisa, pensei: Já tenho o suporte, agora é que vou mesmo a Santiago de bike, é só comprar os alforges e já está!
Março de 2010, altura de fechar o calendário de férias no trabalho, reservo 5 dias úteis para Santiago lá para Junho. Falo com o pessoal e cheguei à conclusão que iríamos apenas 2.
Começo a estudar distâncias, a pensar nas potenciais adversidades, numa short list para o must have e o must do numa viagem destas. Faço rascunhos de etapas e como o meu colega andava mais do que eu rapidamente alterei a coisa de 6 para 5 etapas. Pensei que 2 andam mais depressa que 6, e que os 2 resistem mais que apenas 1. Perfeito seria irmos todos, mas mesmo assim fiquei convencido que iria ser bom.
A minha primeira ida a Santiago de bike tinha algumas condições que estabeleci:
1- Partir de casa
2- Viagem em autonomia
3- Voltar de transportes
Em Abril foi fechada a programação das etapas e arrumados todos os kms através da regra de 3 simples. A matemática, a geografia e a minha intuição levaram-me a esta programação:
Dia 1 - Moita dos Ferreiros (Concelho Lourinhã) até Coimbra - 30 Maio -150 kms, seria uma ligação necessária por asfalto e apanhar o caminho em Coimbra
Dia 2 - Coimbra ao Porto - 31 Maio - 140 kms
Dia 3 - Porto a Ponte de Lima - 92 kms
Dia 4 - Ponte de Lima a Pontevedra - 90 kms
Dia 5 - Pontevedra a Santiago de Compostela - 55 kms
Umas folhinhas A4 rascunhadas, uns links no laptop e a conversa com os amigos alimentavam o projecto. Neste momento solicitei as 2 credenciais de peregrino e comparava preços, materiais e tipos de alforges, escolhi um e encomendei via web.
Fui a casa do meu amigo entregar-lhe a credencial, e diz-me que afinal não pode ir. Ok, disse-lhe para se deixar de brincadeiras, apertei-lhe a mão e fui jantar a pensar: Isto amanhã passa, está combinado portanto vamos e mais nada! Santigo era o objectivo, a primeira viagem de bike estava na calha, as dormidas agendadas e os quadradinhos do calendário pintados a fluorescente a marcar a "maluquice" como muitos apelidavam.
O vulcão islandês decidiu parar os aviões e os meus alforges foram expedidos 1 semana antes da viagem. Tudo a tempo, foi o que pensei. Afinal ainda dava tempo para os montar e experimentar no fim de semana antes da partida.
No último mês que antecedeu a viagem, comecei a pensar no cenário de ir sózinho tal como fui avisado. Lá tive de largar a bike de estrada e começar a fazer BTT para me habituar ao peso e testar a máquina.
A máquina a usar seria a minha fiel Diamondback Vectra Comp de 2002 com 9000 kms na altura, e que tinha ido à oficina 1 vez para colocar calços de travão nos V-brakes e o bloco/ caixa da pedaleira aos 3000 kms. Como nunca tinha trocado a corrente, o conjunto de tracção estava condenado e a velhinha Truvativ x-force nao dava para trocar os pratos. Fiz a revisão à bike (K7, corrente e pedaleiro Deore novos). Desconfiava das condições do desviador e do trigger traseiro, e decidi fazer a rodagem com o mesmo número de kms que a bike estaria sujeita. 6 voltas de 80 kms aos domingos completaram os 500 kms de rodagem para acamar e achei que tudo estava pronto, eu, a minha mente e a bicicleta.
A ultima semana foi empolgante, pagar reservas das pousadas de juventude, ouvir a malta a dar força e outros a dizerem-me para não ir sózinho. Só haveria uma hipótese, fazer-me ao caminho! Tudo estava de pé, combinado, combinadíssimo !!!!
E lá fui eu por esse Portugal acima.
Foram 555 kms inesquecíveis que recomendo vivamente, 14 400 mts de acumulado de subida colmatado com o mesmo de descida, portanto tudo se faz.
Nos 5 dias queimei 27 000 kcal e perdi 3 kgs, litros de água foram muitos e Sagres Preta sempre que lhes podia deitar a unha. Comer, era sempre sentadinho e pratinho atestado.
Quedas zero, problemas mecânicos zero e no dia de regressar de comboio é que me apercebi que tinha um furo muito pequeno na roda traseira, pois estava ligeiramente vazio.
Pedalei sempre a solo sem nunca encontrar peregrinos de bike até Pontevedra. O último dia pedalei na companhia de 6 colegas que travei conhecimento no Albergue de Pontevedra.
Quando cheguei a Santiago tive uma surpresa, uns amigos foram visitar-me á chegada. Inesquecível. No dia seguinte fui a Finisterra de carro com umas amigas, e no outro voltei para baixo. Saí de Santiago às 05h35 e passadas 18 horas (era sábado) + 7 comboios + 7 kms de bike cheguei a casa.
Não sou muito participativo aqui no fórum, mas senti que estava a dever estas palavras aos utilizadores. Aqui aprendi alguns aspectos sobre o caminho, também fiz perguntas e beneficiei com isso. Agora nada mais justo que retribuir com estas linhas, que não sei se assumem forma de crónica ou história, mas que no fundo servem para encorajar e libertar quem tenciona fazer o caminho. Quem tem dúvidas sobre algumas questões pode colocar que responderei, pois nest altura muita gente anda a preparar os seus caminhos, viagens, material etc.
Não sei quanto pesa a minha bike porque nunca a pesei, e por isso também não pesei a bagagem antes de partir para não me assustar. Levava roupa casual, sapatos de vela e etc. Quando cheguei a casa pesei os alforges e a balança indicou 13 kgs, mas já faltava 1 kg porque levei 4 packs de barritas de cereais SIRIUS do LIDL.
Espero que possa ter ajudado com os números e etapas. Vou colocar algumas fotos (se for capaz).
Um amigo contou-me que o irmão iria fazer o Caminho Francês de Santiago durante 10 etapas em autonomia (em Junho de 2009) e convidou-me na brincadeira, sabendo que eu não ia aceitar. Disse-lhe que a um mês de antecedência não podia, pois não tocava na BTT há quase 2 anos, sendo que o pouco tempo que tinha disponível fazia estrada para aproveitar melhor o tempo.
Como gosto de bikes, viagens, travessias e aventuras diferente peguei de imediato no tema e inverti as coisas. Nesse momento disse que antes de fazer o caminho francês teria de fazer o português, e ali lancei o convite para o fazer no ano seguinte com os meus amigos, assim todos teriam tempo de treinar, experimentar, pedalar até fartar, pesquisar, ler e interiorizar a coisa, enfim ...
O tempo passou e não se tocou mais no assunto.
No Natal de 2009, estudei o percurso e alojamentos e enviei email a uns 6 potenciais peregrinos a oficializar o convite para a grande aventura em autonomia! Troco uma prenda que recebi repetida por um suporte para alforges da Zéfal na Decathlon. Estava lançada a coisa, pensei: Já tenho o suporte, agora é que vou mesmo a Santiago de bike, é só comprar os alforges e já está!
Março de 2010, altura de fechar o calendário de férias no trabalho, reservo 5 dias úteis para Santiago lá para Junho. Falo com o pessoal e cheguei à conclusão que iríamos apenas 2.
Começo a estudar distâncias, a pensar nas potenciais adversidades, numa short list para o must have e o must do numa viagem destas. Faço rascunhos de etapas e como o meu colega andava mais do que eu rapidamente alterei a coisa de 6 para 5 etapas. Pensei que 2 andam mais depressa que 6, e que os 2 resistem mais que apenas 1. Perfeito seria irmos todos, mas mesmo assim fiquei convencido que iria ser bom.
A minha primeira ida a Santiago de bike tinha algumas condições que estabeleci:
1- Partir de casa
2- Viagem em autonomia
3- Voltar de transportes
Em Abril foi fechada a programação das etapas e arrumados todos os kms através da regra de 3 simples. A matemática, a geografia e a minha intuição levaram-me a esta programação:
Dia 1 - Moita dos Ferreiros (Concelho Lourinhã) até Coimbra - 30 Maio -150 kms, seria uma ligação necessária por asfalto e apanhar o caminho em Coimbra
Dia 2 - Coimbra ao Porto - 31 Maio - 140 kms
Dia 3 - Porto a Ponte de Lima - 92 kms
Dia 4 - Ponte de Lima a Pontevedra - 90 kms
Dia 5 - Pontevedra a Santiago de Compostela - 55 kms
Umas folhinhas A4 rascunhadas, uns links no laptop e a conversa com os amigos alimentavam o projecto. Neste momento solicitei as 2 credenciais de peregrino e comparava preços, materiais e tipos de alforges, escolhi um e encomendei via web.
Fui a casa do meu amigo entregar-lhe a credencial, e diz-me que afinal não pode ir. Ok, disse-lhe para se deixar de brincadeiras, apertei-lhe a mão e fui jantar a pensar: Isto amanhã passa, está combinado portanto vamos e mais nada! Santigo era o objectivo, a primeira viagem de bike estava na calha, as dormidas agendadas e os quadradinhos do calendário pintados a fluorescente a marcar a "maluquice" como muitos apelidavam.
O vulcão islandês decidiu parar os aviões e os meus alforges foram expedidos 1 semana antes da viagem. Tudo a tempo, foi o que pensei. Afinal ainda dava tempo para os montar e experimentar no fim de semana antes da partida.
No último mês que antecedeu a viagem, comecei a pensar no cenário de ir sózinho tal como fui avisado. Lá tive de largar a bike de estrada e começar a fazer BTT para me habituar ao peso e testar a máquina.
A máquina a usar seria a minha fiel Diamondback Vectra Comp de 2002 com 9000 kms na altura, e que tinha ido à oficina 1 vez para colocar calços de travão nos V-brakes e o bloco/ caixa da pedaleira aos 3000 kms. Como nunca tinha trocado a corrente, o conjunto de tracção estava condenado e a velhinha Truvativ x-force nao dava para trocar os pratos. Fiz a revisão à bike (K7, corrente e pedaleiro Deore novos). Desconfiava das condições do desviador e do trigger traseiro, e decidi fazer a rodagem com o mesmo número de kms que a bike estaria sujeita. 6 voltas de 80 kms aos domingos completaram os 500 kms de rodagem para acamar e achei que tudo estava pronto, eu, a minha mente e a bicicleta.
A ultima semana foi empolgante, pagar reservas das pousadas de juventude, ouvir a malta a dar força e outros a dizerem-me para não ir sózinho. Só haveria uma hipótese, fazer-me ao caminho! Tudo estava de pé, combinado, combinadíssimo !!!!
E lá fui eu por esse Portugal acima.
Foram 555 kms inesquecíveis que recomendo vivamente, 14 400 mts de acumulado de subida colmatado com o mesmo de descida, portanto tudo se faz.
Nos 5 dias queimei 27 000 kcal e perdi 3 kgs, litros de água foram muitos e Sagres Preta sempre que lhes podia deitar a unha. Comer, era sempre sentadinho e pratinho atestado.
Quedas zero, problemas mecânicos zero e no dia de regressar de comboio é que me apercebi que tinha um furo muito pequeno na roda traseira, pois estava ligeiramente vazio.
Pedalei sempre a solo sem nunca encontrar peregrinos de bike até Pontevedra. O último dia pedalei na companhia de 6 colegas que travei conhecimento no Albergue de Pontevedra.
Quando cheguei a Santiago tive uma surpresa, uns amigos foram visitar-me á chegada. Inesquecível. No dia seguinte fui a Finisterra de carro com umas amigas, e no outro voltei para baixo. Saí de Santiago às 05h35 e passadas 18 horas (era sábado) + 7 comboios + 7 kms de bike cheguei a casa.
Não sou muito participativo aqui no fórum, mas senti que estava a dever estas palavras aos utilizadores. Aqui aprendi alguns aspectos sobre o caminho, também fiz perguntas e beneficiei com isso. Agora nada mais justo que retribuir com estas linhas, que não sei se assumem forma de crónica ou história, mas que no fundo servem para encorajar e libertar quem tenciona fazer o caminho. Quem tem dúvidas sobre algumas questões pode colocar que responderei, pois nest altura muita gente anda a preparar os seus caminhos, viagens, material etc.
Não sei quanto pesa a minha bike porque nunca a pesei, e por isso também não pesei a bagagem antes de partir para não me assustar. Levava roupa casual, sapatos de vela e etc. Quando cheguei a casa pesei os alforges e a balança indicou 13 kgs, mas já faltava 1 kg porque levei 4 packs de barritas de cereais SIRIUS do LIDL.
Espero que possa ter ajudado com os números e etapas. Vou colocar algumas fotos (se for capaz).