Boa tarde ao Fórum,
Aqui pelas Terras Helvéticas, estamos em fase de confinamento, já vamos no 6° dia de isolamento.
Ainda não estamos como em França na fase d’interdição de sair de casa em que para tal somente com uma declaração de saída assinada pelo portador explicando os motivos da saída (selecionar uma de seis opções), isto caso seja interpelado pelas “forças da ordem”. Caso não traga nada, multa de 130 EUR.
Por enquanto nada de transcendente, os hipermercados e supermercados estão abertos e conseguimos abastecer-nos sem grandes problemas excetuando alguns lineares vazios sobretudo na zona papel higiénico, vá se lá saber porquê.
Amigos (as) energúmenos, fiquem sabendo que o vírus num ataca pelo cu!
Aliás para estas pessoas que foram adquirir papel higiénico, com o pânico de que tal coisa acabasse, deixo aqui, este belíssimo poema “A água” do Manuel Maria Barbosa du Bocage.
“Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche."
Toda a vida fui um otimista e mesmo perante esta pandemia, acredito que a curto prazo uma vacina ou tratamento com base na cloroquina estará para chegar. Esta é a minha opinião “et ça n’engage que moi”. Claro está que não há verdades verdadeiras, há sim verdades que adaptamos em função daquilo em que queremos acreditar

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Nesta época conturbada em que vivemos, em que por cada notícia verdadeira, surgem logo (n) “fake news”, aconselho os mais curiosos a verem e ouvirem este link
e talvez fiquem ainda mais baralhados sobre o futuro radioso que nos aguarda

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A poucos meses de festejar o meio século de vida e para que possam entender ou visualizar o meu estado de espírito, deixo-vos aqui este pequeno poema adulterado “A minha alma está em brisa” do Mário de Andrade.
“Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora.
Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces; O primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado.
Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.
Meu tempo é muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa … Sem muitos doces no pacote …
Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas, com seus triunfos. Que não se consideram eleitos antes do tempo. Que não ficam longe de suas responsabilidades. Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade.
O essencial é o que faz a vida valer a pena.
Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas…
Pessoas a quem os golpes da vida, ensinaram a crescer com toques suaves na alma.
Sim…. Estou com pressa…. Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar.
Eu pretendo não desperdiçar nenhum dos doces que eu tenha ou ganhe…. Tenho certeza de que eles serão mais requintados do que os que comi até agora.
Meu objetivo é chegar ao fim satisfeito e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.
Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só tem uma…”
Há dias em conversa com um grande amigo e com base na afirmação do amigo davidream, fiz-lhe exatamente a mesma pergunta “achas que as pessoas vão aprender alguma coisa com tudo isto?” e este respondeu-me nestes moldes “Olha Alex, neste momento as pessoas vivem e aplicam a teoria do funeral”. “Queres dizer o quê?”, repliquei. Ao que ele respondeu “Tás a ver amigo quando um gajo tem de participar ao funeral d’alguém que conhece, pois, vai, pensa na morte, fala com as pessoas que participam, familiares, amigos, larga uns bitaites género, é a vida, todos temos de passar por isso, ao pó regressamos e outras merdas que sei lá, mas mal acabou a cerimónia, lá regressamos no mesmo dia ou nos dias seguintes às nossas vidinhas e este episódio é arquivado no disco do nosso esquecimento, até ao próximo funeral”.
Confesso que não posso estar mais de acordo com o que ele disse, é a nossa natureza, no entanto penso que algo mudou ou vai mudar na nossa maneira de ver o mundo, a vida, tal como escreveu este autor desconhecido.
“Algo invisível chegou e colocou tudo no lugar.
De repente os combustíveis baixaram, a poluição baixou, as pessoas passaram a ter tempo, tanto tempo, que nem sabem o que fazer com ele.
Os pais estão com os filhos, em família.
O trabalho deixou de ser prioritário, as viagens e o lazer também.
De repente silenciosamente, voltamo-nos para dentro de nós, para entendemos o valor da palavra solidariedade.
Num instante damos conta que estamos todos no mesmo barco, ricos e pobres, que as prateleiras dos supermercados estão vazias e os hospitais cheios e que o dinheiro e os seguros de saúde, que o dinheiro pagava, não têm nenhuma importância neste momento, porque os hospitais privados foram os primeiros a fechar.
As garagens e parques estão parados, igualmente os carros topo de gama ou ferro velhos antigos, simplesmente porque ninguém pode sair.
Bastaram meia dúzia de dias para que o UNIVERSO estabelecesse a igualdade social, que se dizia ser impossível novamente.
O MEDO invadiu todos.
Que isto sirva para nos darmos conta da vulnerabilidade do ser humano.”
Como tudo na vida, isto vai acabar por passar à semelhança de todas as outras pestes que já assolaram este planeta, no entanto, o que interessa sempre é compreender se as pessoas vão ou não aprender alguma coisa, tirar uma lição.
Como dizia o Martin “I have a dream…” e eu pessoalmente continuo desde há mais de quinze anos a sonhar e sobretudo a viver cada dia como se este fosse o último, daí que se a “espada de Dâmocles” tiver de me atingir amanhã, acreditem que não vou perder o sono hoje

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Um grande abraço a todos (as) e sem stress (ouvi dizer que faz mal à saúde) e sobretudo aproveitem para meter em dia as vossas vidas com aqueles que vos são mais queridos, afinal só se vive uma vez

Alexandre Pereira