lobo solitario
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A ideia tinha começado a formar-se há cerca de um mês. Sabia que o grande Índio iria virar quarentão e tal efeméride tinha que ser comemorada. Foram estabelecidas conversações secretas com os restantes membros da tribo, tendo-me calhado a feitura de uma proposta de empeno, a prenda de aniversário mais adequada. Sentei-me em frente ao PC munido de uma cervejinha fresca e vasculhei a minha gaveta de tracks. Lá fui sugerindo uma volta pelos caminhos que, recentemente, tinha desbravado (... gole de cerveja...), ou uma repetição de um empeno na Peneda que tinha descrito no site do JAP, o desactualizado “Depósito” (... outro gole de cerveja...), ou um outro passeio na Peneda que o CEVA não conhecia (... outro gole... porra, acabou, deixa-me abrir outra...), ou então, (... deixa-me ver... outro gole e mais outro...) porque não juntar os dois (... mais uns goles...): até ficava interessante. Alegre (com a minha capacidade criativa), enviei a proposta aos outros selvagens. O ET respondeu logo que queria a última alternativa e perguntou “... de que distância e acumulado estávamos a falar?”...
Foi só no dia seguinte que, sobriamente, me dediquei à matemática da coisa. Um frio arrepio trepou a minha corroída coluna vertebral. No que me iria meter...? Eis, pois, o presente de aniversário:
Eis o aniversariante a comer a sua fatia
Curiosamente, depois de tanto entusiasmo com a proposta, o ET baldou-se e deixou-me entregue ao Indy e ao jovem Eduardo. Tremi, lembrando-me das notícias que tinha vindo a receber dos dois: 200 km aqui, 170 Km ali, “estamos a planear 300” acolá...
Acompanhava-nos, também, o alegre Óscar que vinha munido (avisou-nos logo) de numerosos atalhos colados no track de GPS. É que o perfil altimétrico parecia muito pérfido para tão tenro amante de todo-terreno.
A partida deu-se junto à ponte de Cabreiro sendo precedida de um encontro imediato com outro grupo de ciclantes. Após uma breve troca de palavras eles seguem e nós, uns minutos mais tarde, arrancamos também. O início do emp... digo trajecto é simples: “ganham-se” 1200 metros de altitude em cerca de 15 Km. Começo a aperceber-me de que teria um daqueles dias difíceis quando a imagem mais recorrente é a dos meus dois companheiros, bem lá à frente, a fazer aquela última curva da estrada.
Ainda relativamente fresco, fui admirando as paisagens soberbas da Serra da Peneda. O bendito granito
os abrigos dos pastores transumantes
e a subida, finalmente a amansar e a levar-nos aos cerca de 1300 m de beatitude.
Seguiu-se a inevitável descida-por-calhau que seria o acompanhamento para as subidas daquele dia.
Depois de passarmos Aveleira, o Eduardo resolveu furar e, enquanto ele resolvia as suas dificuldades com o equipamento, o resto do grupo avançou solidariamente até uma sombra de pinheiro. Como a resolução do problema demorava, deu tempo para discutir sexo e jogar à malha com duas garrafas de cerveja e duas rodelas de madeira.
Neste ponto, o Óscar amaricou-se e abandonou-nos à nossa sorte.
Dirigimo-nos, então, a um troço de calçada, na encosta decorada de tojo em flor.
Depois de “algum” sobe-e-desce para cruzar os vales profundamente vincados nas fraldas da Peneda, cruzando aldeias que gozavam tranquilamente o seu fim-de-semana, iniciámos a subida mais dura do dia lá pelos lados de Orjaz. Ao cruzar a aldeia, pareceu-me ouvir alguns conselhos sensatos.
A primeira parte da subida ainda a consegui fazer com um mínimo de desenvoltura. A segunda parte, um terrível zig-zag de pedra solta até ao topo, custou-me muito, começando a temer as cãimbras. Tentando gerir o esforço com algum empurra-à-mão nos bocados mais duros, lá cheguei ao topo do Cabeço do Pito pensando “ora aqui está um Pito pouco acessível”. Os cavalos lá no alto olhavam com ar de comiseração o meu avanço, encosta acima.
Vencidas as dificuldades, rolámos rapidamente em direcção a Lamas de Mouro e parámos no Vidoeiro, um restaurante em Porto Ribeiro que foi já testemunha de muitas das minhas incursões pela Peneda. A paragem deu para repôr as calorias mas favoreceu o aparecimento das cãimbras logo que arrancámos, rumo ao nosso ponto de partida.
Para mim, o regresso resumiu-se a gerir o cansaço muscular e as cãimbras. O cansaço pedia que eu parasse mas se o fizesse, o mais provável era o músculo entrar em auto-gestão logo que retomasse caminho. Se não retomasse o caminho, teria que dormir no monte. Um trilema desgraçado.
No topo da serra, junto da nascente do rio Vez, cruzámo-nos com o mesmo grupo que por nós tinha passado no início. Tranquilamente, descansavam junto ao ribeiro. Com medo de arrefecer músculos e voltar a ter das minhas mazelas, continuo em frente sem grandes confraternizações. Antes parecer rude que sofrer...
O gran finale foi uma extensa descida por trilhos pedregosos, como não poderia deixar de ser. Mais de 1000 m de altitude perdidos, na sua maior parte, aos solavancos, encosta abaixo. Chegávamos, finalmente, aos carros, com o dia a findar, o sol escondido por trás do imponente relevo. Curioso como, depois de sofrer tanto, só tinha um sorriso de orelha a orelha.
Concluindo, repito o que já disse noutra ocasião: eis aqui um passeio que aconselho “1) a quem queira um desafio físico interessante, 2) aos que estão bem preparados fisicamente e poderão apreciar as magníficas vistas sobre a Serra da Peneda bem como os rebuçados técnicos oferecidos pelo esquecimento a que estes caminhos são, felizmente, votados, e 3) ao Pedro, para levar um incauto consigo e, depois, escrever a sua versão do passeio.” O incauto, ficou claro desta vez, fui, obviamente, eu.
Foi só no dia seguinte que, sobriamente, me dediquei à matemática da coisa. Um frio arrepio trepou a minha corroída coluna vertebral. No que me iria meter...? Eis, pois, o presente de aniversário:
Eis o aniversariante a comer a sua fatia
Curiosamente, depois de tanto entusiasmo com a proposta, o ET baldou-se e deixou-me entregue ao Indy e ao jovem Eduardo. Tremi, lembrando-me das notícias que tinha vindo a receber dos dois: 200 km aqui, 170 Km ali, “estamos a planear 300” acolá...
Acompanhava-nos, também, o alegre Óscar que vinha munido (avisou-nos logo) de numerosos atalhos colados no track de GPS. É que o perfil altimétrico parecia muito pérfido para tão tenro amante de todo-terreno.
A partida deu-se junto à ponte de Cabreiro sendo precedida de um encontro imediato com outro grupo de ciclantes. Após uma breve troca de palavras eles seguem e nós, uns minutos mais tarde, arrancamos também. O início do emp... digo trajecto é simples: “ganham-se” 1200 metros de altitude em cerca de 15 Km. Começo a aperceber-me de que teria um daqueles dias difíceis quando a imagem mais recorrente é a dos meus dois companheiros, bem lá à frente, a fazer aquela última curva da estrada.
Ainda relativamente fresco, fui admirando as paisagens soberbas da Serra da Peneda. O bendito granito
os abrigos dos pastores transumantes
e a subida, finalmente a amansar e a levar-nos aos cerca de 1300 m de beatitude.
Seguiu-se a inevitável descida-por-calhau que seria o acompanhamento para as subidas daquele dia.
Depois de passarmos Aveleira, o Eduardo resolveu furar e, enquanto ele resolvia as suas dificuldades com o equipamento, o resto do grupo avançou solidariamente até uma sombra de pinheiro. Como a resolução do problema demorava, deu tempo para discutir sexo e jogar à malha com duas garrafas de cerveja e duas rodelas de madeira.
Neste ponto, o Óscar amaricou-se e abandonou-nos à nossa sorte.
Dirigimo-nos, então, a um troço de calçada, na encosta decorada de tojo em flor.
Depois de “algum” sobe-e-desce para cruzar os vales profundamente vincados nas fraldas da Peneda, cruzando aldeias que gozavam tranquilamente o seu fim-de-semana, iniciámos a subida mais dura do dia lá pelos lados de Orjaz. Ao cruzar a aldeia, pareceu-me ouvir alguns conselhos sensatos.
A primeira parte da subida ainda a consegui fazer com um mínimo de desenvoltura. A segunda parte, um terrível zig-zag de pedra solta até ao topo, custou-me muito, começando a temer as cãimbras. Tentando gerir o esforço com algum empurra-à-mão nos bocados mais duros, lá cheguei ao topo do Cabeço do Pito pensando “ora aqui está um Pito pouco acessível”. Os cavalos lá no alto olhavam com ar de comiseração o meu avanço, encosta acima.
Vencidas as dificuldades, rolámos rapidamente em direcção a Lamas de Mouro e parámos no Vidoeiro, um restaurante em Porto Ribeiro que foi já testemunha de muitas das minhas incursões pela Peneda. A paragem deu para repôr as calorias mas favoreceu o aparecimento das cãimbras logo que arrancámos, rumo ao nosso ponto de partida.
Para mim, o regresso resumiu-se a gerir o cansaço muscular e as cãimbras. O cansaço pedia que eu parasse mas se o fizesse, o mais provável era o músculo entrar em auto-gestão logo que retomasse caminho. Se não retomasse o caminho, teria que dormir no monte. Um trilema desgraçado.
No topo da serra, junto da nascente do rio Vez, cruzámo-nos com o mesmo grupo que por nós tinha passado no início. Tranquilamente, descansavam junto ao ribeiro. Com medo de arrefecer músculos e voltar a ter das minhas mazelas, continuo em frente sem grandes confraternizações. Antes parecer rude que sofrer...
O gran finale foi uma extensa descida por trilhos pedregosos, como não poderia deixar de ser. Mais de 1000 m de altitude perdidos, na sua maior parte, aos solavancos, encosta abaixo. Chegávamos, finalmente, aos carros, com o dia a findar, o sol escondido por trás do imponente relevo. Curioso como, depois de sofrer tanto, só tinha um sorriso de orelha a orelha.
Concluindo, repito o que já disse noutra ocasião: eis aqui um passeio que aconselho “1) a quem queira um desafio físico interessante, 2) aos que estão bem preparados fisicamente e poderão apreciar as magníficas vistas sobre a Serra da Peneda bem como os rebuçados técnicos oferecidos pelo esquecimento a que estes caminhos são, felizmente, votados, e 3) ao Pedro, para levar um incauto consigo e, depois, escrever a sua versão do passeio.” O incauto, ficou claro desta vez, fui, obviamente, eu.