[Crónica] Relato Férias 2006 - Entre o Minho e Trás-os-Montes

Myrage

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Re: Relato Férias 2006 - Entre o Minho e Trás-os-Montes

Eu tenho arrastado uma vontade de ligar o Porto a Trás os Montes por Estrada.

O que tenho mais ou menos planeado é partir do Porto sempre o mais próximo do Rio Douro até ao Tua. Depois no Tua, dependendo da vontade, ou iria até Mirandela pela linha do Tua de Comboio ( paisagem espectacular recomendo) ou iria a Pedalar do Tua até Carrazeda de Ansiães, Portas de Vila Flor, por fim Mirandela.
Estimo 2 dias de Pedalada. Com dureza e Estradas onde o pavimento é um misto de Betuminoso e Seixo (na década de 60 e 70 era o que se usava)
Vou aproveitar o teu track, visto que apresenta partes que me interessam.

Obrigado
MY
 

pfred

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ruimssousa said:
Cá vai a 4º etapa:

ETAPA 4: (A calçada interminável ou como aprender a não confiar nas indicações dos velhotes nos cafés): Vassal – Carrezeda de Ansiães

Esta etapa prometia ser complicada...nas carta militares as curvas de nível assustavam, íamos passar a Serra de Santa Comba antes de cruzar o rio Tua e depois subir para Carrezeda de Ansiães.

O pequeno-almoço na Quinta do Pontão foi muito bom, comemos pão com compotas caseiras feitas com fruta da quinta. Uma tentação!!

Até Valpaços a estrada era sempre a descer, o que para começar soube muito bem. Fizemos uma paragem rápida num MB e seguimos viagem rumo ao Sul, já com o Sol a começar a queimar.

A paisagem começava a mudar, num misto entre Trás-os-Montes e o Douro. Viam-se cada vez mais videiras em terrenos de xisto, que tomou o lugar do granito.

Depois de Valpaços e até Veiga de Lila fomos num sobe e desce não muito acentuado, o que nos permitiu fazer logo muitos kms ainda sem muito calor. Em Veiga de Lila vimos a capela de Stª. Barbara nas nossas costas depois de passar a Ribeira de Lila e pela frente tínhamos a Serra de Santa Comba, a impor respeito.

Antes de chegar a Vales vimos mais algumas aves de rapina a caçar. Em Vales parámos para comer e tentar descobrir a origem do nome, pois a subida não parecia ter fim. Lá bem ao fundo víamos Veiga de Lila e a razão do nosso cansaço!

No sopé da Serra de Santa Comba hesitamos um pouco no caminho a seguir, pois tinha traçado no GPS um caminho de terra que afinal já era de alcatrão mas um pouco desviado. Que bem que soube apanhar essa estrada, alcatrão novo e a seguir as curvas de nível! Afinal o difícil foi chegar à serra e não ultrapassa-la. A paisagem é espectacular, com grandes formações rochosas desgastadas pela erosão em equilíbrio precário.

Após a passagem da serra descemos vertiginosamente para Franco, onde tínhamos duas alternativas para chegar a Avidagos. Passar já a IP4 e seguir por terra por Vila Boa, ou apanhar a N15 para Este e depois para Sul outra estrada secundária. O calor e a ondulação do terreno na 1º hipótese levou-nos a escolher a segunda.

Na N15 (antiga estrada Chaves-Porto) só passou por nós um carro, felizmente existe a IP4! Ao sairmos da N15 os pomares de nogueiras eram a perder de vista. Tivemos também direito a massagem grátis, pois a estrada já quase não tinha alcatrão, excepto junto à berma, coberta de silvas. Entre arranhões e trepidação a escolha não era fácil!

Em Avidagos parámos na tasca para tentar almoçar e perguntar como seria a passagem do Tua pela Brunheda, pois poderíamos desviar por Abreiro. O almoço ficou-se por duas colas, pois na tasca só havia que beber! Só na época da caça é que costumam ter umas sandes, segundo o dono.

Disseram-nos também para não irmos por Brunheda, pois a subida era muito dura e porque em Abreiro havia cafés onde comer. Seguimos, felizmente a descer, pois a fome e o calor apertavam. Ainda parámos para apreciar uma paragem de autocarro perdida no meio de nada e relembrar uma das crónicas do Nuno Marckl na Antena 3. Nessa crónica falava de velhotes à espera da carreira em paragens no meio de nada, especulando há quanto tempo estariam aí e se algumas vez iria passar a carreira! Mas como a paragem não tinha velhotes não pudemos perguntar!

Chegados a Abreiro parámos no 1º café. A única coisa que havia para comer era batatas fritas de pacote...mas indicaram-nos outro café mais à frente.

E à terceira foi de vez, no café que foi eleito posteriormente o melhor das férias! Tinha esplanada na rua e mesas dentro com A/C. A vista era de cortar a respiração, sobre o vale do rio Tua. Um espaço muito bem aproveitado.

Quando chegamos pedimos sopa. O rapaz que estava a atender disse que não sabia se havia, ia perguntar à mãe. Sim, havia, mas ia demorar um pouco. Não faz mal, esperamos. Passado um pouco vimos a mãe a vir de casa com uma caixa plástica que parecia ter sopa dentro. E que rica sopa caseira, com grão, massa e couves!

Aproveitamos a paragem no café para ver a Formula 1 e a Volta a Portugal (e para fugir ao calor abrasador). Mas como ainda estávamos longe de Carrezeda resolvemos seguir viagem. Na curta descida até ao rio Tua deu para perceber que devíamos ter ficado no café, pelo que logo a seguir à ponte voltamos a parar debaixo de uns pinheiros, no caminho de acesso à estação do CF.

A Marta ficou a descansar (ela diz que não dormiu a sesta desta vez...) enquanto eu fui tirar umas fotos à estação e ao rio. Vi os horários dos comboios e por sorte estava quase a passar um, pelo que esperei para tirar umas fotos ao “Metro de Mirandela”, que vinha cheio que nem um ovo.

Enquanto esperávamos que ficasse mais fresco pudemos ouvir alguns fados cantados pelo Rouxinol Faduncho, cortesia de uns jovens que vieram tomar banho ao rio. Mas melhores foram as cantorias de alguém numa casa do outro lado do monte, que não devia saber que tinha assistência!

Já com a temperatura um pouco mais baixa, seguimos viagem, sempre a subir como seria de esperar. Quando chegamos ao cruzamento para Freixiel parámos para analisar os mapas. No café tinha-nos dito para ir na estrada para Vila-Flor e virar à direita antes de lá chegarmos. Mas havia duas direitas, por Freixiel ou por Samões.

Olhando para Freixiel, víamos que estava num buraco, o que significava subir mais depois. Podíamos ir por Samões, mas era bastante mais longe, pelo que seguimos por Freixiel. Grande asneira...

Mal acabamos de passar Freixiel apanhamos uma calçada, que apesar de recente não era muito direita. O normal dentro de povoações, pensávamos nós. Mas a calçada não acabava, já tínhamos saído de Freixiel e começávamos a subir a serra. Foi aí que percebemos o que nos esperava. A calçada continuava pela serra acima, daquelas que não se vê se falta muito ou não, curva após curva. Desmontamos os dois, o piso irregular e a inclinação eram inimigos de respeito. E assim fizemos uns 7 km, desde os 330 até aos 700 metros de altitude, na aldeia de Folgares. A Marta só a empurrar a bicicleta e o empeno, ao que eu juntava os 20 kg do reboque.

Por isso, sempre que vos falarem em ir andar de bicicleta para a zona de Freixiel, tenham cuidado. Alguém que não gosta de vocês pode querer pregar-vos uma partida...

A partir de Folgares entramos numa zona plana, onde fomos recompensados por um belo pôr-do-sol! Carrezada de Ansiães, um belo banho e o jantar estavam perto.

Mas ainda apanhamos um grande susto. Do lado esquerdo da estrada começamos a ver um desfiladeiro. Se tivéssemos de descer íamos demorar bastante tempo a subir novamente e a noite já estava a cair. É o desfiladeiro onde passa a ribeira da Cabreira, o nome está bem atribuído!

Felizmente o desfiladeiro acabava aí, pelo que continuamos no plano! Chegamos a Carrezeda de Ansiães mesmo com a noite a cair.

Ficamos alojados na Residencial Veiga (tem um aspecto um pouco clandestino), que também tem a Churrasqueira Veiga, onde fomos jantar muito bem por volta das 22 horas.



Nota sobre a linha do TUA:
Ao ver o a automotora (ou autocarro sobre carris) a passar e a desaparecer no meio da vegetação ao longo do rio, fiquei cheio de vontade de experimentar a viagem, o que fiz no final de Agosto (até porque correm noticias do fecho da linha).
A viagem é espectacular, começa em Mirandela em zonas planas e largas do rio, que vai estreitando cada vez mais. Mais para o fim vamos pendurados numa pequena varanda, com o rio rochoso lá bem no fundo. Assustador!
Curioso é que apesar de a linha não ser rentável, iam duas carruagens cheias com pessoas a pé, mais de 100 pessoas. Oe o revisor ao chegar a Régua entregou um maço de notas na estação!!!
Vão depressa antes que os senhores dos gabinetes fechem a linha!!


Dados do dia:

Distância: 78 km; Tempo: 5:58; Velocidade média: 13,05 km/h; Velocidade Max: 70 km/h; Calorias consumidas (Marta): 2263 kCal


Tens aqui um trak que passa por freixiel com grandes paisagens e trilhos muito bons. http://www.gpsies.com/map.do?fileId=ygmyxyefgyljvlbh
 
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