[Crónica] Grande Rota do Ave e Vizela

indy

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Grande Rota do Ave e Vizela

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A saída foi quase pontual. Pouco passava das 8:00 da manhã quando partimos da nossa "sede", em Delães. Pelos vistos as padarias são locais previlegiados de encontro para os grupos de ciclistas pois umas centenas de metros à frente lá estava outro grupo preparado para largar amarras, os nossos conhecidos do BTT Pinoco.

Nós éramos apenas quatro: eu, Tico, ET e 350plus. O objectivo era ambicioso e tínhamos de ser autónomos daí que, pessoalmente, me sentia um bocado pesado: ferramentas, água e comida, roupa de inverno, GPS, luzes (ah pois é!...) e, claro, a indispensável máquina fotográfica.

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Engraçados os temas de conversa que se arranjam enquanto se pedala. Íamos nós entretidos numa interessante discussão sobre balanças, dinamómetros e a aceleração da gravidade quando, de repente, "Furo!". Isto começava bem, ainda só tínhamos uns 4km nas pernas e já havia contratempos. A vitima tinha sido o ET. Raios parta o gajo! Não conhece o percurso, não sabe de mecânica, não tira fotos e ainda por cima tem avarias. Ao menos antigamente ainda apanhava aqueles empenos monumentais, para nosso gáudio. Hoje em dia nem isso. Enfim, um perfeito inútil.

O responsável pelo furo foi um prego de dimensão considerável. Com pouca paciência para confiar numa eventual actuação do liquido anti-furo, optou-se pela troca de câmara.

A subida para Airão, num misto de estrada e caminhos de terra, serviu na perfeição para nos aquecer na manhã fria. Já no alto, a cidade de Braga estendia-se no vale à nossa esquerda. Descemos a boa velocidade até Morreira e passado um pouco já atacávamos um dos desafios do dia, a subida para Sta. Marta.

Uma opção diferente da habitual facilitou um pouco a ascensão, fazendo-nos passar duas dezenas de metros abaixo do topo e seguindo de imediato para a Falperra. Atendendo a que os dias são pequenos nesta altura do ano, aligeirámos o projecto de percurso original com alguns atalhos deste género, numa tentativa de o tornar mais exequível.

Mais algumas subidas, por vezes técnicas e feitas em primeira velocidade, levaram-nos até aos arredores do Sameiro donde descemos até ao parque do Sto. António, local aprazível onde fizemos a primeira pausa.

Depois da Sobreposta a transposição da Serra dos Picos foi suave e pouco depois estávamos a contemplar a nascente do Rio Este. Seguiu-se um dos troços mais agradáveis do percurso, a Via XVII pela encosta da Serra do Carvalho. Que prazer são aqueles kms, essencialmente descendentes, através daquela paisagem. Só experimentando.

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Estávamos agora nos arredores da Póvoa do Lanhoso e os kms seguintes, baseados num track duma qualquer maratona ali da zona, eram desconhecidos para nós. Mas foram uma agradável surpresa. Contornámos o castelo e entrámos numa sequência de trilhos com pequenas subidas e descidas, ao estilo rompe-pernas. Os single-tracks eram frequentes e as zonas técnicas bastante acessíveis, se bem que nem sempre houvesse tracção suficiente para trepar alguma rocha molhada.

Em Penedos Alvos efectuamos mais um atalho relativamente ao percurso original mas a pequena subida em asfalto que se seguiu demonstrou, como bem salientou o 350plus, "There Ain't No Free Lunch".

Por aquela altura estava a ficar apreensivo. Aqueles kms estavam a revelar-se mais trabalhosos do que aquilo que estava à espera e ainda estava para vir a grande dificuldade do dia. A descida que se seguiu, até ao Rio Ave, de inclinação acentuada, não prometia nada de bom, caso do outro lado tivéssemos de fazer a subida equivalente.

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Momento divertido do dia. Uma descida com alguns regos, com a maioria a escolher a trajectória errada e a ser obrigada a parar enquanto o Tico, gozando conosco, seguia pela trajectória certa... até fazer um OTB. Demonstrando a habitual camaradagem, ficámos ali encostados às bicicletas a vê-lo gemer. Apenas o ET se pronunciou: "Então, ninguém pega na máquina fotográfica?"

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Atravessámos o rio usando a ponte sobre a albufeira da Barragem das Andorinhas, a jusante da Barragem do Ermal, e começámos a subir a N205. Íamos fazer uns bons kms por estrada. Uma subida suave e agradável que o ET conhecia bem de um anterior "épico" que tinha efectuado de roda fina e que me ia descrevendo. Apesar disso as minhas pernas não iam tão soltas como gostaria. Parámos num café. Podia ser que a coisa melhorasse daqui para a frente...

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Era agora! Em Guilhofrei virámos à direita abandonando finalmente a estrada nacional e não tardou a que tomássemos contacto com os gradientes que íamos enfrentar. A inclinação foi aumentando abruptamente até obrigar toda a gente a pôr o pé no chão. Assim prosseguimos durante algumas dezenas de metros até a coisa acalmar. Acalmar... é uma força de expressão, que aquilo continuava a não ser fácil. Uns agricultores que se encontravam a fazer a limpeza da mata não nos auguraram nada de bom para o que ainda restava da subida. Nada que nos fizesse desanimar.

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Ia nitidamente em perda. As pernas recusavam-se a obedecer ao cérebro. Se fosse um avião uma luz vermelha estaria a piscar no painel de instrumentos acompanhada duma sirene irritante e da mensagem "Stall! Stall! Warning!". À minha frente o ET começava também a perder velocidade e ao olhar para o que se seguia a uma curva, acabava de arrear. Imitei-o de imediato. O Tico e o 350plus lá continuavam. Vê-los a pedalar em pé em 1ª velocidade dava uma bela definição da dificuldade da subida. Quando nos voltámos a juntar perguntaram-me se sabia o nome daquela elevação. Como não tinha tomada nota disso o 350plus resolveu baptiza-lo logo ali como "Monte F.D.P."!

A subida ainda durou mais um pouco (fazendo jus ao recente baptismo). No topo havia uma espécie de circuito de manutenção com aparelhos para vários exercícios distribuídos ao longo do caminho. Quem mais, além talvez dos funcionários do parque eólico, se lembraria de ir fazer jogging para aquele lugar ermo? Parámos para comer uma barra.

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Rolávamos agora pelos largos estradões do parque eólico. Na encosta à nossa esquerda via-se Luilhas, aldeia conhecida por ceder o nome a um dos troços mais famosos do antigo Rally de Portugal.

Ao atravessarmos a aldeia de Monte... pffff. Novamente furo na roda traseira do ET. Lá se resolveu aquilo rapidamente. Estava ansioso para continuar pois sabia que nos aguardava agora uma descida técnica que ia fazer as delícias, minha e dos outros. Dada a minha crença de que temos mais a ver com os mouros do que com os celtas, ao contrário do que muitos tendem a afirmar, soltei o meu "Alláh Akbar!" e lancei-me por lá abaixo seguido pelo resto da trupe.

A descida não desiludiu. Nos metros finais improvisei um pouco mas acabei por me "cortar" ao último drop. O Tico, que me seguia de perto já com o rabo atrás do selim foi surpreendido pela minha paragem repentina, batendo com aquela parte do corpo que nenhum homem gosta de magoar e ficando a gemer (para gáudio dos outros, claro). Ouviu-se nitidamente um pfffffffff! Pensei "Oh, diabo! A coisa desta vez foi grave. Deve ter feito uma perfuração...". Afinal era apenas o 3º furo do ET. Raios parta o gajo! Enquanto ele punha mãos à obra fomos-lo ameaçando que estava a um passo de ser abandonado no meio do monte!

Continuámos a descer até à Barragem da Queimadela (Rio Vizela), um trilho rápido e cheio de curvas com relevé. Eu, o Tico e o ET já o conhecíamos mas é daqueles que nunca nos cansamos de repetir.

Até Fafe utilizámos mais alguns trilhos da maratona homónima, muito bons também. As dificuldades não foram por aí além, tirando talvez uma zona de lama que transformou pneus 2.1 em 3.0

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O objectivo estava cumprido: tínhamos chegado a Fafe ainda com a luz do Sol. Restavam-nos agora apenas 14km de ciclovia até Guimarães e mais outros tantos até casa. Utilizando a técnica dos conta-relógio por equipas, bem colados e revezando-nos à vez na frente, chegámos a Guimarães em tempo recorde.

No entanto a noite já tinha chegado e parámos então à saída da ciclovia para montar as luzes e vestir algum agasalho. A travessia da cidade foi efectuada em ritmo de nocturno citadino, através de ruas iluminadas e já em ambiente de Natal.

Ainda fizemos alguns trilhos em terra até chegar a casa, mas sem nada de especial a anotar.

Foi com satisfação que entrámos em Delães. Tal como alguém disse ultimamente: "Yes, we can!". O meu agradecimento aos colegas de jornada pelo dia bem passado.

Restantes fotos aqui.
 

RPires

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Mais uma grande volta e um grande relato...e o pessoal aqui em baixo a babar-se e a sonhar, sim sonhar mesmo, pois estes valores são qq coisa...

Já não consigo vir ao forúm sem passar pelas crónicas, continuem que o vosso grupo é de fazer inveja mesmo...
 

350plus

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Re: [Crónica] Grande Rota do Ave e Vizela

Parte Um - Introdução

O plano chegou a meio da semana.

    -Estás disponível sábado? Para o dia todo?

Respondi que sim e ele foi descrevendo o percurso. As montanhas a subir, as cidades a unir e finalmente, a quilometragem total.

    -Cento e trinta quilómetros.

Fiquei logo com um nó na garganta. Cento e trinta quilómetros, nesta altura do ano e em terreno tão adverso são um desafio. Os dias são curtos, as manhãs são frias. Lama nos trilhos, pedras húmidas e outros obstáculos são obviamente de esperar. Mas concordei. Não se recusam convites desta gente pois a pena para tal é ficar em casa a pensar no que se poderia ter conseguido fazer e nos sítios únicos onde se poderia ter passado.

Combinou-se sair ás 8 da manhã de Delães. As 8 horas são o limite máximo para o guia, que diz ver o seu rendimento muito prejudicado se for obrigado a sair da cama a horas indecentes. Face ao acumulado e à distância em jogo, umas contas rápidas de cabeça mostravam que esta volta ia-se arrastar para a escuridão da noite. Consequentemente, os Camelbaks foram recheados não só de sandes e barras energéticas mas também de pilhas alcalinas e baterias de níquel cádmio. Exigências específicas desta altura do ano.

Parte Dois - Braga por um canudo

E ás 8 da manhã estávamos na Sede. Três elementos do grupo (Eu, Indy e Tico) tomavam cafés e compravam água para encher até ao topo os Camelbaks, enquanto se esperava pela chegada do quarto elemento, um pouco atrasado. O guia esperava que este atraso do ET o tornasse suficientemente nervoso para empenar logo nas primeiras subidas. Uns 10 minutos depois da hora lá chegou o homem em falta. Seguiram-se umas últimas verificações ao material e fizemos-nos à estrada, pedalando em ritmo rápido em direcção a Norte.

Umas curtas rampas de asfalto em Santa Maria de Oliveira serviram de aquecimento. Infelizmente, não serviu de muito, pois uns quilómetros à frente surge o primeiro contratempo. Numa descida rápida até Mogege, o ET acertou em cheio com o pneu de trás num prego de 5 cm. Furo instantâneo e obrigatória paragem para substituição da câmara de ar.

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Com todas as máquinas novamente operacionais era altura de atacar a primeira dificuldade do dia, o cume de Airão. Esta subida é feita quase toda em asfalto, terminando num singletrack cerrado. Embora o grupo se tenha partido em dois logo no início da subida, esta foi ultrapassada sem dificuldades de maior.

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A descida em estradão que se segue é rápida e sinuosa. Chegado o fim da descida o ET conta-nos do seu encontro quase imediato com a queda. Uma das mãos saltara-lhe do guiador e só com muita sorte conseguiu evitar o tombo. Sobressaltado por esta história de horror velocipédico fiz a descida em estrada que se seguia com muita calma, distanciando-me um pouco do resto do grupo. O asfalto molhado fez-me relembrar os fantasmas e as cenas do meu acidente no início deste ano. Como Hollywood tem vindo continuamente a demonstrar, o remake de filmes antigos é definitivamente algo a evitar.

O ataque ao Sameiro foi feito por Santa Marta das Cortiças. A subida começou dura e brutal com a chamada "Rampa do Jorge", cuja toponímia é devida ao facto do nosso companheiro Jorge GT ter sido capaz de a subir montado. Nós nem isso tentamos fazer, conservação de energias era a palavra de ordem. Esse mote também fez com que a meio da subida descêssemos para Oeste um pouco, isto para ir apanhar uma rota mais simpática para o topo.

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Uma sucessão de trialeiras deixou-nos na Falperra. Seguimos a estrada mas rapidamente a abandonamos para tomar um caminho mais interessante para o topo do Sameiro. De estradão em estradão, pontuado por um ou outro singletrack, chegamos lá cima. Braga estendia-se lá em baixo enquanto descíamos em direcção ao Parque de Santo António, local onde fizemos o primeiro reforço alimentar.

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Parte Três - A parte rolante do percurso

O objectivo desta parte do percurso era simples: - unir por trilhos o Sameiro à barragem do Ermal passando pela Póvoa do Lanhoso.

Começamos por abordar a Serra dos Picos, que com os seus planaltos abertos e subidas suaves deixou-se conquistar facilmente. Pelo caminho passamos pela nascente do rio Este, marcada por uma piscina de pedra onde são colectadas as águas pluviais. Obras de saneamento no trilho imediatamente a seguir à nascente forçaram-nos a desviar por dentro de uma garagem, onde navegamos o nosso caminho entre um Mercedes e alfaias agrícolas. Espero que ninguém tenha arranhado o carro com os SPD's.

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Tomamos agora a via romana que unia Bracara Augusta a Aquae Flaviae. A vista deste percurso é extraordinária, estando plantada às portas do Gerês. A via foi descida a elevada velocidade, com as bicicletas a saltar e a escorregar nas húmidas pedras milenares que dão a forma ao caminho. Em poucos minutos estávamos na Povoa do Lanhoso, dominada pelo seu castelo.  Curiosamente o castelo deu azo a uma pequena conversa sobre as motivações e tendências do nosso primeiro monarca, D. Afonso Henriques, para prender progenitoras e para a "porrada".

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Os trilhos que seguiram tinham tanto de duros como de belos. Para chegar ao Ermal cruzamos inúmeras aldeias, rios e riachos pelo meio de uma perfeita paisagem de Outono. O som dos pneus a calcar as folhas e a lama foi a nossa companhia durante esta secção onde pouco conversamos. Isto porque o constante sobe desce destes trilhos começou a deixar marcas em todos. O ET, que tinha vindo a ficar um pouco para trás, pediu uma pequena pausa. Todos acederam de bom grado e fez-se novo reforço das reservas energéticas.

Restava agora descer até Brunhais, onde íamos atravessar o rio e concluir esta parte do percurso. Um estradão rasgado pelas águas da chuva revelou-se um adversário ao nível da técnica descendente do Tico e apanhou-lhe o pneu de frente. Resultou daí uma queda sem danos graves e uma foto para a posteridade.

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Quase finda a descida, o Indy disse irónicamente:

    - E esta era suposta ser a parte rolante do percurso...

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Parte Quatro - Subida aos Infernos e descida ao Paraíso

Com mais de 60 km no corpo era agora altura de enfrentar a maior dificuldade do dia, a subida aos 900 metros do topo da serra do Maroiço. Eu na altura não sabia o nome da serra, mas sabia o que me estava a custar a subir, logo baptizei aquilo de monte F.D.P.

A subida ao monte foi feita em várias partes distintas. Primeiro uma estrada de asfalto, longa e de inclinação suave. Deu-me bastante que fazer porque tive que parar logo no início para retirar um pico das luvas e assim vi-me relegado para o fim do grupo. Graças à ajuda do Tico lá vim a uma velocidade um pouco mais elevada para não fazer o resto do grupo perder tempo. Finda esta zona parámos num café para beber uma cola e comer uns salgados. Da janela do bar víamos o caminho que ainda restava até ao topo... e não era nada bonito.

A segunda parte da subida consistiu numa série de estradões apertados que saiam da aldeia de Vila Boa. A inclinação era tão forte que dificilmente conseguíamos fazer mais de 10 metros montados na bicicleta.

Finalmente chegamos à ultima e mais longa parte da subida, um estradão largo e sinuoso com inclinações absurdamente elevadas. Tenho que confessar que eu, um adepto das singlespeeds, me vi frustrado ao carregar na patilha de redução de mudanças e constatar que não havia mais nenhuma disponível. Estava frio e ventoso nesse monte mas o suor escorria-me abundantemente pela cara. Eu e o Tico seguíamos em ritmo certo à frente. Mais atrás o Indy e ET seguiam a pé, vítimas da brutalidade da subida. A meio da subida os músculos das pernas do ET deixaram de cooperar e só com uns minutos curtos de repouso lá voltaram a ser utilizáveis.

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Mas o topo chegou e com ele a imagem de simbiose tecno-natural das eólicas e montanhas. A sensação de alívio era patente na cara de todos, a dificuldade maior do dia estava para trás.

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O que se seguiu foi para mim a parte mais divertida do percurso, um troço reaproveitado da primeira edição da Maratona de Fafe e que nos levou por dezenas de descidas técnicas até ao centro da cidade famosa pela sua Justiça pouco convencional.

As 4 bicicletas e respectivos ciclistas saltitavam pelo terreno pedregoso a ritmo considerável, que apenas foi interrompido por mais dois furos seguidos do ET.  Warning!: As câmaras de ar mais baratas da Decathlon são feitas com restos de pneus de autocarros indianos reciclados e duram menos tempo que um vaso da Dinastia Ming numa série da desenhos animados. 

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A zona que mais me agradou foi a descida imediatamente antes da barragem da Queimadela. A adrenalina sobe à medida que se negoceia as curvas encadeadas da descida e os componentes da bicicleta cooperam com o terreno para maximizar a velocidade. Uma delícia bem merecida quando o conta quilómetros indicava 8 horas de viagem.

O resto do percurso até Fafe foi feito por um belo singletrack que serpenteia as montanhas. Curiosamente, à entrada dessa zona fomos avisados por uma aldeã da perigosidade do mesmo, uma vez que na semana anterior um colega do pedal teria ficado muito maltratado após uma queda nessa zona. Ficam aqui expressadas as melhoras para esse colega.

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Neste trilho é de registar uma zona que se tinha transformado por completo num rio cheio de areia e lama. Todos os nosso pneus foram convertidos na medida de 2.5  com um belo composto duplo de Borracha-Lama.

Apesar destas dificuldades chegamos a Fafe em boa forma e rapidamente nos dirigimos para a ciclovia Fafe-Guimarães. Era tempo de voltar para casa.

Parte Cinco - Midnight Express

Quem viu o clássico filme "Midnight Express" sabe que esta é uma expressão, em gíria prisional, para uma fuga. E foi exactamente isso que fizemos, fugimos da noite, do frio e do cansaço para o merecido final da volta.

Paramos no café perto do inicio da ciclovia para beber uma cola e comer uma barra energética. A paragem foi rápida porque a noite estava a cair e ainda faltavam 30 a 40 km.

O que se passou a seguir foi algo de verdadeiramente alucinante. Seguimos em fila pela ciclovia, cada um fazendo um turno a puxar pelo grupo. As velocidades elevadas combinadas com a pequena largura da pista resultaram numa sensação de velocidade enorme. Éramos um comboio expresso a seguir pela antiga linha férrea. E embora tivéssemos todos mais de 100 km nas pernas ainda éramos capazes de passar pela frente e impor um ritmo brutal de cerca de 30 km/h a subir. Penso que não falo só por mim quando digo que fiquei surpreendido com isto.

Quando chegamos a Guimarães a escuridão era já grande. Tempo de tirar as luzes dos seus locais de armazenamento e montá-las nas bicicletas.

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Com o ET a guiar, atravessamos o animado centro de Guimarães entre trânsito e peões. As luzes das nossas bicicletas misturavam-se com as luzes do trânsito e as primeiras decorações natalícias. Serpenteando nos acessos da cidade, saímos no escuro da noite em direcção a Gondar e depois de atravessar esta localidade ainda houve tempo para passar no famoso Trilho Maldito, segundo me contam local de quedas humilhantes para um ilustre membro do CEVA. Os locais pareciam no entanto empenhados em que não caísse lá eu, pois avisavam-me antecipadamente das dificuldades.

E finalmente, 11 horas depois de a deixarmos para trás, a localidade de Delães apareceu à nossa frente. Parece inacreditável, mas nem por um momento pensei que não fossemos cumprir o objectivo. Esta foi uma volta quase perfeita onde com planeamento adequado e muita força de vontade dos participantes se fez algo para recordar durante muitos anos.

Um grande abraço aos três que me guiaram e acompanharam... e venha a próxima!
 

jorgegt

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Muitos parabens para os protagonistas desta incursão, e como é costume do INDY o relato está 5*****, belas fotos de um percurso espetacular, onde os km's e o acumulado de subidas é bastante assustador :twisted:, mas pena ter trabalhado de tarde e não ter ido :evil:
Parabens, tambem para o Eduardo pelo belo relato que descreveu muito bem o passeio, tambem com ajuda de belas fotos e que me fez recordar daquela bela subida, que pelo vistos foi batizado com o meu nome, sem conhecimento e que me enche de orgulho :#1: e ficam sabendo que esta terça já lá vou fazer :twisted:......e me faz lembrar do video que fiz, depois de ter subido e ficar a comtemplar a malta a levar as bikes á mão :rotfl:
O ET e os furos, citação do INDY:"A vitima tinha sido o ET. Raios parta o gajo! Não conhece o percurso, não sabe de mecânica, não tira fotos e ainda por cima tem avarias. Ao menos antigamente ainda apanhava aqueles empenos monumentais, para nosso gáudio. Hoje em dia nem isso. Enfim, um perfeito inútil." :rotfl:
E por fim o TICO a estragar a LAPIERRE da "esposa"(diz ele), com os seus dotes e qualidades no OTB :twisted:......tou a brincar.
JORGEGT
 

pin7as

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indy said:
Pelos vistos as padarias são locais previlegiados de encontro para os grupos de ciclistas pois umas centenas de metros à frente lá estava outro grupo preparado para largar amarras, os nossos conhecidos do BTT Pinoco.

eh verdade! creio que falo pelo grupo ao dizer que um dia destes podem vir tomar o pequeno almoço conosco!

digo apenas o pequeno almoço, porque eu fiquei :shock: depois de ler isto. quando nos cruzámos, em conversa com o *sognimod*, perguntavamo-nos onde iriam tão ilustres personagens do btt em multispeed e com a pressa de quem leva lume no r***. a verdade é que depois de algumas suposições, não estava preparado para 120km e 2800mt de acumulado. ler os vossos relatos é inspirador e ver as vossas fotos só faz aumentar a paixão que temos por este desporto.

ah! posso confirmar a veracidade da vosso regresso nocturno, uma vez que quando ia pro trabalho, na zona de pevidém, vi 4 ciclistas em velocidade cruzeiro, com umas luzes de natal a piscar, tive logo a certeza que eram vocês :D

malucos!!! :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:
 

Tico

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Do que está escrito só me resta dizer grande passeio, bela companhia, e estou bem tanto do furo como da queda, apenas uma constipação, de que estou a ficar preocupado.
 

lobo solitario

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O regresso das Crónicas (com C maiúsculo). Já estava com saudades!
Uns pensamentos que me assolaram o espíriro ao ler os vossos textos:
350plus: Bem disse eu, há uns meses atrás, que o Incauto de hoje é o empenador de amanhã... e não falo só de proezas do pedal mas, também, da pena!
ET: alargando conceitos, direi só o seguinte: "o chibo de hoje é o chibado de amanhã"
Tico: só gostava de lá ter estado, solidário com o resto dos "amigos" e com um amplo sorriso na cara, a vê-lo agarrado aos seus preciosos apêndices.
Indy: este deixa-me preocupado. Qual será a ideia de um "treino" destes? Será que se prepara para transformar algum empenador num Incauto?
 

cagaréu

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350plus said:
Tomamos agora a via romana que unia Bracara Augusta a Aquae Flaviae. A vista deste percurso é extraordinária, estando plantada às portas do Gerês. A via foi descida a elevada velocidade, com as bicicletas a saltar e a escorregar nas húmidas pedras milenares que dão a forma ao caminho.


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Espectáculo!! ... mais um report Potentíssimo como já nos habituaram :yeah:
 

ET

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À terceira foi de vez…

Ainda estou a saborear o “épico”…

Acordei sobressaltado e rapidamente percebi que não foi um acordar normal. Tomei o pequeno-almoço e dirigi-me à máquina que estava preparada desde o dia anterior, pneu novinho, IRC Mythos, o meu pneu de eleição… Saí e o primeiro problema surgiu, o clip direito começou a rodar e não conseguia desencaixar do pedal! Que raiiiiiiiva. Troquei de botas e lá segui para a sede. Entretanto lembrei-me que as luzes tinham ficado em casa ()! No caminho para a sede o telefone tocou e imaginei de imediato que seria um dos três que me aguardavam. E era. Estava atrasado, sem luzes, com botas diferentes das do costume e ainda queria tomar um café… Como cheguei atrasado o rol de provocações e críticas foi imediato e não tive remédio senão escutá-las sob a égide de um sorriso amarelo, mesmo muito amarelo.

Iniciamos o dia com uns minutos de atraso e volvidos alguns km’s já estava a furar. Um prego ferrugento perfurou o pneu novinho (que raiiiiiiva) e câmara só parando no aro. Penso que Indy, Tico e Plus se aperceberam que estava mesmo zangado.

Ultrapassamos Airão, Sta. Marta, Falperra, Sameiro e depressinha entramos na Via XVII pela encosta da Serra do Carvalho. O Plus estava encantado com este trilho, não era para menos, é de facto muito bom!

Depois de Póvoa de Lanhoso foi uma agradável surpresa. Trilhos muito bons de beleza considerável. A dificuldade técnica não era demasiada mas revelou-se extenuante. Um excelente rompe pernas que me obrigou a gerir e a negociar de forma inteligente o desgaste.

Esperança, foi a localidade, se não estou em erro, onde atravessamos o Rio Ave para a N205. Alguns Km’s por estrada antecipavam o momento alto do dia, a subida F.D.P.

Sobre esta subida poderia dedicar-lhe um relato mas como escrever não é o meu forte, vou apenas referir duas coisas: primeira, não se deixem enganar pela vontade de subir uns bocaditos nos primeiros metros; segunda: a subida dura, dura, dura e endurece cada vez mais, mais, mais… Não estou a exagerar! Este declive destruiu, por um par de horas, e de forma incisiva o meu alter-ego, obrigou-me a ajoelhar e a rezar… para que o tormento terminasse.

Mas como ainda está para vir o declive que arrebente com o ET e com mais ou menos dificuldade, neste caso mais, prosseguimos a jornada.

Entravamos na descida para Fafe. Descida é uma forma de dizer que o percurso, a partir daqui, seria tendencialmente composto por descidas, e que descidas. Não sem antes ter outro furo…

Iniciamos uma trialeira arrebatadora seguida de zonas técnicas de arrepiar. Agora sim, a minha confiança crescia.

Ponto alto do dia: descida técnica; Indy, Tico e ET separados por um par de palmos; Eduardo assustado; Indy pára num drop; Tico pára mas acerta com os testículos no selim; Tico geme; Indy e ET riem-se; ouve-se algo a esvaziar; ET fica pasmado a olhar para a roda de trás; Indy fica aliviado por não serem os testículos do Tico. :rotfl:

Pronto, o resto já vocês sabem, a tanga do costume…

Continuamos para Fafe e os trilhos mantinham um nível considerável.

A parte final do percurso seria o regresso pela ciclovia. Aqui, foi imposto um ritmo que considero brutal dada a quantidade de km’s já efectuados. Esta ligação deve ter durado cerca de 20 minutos e pensava eu meia hora… Foi fantástico, parecia um autêntico contra relógio por equipas!

Quero salientar a passagem por Guimarães, cidade berço da nação e que apresentava uma decoração nocturna a preceito. Só fiquei admirado com o olhar de algumas pessoas, provavelmente nesta cidade só se pedala de dia…

Passava um pouco das 19H00 e chegávamos extenuados mas com um sentimento de conquista único.

Aos meus companheiros, Tico e Indy, quero agradecer-lhes as câmaras de ar que puseram ao meu dispor e ao Plus a que não necessitei…

E... continuo a saborear o "épico"...

ET
 

Ferrão

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Como se uma boa crónica já não fosse suficiente, somos brindados com 3. Faltará apenas o ponto de vista do Tico.
Esta gente escreve como pedala, muito e bem.
 

José Martins

Administrator
Realmente, estas "Crónicas de Bikers" são do melhor.
Já não consigo passar sem dar por aqui uma olhada de vez em quando e o resultado, é sempre um misto de vontade de ter estado presente, com outra parte de profunda pena, quase inveja :twisted: :mrgreen: por tal não ter acontecido.
Vou-me repetir em relação a outros tópicos, mas acho que o devo escrever: obrigado por partilharem conosco estes momentos.

Um abraço a todos.
 

ET

New Member
lobo solitario said:
ET: alargando conceitos, direi só o seguinte: "o chibo de hoje é o chibado de amanhã"

Chibar é uma arte milenar, e que, só está ao alcance daqueles que, com destreza, descobrem verdadeiros incautos prontos a serem chibados!

ET
 

floopi

New Member
Brutos, o que dizer mais de quem faz 123kms com 2800 mts de acumulado...

Brutos brutos brutos (estou aqui cheio de inveja :( )

Que belas imagens, que belos relatos...

Está mais que provado que hoje em dia em qualquer ovelha se esconde um lobo...
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Quando for grande quero ir com voces... :mrgreen:
 

Myrage

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Confesso que todos os dias passo em Delães, e tomo o meu Cafezinho matinal pelas 8h45 no Café Cunha. (não vá uma alma caridosa deixar o café pago para amanhã...!)
Confesso que sempre que leio "Grande Rota" só me apetece apagar da memoria a minha ultima GR do Empeno.
Confesso que se um dia me infiltrar numa aventura qualquer não será de SS.

Enfim...... confesso que adorei.

MY
 

pin7as

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Myrage said:
Confesso que todos os dias passo em Delães...

:mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:

Tu queres ver que agora Delães virou centro estratégico do btt!!!! :shock: :shock: :shock:

primeiro o Senhor Indy:
indy said:
Pouco passava das 8:00 da manhã quando partimos da nossa "sede", em Delães.

depois o 350plus:
350plus said:
Combinou-se sair ás 8 da manhã de Delães.

e agora o Myrage. Algo se passa.


Ah!!!! e também anda por lá um grupo de cromos (bttpinoco) :rotfl: :rotfl: :rotfl: :rotfl: :rotfl:
 

indy

Member
Pelo que li, parece que o pessoal gostou das crónicas. Ainda bem. Eu também gosto de ler as crónicas que outros escrevem por aqui. São sempre um fonte de inspiração para novas aventuras. Além disso, escrever dá um enorme prazer pois enquanto o fazemos estamos a reviver todos aqueles momentos fantásticos.

Vamos a ver se para a semana há mais crónicas... certo, lobinho? :wink:
 

jmoniz

New Member
Boa volta, sim senhor, algumas dessas zonas também são bem conhecidas cá pela malta, nascente do Ave, Stº António, a Via XVII, etc.
Por cá também nos divertimos bastante no passado sábado.

Estou a ultimar a nossa aventura, amanhã coloco online :twisted:
Posso apenas para já dizer que os valores envolvidos são menores.

Desnível Acumulado: 1808,49m
Distância Total: 77,68 Km

Lobinho??
Gostei da provocação. :lol:


JMoniz

indy said:
Vamos a ver se para a semana há mais crónicas... certo, lobinho? :wink:
 

lobo solitario

New Member
Re: [Crónica] Grande Rota do Ave e Vizela

indy said:
Vamos a ver se para a semana há mais crónicas... certo, lobinho?  :wink:

A edição do Público de hoje traz uma notícia que me deixou a pensar...

maisde50ym2.jpg


Será que devo assumir que está nas minhas mãos escolher uma opção?
 
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