Eu vou contar um episódio que aconteceu comigo, muito parecido com aquele do rodda.
Um casal amigo meu vivia numa casa arrendada, com um pequeno "quintal" atrás. O Miguel (meu amigo) tinha um Mastim desde solteiro, e levou-o para essa casa. O cão era enorme, metia medo com aquelo pelo cinzento, era daqueles cães que metia muito respeito, se é que me percebem. Essa raça serve para guardar os rebanhos e são cães que fazem frente aos lobos. O ladrar dele dizia tudo.
Eu sempre que me chegava ao portão o gajo assustava-me pois por vezes estava deitado e eu não o via. O carteiro da zona também apanhou uns sustos valentes assim como outras pessoas e ele foi obrigado a fechá-lo num pátio que tinha nas traseiras.
Um dia o Miguel foi pai e quando alguém tem um bébé e um cão a partilhar o mesmo espaço (seja interior ou exterior) deve-se sempre dar a primeira roupa da criança a cheirar ao cão, isto para ele reconhecer o odor e perceber que existe mais um elemento na familia.
Desde essa altura eu avisei o meu amigo para ter muito cuidado pois se ele adorava o seu cão tinha de entender se adorava mais o seu filho. Quando o seu filho tinha uns 2 anos a mãe apanhou o susto da vida dela. Estava na cozinha e quando vai á sala vê o seu filho, de fraldas e chupeta a mirar uma cabeçorra na entrada da porta.
Estão a ver um cavalo ao lado de um anão??
Conclusão - discussão nessa noite entre o casal. O cão escapou do seu refúgio e subiu as escadas e entrou em casa. Por sorte nada aconteceu mas agora vão perceber uma coisa.
Não importa se o cão era o mais dócil do mundo, não importa como ele se soltou, não importa que ele tivesse entrado em casa, nem importa se ele estava apenas curioso. O que IMPORTA é que aquela cena nunca mais se repetisse. Os acidentes acontecem, mas se acontecerem sem crianças por perto...melhor. Isto aconteceu numa fase em que uma criança portuguesa tinho sido morta por um cão de raça potencialmente perigosa.
Uma vez de visita a casa dele tive conhecimento do episódio e sentei-me com ele a conversar. A sua esposa insistia que queria o cão dali para fora o que já tinha originado algumas discussões entre eles. O cão vai...o cão fica...o cão fica...o cão tem de ir.
Fui fumar um cigarro com ele á porta de casa e ainda me lembra exactamente das palavras que sairam da minha boca.
"Miguel, eu sei que tu gostas muito do teu cão mas eu só te peço para pensares no seguinte :
Imagina, nem que seja só por uns momentos, que um dia o teu cão ataca o teu filho. Imagina só o quadro. Podes dizer que ele está lá em baixo fechado e que até não faz mal ao Pedrito...mas imagina que um dia o azar bate á tua porta.
- Como é que achas que a mãe do teu filho se irá sentir?
- E tu, como achas que te irias sentir a olhar para o teu cão...sem ver o teu filho?
- Gostarias de viver o resto da tua vida cheio de remorsos??
- Não facilites, pensa em levar o teu cão para outro lado, pelo menos até o teu filho crescer mais uns anos.
"- Hã...mas o meu cão está preso e blá, blá, blá..."
"- Ok Miguel, espero que nunca te arrependas, mas lembra-te que o tempo não volta atrás".
Resumindo, ele sempre acabou por levar o cão para o terreno de um amigo onde acabou por morrer. Dois outros cães atacaram-no e mataram-no. Como já era considerado um cão velho não resistiu aos ferimentos e morreu.
Nessa mesma semana a única coisa que lhe disse foi :
"Miguel lamento muito, mas vou ser muito directo - prefiro essas lágrimas a outras".
Esta história poderia ter um fim diferente...
Hoje em dia o Pedro, com 5 anos, adora brincar comigo e eu com ele.
Moral da história - Não facilitem...mesmo que adorem o vosso cão, pois entre a vida do melhor amigo do homem e do filho desse mesmo homem não pode haver a minima dúvida da nossa prioridade. Entre o bem estar de um animal e a segurança de uma criança não há lugar para indecisões.