[Crónica] Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Bravellir

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Epá.. finalmente começo a perceber o que se passava durante o dia enquanto eu criava raízes á sombra :)

O Vladimir, biólogo molecular e muito simpático e comunicativo.

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A imagem que define o relato. O Rui a seguir um dos russos :)

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E o Evgeniy, a sprintar para o ultimo CP do 5º Dia. Se bem me lembro, um dos dias em que bateram o record pessoal de distância.

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O grande problema foi um erro de casting. Eles nunca se deveriam ter inscrito para uma prova como a Transportugal. Não estavam minimamente preparados. Aliás, desconheciam quase por completo a prova. Eu sei.. burrice completa. Até por estrada e em plano, 1000km em 8 dias não se fazem apenas com vontade.
Para terem uma ideia de até que ponto não estavam preparados, segundo contaram, em Moscovo só recomeçaram a andar de bike em Abril depois do Inverno.


O Rui passou as passas do Algarve ( e do resto de Portugal ) por causa deles, mas eles eram até gajos porreiros e com uma atitude boa. Eram chatos, especialmente o Evgeniy quando a organização os queria "transportar" mas também era para ele que a aventura era mais importante.
Sobre a personalidade, um dos dias em que não pedalaram, no fim do dia, estavam ao pé do pic-nic mas sem comer e a Ana estranhou ( comiam que nem leões :d ) e perguntou porquê. Responderam que como não tinham pedalado não mereciam...



Rui, desculpa a intromissão e continua o relato :)
 

ruimssousa

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Olá.

Gostei muito da intromissão e das fotos. Há mais? Onde estão?

E é verdade, se eu apanhava grandes secas a pedalar atrás dos russos, tu deves ter apanhado secas muito maiores, perdido por aí, ao Sol, chuva e vento!

O que vale é que iam aparecendo uns velhotes a meter conversa. Também deves ter umas boas "estórias" para contar....
 

Bravellir

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Rui, já apanhei secas de "5 minutos" bem piores. Mas confesso que vim meio ao ralenti :D Para teres ideia, ainda não separei/organizei/publiquei nada. Um destes dias...

e até conto a "estória" do desaparecimento das cegonhas em Monsaraz :rotfl:

Abraço,
 

ruimssousa

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Bravellir said:
Rui, já apanhei secas de "5 minutos" bem piores. Mas confesso que vim meio ao ralenti :D Para teres ideia, ainda não separei/organizei/publiquei nada. Um destes dias...

Ao ralenti? Como eu te compreendo...

Posso dizer que já sou batido em Transportugal. Já fiz em competição (as más línguas dizem em passeio) e já fiz 3 vezes na organização, uma das quais de bicicleta.

Tirando a vez que fiz na organização em 2004 (só participaram 20 pessoas), posso dizer que o mais cansativo é fazer a Transportugal na organização sem ser a pedalar.

Quem faz a pedalar tem aqueles quilómetros todos. Mas no fim tem a mala no quarto, tem massagens, tem a tenda com comida...só tem de pensar em pedalar, comer e descansar!

Quem faz na organização deita-se às tantas, acorda cedo, tem de controlar horários, estar o dia todo ao sol, quase sem comer, arrumar e montar todos os dias o circo, conduzir muitas horas por estradinhas secundárias...

Por isso quem diz que a Transportugal de bicicleta é difícil...ofereça-se para a organização e depois vai ver o que é difícil!!! :mrgreen:
 

ruimssousa

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Cá vai a 3º etapa, acho que a mais atribulada para mim:

Dia 3: Alfaiates – Ladoeiro: 111 km

Zoom 800 metros = Corta-mato

Depois de mais um dia a deitar tarde, voltar a acordar bem cedo. As partidas eram só às 10:00 e a etapa curta, mas ainda havia 30 minutos para fazer de carro do Sabugal até Alfaiates.

Como não ia a conduzir, fui ligando os trackers durante o caminho para estarem prontos. Ainda bem que o fiz, pois cheguei a Alfaiates mesmo em cima da hora. A mesma rotina de sempre e um pouco depois das 10 arranquei, depois de acabar de preparar tudo. Pedalei logo depressa, para apanhar o Evgeniy, não fosse ele perder-se…

Olhando para a altimetria o principio da etapa parece demolidor, com uma grande subida. Mas na realidade é fácil, a subida ao início é muito suave, permitindo aquecer o corpo para a parte mais inclinada. Mas como o piso é bom rapidamente se chega à descida para Fóios.

E foi mesmo antes da descida para Fóios que começaram os meus problemas com o Evgeniy. Como ele fez a subida a pé, eu ia pedalando de sombra para sombra. Pedalava, ele passava por mim, pedalava e passava por ele. Quase no topo da subida parei numa sombra. O Evgeniy passou por mim e quando o deixei de ver na curva a seguir avancei.

Não o vi quando cheguei à curva, mas como aí o terreno ficava plano pensei que ele já estava para a frente. Havia uma pequena descida e voltava a subir até onde começava a grande descida. Achei estranho não ver o Evgeniy, será que ele ligou o turbo? Eu estava cheio de sono, será que adormeci uns minutos e não dei por isso?

Esperei uns momentos e como o Evgeniy não apareceu e eu não o tinha visto parado de certeza já estava para a frente. Cheguei ao CP mas não estava lá ninguém, tinham montado o “estaminé” uns metros à frente. Neste CP estavam a Marta e a Ana e quando me perguntaram pelo Evgeniy eu passei-me. Como foi possível ele perder-se, eu só o tinha perdido de vista alguns segundos.

Ele tinha o tracker, mas lá em cima não havia rede, eu tinha tentado ligar para elas quando o perdi de vista. Fiquei no CP e elas foram fazer o percurso de carro, pois o caminho de terra é bom. Voltaram e nada de Evgeniy. Fui eu de bicicleta dar umas voltas por Fóios, ver na fonte e nos cafés, mas nada.

Falámos com a base, disseram para eu avançar pois havia pessoas caídas na Malcata, ia entrar o jipe do percurso para os resgatar. Com tudo isto o Vladimir já tinha passado há 45 minutos no CP.

Malcata: Record batido, também quero bonificação :D!

Fiz a Malcata o mais depressa que pude, mas com cuidado, pois em muitos locais não havia rede, estava sozinho e já tinham havido quedas mais que suficientes. Aproveitei um local com rede para ligar para a Marta a saber do Evgeniy. Ele já tinha aparecido, tinha o zoom do GPS a 800 metros, foi para outro caminho e em vez de voltar para trás por esse caminho fez corta-mato pelo meio da vegetação, demorando muito tempo…

Quase no final da Malcata encontro por fim o Vladimir. Tinha andado bem depressa, acho que se não o tivesse apanhado tinha ficado no grupo dos 10 mais rápidos que têm bonificação de tempo. *
O CP era no fim da Malcata, na EN569. Felizmente os atletas que tinham caído já tinham sido socorridos, o Pedro Pinheiro e o João Marques, que ainda consegui chegar ao fim da etapa mas tinha o braço partido, sendo também obrigado a desistir.

Serra do Ramiro, local de meditação

O dia estava quente e a parte seguinte da etapa ia ser bem complicada. Sugeri ao Vladimir que fosse de carro até Monsanto, pois já não ia conseguir passar o CP de lá e esta parte era difícil. Ele aceitou e fez uma boa opção, pois a zona da serra do Ramiro foi onde apanhei mais calor de toda a Transportugal, 36 ºC.

Logo após passar o CP encontro no trajecto o José Vaz em sentido contrário. Estava à procura de um atleta que tinha partido o desviador e rebentado um pneu. Eu ainda não o tinha visto pelo que segui para ver se ele estava para a frente. Estava um pouco mais à frente, um bocado desorientado, pois tentei explicar-lhe onde se encontrar com o José Vaz e vi no GPS que se tinha enganado várias vezes naquela zona.

Continuei a tentar apanhar o João Baptista, que não tinha passado no CP muito antes de mim. Mas fui com calma, estava calor, esta parte do percurso tem um piso muito degradado e tinha abusado na Malcata. A paisagem também é demolidora em termos psicológicos. Vemos que ainda temos de descer mais, pela nossa frente está a serra do Ramiro e não há nenhum local onde se possa subir que não se pareça com um corta-fogo! Haverá por aqui um túnel?

Após alguns desvios para a direita e para a esquerda, finalmente começa a subida…que não é mais que uma grande parede recta, com um piso razoável mas sem sombra além de uns pinheiros pré-adolescentes. Não é complicada de subir, falta é inventarem bicicletas com ar condicionado! Desmontei logo no início mas mesmo assim tive de parar 2 vezes à sombra para pensar na vida e no que estava ali a fazer!

Quando acabei a subida estava lá o João Baptista, sentado no chão, num momento de meditação! Disse-lhe que ainda íamos a tempo de passar o CP em Monsanto e arrancámos. A subida grande já tinha acabado, mas depois de andar um pouco em plano e descer ainda havia mais uns brindes escondidos!

Feita a grande descida começamos a aproximação a Monsanto. É uma parte do percurso plana, muito rápida e com bom piso, onde se vê muita sinalização de rotas pedestres, incluindo a GR22, a Rota das Aldeias Históricas. Mas nunca se perde de vista Monsanto, lá em cima do monte.

No local onde se começa a subida da calçada de Monsanto estava a Jacqueline, com cara que tinha sido metida dentro de um forno. Perguntei-lhe se queria desistir, ela disse que sim e chamei a carrinha, que estava por perto. O João Baptista ainda começou a subir a calçada, mas voltou para trás pois já não se estava a sentir muito bem.

A meio da calçada recebo uma chamada do António Malvar, o tracker da Kate Pruzack indicava que ela ainda estava na Serra do Ramiro! Eu não a tinha visto e já estava bem longe, por isso já nada podia fazer. Felizmente o tracker deve ter apanhado muito sol, um pouco mais à frente, já dentro de Monsanto, encontrei a Kate!

Como o CP já estava fechado ela ficou aí. Eu continuei, na companhia do Carlos Rego (o motard). O plano era o ir de bicicleta até Idanha-a-Velha e apanhar boleia do António Malvar até Alcafozes, onde estava o ultimo CP. De Idanha-a-Velha ao CP o fecho seria feito de mota, pois já havia uma grande distância de mim até ao último participante ainda em prova.

E na descida de Monsanto que inveja tive eu de não ter uma mota! Aqueles calhaus todos pareciam umas pedritas, engolidas por aqueles pneus e suspensões XXL! Fui com cuidado, pois ali um erro pode ser perigoso. Felizmente o percurso depois era quase sempre a descer, o Carlos Rego não teve que secar muito atrás de mim!

Atrás do vento...vem o homem da marreta

Cheguei a Alcafozes com o CP quase a fechar e quando estava muita gente a passar. O Maurício estava a aconselhar toda a gente a ficar por aí, pois já não iam ter tempo de chegar ao fim e estava-se a levantar um vendaval! Houve quem seguisse os seus conselhos e houve quem quisesse continuar.

Quem já chegou fora do controlo foi o Mário Pedro Soares, que já fez todas as Transportugal excepto a primeira. Ficou chateado com isso, pois nas anotações dele tinha uma hora de fecho do CP que retirou do Race Pack que tinha sido alterada este ano. Ele tinha estado parado num café, podia ter passado a tempo facilmente…

Mas ele mesmo assim quis continuar, fui com ele e juntou-se a nós o Doutschan Jamra. Fomos devagar, pois mesmo a descer era preciso pedalar, o vento estava muito forte. Na Sra. do Almurtão parámos no café e telefonou-me o António Queiroz a dizer que tinha passado mais uma pessoa no CP e não quis parar, o Oliver Thirlwall. Fiquei à espera dele com o Carlos Rego, que entretanto já tinha chegado.

O vento estava muito forte e o Oliver tentou ir colado à mota, pois não me tinha visto. Eu disse-lhe para se colar a mim e fui a reboca-lo até ao cruzamento com a estrada N353. Aqui estava o António Queiroz e felizmente o Oliver resolveu entrar na carrinha quando lhe disseram que ainda tinha 2 horas pela frente, por causa do vento.

Para a frente já estava o Doutschan, o Mário Pedro e o Vladimir, que também tinha parado no café. Eles iam por estrada, disse ao Vladimir para ir sempre com eles, mas como tinha o pneu com um furo lento perdeu-os e entrou no trilho.

Eu pensei que ele tinha ido pelo alcatrão e estava a fazer o resto do percurso a abrir, ia junto com o Carlos Rego. Foi grande o meu espanto quando vi o Vladimir e percebi que iria ter de fazer os últimos quilómetros bem devagar. Ainda por cima ele tinha o furo lento e teve de parar para encher 3 ou 4 vezes…

Felizmente este troço foi alterado em relação ao ano passado, estava mais directo e fácil. O Carlos Rêgo seguiu por estrada, pois havia portões estreitos que ele não conseguia passar. E lá fui eu devagar, devagarinho, atrás o Vladimir. Ainda por cima passa-se perto do hotel, pelas traseiras, mas é preciso ir dar uma volta de vários quilómetros, pois por aqui os caminhos estão todos vedados.

Quando finalmente cheguei ao hotel estava a Marta na meta com um prato de comida à minha espera! Que bem me souberam aquelas batatas, estava cheio de fome e farto de tantas horas em cima da bicicleta. Foi o dia que cheguei mais cansado, pois fiz quase metade da etapa sozinho, a forçar, e a outra metade muito devagar, atrás dos empenados!
Andei lá pelo hotel um bocado zombie, mas depois de recuperar a energia fui tratar da bicicleta. Estava a perder ar pelo pipo da roda da frente, pedi ao José Carlos para o trocar. Depois de ele fazer isso descobriu um espinho espetado no pneu. Algum dos mecânicos o tirou e o ar saiu todo. Estava cansado demais para meter um remendo, eles meteram “nhanha verde” lá para dentro. O furo fechou, mas eu fiquei cheio de medo de no dia seguinte ela começar a sair lá de dentro e eu ficar verde!

Quem estava muito pior que eu era o Doutschan. Ele tinha vindo por estrado com o Mário Pedro, mas já chegaram muito depois de mim, pois o homem da marreta fez um serviço completo. Quando chegou o Doutschan não sabia o nome, não falava, estava um zombie completo. Foram mete-lo na banheira com gelo e aos poucos ele recuperou e veio jantar mais tarde, mas não estava em condições de fazer a etapa do dia seguinte.

Eu tentei não deitar-me muito tarde, aproveitando que era a primeira vez que dormia no local da partida. Mas há sempre isto e mais aquilo para fazer, acabei por não conseguir.



* Neste ano havia um troço por etapa que era cronometrado, entre 2 CP. Os melhores 10 atletas nesses sectores tinham uma bonificação de tempo, que variava entre 12 minutos para o primeiro e 1 minuto para o décimo.
 

ruimssousa

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Isto hoje correu bem, aqui vai mais um episódio:

Dia 4: Ladoeiro – Castelo de Vide: 102 km

Sempre a descer, dá-lhe Evgeniy!

Depois de 3 dias a pedalar tantas horas e a dormir sempre pouco, acordei cansado, Não das pernas, mas aquele cansaço de dormir pouco. Felizmente esta era a etapa mais fácil e as partidas não começavam tão cedo.

Os primeiros quilómetros da etapa são realmente muito fáceis. Quase sempre a descer, acompanhando durante muito tempo a Ribeira do Vidigal. O tempo também ajudou, pois estava mais fresco e o vento tinha acalmado.

Com o percurso plano o Evgeniy consegue acompanhar o Vladimir e se forçar até ser mais rápido. Por isso chegaram os 2 juntos ao CP em Lentiscais. Como o troço seguinte ia ser mais difícil eu sugeri a eles irem de carro e continuarem depois do CP de Vila Velha de Ródão, pois já não iam conseguir chegar lá com o CP aberto. O Evgeniy não gostou da ideia, pois quer sempre fazer o percurso todo, mas como o Vladimir aceitou a sugestão ele acabou por ir também.

Continuei sozinho, mas sem forçar muito o andamento. Logo haveria de apanhar alguém, se não fosse mais atrás era mais à frente. Mas nem demorou muito a apanhar um trio que se estava a tratar muito bem num café em Monte Fidalgo. Vi as bicicletas na rua e parei. Espreitei pelo vidro e estavam o Erik Bakke, o Ryan Mendes e o Christopher Smith sentados numa mesa a comer uma lata de atum daquelas grandes e redondas! Boa vida!

Já estavam a acabar, não tive de esperar muito. Infelizmente passado pouco tempo tivemos nova paragem, o Ryan partiu o desviador de trás. Improvisaram uma single-speed, mas como não conseguiram esticar bem a corrente não funcionou muito bem. Felizmente até ao CP já faltava pouco e havia algumas descidas grandes.

Apesar de o CP ainda estar aberto, o Erik e o Ryan resolveram ficar por aí. Já outras pessoas tinham resolvido desistir nesse CP, foram as carrinhas cheias para o final!

O Tejo e…não acredito, é o Evgeniy outra vez!

Eu continuei, pensando que ia fazer o resto do percurso sozinho. Fui nas calmas, depois de atravessar o Tejo tirei muitas fotografias pois o dia estava bonito. O percurso era acidentado, do tipo rompe-pernas, subidas curtas mas íngremes. Mas a paisagem vale a pena, com o Tejo sempre à vista.

Passados 15 km de Vila Velha de Ródão eu não acreditei no que vi…pelas minhas contas já tinham passado 3 horas desde que o Evgeniy tinha sido deixado no CP. O que dava uma média de 5 km/h, será que ele foi sempre a pé?

Apanhei-o logo numa zona onde havia uma parede que só o João “mota” Marinho conseguiu subir montado, penso que perto de Salavessa. Fiquei tão desanimado que esperei cá em baixo enquanto ele subia a parede, o que demorou uns 10 minutos.

Felizmente que depois o percurso era mais plano e o Evgeniy andou mais depressa. Ele também acelerou porque ainda queria passar o CP aberto para fazer o resto do percurso, mas para azar dele e sorte minha já não conseguiu.

É já ali…de mota…

Com o Evgeniy a ficar no CP eu tive caminho livre novamente. O percurso até ao fim era fácil, com excepção da calçada a chegar a Castelo de Vide. Alguns quilómetros mais à frente estava parado numa sombra o Carlos Rêgo, a apanhar uma grande seca para fechar o percurso comigo.

Ele disse-me que tinha passado um concorrente com o desviador partido, que ia a “trotrinetar”. O Carlos disse-lhe para seguir até ao fim, pois só faltavam 2 ou 3 km. Mas eu olhei para o GPS e pareciam-me mais 12 ou 13. E eram mesmo, nunca confiar na distância que alguém de moto diz, rodar o punho é fácil! Felizmente esse concorrente também não confiou e telefonou a chamar a carrinha!

E não há muito mais a contar. O Carlos Rêgo tinha-me dito para não fazer a subida até ao fim, que ele fechava, mas quando cheguei ao desvio para ir directo ao hotel já estava quase lá em cima, continuei para fazer a etapa toda (a primeira que completei). Mesmo a chegar ainda encontrei o Vladimir, que com o atalho do CP1 para o CP2 consegui chegar ao fim e fazer a parte mais bonita da etapa.

Logo a seguir à meta parei na senhora surda que faz e vende os sacos do pão. Recomendo, pois são muito bons a conservar o pão fresco. Comprei um para a minha mãe, mas logo na descida enrolou-se na roda da frente e ficou todo sujo…

Só quando cheguei ao hotel é que soube o que se tinha passado com o João Marinho. Foi triste para ele perder assim as hipóteses de ganhar novamente a Transportugal e foi mau para nós da organização, que também preferíamos que tudo aquilo não tivesse acontecido.

Também tivemos a discutir o que fazer com os russos na etapa a seguir. Iam ser 160 km, dos quais nos primeiros 25 o Evgeniy iria demorar umas 4 horas…ficou decidido que eles iriam só começar no 1º CP em Alegrete. E fui dormir cedo, a ver se estava com menos sono no dia seguinte.
 

ruimssousa

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Dia 5: Castelo de Vide - Monsaraz: 163 km

Vendem-se bidões!

Tinha chegado o dia da grande etapa. Mas felizmente grande não quer dizer difícil. Pode quase dizer-se que a etapa acaba ao quilómetro 30 e o resto é um passeio no parque!

Como se tinha combinado no dia anterior, o Evgeniy e o Vladimir não fizeram a parte inicial, foram deixados logo primeiro CP, em Alegrete. Por isso a minha companhia nesse dia foi o João Marinho…sim, leram bem, mas só por 100 metros, pois ele partiu atrasado porque estava a ajustar o GPS que levava emprestado. Não podia levar o dele pois tinha o suporte “home-made” partido.

A parte demolidora da etapa começava poucos metros depois do início. Uma calçada a sair de Castelo de Vide, onde curiosamente se passa pela captação da Vitalis, a água que foi oferecida à organização para dar aos atletas. Com tantos quilómetros pela frente fiz quase tudo a pé. Mesmo assim deu para apanhar pessoal, sendo a minha companhia nesta fase inicial o Sander Baars.

Viemos um bocado na conversa, eu estive a apreciar a bicicleta dele. Tem mudanças Rohloff (Rodolfo para os amigos) e um quadro desenhado especificamente para esse sistema de mudanças. Uma suspensão Magura e travões HS33. Tudo simples, fiável e pesado. Pena o quadro ser de alumínio e não de titânio senão era a bicicleta perfeita para mim, tinha que aproveitar o empeno dele para lha tentar comprar barata!

Mas voltando ao importante, tudo o que sobe depois desce. Normalmente isso é bom, mas aqui não tenho a certeza disso. A descida era em calçada, contei 6 bidões e algumas barras/géis caídos no chão! Acho que não preciso de dizer mais nada!

E o contrário também é verdade, se desceu tem de subir. Nova subida complicada, a passar ao lado das antenas da serra de S. Mamede, ainda com setas pintadas no chão da Maratona de Portalegre, que se tinha realizado umas semanas antes. Muito trabalho o homem da marreta deve ter tido nesse dia!

Tínhamos pouco mais de 15 quilómetros mas o pior já estava. Daí até ao Alegrete foi muito rápido, por estradões ou estradas secundárias e quase sempre a descer. Antes de chegar ao Alegrete encontrei o João Baptista que estava com cansaço acumulado das etapas anteriores e resolveu desistir.

1,2,3 Estica, relaxa! Aquecimento é importante!

No CP tiveram-me a descrever os exercícios de aquecimento do Evgeniy. Ele é que deve estar certo em os fazer, mas esteve lá quase 30 minutos desde que o deixaram. Fiquei preocupado, não fez a primeira parte mas de pouco valeu, devo-o ir apanhar rapidamente…

Logo após o CP em Alegrete eu e o Sander apanhámos o Oliver, que vinha mais lento. O Sander foi durante muito tempo à vista, mas depois acabou por desaparecer. Estava algum vento, o Oliver deve ter andado a estudar túneis de vento, pois aproveitava sempre que podia para ir na minha roda.

Quando nos aproximámos do rio Caia o Oliver parou para comer num local muito bonito, com árvores, o caminho limpo e o rio ao lado. Só faltavam mesmo umas mesas e bancos de madeira!

O segundo CP era logo a seguir, mas ficava no topo de uma grande recta em alcatrão e o vento aí soprava forte de frente, parecia que nunca mais íamos chegar ao topo! No CP estavam a Marta e a Ana Azevedo e novamente com o carro cheio de desistentes! Para o ano nos CP só podem estar homens feios, brutos e mal-cheirosos, a ver se não há tantos desistentes…

Depois do CP eu fiquei um pouco para trás, o suficiente para ter de esperar pela passagem de um comboio de mercadorias na Linha do Leste. Se soubesse tinha pedido boleia, pois vi o comboio mais tarde parado na estação de Santa Eulália, onde também passámos.

O próximo CP era em Vila Boim e não fosse o vento tinha sido um passeio no parque até lá. Quase a chegar a esse CP encontrei a Sandra Correia que por achar que já não conseguia atinguir a meta dentro do tempo resolveu ficar por aí e descansar para os dias seguintes.

Vai um cozidinho de grão?

Não pude ficar muito tempo nesse CP porque o António Queiroz foi a um café comprar uma sopa e um cozinho de grão com um aspecto que até agora só de lembrar faz fome!

O percurso continuo muito rolante, muito rápido e não demorou muito a apanharmos o Evgeniy e o Vladimir. Como o Oliver também já vinha muito cansado, fomos os 4 juntos durante alguns quilómetros, mas depois acabou por ir mais depressa.

Chegámos a São Brás dos Matos, onde estava o 4º CP. O desgraçado do Maurício teve muitas horas sem sequer puder ir ao WC, pois o CP era no meio da aldeia e fazia uma curva cega. Se saia de lá 1 minuto podia passar alguém e ele não via!

Já faltava pouco tempo para fechar o ultimo CP, ia ser difícil os russos lá chegarem com ele aberto, mas o Evgeniy acreditou que sim e forçou o ritmo. Fiquei com o Vladimir, ele manteve o ritmo e como o percurso já perto do CP tinha algumas subidas e portões, acabámos por voltar a apanhar o Evgeniy.

O último CP já estava fechado, estava lá o Carlos Rego para fazer o fecho, pois se fosse eu ia chegar de noite ao fim, o percurso tinha alguma pedra e ainda subia a calçada da Monsaraz.

Eu já não tinha lugar na carrinha e para não estarem a deixar os russos e a voltar para trás para me vir buscar, fiz o resto do percurso por estrada. Ainda foram uns 20 quilómetros, mas o vento deu uma ajuda e só tinha uma pequena subida. Quando cheguei a Monsaraz o GPS mudou o ecrã para modo nocturno, eram 21 horas...

Estavam por lá o Pedro Roque e o homem que fugiu do circo, o Mário Silva. Mas já cheguei tão tarde que não vi o famoso número de monociclo!

Nesse dia fui às massagens, porque passei o dia com uma dor nas costas que se tornou insuportável durante o jantar. Acho que a dor não foi da bicicleta, mas algum jeito que dei a dormir. Mas as massagens foram milagrosas, as costas deixaram logo de doer e nos restantes dias não tive mais problemas!

Nesse dia fui dormir fora do local da meta, em Monsaraz. Ficámos num quarto com uma vista espectacular, pena o pouco tempo de manhã para a apreciar!
 

ruimssousa

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Dia 6: Monsaraz - Albernoa: 140 km

Alguém tem um barco?

Estava com receio de como iria acordar para este dia. Tinha ficado bom das contas depois das massagens, mas não tinha a certeza se dor não ia voltar. Felizmente acordei bem, a preocupação era o tempo. Estava muito nublado e ventoso.

Esta etapa, apesar dos 140 km prometia ser um passeio no parque. Mas para nosso azar o vento forte vinha de Sul. Fosse ao contrário e toda a gente ia almoçar a Albernoa! O percurso, até ao 1º CP, era quase todo em asfalto, grande parte em cima de pontes sobre a Albufeira da Barragem do Alqueva.

Como habitual, fiz o percurso quase todo na companhia do Vladimir e do Evgeniy. Como esta etapa era praticamente plana o Evgeniy não perdia tempo para o Vladimir, andando por vezes à frente, pois queria fazer a etapa toda!

Antes do 2º CP, em Santo Amador, deu-se o momento “panisgas” do dia. Tínhamos de passar o Rio Ardila, que trazia uns 10 centímetros de água. Como era transparente passei a pedalar. Quando olhei para trás o Evgeniy estava a descalçar os sapatos e as meias, para passar o rio descalço com a bicicleta no ar! Tenho fotos que o provam! Perguntei-lhe porque fazia isso, disse que não queria molhar as rodas para não as estragar! O Vladimir estava para fazer o mesmo, mas disse-lhe que dava para passar montado, o que quase conseguiu, só desmontando mesmo no fim por bater com a roda da frente numa pedra maior.

Ecopista, precisa-se!

Até ao próximo CP, em Pias, pedalei quase sempre junto com o Vladimir e o Evgeniy. O vento era o maior obstáculo mas em compensação não havia calor, pois o Sol estava encoberto. Depois do CP de Pias o Evgeniy começou a fazer contas e acelerou para conseguir passar o CP seguinte dentro do tempo, perto de Serpa, no cruzamento do IP8, uma estrada com muito trânsito.

Eu pensei que já não iriam passar a tempo, mas como os primeiros demoraram mais do que o previsto para fazer a etapa, o fecho do CP atrasou. O Evgeniy vinha a andar depressa, pois mesmo com as subidas e descidas na passagem do Alqueva, ainda passou no CP com 7 minutos de vantagem em relação ao Vladimir.

O percurso desde Pias até ao CP é quase todo feito com a antiga linha de comboio à vista. Que espectular ecopista poderia ser feita aqui, com a travessia do Alqueva pela ponte do caminho-de-ferro.

Que bela chuvinha para regar a horta

Se até aqui a etapa, apesar do vento, até foi fácil, para a frente as condições meteorológicas pioraram bastante. O vento ficou mais forte e com ele trouxe a chuva. Não choveu muito tempo, mas caiu com força, obrigando a vestir o impermeável.

O percurso a seguir a Cabeça Gorda era mais difícil, com o piso pior e o típico sobe e desce Alentejano. Aí começamos a ver o Evgeniy, que quebrou do esforço que vinha a fazer. Entretanto o CP já estava fechado, fomos recolhidos um pouco antes de o atingirmos, no cruzamento com uma estrada de alcatrão.

Ainda faltavam cerca de 25 quilómetros para o fim e já deviam passar das 19:00 horas, não ia conseguir fazer o resto do percurso de dia. O fecho foi feito de mota pelo Carlos Rego e eu segui na carrinha directo para o hotel. Foi chegar, comer algo à pressa do pic-nic, tomar banho e ir para o buffet, no que foi um dos melhores jantares da Transportugal.

Para os russos, esta foi a etapa em que fizeram mais quilómetros, cerca de 120. Quando chegaram ainda tiveram energias para irem lavar as bicicletas, mas decidiram logo que no dia seguinte não iam pedalar. Devem ter ouvido falar que o hotel em Monchique era muito bom…
 

Bravellir

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Do ponto de vista dos gajos que ficam o dia todo sentados debaixo do guarda sol com a caixa de cervejas ao lado, esse malfadado cp no Ip8 foi do pior que me aconteceu nessa semana.

Fui visitado pela GNR, deixei ir abaixo a bateria da carrinha e fui assaltado, sim :shock: duas "senhoras" tentaram roubar o triângulo vermelho de sinalização que tinha colocado no IP. Quando o recuperei indignado ainda foram educadas e disseram "obrigadinha" :-K :choneh:
Salvou-me na situação da bateria um bacano que trabalha para o departamento de ambiente do Alqueva. E entretanto, o telefone de um certo amigo da ONÇA estava desligado... :evil:

De bom só mesmo as visitas relâmpago do prof. Azedo. É sempre bom rever caras conhecidas quando se está "perdido" na berma de uma IP.
 

ruimssousa

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Olá.

Eu sei bem o pincel que é esse CP...o ano passado calhou-me a mim, mas foi muito mais tranquilo. Apareceu lá muita gente, mas foi mesmo só para ver a prova ou matar saudades (o Ludos).

Tiveste mais sorte com o tempo, no ano passado estava uma brasa, tive que improvisar um abrigo com um chapéu de praia! E acho que a chuva só apareceu depois de eu ter passado.

Em breve o resto do relato!
 

ruimssousa

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Dia 7: Albernoa - Monchique: 133 km

Travão aerodinâmico!

Apesar de esta não ser a etapa mais longa nem com mais total de subidas acumuladas, é considerada a mais difícil. Vem depois de 6 dias, o cansaço acumulado já pesa. Tem um primeiro terço fácil, na continuação da planície. Depois tem um 2º terço sempre sobe e desce, com algumas rampas mais difíceis. Para acabar em beleza, tem 3 subidas daquelas que cansa só de olhar para o gráfico da altimetria…

Mas para apimentar a coisa, que tal juntar vento forte de sudoeste e umas chuvadas suficientes para criar lama?

A partida para a etapa foi algo atribulada. Depois do jantar do dia anterior descobrimos que havia uma falha no track de GPS. Era necessário carregar o track para esse dia, não podiam navegar pelo mapa. Ainda encontrámos grande parte das pessoas à noite, as restantes carregaram o GPS durante o pequeno-almoço.

Eu fui para a partida com um computador portátil, caso houvesse algum problema. É que com track havia sempre o perigo de se o apagar quando se fizesse reset ao computador de bordo do GPS…felizmente isso não aconteceu a muita gente, consegui carregar novamente o track, só 2 pessoas saíram uns segundos atrasados.

Maior foi o atraso da Sandra Correia. Quando chegou ao local das bicicletas, o Ricardo Melo (namorado da Sandra) viu que tinha os 2 pneus furados. A Sandra, em vez de sair na hora dela, ficou a ajudar na troca dos pneus e depois a arrumar a ferramenta. Resultado, já partiu só depois das 10:00 (hora da partida sem bonificação).

Como tinha contado no relato da etapa anterior, os russos resolveram aproveitar esta etapa para descansar. Sendo assim, pensei que iria conseguir fazer este dia um pouco mais rápido e quase sempre acompanhado. Mas com o atraso da Sandra o plano saiu-me furado.

Passado 1 minuto de nós sairmos começou a chover. Parecia que estava à nossa espera. Felizmente o Sol rompeu as nuvens, mas o vento estava muito forte. Como a primeira parte era na planície, não havia locais abrigados, o percurso tornou-se numa subida constante.

Engraçado o que aconteceu numa quinta. Estava um rebanho de cabras e ovelhas do lado direito do trilho. Houve uma que fugiu a correr para o lado esquerdo mesmo antes de nós passarmos e de imediato todas as outras fizeram o mesmo. Foram centenas de cabras e ovelhas a atravessar o trilho, tivemos que parar um pouco para não sermos atropelados!


A solidão do vassoura

Quando chegámos ao 1º CP a Sandra viu que já estava muito atrasada e quis desistir. Estavam lá a Marta e a Ana Azevedo novamente com o carro cheio de desistentes, tiveram que chamar uma carrinha!

Fiquei assim sozinho, o Oliver era agora o último mas já tinha passado à 45 minutos. Desta vez não forcei o andamento, pois sabia o que ainda me esperava no fim da etapa. Fui a um ritmo moderado, pois sabia que mais tarde ou mais cedo iria acabar por apanha-lo. Acabou por ser bem mais tarde do que esperava, já a seguir a Santa Clara, perto do 3º CP. Queria perguntar no 2º CP a que distancia estaria dele, mas já não estava ninguém no local e não tinha rede de telemóvel para perguntar, pelo que continuei no meu ritmo.

Nesta zona de serra o vento fazia-se sentir com menos intensidade, mas o terreno estava muito pesado, com lama. Quando estava a passar em Santa Clara veio uma chuvada, parei uns minutos no alpendre de uma casa à espera que acalmasse. Depois de arrancar havia uma rampa bem empinada, foi aí que apanhei o Oliver.

No 3º CP parei um pouco para comer, voltei a perder de vista o Oliver. Acelerei para o apanhar novamente, mas tive de parar para atender um telefonema do António Malvar. Pediu-me para apanhar o Oliver antes de Vale Porco, pois era o ultimo local com alcatrão antes da grande subida e já era muito tarde para ele fazer toda essa secção.

Se tinha estado o dia todo sem grande vontade de pedalar depressa, de repente senti que as forças voltaram. Pedalei o mais depressa que pude, primeiro num local onde se passa n vezes a ribeira de Torquines e depois numa subida em alcatrão. Estava mesmo a precisar de um estímulo para acordar!

Quando cheguei a Vale Porco ainda não tinha encontrado o Oliver. Achei estranho, ele vinha tão devagar, não tinha conseguido chegar aí antes de mim. O José Vaz vinha buscar-nos e também ainda não tinha chegado, pelo que esperei e não avancei mais. Estava certo, o Oliver chegou pouco depois, tinha-se enganado num cruzamento e eu não o tinha visto.


Um aplauso merecido

Fomos de carrinha até ao último CP, pelo que me safei da pior subida! Mas as dificuldades ainda não tinham terminado! Quando chegámos ao último CP estava a passar a Kate Pruzack, uma senhora de 56 que já falei no relato da 1º etapa. Era a ultima classificada nesse dia, pelo que montei a bicicleta para ir com ela.

Ela tinha passado à 2 ou 3 minutos quando arranquei, mas eu pedalei serra acima a todo o vapor e estava a ver que nunca mais a apanhava. Depois de tantas dificuldades e quilómetros, a Kate vinha a andar muito bem!

O resto do percurso até Monchique foi quase sempre em alcatrão, mas por locais que não conhecia e muito bonitos. A serra é muito verde, por vezes parece que estamos em Sintra. Com o dia a escurecer, muitas árvores e o GPS com track em vez de mapa, a navegação tinha de ser feita com mais cuidado. Era difícil ver o visor e a precisão não era a melhor nas zonas com mais árvores.

Fizemos um pequeno troço em terra, a descer com algumas pedras e muitas curvas. Muito divertido! Depois foi sempre a descer até às Caldas de Monchique, com a Kate maravilhada com a paisagem. É mesmo um local espectacular, ali escondido no meio daquele verde todo!

Quase toda a gente estava na meta à espera da Kate, que teve um merecido aplauso. Apesar do cansaço, estava radiante de ter conseguido concluir a etapa dentro do tempo e de estar num local tão belo!

Faltava só mais uma etapa para chegar a Sagres! Apesar disso já havia um sentimento de saudade a pairar no ar. Quem quer voltar para Bragança amanhã ao final do dia?

Quem também estava com um sorriso na cara era o Leon Van Den Schoor, pois no ano anterior tinha caído mesmo ao chegar a Monchique, partindo uma clavícula. Desta vez tinha feito a etapa, já faltava pouco para chegar a Sagres!
 

ruimssousa

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Dia 8: Monchique - Sagres: 95 km


Vende-se mochila!

O ultimo dia desta grande aventura. Sagres estava só a 95 quilómetros e apesar de ainda haver muitos lugares em disputa (incluindo o 3º lugar), o ambiente era muito mais descontraído.

Ao contrário dos outros dias, onde muitas vezes os atletas estão preocupados a verificar se está tudo em ordem e em silêncio, nesse dia houve muita conversa e “bocas” entre todos. A descontracção foi tão grande que passados 500 metros da partida um “distraído” voltou para trás porque se esqueceu da mochila na partida!

A etapa, apesar de só (?) ter 95 km não era fácil. Sempre sobe e desce, com subidas curtas no inicio e algumas bem longas na parte final, junto às praias. Só os últimos 15 quilómetros eram mais fáceis, ligeiramente a descer, mas que o forte vento desta zona poderia transformar numa subida interminável!

Uma etapa com estas características não é a ideal para os russos, especialmente para o Evgeniy. Perguntámos a eles se queriam começar mais à frente, mas eles queriam tentar fazer a etapa toda. Tinha esperança que com o dia de descanso estivessem com força!

Esse dia de descanso fez bem ao Vladimir e mal ao Evgeniy. O Vladimir conseguiu fazer a etapa toda, mas o Evgeniy pareceu-me estar ainda pior e com uma grande dor de costas. Logo à partida fiquei à espera do “distraído”, depois quando apanhei o Evgeniy vi logo que ele não estava bem, ainda mais lento que o normal.


Troca-se mochila por bola

Quando cheguei ao 1º CP estava lá parado o Sander Baars. Ele estava com dores musculares e queria o apoio da Cassie Nobbs, uma das massagistas, para lhe aplicar uma pomada para as dores. Mas ela estava no 2º CP, pelo que não podia vir ao 1º CP. Ele continuou devagar, tentando chegar lá, mas não conseguiu e acabou por desistir um pouco mais tarde.

Quem eu estava convencido que ia desistir logo no 1º CP era o Evgeniy. Antes de lá chegarmos, numa subida suave de alcatrão, o Evgeniy trava de repente e quase se desequilibra com os pedais e cai. Atira a mochila para o chão à bruta e corre para lhe dar um pontapé, atirando-a para a berma! Abre-a, tira a garrafa de água e esvazia-a. Imaginam a minha cara a ver essa cena? Ele diz que fez isso porque lhe doíam as costa…

Por isso pensava eu que ela ia desistir no 1º CP, mas passou a grande velocidade, devia estar com medo de ser obrigado a entrar para o carro. Continuámos assim a etapa, num ritmo muito lento nas subidas, hoje quase todas feitas a pé. Eu ia aproveitando o tempo de espera para meter ar no pneu de trás, tinha um furo lento. Mas tentava não perder o Evgeniy de vista, não fosse ele perder-se como na 2º etapa.

Após passarmos o 2º CP o Evgeniy viu que já estava atrasado para conseguir passar o 3º CP dentro do tempo e tentou ir mais depressa. Mas não deixou de parar uns 5 minutos para tirar fotos junto a um parque eólico. Já tínhamos visto muitos ao longe, mas só hoje tivemos perto de um.


Agarrem que quer fugir

Apesar de o percurso entre o 2º e 3º CP ser mais fácil, tinha algumas subidas que tiraram qualquer hipótese ao Evgeniy de chegar com o controlo aberto. Ficou também sem água, pois acabou a que tinha nos bidões e a da garrafa da mochila tinha-a deitado fora no momento de fúria! Acabei por lhe dar alguma da minha.

A chegada ao mar, junto à praia da Bordadeira, depois de tantos quilómetros feitos, é um momento especial. O dia estava lindo, com o céu e mar muito azuis e algumas nuvens no horizonte. Aproveitei para tirar muitas fotos enquanto o Evgeniy me dizia que tinha estado em Sagres há cerca de 10 anos atrás e que é uma zona muito bonita.

Depois de fazermos a praia da Bordadeira chegámos à praia do Amado, ainda umas “borbulhas” antes do 3º CP. Estava aí o José Vaz à nossa espera, pois o CP já estava fechado e não estava lá ninguém. Mas quando o Evgeniy viu a carrinha, em vez de parar como lhe pediu o José Vaz, acelerou pela descida abaixo. Fez de propósito, pois sabia que era para entrar na carrinha. Tive que ir atrás dele e dizer-lhe que ou continuava até ao CP e depois era levado para Sagres, ou entrava na carrinha e era deixado perto no fim. Ele lá voltou para trás para a carrinha, do nervoso ainda caiu a subir! O José Vaz passou-se com ele e acabou por deixa-lo já na meta, não pedalou mais.

Eu já não cabia na carrinha (vinha lá com eles o Sander). Podia continuar o percurso, numa zona perigosa e lenta, ou voltava para trás e ia por estrada. Fiz a segunda opção, mas acho que tinha sido mais rápido ir em frente, pois ainda tive de voltar um bocado para Norte e fazer por estrada a subida da Carrapateira, conhecida de todos os que já se aventuraram no Tróia-Sagres.


Sagres à vista

Como não sabia se o novo lanterna vermelha estava muito longe ou não (só sabia que tinha passado o 3º CP) deixei a estrada e entrei no track junto ao parque eólico da Lagoa do Jardim. Mas já ia muito atrasado, estando já na praia da Cordama preocupado comigo o António Queiroz, sem rede no telemóvel. Subiu da praia para me conseguir ligar mesmo quando eu já estava a chegar e deu-me boleia até ao topo, no local onde o track voltava a sair do alcatrão. Poupei uma valente parede e enchi bem o pneu de trás, que estava a sobreviver à base de bombadas regulares, fazendo-me perder ainda mais tempo.

A partir daí tinha mais 15 quilómetros até ao fim, ligeiramente a descer e quase sem vento. Liguei o programa de contra-relógio e dei tudo o que tinha para tentar apanhar o último e ver se não precisa de voltar a encher o pneu. Depois de 2003, estava novamente quase a chegar a Sagres, é uma alegria imensa que começa a correr pelo corpo, dando-lhe forças novas para pedalar o pouco que falta!

Cheguei ao fim já a apoiar-me no guiador, tinha o pneu de trás quase a bater no aro. Mas ainda parei no topo da falésia para ver a festa na meta, junto à praia. Tirei uma foto, pena não ter uma máquina com um zoom melhor.

Cheguei assim à meta sozinho, ganhei o prémio para pior média e mais horas a pedalar! Estava toda a gente com um grande sorriso de ter conseguido chegar a Sagres e já tinham ido a banhos!

Fica aqui uma minha à chegada. Se repararem na foto do meu perfil, o Jersey é o mesmo, só que o preto ainda era preto. Essa foto é da minha chegada a Sagres em 2003!


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ruimssousa

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Olá.

Os empenados já treinaram muito?

Venho aqui lembrar que as inscrições para a Transportugal 2010 abrem daqui a menos de 1 hora, às 0:00 do dia 1 de Outubro de 2009!

Aproveito para lembrar o Sr. Bravellir que estamos à espera de saber qual a "estória" da cegonha!!!
 
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