[Crónica] Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

ruimssousa

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Olá.

Depois de ter participado na primeira edição do Transportugal em 2003 (http://ruisousa.planetaclix.pt/) e de ter colaborado na organização das edições de 2004 e 2008, este ano vou viver uma experiência diferente!

Estava a contar passar novamente muitas horas à sombra de chaparros, nos Postos de Controlo, quando há 2 meses atrás recebi a noticia que iria ser o ciclista-vassoura! :shock:

Refeito do susto inicial, estabeleci um plano de treino que foi cumprido a 34% e um plano de emagrecimento que foi cumprido a 61% :mrgreen:

Resultado: Em relação a 2003, tenho menos 1000 km nas pernas, mas em compensação, mais 3 kg na barriga!!

Resolvi abrir este tópico para contar as "estórias" de quem anda lá por trás, que não tem como objectivo ganhar ou ficar à frente deste ou daquela, mas apenas terminar todas as etapas, de preferência antes da hora de fecho da etapa.

Quem quiser saber como se está a decorrer a corrida dos "cavalões", pode ver este tópico: http://www.forumbtt.net/index.php/topic,58517.msg592767/boardseen.html#new e inscrever-se na newsletter da prova aqui: http://www.agneloquelhas.com/transportugal/

Se eu não voltar a escrever aqui nada nos próximos dias podem haver várias hipóteses:
- Não há net nos locais onde vamos dormir;
- Tenho os dedos inchados e não consigo acertar nas teclas do Magalhães;
- Fiquei empanturrado do jantar e adormeci enquanto esperava que o computador arrancasse;
- Fui beber umas minis para recuperar do esforço;
- Não tenho nada para contar porque o pessoal está a andar tão bem que nunca consegui acompanhar o último (hipotese mais provável :)

Quem for do interior não se esqueça de nos ir ver aos trilhos ou no final das etapas!
 

MrOrbea

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Então Rui, tens bebido muito vokda com o teu companheiro de travessia(sim, porque nós sabemos qual o abastecimento do gajo :mrgreen:)

Pede á Marta para escrever qualquer coisinha para, nos matar a curiosidade :wink:

Bete e João
 

ruimssousa

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Pois é, os meus amigos russos é que me têm tramado...

Ontem (1º etapa) comecei a etapa às 9:00 e acabei às 21:00...e ainda me levaram do CP2 para o CP3 de carro.

Hoje cheguei às 19:30 e ainda tive preocupado com um dos russos que andava perdido para os lados de Almeida, depois de ter sido deixado de carro em Castelo Rodrigo, para não fazer o forno. No CP1 aos 12 km tinha média de 6 Km/h!

Amanhã vou tentar escrever um relato, vai ser o primeiro dia onde não temos que ir dormir a um hotel longe do local da partida/chegada da etapa.

É verdade, o soro esgotou em Freixo de Espada à Cinta e no Sabugal!
 

jm

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Fico atento aos relatos, talvez para o ano!
 

HR

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Estou mesmo curioso!

Tens que avisar os Russos que o soro não é Vodka!! :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:

Aguardo esses relatos...

Muitas e boas pedaladas!

HR
 
Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Hello..

Força aí pro Pessoal do TransPT

pelo que ouvi e li.. o 1º dia foi bastante "caloroso" e o pessoal teve necessidade de "beber" soro.. :grrr: :evil:
um dos participantes meu amigo dos trilhos de Valongo, Jorge Castanheira, teve que receber tal liquido! :grrr:
para ele e pro meu outro Amigo Nuno Neves, MUITA FORÇA!!! vocês ensinaram-me: " quem treina em Valongo é capaz de andar em qualquer trilho!"

Forçaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!! :twisted: :twisted:
 

ruimssousa

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Hoje o empenado sou eu...

Consegui perder um dos russos na subida para a Fóios. Ele tinha o zoom do GPS a 800 e entrou pela mata dentro em vez de seguir o estradão.

Com isso tudo entrei na Malcata com 45 minutos de atraso em relação ao outro russo que anda melhor, mas ainda o consegui apanhar quase na saída, no local onde agora estão a plantar sobreiros. Se não o tivesse apanhado deveria ir fazer 1:20 na Malcata, quase que tinha direito a bonificação :p (era esse o troço cronometrado que dava bonificação).

Esse russo (o Vladimir) entrou na carrinha no final da Malcata e foi deixado em Monsanto. Por isso voltei a ter que acelerar para apanhar o próximo, o João Baptista.

Pelo meio ainda tive de ajudar outro participante a ir para um local onde pudesse ser recolhido pela carrinha (tinha desviador partido, pneu furado e um grande empeno).

O João Baptista fui encontra-lo no topo da subida da Serra do Ramiro, sentado no chão a descansar. Estavam 36ºC...

Fomos até Monsanto com alguma velocidade, pois ainda era possível passar com o CP aberto. Mas no inicio da calçada ele voltou para trás, pois já estava muito cansado.

Na subida da calçada tive de atender várias vezes o telefone porque tínhamos o sinal de um tracker a indicar que estava uma pessoa ainda na Serra do Ramiro. Felizmente era sinal falso e encontrei essa pessoa já em Monsanto.

A seguir a Monsanto mais um sprint. Estavam à minha espera em Idanha-a-Velha para ir de carro até ao último CP e fechar essa parte do percurso, pois a parte anterior seria fechada pela mota.

Já pensava que poderia ir ao meu ritmo até ao fim, mas nesse troço voltei a encontrar o Vladimir, que ainda por cima tinha um pneu a perder ar e teve de parar várias vezes para o encher. Resultado, já cheguei depois das 19:00 e bastante cansado e cheio de fome. Ataquei logo a comida da Marta e fui comer ainda mais batatas cozidas com coentros!

Agora vou dormir a ver se amanhã não encontro o homem da marreta!
 

rfccarvalho

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Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Que grande aventura o bike vassoura! :mrgreen: Ai o russo :#1: :pipocas:
 
Re: Transportugal 2009 - A crónica dos empenados!

Caro Confrade

Esse João Baptista já não é a primeira vez que faz TP pois não? Não será o "Joni the Fly ou João moscas"! Se for, diz a ele que o K2 manda dizer " P....a que pa...iu, Oube lá" :rotfl: :rotfl: :rotfl:

1 abraço e um queijo da serra
Miguel K2 Sampaio
 

ruimssousa

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Olá.

Crónica rápida dos ultimos dias.

4º feira, dia calmo, mas no hotel de Castelo de Vide não havia net.
5º feira, 12 horas a pedalar, quando cheguei ao hotel o GPS tinha acabado de mudar para o modo nocturno...
6º feira, acabei a ser recolhido com os 2 últimos participantes às 20:00, aos 120 km (faltavam 20 para o final). Esteve um vento infernar de Sul, foram 120 km sempre a subir.

Amanhã é a etapa mais dura, vou ver se descanso. Os russos amanhã vão ficar a descansar, mas já existem muitos candidatos a substitui-los.
 
Caro ruimssousa finalmente o descanso do guerreiro apartir de hoje não!?

Como Correram as coisas Hoje? muito tranquilas suponho...

Quero aqui deixar uma mensagem pro Nuno Neves e Jorge Castanheira pela prova de Esforço que ambos tiveram. Presumo que tenham concluido o dia de hoje sem problemas, dado que ainda nao falei com nenhum deles..

Abraço!
 

ruimssousa

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Agora que já passou um mês e finalmente recuperei do empeno e da falta de dormir (e com um Geo-Raid pelo meio), resolvi escrever a crónica dos empenados.

Fica aqui o primeiro dia.

Dia -2: Quinta-feira, 28 de Junho de 2009
Na realidade não devia ter começado a crónica no dia -2. Talvez no dia -5, quando já andava com dificuldades em adormecer e acordava cheio de energia às 6 da manhã. A adrenalina e o medo já me corriam pelo sangue. Só pensava nas paisagens que ia ver, nas horas de diversão e sofrimento que ia passar em cima da bicicleta, nos hotéis excelentes onde ia dormir e nas grandes jantaradas.

Mas para agravar mesmo a falta de sono, nada como chegar a casa às 4:30 da manhã. Noitadas em disco-nights? Não, nada disso…

Nessa longínqua 5º feira ainda fui trabalhar. Apanhei o autocarro no Marques de Pombal até Carnaxide, pois ia nessa noite para a Guarda numa das carrinhas alugadas, com as bicicletas dos concorrentes portugueses e mais a tralha que desse para lá enfiar.

Estava combinado com os concorrentes que as bicicletas teriam de ser entregues até às 20:00. Mas as últimas duas pessoas apareceram às 23:30! Dou um doce a quem adivinhar quem eram…depois foi acabar de carregar a carrinha (com caixas de t-shirts e fruta) e meter-me a caminho.

Ainda tive de passar em casa para pegar a minha bagagem e tomar um banho. Resultado, sai de Lisboa já depois da 1 da manhã, cheguei à Guarda depois das 4.

Nada mau como preparação para uma semana de 1.000 km a pedalar!
 

ruimssousa

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Mais uma crónica de um dia simples:

Dia -1: Sexta-feira, 29 de Junho de 2009
Este foi um dia que passou a correr e não fiz nada de interessante. Sai de casa por volta das 10, fui esgotar o stock de uma farmácia de pomada para o rabinho, fiz mais umas compras, fiz o almoço. Depois tentei dormir uma sesta, mas como ainda tinha o saco para organizar, não consegui deixar de pensar nisso.

Depois fui pressionar a Marta para sair cedo da clínica, felizmente não havia muitos clientes nesse dias! Jantámos e seguimos viagem até Bragança, apreciando as belas paisagens da Beira e de Trás-os-Montes, após o Rio Douro.

Em Bragança descarregamos a carrinha e logo pouco depois apareceu o autocarro com os atletas, com um ar mais cansado do que aquele que iriam ter em Sagres! Fiquei bastante mais descansado porque vi algumas pessoas que no ano passado andavam com o André Malha (o vassoura de quase todas as Transportugal). Não vinham só super-prós, ia conseguir fazer as etapas com companhia! Mal sabia eu os empenados que me esperavam….
 

ruimssousa

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Dia 0: Sábado, 30 de Junho de 2009

Com 1000 km pela frente, este dia começou pelo pequeno-almoço, comer até não caber mais! Foi assim com a barriguinha bem cheia que fui ajudando aqui e ali, pois não tinha nenhuma tarefa específica. Acho que ainda fiz uns bons quilómetros a pé desde a sala do briefing, as carrinhas e as traseiras do hotel, onde os atletas estavam a montar as bicicletas.

A montagem das bicicletas estava prevista das 9:30 às 11:00. Aproveitei para montar as rodas da minha e trocar os rolamentos da caixa de direcção. Os velhos pareciam ter sido atropelados por um comboio, não sei como ainda conseguia virar o guiador.

Fui almoçar ao restaurante do hotel para ser mais rápido, mas essa (rápido) é uma palavra estranha no restaurante. Mas consegui não atrasar muito e estar no 1º briefing perto das 14:00. Este briefing era sobre a Transportugal de um modo geral. Às 15:00 fez-se o carregamento dos GPS e às 16:00 um briefing sobre GPS.

Fui-me equipar para acompanhar os atletas num pequeno passeio pelo percurso da prova, para que todos verificassem as bicicletas e o funcionamento do GPS. Houve uma atleta, a Manuela Vilaseca, que nunca tinha usado o GPS e pediu para ir alguém com ela. Eu fui, mas ia no elástico, sempre que me perguntava alguma coisa lá tinha eu de acelerar e tentar responder com as rotações perto do máximo! Quando chegamos à subida após Gimonde ela desapareceu! Será que era este ano que uma mulher ganhava a Transportugal? Para quem estava a aprender a trabalhar com o GPS, aquilo era velocidade a mais…

Foi também neste dia que começou o azar do João Marques, o homem da taleiga, que tinha feito a Transportugal comigo em 2003, quando ainda se chamava Supertravessia. Cerca de 1 km após Gimonde estava parado com um furo. Tinha uma câmara-de-ar, mas estava furada. Como usa roda 29 não lhe pude emprestar uma das minhas, chamei uma carrinha para o virem buscar. Aproveitei para meter veneno e dizer que já tínhamos reservado soro para ele em Freixo, mas falhei no dia!

Depois do jantar houve o 3º e ultimo briefing (ufa), desta vez sobre a etapa do dia seguinte. Depois tivemos a combinar quem levava os cerca de 15 trackers disponíveis (eu era o responsável por os entregar aos atletas eleitos todas as manhãs) e pude ir dormir. Ou tentar, porque a adrenalina jorrava pelo sangue, estava prestes a começar a grande travessia!
 

ruimssousa

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Finalmente deixei-me de tretas e escrevi o relato de um dia de pedal. Para começar foram só 12:00, nada mal!

Acho que ainda não coloquei aqui o link para as minhas fotos, aqui vai: http://picasaweb.google.com/ruimssousa/Transportugal2009#

Dia 1: Bragança – Freixo: 141 km

Apesar de ter dormido pouco, acordei logo que o despertador tocou e bastante desperto. O Sol lá fora já estava forte, e ainda não eram 7:00 sequer. Tive de acordar tão cedo porque a primeira atleta partia às 7:12, a Kate Pruzack, uma senhora com uns respeitáveis 56 anos, esposa de outro participante repetente, o Gary Johson. Uns minutos depois partia a Kim Bear, também repetente do ano passado e depois pude aproveitar um intervalo de 30 minutos entre partidas para tomar o pequeno-almoço.

Este primeiro dia é complicado para colocar os trackers, pois ainda não conheço toda a gente. Mas como a etapa era grande e as partidas espaçadas não falhou nenhum.

Fui-me preparando (a rotina diária de ar nos pneus, protector solar, comida e água) e às 9:00 sai com os últimos. A ansiedade era grande entre toda a gente, excepto para o Luís Guerreiro, que tranquilamente atendeu uma chamada a 1 minuto da partida!

A largada foi a grande velocidade, a descer por asfalto até à ponte do Rio Sabor. Felizmente logo na subida havia gente com juízo (pensava eu) e iam devagar, para aquecer como deve ser…

Assim fomos até Gimonde, onde havia alguns pessoas baralhadas com o GPS, mas rapidamente perceberam por onde era. Após Gimonde começava uma das grandes subidas do dia, até Figueira. E foi logo aí que me assustei com um participante da Rússia, o Evgeniy Akimenko.

Logo na entrada da subida estava parado, com um saco plástico velho na mão, apanhado do chão. Queria meter um pedaço do saco dentro da caixa de remendos, pois estavam a fazer barulho. Disse-lhe para meter também na bolsa de selim, pois devia ser daí que vinha o barulho. Mas estava tão nervoso que tremia todo…

Depois começou a pedalar, mas mal a subida inclinou um pouco, desmontou e foi a pé. Pensei que tivesse algum problema com a bicicleta, mas depois montou, fez 10 metros e voltou a desmontar. Eu fiquei de olhos esbugalhados, muito assustado! Ele não consegue subir isto de bicicleta! Ainda faltam 992 km até Sagres!

Mandei uma mensagem ao António Malvar a dizer que ia um concorrente dos russos a fazer a subida toda a pé. Aproveitei e fartei-me de tirar fotografias. O calor já apertava, o Evgeniy tinha 2 bidões na bicicleta e parava para beber de poucos em poucos metros. Eu ia pedalando um bocado, parava numa sobra, deixava o Evgeniy avançar e voltava a pedalar até outra sombra.

Aproveitei para ver a vista para trás, muito bonita, com Bragança a ficar cada vez mais ao longe e lá em baixo. Quando chegámos ao fim da subida o Evgeniy desapareceu, pensei até que ele se tinha perdido. Mas não, em plano e a descer em bom piso ele era rápido, só a subir é que parecia que só tinha taleiga, mal inclinava um pouco desmontava e ia a pé. Só para terem uma ideia da inclinação em que ele desmontava, penso que iria subir a Avenida da Liberdade a pé a parir do cinema S. Jorge. Incrível!

Mas voltando ao percurso, esta etapa para mim é das mais bonitas da Transportugal. Se me perguntarem o que tem de especial, digo que nada. É a combinação de cores, relevo, vegetação, rudeza, espaço. Pelas fotos não dá para ter noção, só lá estando! Quem nunca pedalou por estes lado não sabe o que perde!

Depressa entrámos na aldeia de Refega, onde passa o Caminho Português de Santiago da Via da Prata. Mais à frente passamos perto de Quintanilha, onde havia a Festa de Nossa Senhora da Ribeira. Muita confusão, carros parados na estrada e barracas de comes e bebes. Felizmente de bicicleta é fácil passar estas confusões, mas até bem dentro do trilho havia carros estacionados.

Subimos mais um pouco e descemos até ao rio Maças. No fim da descida estive um pouco de tempo à espera do Evgeniy, pois ele caiu logo no início e fez o resto muito devagar. Quando a descida era técnica ele também era lento, apesar de ter uma bicicleta suspensão total.

O troço seguinte era demolidor. Primeiro uma grande subida, logo a sair do rio Maças, com poucas sombras. O Evgeniy bebia quase de minuto a minuto e queixava-se do peso da bicicleta, que devia ter comprado uma de 9 kg. Pensei eu para comigo, ou umas pernas melhores…

Em Vale de Frades parámos uns minutos para o Evgeniy meter água e arrefecer os radiadores. A seguir a S. Joanico havia uma zona mais técnica, com muita pedra e vegetação fechada. O Evgeniy quase caia numas pedras, deu para aprender uns palavrões em russo! Já estávamos tão atrasados que perguntei ao Evgeniy se queria entrar na carrinha e ser deixado mais à frente. Ele disse que não, pois não queria ser gozado pelo companheiro dele, o Vladimir Orekhov. Tinha espírito de sacrifício, ia conseguir fazer tudo.

E realmente o Evgeniy era um duro. Andava devagar, mas queria sempre continuar. Se não houvesse tempos de fecho dos CP, acredito que ele teria feito as etapas todas, até dar mesmo o estoiro. Tinha era de levar luzes, pois ia chegar de noite nas etapas maiores.

Mas apesar de ele não querer desistir e do CP em Caçarelhos não ter hora de fecho, a segurança da prova estava em primeiro lugar. Eu não podia estar tão atrasado em relação aos outros concorrentes. Não estava a fazer segurança da prova, mas sim escolta particular a uma pessoa só. Por isso o Evgeniy teve de entrar para a carrinha e fomos até ao CP seguinte, em Sendim (do km 54 para o km 79).

Fiquei com pena de não fazer este troço, pois era um dos mais bonitos da etapa. Em planície, muito rápido, no meio de campos agrícolas. A fazer lembrar o Alentejo, mas muito mais plano!

Quando chegamos a Sendim estava o ultimo a passar, que era o Vladimir. Montei a bicicleta, comi à pressa e fui atrás dele. Mas não precisa de ter pressa, estava parado no centro da localidade a meter agua na fonte.

Perguntei-lhe se estava bem e ele perguntou-me se ainda dava para fazer a etapa toda. Disse-lhe que era possível, mas tinha de andar depressa. A saída de Sendim é feita em estradões agrícolas de bom piso, que permitem boas velocidades. O Vladimir era bastante mais rápido que o Evgeniy, mas já estava muito cansado e vindo de um país frio não se estava a adaptar ao calor. Quando as subidas eram mais longas tinha que para numa sombra para arrefecer um pouco.

Em Bemposta encontro uma concorrente que também estava mal por causa do calor, a Jacqueline Strachan, salvo erro escocesa. Ela queria tentar chegar ao fim, mas acabou por mudar de ideias e telefonei ao José Vaz para a vir buscar à aldeia de Tó (ou seria Lamoso?).

Como fiquei sem bateria no telemóvel (tinha-o colocado a carregar de manhã numa tomada sem energia) o José Vaz emprestou-me outro. E muita falta me fez!

Acelerei para tentar recuperar o tempo perdido para o Vladimir, mas fui tão depressa que quando cheguei ao CP seguinte, em Vila de Ala, ela ainda não tinha passado. Tinha-se enganado no caminho e eu passei-o sem o ver. Mas pouco depois apareceu e segui na companhia dele por pouco tempo.

O segmento seguinte era bastante divertido, por cima de grandes lajes de granito. Lembrava-me perfeitamente deste troço por o ter feito em 2003, mas talvez por ser uma hora diferente (eram 18:00, em 2003 passei por volta das 12:00) pareceu-me um local completamente diferente. Perto da antiga estação de Bruço (da linha do Sabor) estava o Carlos Ferreira, com uma insolação. Lá usei o telemóvel emprestado para chamar mais uma vez o José Vaz, o bombeiro de serviço!

Mais um pouco à frente encontrei outra vítima do calor. O Cristopher Smith estava parado, perguntei se estava tudo bem, disse que sim e logo de seguida vomitou. Afinal não estava muito bem. Perguntei-lhe se queria que o viessem buscar ou se consegui ir até à estrada. Ele disse que continuava, fomos muito devagar até Lagoaça, onde estava o José Vaz à nossa espera.

O último CP era perto, mas como já estava fechado não deixámos seguir mais ninguém. Não havia ninguém no trilho, pelo que até ao CP fui por estrada para varrer o ultimo segmento.

Daí até Freixo já não encontrei mais ninguém, felizmente. Apesar de estar com quase 100 km feitos, sentia-me muito bem, fiz o troço o mais depressa que pude, mas parando várias vezes para tirar fotografias. É aqui que se passa aquele local onde se vê o Douro pela primeira vez e onde é obrigatório tirar uma foto! Considero que é a descida mais perigosa de toda a Transportugal. É um estradão de terra largo e com bom piso…mas a paisagem é tão linda que não conseguimos deixar de olhar para o lado.

A aproximação a Freixo também é muito divertida, com um ligeiro sobe e desce, muito rápido e com muitas curvas. Perto de Freixo vi um bicho a fugir, não sei se um gato, se uma raposa, pois tinha a cauda muito felpuda.

Cheguei a Freixo às 21:00, 12 horas depois de ter saído de Bragança. O jantar foi no restaurante Cinta d’Ouro, as já tradicionais saladas de entrada e depois lombo de porco grelhado. A sobremesa já não me lembro o que foi, mas era muito boa!

Depois do briefing da organização fomos dormir para as Moradias do Douro Internacional (http://www.cm-freixoespadacinta.pt/?doc=70&menu2=5). Já estava para lá ir há muito tempo, pena que desta vez foi muito de passagem! Mas deu para apreciar a vista de manhã e tirar umas fotos. Também tivemos a visita de um gato oferecido, que nos veio pedir mimo e rebolar à porta!
 

ruimssousa

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Finalmente aqui vai o segundo dia. Está a ser mais difícil escrever o relato do que fazer a Transportugal a pedalar...

Dia 2: Freixo – Alfaiates: 114 km

Este foi mais um dia que começou bem cedo. Apesar da etapa ser (mais) pequena e das partidas serem às 10:00, ainda tinha de fazer 5 km de carro até à zona das partidas.

O pequeno-almoço foi no restaurante Cinta d’Ouro e foi tomado muito à pressa, pois já estava em cima da hora para colocar os primeiros trackers. Penso que foi nesta etapa que, com a confusão de procurar as pessoas, não entregue um dos trackers, mas dei-o a quem foi para o primeiro CP.

Nesta etapa não há tempo para aquecer os músculos, apesar de o Sol já queimar. Passados 200 metros da partida há logo uma parede onde se tem de meter as mudanças todas e morder o guiador. Eu parti com calma, pois sabia que o Evgeniy ia fazer todo aquele troço a pé.

Após essa primeira parede inicial desce-se um pouco ainda em terra, entra-se no alcatrão, vira-se num entroncamento à esquerda e volta-se novamente para terra, onde se recomeça a subir. Quando entrei na terra só vi o Vladimir, que ia à frente do Evgeniy. Perguntei-lhe pelo Evgeniy, ele não o tinha visto. Já se tinha perdido…a ultima vez que o vi foi antes do entroncamento, foi em frente na estrada.

Liguei para a meta para o irem procurar, mas passados uns minutos ele lá apareceu. A subida para Poiares é bem inclinada, o Evgeniy já estava cheio de calor, ia a pé e parava várias vezes para beber. Eu ia fazendo a subida aos poucos, parando à espera onde havia sombras.

No final da subida eu pensei que íamos por asfalto para o Penedo do Durão. Mas afinal o percurso só atravessava o asfalto e descia directo para Poiares. Eu achei estranho não ver os russos na descida, mas como tinha ficado na sombra e depois tinha hesitado na estrada uns segundos, pensei que tinham dado “fogo à peça”!

Desci, desci, desci e russos nada. Cheguei à Calçada de Alpajares e eles não estavam à vista. Aí fiquei muito desconfiado, será que se voltaram a perder? Fiz a calçada toda com muito cuidado, era quase toda ciclável, mas muitas vezes as pedras estavam cobertas pela vegetação e uma queda para o lado errado podia ser muito grave. Ainda desmontei uma vez de uma forma algo alternativa, mas nada de especial!

Quando cheguei ao CP os russos ainda não tinham passado! O António Malvar pegou no carro e foi pela estrada para conseguir ver o início da calçada. Passados alguns minutos apareceu o Vladimir, mas do Evgeniy não havia sinal. Pouco depois do Vladimir arrancar lá apareceu ao fundo da calçada o Evgeniy. Já tinha estado 15 minutos parado a descansar e a tirar fotos. Eu tive ordens para avançar sem ele, iria ser deixado de carro no CP de Castelo Rodrigo.

Arranquei para Barca d’Alva, onde estava o Vladimir a comprar água. Disse-lhe que íamos fazer uma grande subida, sem água nem estradas perto e com muito calor. Perguntei-lhe se estava bem e se queria continuar, disse que sim.

Felizmente corria uma aragem, não estava tanto calor como seria previsível. A subida foi feita com calma, a pedalar ou a pé quando inclinava mais. Aproveitei as sombras para arrefecer e tirar fotografias enquanto espera pelo Vladimir. Com o aproximar da passagem da ribeira de Aguiar o percurso ficou mais plano, mas havia alguma areia que o Vladimir tinha algumas dificuldades em passar, por não estar habituado.

Aqui a paisagem é quase desértica, com muitas pedras, areia, sem sinais de presença humana e escaca vegetação, parecendo a ribeira de Aguiar um oásis! Com a aproximação a Castelo Rodrigo começamos a encontrar os campos cultivados e a encontrar algumas vinhas.

Passamos Figueira de Castelo Rodrigo pelos arredores, quase não pisando asfalto. Foi aí que apanhámos o Cristopher Smith, que não tinha recuperado totalmente da insolação do dia anterior.

Atravessamos a EN221 mesmo no local onde começa a subida para Castelo Rodrigo. Fazemos alguns metros de asfalto e viramos à direita, num estradão muito inclinado que se poderia chamar a “Alameda das Cerejas”, pois quase sempre tem cerejeiras carregadas dos 2 lados. É uma subida dura, ainda por cima feita àquela hora, com o sol a pique.

Mas para o Cristopher Smith o esforço valeu a pena, pois ficou maravilhado com a aldeia histórica. Nesse CP estava a minha lancheira, parei alguns minutos para comer. O Cristopher Smith não quis continuar e foi à boleia com o João Baptista, que tinha a visita da madrinha e também não ia continuar. A madrinha do João Baptista veio trazer-lhe umas sandes 5 estrelas, no final da etapa ainda comi 2!

Arranquei a fundo para apanhar novamente o Vladimir. Só o apanhei passados uns bons quilómetros, pois esta parte do percurso é muito rápida, ligeiramente a descer e com bom piso. Andei muito tempo acima dos 40 km/h, felizmente ainda me lembrava de alguns cruzamentos, só precisava de olhar para o GPS para confirmar que estava correcto. Muito divertido!

Apanhei o Vladimir e passado pouco tempo chegámos a Almeida, onde o CP já estava fechado. Estava por lá o António Queiroz com alguns “clientes” que também já não tinham passado o CP e precisaram de ir ao café repor energias. A última pessoa a passar no CP foi a Jacqueline Strachan, que tinha tracker. Vimos que estava quase a chegar a Vilar Formoso, mas como nos atrasámos a meter as bicicletas na carrinha fizemos pontaria para a encontrar um pouco depois. Quando chegamos ao local ela já tinha passado, estava a andar bem.

Sai da carrinha e pedalei depressa para a apanhar. Ainda tive de voltar para trás, pois tinha-me esquecido do GPS. É o que dar conhecer o caminho, tinha feito o reconhecimento desta parte algumas semanas antes. Quando a apanhei perguntei se estava tudo bem e se tinha ultrapassado alguém. Ela estava bem, mas tinha ultrapassado o Evgeniy logo à saída de Almeida! Eu fiz uma cara de espanto, já tinham passado tantas horas desde que foi deixado em Castelo Rodrigo e ainda estava para trás?

Avisei a base e foram tentar encontrá-lo. Entretanto continuei com a Jacqueline, que por vezes tinha de parar para arrefecer. O sol já estava baixo, mas a terra estava quente, parecia que pedalávamos por cima de brasas. Já chegámos a Aldeia da Ribeira com o CP fechado. A Jacqueline seguiu na carrinha com o Maurício e eu fiquei lá à espera do Evgeniy.

Finalmente encontraram o Evgeniy ainda antes de Vilar Formoso, mas foi complicado porque ele estava fora do percurso e houve algum engano nas coordenadas que deu por telefone. No dia seguinte teria que levar um tracker. Como na meta já tinha passado todo a gente fiz o resto do percurso por estrada.

Sobe-me muito bem rolar calmamente esses quilómetros, o Sol já estava a esconder-se, corria uma aragem fresca e havia alguma vegetação, depois do deserto que foi quase todo este dia.

Depois de comer as sandes que sobraram da madrinha do João Baptistas fui ao banho e depois ao jantar, um bacalhau com natas divinal. Infelizmente em Alfaiates não há alojamento para toda a gente, ainda tivemos mais uma viagem de carro de quase 30 minutos até ao Sabugal.
 

lobo solitario

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Gostava mesmo era de ver uma foto desse russo... é que um tipo vai fantasiando enquanto lê e, provavelmente, ele nem se parece nada com a fantasia que se criou!
 
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