Grande Rota do Ave e Vizela
A saída foi quase pontual. Pouco passava das 8:00 da manhã quando partimos da nossa "sede", em Delães. Pelos vistos as padarias são locais previlegiados de encontro para os grupos de ciclistas pois umas centenas de metros à frente lá estava outro grupo preparado para largar amarras, os nossos conhecidos do BTT Pinoco.
Nós éramos apenas quatro: eu, Tico, ET e 350plus. O objectivo era ambicioso e tínhamos de ser autónomos daí que, pessoalmente, me sentia um bocado pesado: ferramentas, água e comida, roupa de inverno, GPS, luzes (ah pois é!...) e, claro, a indispensável máquina fotográfica.
Engraçados os temas de conversa que se arranjam enquanto se pedala. Íamos nós entretidos numa interessante discussão sobre balanças, dinamómetros e a aceleração da gravidade quando, de repente, "Furo!". Isto começava bem, ainda só tínhamos uns 4km nas pernas e já havia contratempos. A vitima tinha sido o ET. Raios parta o gajo! Não conhece o percurso, não sabe de mecânica, não tira fotos e ainda por cima tem avarias. Ao menos antigamente ainda apanhava aqueles empenos monumentais, para nosso gáudio. Hoje em dia nem isso. Enfim, um perfeito inútil.
O responsável pelo furo foi um prego de dimensão considerável. Com pouca paciência para confiar numa eventual actuação do liquido anti-furo, optou-se pela troca de câmara.
A subida para Airão, num misto de estrada e caminhos de terra, serviu na perfeição para nos aquecer na manhã fria. Já no alto, a cidade de Braga estendia-se no vale à nossa esquerda. Descemos a boa velocidade até Morreira e passado um pouco já atacávamos um dos desafios do dia, a subida para Sta. Marta.
Uma opção diferente da habitual facilitou um pouco a ascensão, fazendo-nos passar duas dezenas de metros abaixo do topo e seguindo de imediato para a Falperra. Atendendo a que os dias são pequenos nesta altura do ano, aligeirámos o projecto de percurso original com alguns atalhos deste género, numa tentativa de o tornar mais exequível.
Mais algumas subidas, por vezes técnicas e feitas em primeira velocidade, levaram-nos até aos arredores do Sameiro donde descemos até ao parque do Sto. António, local aprazível onde fizemos a primeira pausa.
Depois da Sobreposta a transposição da Serra dos Picos foi suave e pouco depois estávamos a contemplar a nascente do Rio Este. Seguiu-se um dos troços mais agradáveis do percurso, a Via XVII pela encosta da Serra do Carvalho. Que prazer são aqueles kms, essencialmente descendentes, através daquela paisagem. Só experimentando.
Estávamos agora nos arredores da Póvoa do Lanhoso e os kms seguintes, baseados num track duma qualquer maratona ali da zona, eram desconhecidos para nós. Mas foram uma agradável surpresa. Contornámos o castelo e entrámos numa sequência de trilhos com pequenas subidas e descidas, ao estilo rompe-pernas. Os single-tracks eram frequentes e as zonas técnicas bastante acessíveis, se bem que nem sempre houvesse tracção suficiente para trepar alguma rocha molhada.
Em Penedos Alvos efectuamos mais um atalho relativamente ao percurso original mas a pequena subida em asfalto que se seguiu demonstrou, como bem salientou o 350plus, "There Ain't No Free Lunch".
Por aquela altura estava a ficar apreensivo. Aqueles kms estavam a revelar-se mais trabalhosos do que aquilo que estava à espera e ainda estava para vir a grande dificuldade do dia. A descida que se seguiu, até ao Rio Ave, de inclinação acentuada, não prometia nada de bom, caso do outro lado tivéssemos de fazer a subida equivalente.
Momento divertido do dia. Uma descida com alguns regos, com a maioria a escolher a trajectória errada e a ser obrigada a parar enquanto o Tico, gozando conosco, seguia pela trajectória certa... até fazer um OTB. Demonstrando a habitual camaradagem, ficámos ali encostados às bicicletas a vê-lo gemer. Apenas o ET se pronunciou: "Então, ninguém pega na máquina fotográfica?"
Atravessámos o rio usando a ponte sobre a albufeira da Barragem das Andorinhas, a jusante da Barragem do Ermal, e começámos a subir a N205. Íamos fazer uns bons kms por estrada. Uma subida suave e agradável que o ET conhecia bem de um anterior "épico" que tinha efectuado de roda fina e que me ia descrevendo. Apesar disso as minhas pernas não iam tão soltas como gostaria. Parámos num café. Podia ser que a coisa melhorasse daqui para a frente...
Era agora! Em Guilhofrei virámos à direita abandonando finalmente a estrada nacional e não tardou a que tomássemos contacto com os gradientes que íamos enfrentar. A inclinação foi aumentando abruptamente até obrigar toda a gente a pôr o pé no chão. Assim prosseguimos durante algumas dezenas de metros até a coisa acalmar. Acalmar... é uma força de expressão, que aquilo continuava a não ser fácil. Uns agricultores que se encontravam a fazer a limpeza da mata não nos auguraram nada de bom para o que ainda restava da subida. Nada que nos fizesse desanimar.
Ia nitidamente em perda. As pernas recusavam-se a obedecer ao cérebro. Se fosse um avião uma luz vermelha estaria a piscar no painel de instrumentos acompanhada duma sirene irritante e da mensagem "Stall! Stall! Warning!". À minha frente o ET começava também a perder velocidade e ao olhar para o que se seguia a uma curva, acabava de arrear. Imitei-o de imediato. O Tico e o 350plus lá continuavam. Vê-los a pedalar em pé em 1ª velocidade dava uma bela definição da dificuldade da subida. Quando nos voltámos a juntar perguntaram-me se sabia o nome daquela elevação. Como não tinha tomada nota disso o 350plus resolveu baptiza-lo logo ali como "Monte F.D.P."!
A subida ainda durou mais um pouco (fazendo jus ao recente baptismo). No topo havia uma espécie de circuito de manutenção com aparelhos para vários exercícios distribuídos ao longo do caminho. Quem mais, além talvez dos funcionários do parque eólico, se lembraria de ir fazer jogging para aquele lugar ermo? Parámos para comer uma barra.
Rolávamos agora pelos largos estradões do parque eólico. Na encosta à nossa esquerda via-se Luilhas, aldeia conhecida por ceder o nome a um dos troços mais famosos do antigo Rally de Portugal.
Ao atravessarmos a aldeia de Monte... pffff. Novamente furo na roda traseira do ET. Lá se resolveu aquilo rapidamente. Estava ansioso para continuar pois sabia que nos aguardava agora uma descida técnica que ia fazer as delícias, minha e dos outros. Dada a minha crença de que temos mais a ver com os mouros do que com os celtas, ao contrário do que muitos tendem a afirmar, soltei o meu "Alláh Akbar!" e lancei-me por lá abaixo seguido pelo resto da trupe.
A descida não desiludiu. Nos metros finais improvisei um pouco mas acabei por me "cortar" ao último drop. O Tico, que me seguia de perto já com o rabo atrás do selim foi surpreendido pela minha paragem repentina, batendo com aquela parte do corpo que nenhum homem gosta de magoar e ficando a gemer (para gáudio dos outros, claro). Ouviu-se nitidamente um pfffffffff! Pensei "Oh, diabo! A coisa desta vez foi grave. Deve ter feito uma perfuração...". Afinal era apenas o 3º furo do ET. Raios parta o gajo! Enquanto ele punha mãos à obra fomos-lo ameaçando que estava a um passo de ser abandonado no meio do monte!
Continuámos a descer até à Barragem da Queimadela (Rio Vizela), um trilho rápido e cheio de curvas com relevé. Eu, o Tico e o ET já o conhecíamos mas é daqueles que nunca nos cansamos de repetir.
Até Fafe utilizámos mais alguns trilhos da maratona homónima, muito bons também. As dificuldades não foram por aí além, tirando talvez uma zona de lama que transformou pneus 2.1 em 3.0
O objectivo estava cumprido: tínhamos chegado a Fafe ainda com a luz do Sol. Restavam-nos agora apenas 14km de ciclovia até Guimarães e mais outros tantos até casa. Utilizando a técnica dos conta-relógio por equipas, bem colados e revezando-nos à vez na frente, chegámos a Guimarães em tempo recorde.
No entanto a noite já tinha chegado e parámos então à saída da ciclovia para montar as luzes e vestir algum agasalho. A travessia da cidade foi efectuada em ritmo de nocturno citadino, através de ruas iluminadas e já em ambiente de Natal.
Ainda fizemos alguns trilhos em terra até chegar a casa, mas sem nada de especial a anotar.
Foi com satisfação que entrámos em Delães. Tal como alguém disse ultimamente: "Yes, we can!". O meu agradecimento aos colegas de jornada pelo dia bem passado.
Restantes fotos aqui.
A saída foi quase pontual. Pouco passava das 8:00 da manhã quando partimos da nossa "sede", em Delães. Pelos vistos as padarias são locais previlegiados de encontro para os grupos de ciclistas pois umas centenas de metros à frente lá estava outro grupo preparado para largar amarras, os nossos conhecidos do BTT Pinoco.
Nós éramos apenas quatro: eu, Tico, ET e 350plus. O objectivo era ambicioso e tínhamos de ser autónomos daí que, pessoalmente, me sentia um bocado pesado: ferramentas, água e comida, roupa de inverno, GPS, luzes (ah pois é!...) e, claro, a indispensável máquina fotográfica.
Engraçados os temas de conversa que se arranjam enquanto se pedala. Íamos nós entretidos numa interessante discussão sobre balanças, dinamómetros e a aceleração da gravidade quando, de repente, "Furo!". Isto começava bem, ainda só tínhamos uns 4km nas pernas e já havia contratempos. A vitima tinha sido o ET. Raios parta o gajo! Não conhece o percurso, não sabe de mecânica, não tira fotos e ainda por cima tem avarias. Ao menos antigamente ainda apanhava aqueles empenos monumentais, para nosso gáudio. Hoje em dia nem isso. Enfim, um perfeito inútil.
O responsável pelo furo foi um prego de dimensão considerável. Com pouca paciência para confiar numa eventual actuação do liquido anti-furo, optou-se pela troca de câmara.
A subida para Airão, num misto de estrada e caminhos de terra, serviu na perfeição para nos aquecer na manhã fria. Já no alto, a cidade de Braga estendia-se no vale à nossa esquerda. Descemos a boa velocidade até Morreira e passado um pouco já atacávamos um dos desafios do dia, a subida para Sta. Marta.
Uma opção diferente da habitual facilitou um pouco a ascensão, fazendo-nos passar duas dezenas de metros abaixo do topo e seguindo de imediato para a Falperra. Atendendo a que os dias são pequenos nesta altura do ano, aligeirámos o projecto de percurso original com alguns atalhos deste género, numa tentativa de o tornar mais exequível.
Mais algumas subidas, por vezes técnicas e feitas em primeira velocidade, levaram-nos até aos arredores do Sameiro donde descemos até ao parque do Sto. António, local aprazível onde fizemos a primeira pausa.
Depois da Sobreposta a transposição da Serra dos Picos foi suave e pouco depois estávamos a contemplar a nascente do Rio Este. Seguiu-se um dos troços mais agradáveis do percurso, a Via XVII pela encosta da Serra do Carvalho. Que prazer são aqueles kms, essencialmente descendentes, através daquela paisagem. Só experimentando.
Estávamos agora nos arredores da Póvoa do Lanhoso e os kms seguintes, baseados num track duma qualquer maratona ali da zona, eram desconhecidos para nós. Mas foram uma agradável surpresa. Contornámos o castelo e entrámos numa sequência de trilhos com pequenas subidas e descidas, ao estilo rompe-pernas. Os single-tracks eram frequentes e as zonas técnicas bastante acessíveis, se bem que nem sempre houvesse tracção suficiente para trepar alguma rocha molhada.
Em Penedos Alvos efectuamos mais um atalho relativamente ao percurso original mas a pequena subida em asfalto que se seguiu demonstrou, como bem salientou o 350plus, "There Ain't No Free Lunch".
Por aquela altura estava a ficar apreensivo. Aqueles kms estavam a revelar-se mais trabalhosos do que aquilo que estava à espera e ainda estava para vir a grande dificuldade do dia. A descida que se seguiu, até ao Rio Ave, de inclinação acentuada, não prometia nada de bom, caso do outro lado tivéssemos de fazer a subida equivalente.
Momento divertido do dia. Uma descida com alguns regos, com a maioria a escolher a trajectória errada e a ser obrigada a parar enquanto o Tico, gozando conosco, seguia pela trajectória certa... até fazer um OTB. Demonstrando a habitual camaradagem, ficámos ali encostados às bicicletas a vê-lo gemer. Apenas o ET se pronunciou: "Então, ninguém pega na máquina fotográfica?"
Atravessámos o rio usando a ponte sobre a albufeira da Barragem das Andorinhas, a jusante da Barragem do Ermal, e começámos a subir a N205. Íamos fazer uns bons kms por estrada. Uma subida suave e agradável que o ET conhecia bem de um anterior "épico" que tinha efectuado de roda fina e que me ia descrevendo. Apesar disso as minhas pernas não iam tão soltas como gostaria. Parámos num café. Podia ser que a coisa melhorasse daqui para a frente...
Era agora! Em Guilhofrei virámos à direita abandonando finalmente a estrada nacional e não tardou a que tomássemos contacto com os gradientes que íamos enfrentar. A inclinação foi aumentando abruptamente até obrigar toda a gente a pôr o pé no chão. Assim prosseguimos durante algumas dezenas de metros até a coisa acalmar. Acalmar... é uma força de expressão, que aquilo continuava a não ser fácil. Uns agricultores que se encontravam a fazer a limpeza da mata não nos auguraram nada de bom para o que ainda restava da subida. Nada que nos fizesse desanimar.
Ia nitidamente em perda. As pernas recusavam-se a obedecer ao cérebro. Se fosse um avião uma luz vermelha estaria a piscar no painel de instrumentos acompanhada duma sirene irritante e da mensagem "Stall! Stall! Warning!". À minha frente o ET começava também a perder velocidade e ao olhar para o que se seguia a uma curva, acabava de arrear. Imitei-o de imediato. O Tico e o 350plus lá continuavam. Vê-los a pedalar em pé em 1ª velocidade dava uma bela definição da dificuldade da subida. Quando nos voltámos a juntar perguntaram-me se sabia o nome daquela elevação. Como não tinha tomada nota disso o 350plus resolveu baptiza-lo logo ali como "Monte F.D.P."!
A subida ainda durou mais um pouco (fazendo jus ao recente baptismo). No topo havia uma espécie de circuito de manutenção com aparelhos para vários exercícios distribuídos ao longo do caminho. Quem mais, além talvez dos funcionários do parque eólico, se lembraria de ir fazer jogging para aquele lugar ermo? Parámos para comer uma barra.
Rolávamos agora pelos largos estradões do parque eólico. Na encosta à nossa esquerda via-se Luilhas, aldeia conhecida por ceder o nome a um dos troços mais famosos do antigo Rally de Portugal.
Ao atravessarmos a aldeia de Monte... pffff. Novamente furo na roda traseira do ET. Lá se resolveu aquilo rapidamente. Estava ansioso para continuar pois sabia que nos aguardava agora uma descida técnica que ia fazer as delícias, minha e dos outros. Dada a minha crença de que temos mais a ver com os mouros do que com os celtas, ao contrário do que muitos tendem a afirmar, soltei o meu "Alláh Akbar!" e lancei-me por lá abaixo seguido pelo resto da trupe.
A descida não desiludiu. Nos metros finais improvisei um pouco mas acabei por me "cortar" ao último drop. O Tico, que me seguia de perto já com o rabo atrás do selim foi surpreendido pela minha paragem repentina, batendo com aquela parte do corpo que nenhum homem gosta de magoar e ficando a gemer (para gáudio dos outros, claro). Ouviu-se nitidamente um pfffffffff! Pensei "Oh, diabo! A coisa desta vez foi grave. Deve ter feito uma perfuração...". Afinal era apenas o 3º furo do ET. Raios parta o gajo! Enquanto ele punha mãos à obra fomos-lo ameaçando que estava a um passo de ser abandonado no meio do monte!
Continuámos a descer até à Barragem da Queimadela (Rio Vizela), um trilho rápido e cheio de curvas com relevé. Eu, o Tico e o ET já o conhecíamos mas é daqueles que nunca nos cansamos de repetir.
Até Fafe utilizámos mais alguns trilhos da maratona homónima, muito bons também. As dificuldades não foram por aí além, tirando talvez uma zona de lama que transformou pneus 2.1 em 3.0
O objectivo estava cumprido: tínhamos chegado a Fafe ainda com a luz do Sol. Restavam-nos agora apenas 14km de ciclovia até Guimarães e mais outros tantos até casa. Utilizando a técnica dos conta-relógio por equipas, bem colados e revezando-nos à vez na frente, chegámos a Guimarães em tempo recorde.
No entanto a noite já tinha chegado e parámos então à saída da ciclovia para montar as luzes e vestir algum agasalho. A travessia da cidade foi efectuada em ritmo de nocturno citadino, através de ruas iluminadas e já em ambiente de Natal.
Ainda fizemos alguns trilhos em terra até chegar a casa, mas sem nada de especial a anotar.
Foi com satisfação que entrámos em Delães. Tal como alguém disse ultimamente: "Yes, we can!". O meu agradecimento aos colegas de jornada pelo dia bem passado.
Restantes fotos aqui.